terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 38

 


 Continuando...

             A manhã já tinha saído. O sol brilhava todo poderoso, inundando a minha casa e a minha cidade de luz. O sol chegou, mas o dia veio com uma friagem de doer até os ossos. Ainda não era inverno, o outono só estava no meio. Entretanto já dava pra se fazer uma previsão de como seria o inverno naquele ano: com certeza um frigorífico. Pensando bem, a cada ano, as pessoas conjecturam sobre o próximo inverno, verão... Na verdade a gente sempre acha. Inverno é sempre inverno. Como o verão também é sempre verão. Às vezes de um ano para o outro pode haver uma pequena variação na temperatura. Mas é só isso: inverno é inverno e verão é verão.  

            Falei isso tudo pra dizer apenas que não estava querendo me levantar. O sono já tinha ido embora, mas a vontade de ficar debaixo das cobertas era mais forte. O que é que eu tinha pra fazer? Na realidade, nada. Era um domingo e eu não tinha nada pra fazer mesmo. Então cobri a cara e fiquei debaixo da coberta. Aquele escurinho dava a sensação de que a noite ainda estava viva. Achei que ia dormir novamente.  Só que comecei a rolar de um lado para outro e nada do sono voltar.  Somente a preguiça ficou. Suspeitei que a preguiça fosse fruto do cansaço, gerado pelo excesso de horas deitado. Pensei nisso, porque os outros dias eu levantava antes do sol nascer e estava sempre disposto. Eu não sei por que resolvi ficar naquela prostração. Lembrei-me, ali debaixo daquele grosso cobertor, que aquele fora o único domingo que me aventurei, contrariando o meu organismo, a dormir mais. Aquilo tinha um motivo. E o motivo eu sabia: religião. Então pensei: está na hora de resolver isso. E se é para resolver, o único jeito é acordar. E acordado, decidi, falar com meu pai. Com a decisão pronta, espreguicei tudo o que tinha direito.  Depois sorri pra mim mesmo, porque a minha decisão caiu logo em um dia especial - era quatro de julho: o dia da independência dos Estados Unidos - para todos nós. Ia juntar o útil ao agradável. Alguma coisa me dizia que aquele dia ia ficar marcado para sempre na minha vida.    

           Cheguei à cozinha, ainda dei a minha última espreguiçada do dia, e encontrei os meus pais sentados à mesa, fazendo o desjejum. Me receberam com um beijo. Primeiro a minha mãe, depois o meu pai. Era sempre assim. Esse carinho era diário. Sempre fomos muito unidos.

          Antes de falar alguma coisa a respeito de religião com meu pai, bebi o café que minha mãe já tinha colocado na minha xícara. Me alimentei bem, como faz o americano, e que muita gente acha que é quase um almoço. Esse nosso hábito já está gravado no nosso DNA. Sabe que a minha mãe ainda não conseguiu entrar no nosso ritmo? Ela continua com o mesmo hábito que tinha no Brasil.

         - Ela é brasileira, não é? Eu gosto também de um cafezinho. Mas sinto falta de mais coisas no café da manhã. Sou uma pessoa exigente.

         - E desde quando você toma café?

         - Eu dou o meu jeito. Amanhã eu vou mostrar o nosso café.

         - Nós temos a nossa ração.

         - Mas já deve estar acabando, não é sargento? Quantos dias mais ela vai durar?

         - Temos boas provisões. Mas... posso continuar?

         - Vai em frente, sargento.

         O sargento Téo tomou folego e continuou na sua narrativa.

         - Depois de ficar de “bucho cheio”, como diz uns primos que tenho no Brasil, esperei a minha mãe terminar de lavar a louça, nessa hora o meu pai já estava na sua cadeira na sala lendo o jornal, então fui ao encontro dela e pedi que me orientasse na conversa que gostaria de ter com o meu pai. Disse que pretendia falar com ele a respeito de religião. Ela me olhou nos olhos, passou a sua mão nos meus cabelos e disse:

          - Meu filho, realmente chegou a hora de você conversar com John. Que bom que você resolveu se antecipar - uma decisão sábia! - não esperando que ele o chamasse para essa conversa, que com certeza vai ser muito importante para a sua vida. 

......Continua semana que vem!

 

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