terça-feira, 28 de novembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 11

Continuando...
O sábado chegou rápido. Parecia que a semana tinha encurtado.  PC  ligou para Vermelho. Marcou com ele às vinte e uma horas. Depois pegariam Marcão. Na hora marcada, o motorista parou em frente à garagem do edifício, buzinou e esperou pelo repórter. PC ouviu a buzina, e, diga-se de passagem, era escandalosa. Meteu a cabeça pela janela e confirmou que era o carro do jornal. Desceu rápido, para evitar encrenca do porteiro com Vermelho. Não seria a primeira vez, pois já tinham acontecido outras dez, mais ou menos. Ele já tinha até perdido a conta. Mas agora estava mais precavido, pois marcava quase na hora de descer. E desceu rápido, conseguindo chegar antes que houvesse alguma confusão. No carro, PC foi alertando o motorista:
          - Vermelho. Nada de encher o pote. Pode beber, mas é só maneirar!
Nada de ir com muita sede ao pote! Meu irmão! Vou estar de olho em você!
          - Sem perseguição, PC! Sem perseguição! Pelo visto, eu é que vou ter que ficar de olho em você! Com tanta birita importada, rolando! Quem vai ter segurar?
         - Tá bom! Vamos maneirar! Se der! Ah! Ah! Agora vamos pegar Marcão. Ele está esperando em frente à casa de Mirna.
         - E quem é Mirna?
         - Aquela menina ruiva que estagiou com a gente! Não se lembra? Aquela gatinha!
        - Que gatinha? Eu só me lembro da menina de cabelo vermelho! Que não quis nada comigo e nem com você! E acabou ficando com Marcão!
       - E não era ruiva?
       - Não! Ela tinha o cabelo tingido de vermelho! Não era natural! Agora, ela está com os cabelos verdes!
       - É?
       - É! E não era Mirna! É Melina!
       - Então... Então você sabe onde ela mora?
       - Sei!
       - Então vamos! Por que a demora?
       - Demora? E ainda não bebeu nada! Está bom. Estou indo.
           Chegaram para pegar Marcão, porém com um pequeno atraso. Ele estava no lugar marcado, mas atracado com a menina, e que já estava com os cabelos amarelos. Vermelho antes de encostar o carro, apertou a buzina com força. Melinda se assustou, mas Marcão, como já conhecia aquela buzina horrorosa, só ficou com a cara aborrecida.  Entrou no carro e deu um cascudo na cabeça do motorista. PC e Vermelho caíram na gargalhada.         
            O carro foi se aproximando do palacete. A rua já estava abarrotada de veículos. Vermelho foi se aproximando do portão principal. Quando embicou o carro, dois seguranças informaram que lá dentro não tinha mais vagas. E que não só ali, mas como toda a rua já estava tomada de veículos. E era só de convidados da festa. Vaga, só distante. PC e Marcão desceram. Vermelho então deu ré no veículo e foi à procura de um lugar para estacionar. E só consegue há três quarteirões adiante.  Na volta encontra PC e Marcão, conversando com Bezerra na porta da entrada. O fotógrafo, que morava perto de Lucinha, disse que tinha pegado uma carona com a amiga, mas que ela já tinha entrado com os pais. Vermelho fica olhando para a construção e comenta:
          - PC, que palacete, cara!
          - Parece um castelo. Já estive aqui. Não deu para conhecê-lo de cabo a rabo, mas consegui entrar em alguns cômodos. Vocês verão uma quantidade imensa de obras de artes, como nunca viram e acho que jamais verão. Pena que nem todos os lugares estavam permitidos à visita. E dessa vez não deve ser diferente. Mas! Mas sou mais o meu apartamento! Modéstia à parte, a minha pequena mansão!
            Lucinha que vinha se aproximando da porta, escutou o que PC falou e disse:
          - Pequena mansão? Só se for da família monstro! Aquilo deve estar cheio de teias de aranha, baratas, ratos e outros bichinhos mais! E o morceguinho que toma uísque paraguaio com você, ainda mora lá?
          - Não enche o meu saco, Lucinha! Você tem é inveja do meu ap! Se quiser frequentá-lo, está às ordens!
          - Sai fora! Não quero nem passar perto daquele muquifo!
          - Quem desdenha quer comprar! Você conheceu o outro!
          - Mas deixa isso pra lá! Vamos enterrar o passado!
          - Agora falando sério. Sabe que essa mansãozinha esteve fechada nos últimos dez anos? Só não ficou entregue às baratas, porque um casal ficou morando aqui e cuidando do imóvel, senão a traça e o cupim já tinham destruído tudo. 
             - E na sua mansãozinha é a barata que está cuidando?
          - Sem sacanagem, Lucinha! Sem sacanagem! Hoje você está muito engraçadinha! Vamos parar de falar pela grade! Vamos entrar Marcão? Vermelho! Cadê ele?
          - Já foi para o carro, PC. Disse que vai tirar uma pestana. 
          - O cara só vive dormindo!
           - PC! E você acreditou? Ele encontrou aquela morena da sucursal, lá da serra! Já estava cheio de papo! Os dois foram andando em direção ao carro. O cara vai tirar alguma pestana? Ele tá amarradão na morena!
         - Então vamos entrar. Vamos Bezerra.
           Então os três apresentam os convites e entram. PC manda Marcão e Bezerra entrarem no palacete:
         - Vão entrando no palacete. Bezerra, não me deixe escapar nada. Todos os dois antenados! Tá falado? Depois eu entro com Lucinha.
            PC convida a amiga para dar um passeio pela propriedade, mas só no entorno da mansão. Parece até um guia turístico. Lucinha aproveita para dar uma gozada nele:
         - PC! PC! Se ficar desempregado, já tem outro emprego: guia turístico. Só está faltando um bonezinho e um microfone. Como guia turístico gosta de microfone!
         - Você não perde uma, né? Estou tentando voltar às boas contigo, mas está difícil! Você não me perdoa mesmo, não é Lucinha? Aí fica com esse besteirol todo para cima de mim!
         - Te perdoar do quê? Já até esqueci! Agora somos só amigos! Estou em outra! Vamos continuar andando. O passeio está ótimo. Agora, meu cicerone, vamos até o outro lado?
        - Tudo bem. O que é que você quer saber? Já que sou uma espécie de guia turístico!
        - PC quantos quartos deve ter esse palacete? Dez? Vinte?
        - Sinceramente o total eu não sei. Pelo menos doze eu vi. Vou dar um palpite: de vinte para cima. Isso sem contar salas, cozinhas, banheiros, etc.
                  Continua semana que vem... 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 10

Continuando...
                       Antes que o carcereiro respondesse, o delegado já estava se movimentando a caminho do xadrez. Um silêncio de pavor, medo, tristeza, suspense e o diabo a quatro, se misturou no ar, enquanto corriam pelo corredor. PC num impulso natural, já estava atrás do delegado. Dessa vez Lucinha acompanhou-os também. Lá chegando, esbaforidos, se depararam com o corpo do traficante caído, mas já sem vida. No chão daquela cela úmida, tinha acabado de morrer a única esperança, que talvez pudesse ajudar a elucidar aqueles assassinatos em série, de pessoas com olhos azuis.
            O laudo constatou, algum tempo depois, que o prisioneiro tinha se suicidado usando cianureto. Na autópsia descobriu-se que o veneno estava no dente. Técnica usada pelos prisioneiros nazistas, depois da segunda grande guerra mundial, que se suicidavam atrás das grades, antes do julgamento por crime de guerra.         
            Foi aberto inquérito, mas nada foi comprovado se houve ou não algum envolvimento de pessoas interna ou externa com o episódio. A pasta foi fechada e o inquérito encerrado.
           Depois desse episódio, na redação do jornal, Souza observou que PC estava parado, sem nada produzir. Desde cedo que não digitava uma linha sequer no computador. Tinha material suficiente para começar o dia, antes de sair na sua tradicional ronda pelas delegacias. Mas nada fazia. Estava com o olhar perdido. Souza dá um sorriso e pergunta:
          - PC! Ô cara, o que é que está acontecendo? Tá viajando?
             Ele responde, mas sério:
          - Chefe, estava quase em órbita! Estou ficando com medo de pirar!
          - Calma. Tem que ter muita tranquilidade para resolver esse problema. Qualquer dia as coisas clareiam. Eu sei que não é fácil não, a situação que você está passando. Mas estamos aqui para ajudar. Pode contar comigo.
         - Eu sei Souza. E agradeço pela sua amizade. Sei que posso contar com você sempre. Mas... Sabe quantos já foram assassinados: dezoito, contando com o de ontem. Porque hoje pode aparecer mais um. Agora, pelo andar da carruagem, esse décimo nono pode ser eu. E eu não estou querendo estrar para essa estatística. Não quero de jeito nenhum ser o número dezenove. Agora chefe, eu tenho ou não que ficar em órbita?
            Souza fica pensando por alguns minutos, antes de responder. A verdade é que não sabia o que falar para o amigo. Ele olha para a gaveta da sua mesa, que estava aberta, e pega um envelope. Vira ele na mão, mas depois fala:
          - É PC, a sua situação não é nada confortável. Mas podemos tentar melhorar um pouquinho. Estou aqui com um material pra você redigir. É nota social. Pega aqui. É um convite.
          Ele se levanta, pega o envelope e lê o nome do remetente:          - L.W. Rich? Não é o velho milionário excêntrico, chefe?
            Com o envelope na mão, faz a pergunta, mas volta para a sua mesa.   
         - Não tenho certeza. Mas esse nome soa familiar. – responde Souza.
            PC para pensativo e depois fala:     
         - Se não me engano, ele ficou fora do Brasil bastante tempo. Fez muitas festas boas. Um pouco antes de você pegar a chefia, fomos juntos. Lembra? Parecia um castelo!
            Com essa informação, Souza consegue se lembrar da pessoa.
         - Agora me lembro! Ele não estava nos Estados Unidos?
         - Isso! Isso mesmo! Eu acho que já se vão dez anos! Se lembra daquelas festas na década de 1980? Acho que ele saiu de cena em 1995. Foi à última.  Era uma semana de festas! Dê arromba! Ele era muito doido! Convidava mendigos, políticos, médicos, advogados, jornalistas, - é claro!-, e mais uma porção de gente. Era uma mistura de raça, credo, posição social... Eu fui, pelo menos, duas vezes nessas festas. E...
            Lucinha interrompe o que PC ia falar e comenta:
          - Sabe que mamãe me disse que ele e papai eram amigos de infância?
         - Então o seu pai era um tremendo loucão!
         - Que louco o quê! Até hoje, meu velho é muito comportado! Ele não ia nessas festas loucas, não!
           Enquanto os dois conversam, Souza apanha outro envelope na gaveta e fala para o amigo:
          - PC, tem um convite aqui destinado a você. Personalizado. Está com prestígio, cara! Pega aqui!
            Ele se levanta novamente e vai até a mesa do chefe. Pega o envelope, abre e lê o seu conteúdo. Dá um sorriso e diz:
          - Aí. É do cara mesmo. É igualzinho. A festa é sábado agora. Estranho.
          - Estranho o quê?
          - Souza, um convite só pra mim? Esse outro convite é extensivo para todos os repórteres, inclusive eu. Então não tinha necessidade desse outro. Não acha?
         - PC! Você está com prestígio, cara!
         - Mamãe também recebeu um convite desses!
         - Viu PC! Até a mãe de Lucinha tem prestígio, viu?
         - Chefe! O prestígio é do meu pai! Mamãe não tem ligação nenhuma com ele, não! Eu falei mamãe, mas veio no nome de papai!
         - Mas mesmo assim, tem prestígio! PC, até que vai ser uma boa. Você está precisando refrescar essa cabeça.  Não vai ter outro momento tão oportuno como esse. Pelo jeito Lucinha também vai.
        - Com certeza! Vou perder uma boca livre dessas? De jeito nenhum!
        - Viu PC? Já tem companhia para a festa! Vai se divertir, mas pode aproveitar pra fazer a cobertura do evento!
       - Trabalhar, chefe?
       - Claro! O convite particular é para você se divertir, mas o da redação é para trabalho! Une o útil ao agradável!
      - Tudo bem, chefe! Mas que tá estranho, tá!  Não consegui ainda digerir isso! Como ele conseguiu se lembrar de mim? Aí está o mistério!
     - Essa mania de repórter investigativo! Então aproveita e investiga a festa! Vê se descobre uma lata de caviar, com ova de atum! Pode ser que tenha contrabando de uísque paraguaio! Mas esse você gosta! PC! Deixa de ver chifre em cabeça de cavalo!
     - Sacaneia! Sacaneia! Vai que o cara esteja escondendo alguma coisa, por trás dessa festa? De repente eu descubro...
    - Ih! Ih! Vai se preparar para a festa de sábado, PC! Mas cuidado com o porre!
    - Sai do meu pé, Souza! Vamos juntos?

    - Estou fora. Tenho coisa mais importante para fazer. Vai com Marcão. Lucinha você vai encontrar por lá. Sair daqui de Niterói e atravessar a ponte? Pra quê? Eu quero é sossego!
             Continua semana que vem... 

domingo, 19 de novembro de 2017

MISTURA



Publicado a dois dias no Youtube e já ouviram e viram o vídeo, mais de 60 vezes. Muito legal. Vai lá conferir também!

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 9

Continuando...
           A porta da sala do delegado Carlos estava encostada. PC bate levemente antes de entrar. O delegado olha, mas como estava no telefone, fez um sinal com uma das mãos, para ele entrar. Lucinha veio logo atrás. O delegado sorriu e mandou um beijo com as pontas dos dedos pra ela. Em seguida apontou para duas cadeiras, convidando-os a se sentarem.
           PC estava ansioso. Aqueles minutinhos que o delegado estava no telefone, pareciam que iam se estender por horas. Levantou-se algumas vezes. Numa dessas, Lucinha puxou-o pela camisa. Finalmente o delegado largou o telefone e fez questão de deixa-lo fora do gancho. Saiu detrás da sua mesa e foi falar com os amigos. Deu um aperto de mão em MD e beijou Lucinha. Em seguida disse:
           - Vamos sentar. Temos que conversar bastante. Parece que as coisas estão clareando.  A conexão só foi feita por causa do papel que estava com o seu nome. Se não fosse isso, ia ser mais um caso de tráfico de drogas. Mas a coisa é maior.
           - O meu nome no papel, dizendo que eu estava marcado pra morrer. É isso mesmo?
          - Com todas as letras. Dia e hora, para darem cabo de você. Você nasceu de novo, meu irmão.
          - Não foi mole, não! Mas estou aqui! Firme e forte!
          - PC acredito piamente que estamos a um passo de desmantelarmos o tráfico de drogas na cidade. Pode botar fé que finalmente, vamos poder começar a mexer com as pedras do tabuleiro de xadrez. O tráfico, sem sombra de dúvida, é de uma rede internacional. Eu sei que foi apenas um peão que saiu do jogo. Mas esse peão, quem sabe, pode nos levar até o final do jogo, com um xeque mate nosso!
         - Delegado, não quero ser pessimista. Mas a perda de um peão, pra quem sabe jogar, não quer dizer muita coisa, não! Às vezes se sacrifica uma peça, para depois derrubar outras do adversário! O rei têm muitas peças a protegê-lo! Agora, poço ver esse peão que está fora do jogo? Posso conversar com ele?
        - Claro, PC. Vê o que você consegue, porque com a gente ele nada falou. Por enquanto fomos com educação. Aí nem o nome ele disse. Mas depois vamos dar uns apertos nele. Vamos ver se vai falar ou não!
            O delegado chama os dois e se encaminham para a cela, que está guardando o bandido. Lucinha, antes de chegar até o local, pede para ficar por ali. Disse que não estava com estômago para olhar aquele marginal. O delegado então sugere que ela volte para a sua sala.
           PC vai passando, junto com o delegado, cela por cela. Estavam todas ocupadas e com lotação máxima. Somente a última estava com um único bandido.  O delegado bate com um porrete na grade, para chamar a atenção do traficante. Do jeito que ele estava, continuou: cabeça baixa. PC então fala:
           - Ô cara! Será que pode me responder alguma pergunta?
              O prisioneiro vai levantando a cabeça vagarosamente. Quando fixa o seu olhar no de PC, se levanta e fala cheio de ódio:
           - Cara! Mexeste em casa de marimbondo! Tiveste sorte da última vez, mas com certeza vais levar uma ferroada! E com bastante veneno! Repórter xereta! A tua sentença foi decretada! Eu falhei, mas outros não falharão!
              O bandido voltou para onde estava sentado, arriou a cabeça e ficou calado. E nada mais se conseguiu dele. PC então sugere ao delegado para que saíssem dali.
          - Delegado, vamos sair um pouco. Vamos dar um tempo pra esse pilantra pensar. Depois nós voltamos. Pode ser que resolva falar.
            O delegado concorda. Porém faz uma observação:
           - Tudo bem. Mas anota aí: dentro de meia hora a gente volta. Se nada for conseguido por bem, vamos conseguir por mal. Eu te garanto que, se preciso for, arrancaremos a pele do safado.
               Quando estavam de volta, um prisioneiro, que estava com a cara encostada na grade, esperou o delegado passar e deu-lhe uma cusparada. Rapidamente o delegado deu com o bastão na grade. Mas o bandido conseguiu se afastar e se misturar aos outros. O carcereiro se aproximou do Dr. Carlos e perguntou o que tinha acontecido. Ele então respondeu:
             - Juventino. Quantos nessa cela foram presos com aquele traficante?
            - Doutor. Tem dois aí dentro. 
             - Então arranca os caras daí e leva-os para sala de terapia intensiva. Vou mandar Berto e Jonas para vir ajudar. Qualquer probleminha manda chumbo. Depois, se não houver dificuldade, me chamem, mas só quando já estiverem com os dois lá dentro. Ok?  PC vai querer assistir a terapia?
          - Não doutor. Estou fora.   
          - Ah! Ah! Ah! Continua sensível!
          - Sensível? Não! Não se trata disso!
          - Vamos indo, PC. Lucinha está a nossa espera.
          - Ela sim, é sensível. Mas na hora que tem que ser dura, ela ultrapassa qualquer expectativa. Aquele docinho pode surpreender a gente. Cuidado delegado!
          - Ah! Já estou com medo! Vamos logo!
            Entram na sala e encontram a repórter sentada na cadeira do delegado. Rapidamente ela se levanta, mas Carlos a impede:
          - Não. Pode ficar aí. Sabe que você fica bem nesta cadeira? De repente você seria uma boa delegada. Quem sabe você não muda de profissão?
          - Estou fora, doutor! A cadeira é confortável, mas a função é bem desconfortável!
             Enquanto conversam, o carcereiro entra na sala gritando e com a cara assustada:
          - Doutor! Doutor! O prisioneiro... O prisioneiro da última cela...

          - O quê houve,  Juventino? O safado fugiu?   
      Continua semana que vem... 

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 8

Continuando...
          - PC, por onde você andou cara? Estamos há um tempão tentando falar com você! Eu sei que o liberei! Mas...
          - Fica calmo chefe! Meus olhos ainda estão no lugar! Não vai ser muito fácil eles me agarrarem, não! PC é um osso duro de roer!
             Quando ele termina de adentrar a sala, Souza se assusta com o estado dele e fala:
          - Meu Deus! Cara, você está todo sujo! Todo rasgado! Você está com a cara... De quem está com ressaca?
          - Não chefe! Ressaca não!
            Nisso Lucinha entra nervosa. Quando depara com PC naquele estado, fica assustada. Ao invés de demonstrar preocupação, dá a maior bronca no repórter:
         - Porra PC! Você está de sacanagem com a gente? Todos nós preocupados e você me chega desse jeito! Ainda está de porre? Cara! Procuramos você por toda a cidade! Falamos com o delegado Carlos e fomos até no necrotério! Falamos com Deus e o diabo!
         - Calma meu anjo.
         - Calma? Já são três horas da tarde!
         - Deixa-me explicar? Estou vivo por milagre. Entrei numa tremenda fria ontem. Quatro caras me cercaram. Eles quase me atropelaram. Pegou-me de leve, cheguei até a cair, mas consegui me levantar e correr. Por sorte veio um taxi e consegui fugir. Pedi para o cara me levar para longe aqui do centro. No meio do caminho lembrei de que o melhor lugar para me esconder, seria numa delegacia. E assim fui parar na delegacia do delegado Adolfo. Mas ele não estava naquela hora, estava o adjunto. Contei a história para ele e rapidamente já estávamos na rua: eu e dois policiais civis. Rodamos a madrugada toda, procurando pelos bandidos, mas não achamos ninguém. Fiquei com medo de ir para casa, então pedi ao delegado um lugar para dormir. E dormi tudo que tinha direito e mais um bônus. Há muito tempo que não dormia tanto. Mas agora não sei pra onde vou. Voltar pra casa, nem pensar! Os caras sabem onde moro! Foi pertinho do edifício que alguém tentou me apagar! Chefe essa é a minha história!
            Todos os amigos estavam impressionados com o relato de PC. Dessa vez acreditaram na história dele. Tendo em vista que estavam presentes quando ele foi ameaçado pelo maníaco dos olhos azuis. De outras vezes, quando chegava molambento, era confusão com mulheres.  Contava umas histórias de cerca Lourenço, para ficar bem na fita. De vez em quando repetia a mesma história. Brigou com pivete, na saída de um bar; salvou uma velhinha que tinha sofrido um acidente e etc. etc. Mas sempre quem parecia acidentado era ele mesmo.
           Souza esperou PC fazer todo o seu relato. No final pediu para ele colocar a história no papel. Em seguida anunciou que ia dar uma notícia boa. PC que ainda estava cabisbaixo, assim mesmo deixou escapar um leve sorriso. Depois pediu para que ele desse a tal notícia. Souza sentou-se e disse:
          - Senta aí, PC. Pode relaxar. A notícia é boa. Esse foi o motivo de termos procurado você. Acreditamos que o caso será, finalmente, esclarecido.
          - Como é que é? Será que escutei direito? Pode repetir chefinho?
          - A polícia conseguiu botar a mão em um dos bandidos. O delegado Carlos me disse que o cara é quente. Não é coisa pequena, não! Ele falou que foi pura casualidade a prisão do meliante. O detetive Duílio estava na pista de um traficante. Pegaram o cara e uma quantidade imensa de cocaína. Só que a cocaína é, nesse momento, a coisa menos importante.
        - Por quê?
         - Por quê? O delegado me ligou a menos de meia hora e disse que quer falar com você. Vou adiantar, mais ou menos, o motivo da sua presença: o seu nome estava num papel que acharam com o traficante. E você estava marcado pra morrer.
        - Caraca!  Cheguei a me arrepiar! Então esse pode ser um dos que atentaram contra a minha vida? Só pode ser! Chefe! Vou já, já pra delegacia! Lucinha se prepara que hoje você vai comigo! Barcos ao mar! Vamos zarpar que vem tempo de calmaria!
          - Mas desse jeito? PC você está parecendo um mendigo! Não vai tirar esse trapo, não?
           - Puxa! É mesmo! Vamos passar lá em casa rapidinho! Ih! Perdi até o medo! Vamos lá Lucinha? Não. É melhor você esperar aqui em embaixo. Na volta eu te pego.
           - E você acha que estou com medo? Pode tirar o cavalinho da chuva! Estou contigo e não abro! Vou junto! Já que Marcão não veio hoje, estou dentro!
          - A nossa doce menina! Que de doce não tem nada! Tudo bem! Vamos nessa!
             PC passou no seu apartamento, tomou um bom banho e encontrou com Vermelho e Lucinha que estavam a sua espera, na frente do edifício. Entrou no carro e a repórter começou a espirrar. O seu perfume paraguaio tomou conta do veículo. Lucinha saiu do carro reclamando:
         - Porra PC! Além do uísque paraguaio - aquela droga! – e, agora, essa bosta de perfume! Que pelo jeito, também é paraguaio!      
         - Caraca Lucinha! Rejeição pelos produtos daqueles hermanos? Até parece que essa droga que você usa é francês! Deve ser também chinês! A procedência é a mesma, só que o meu passou pelo Paraguai!  
         - Como é que eu vou entrar nesse carro?
         - Vai a pé? Não vai! Então entra e bota a cara pra fora da janela!
         - Também vou espirrar em cima de você!
         - Você acostuma! Até parece que é a primeira vez que acontece isso! Esqueceu que você achava bom?
         - Vamos parar por aqui, tá legal? Isso foi há muito tempo! Agora o tempo é outro! 
            Finalmente Lucinha entra no carro, apesar dos protestos, mas bota a cara na janela. Ela acabou aceitando a sugestão de PC. Vermelho dá partida no carro e vai rumo à delegacia. Naquele momento, só o motor fazia barulho. O silêncio estava selado entre eles. PC olha para os seus rabiscos, que às vezes não entende, mas que consegue decifrar mergulhando na memória.  E foram até o destino sem trocar uma palavra sequer. Parecia que estavam brigados, mas era sempre assim. Não demorava muito e lá estava ela soltando farpas, com as suas provocações. 

           Na porta da delegacia tinha uma vaga, que parecia ter sido guardada para eles. Vermelho parou, mas preferiu não sair. Com certeza ia tirar uma soneca. PC olhou para Lucinha e os dois riram. Com o riso, já tinham voltado às boas. E PC coloca a mão no ombro dela e entram os dois na delegacia. 
                 Continua na semana que vem...

sábado, 4 de novembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 7

Continuando...
E lá foi ele pela calçada abraçando a noite. Parecia que estava se escorando na escuridão, já que a iluminação estava deficiente e não ajudava muito a sua caminhada. Mesmo sendo lua cheia, a claridade não chegava onde ele estava. De repente ele percebeu que o silêncio era a sua única companhia. Até aquele momento, realmente, não havia passado qualquer veículo ou transeunte. Não sabia a hora e aparentemente estava se lixando para isso. De repente um poste desenhou-se à sua frente. Rapidamente abraçou-o. Um dos dois tinha balançado. Na dúvida, agarrou-o para que não lhe caísse em cima. Naquele momento o silêncio foi quebrado. Alguma coisa se arrastou atrás de si. Teve a sensação que fossem passos. Instintivamente se virou. Mas nada viu. E o silêncio retornou. De repente o coração deu uma acelerada. E com ele, veio um medo que trouxe junto um suor frio. Lembrou-se do par de olhos azuis na caixinha e imediatamente ficou todo arrepiado. Sentiu vontade de correr. Mas as pernas não ajudavam muito. Mesmo assim largou o poste e saiu a passos largos. Mal começou a caminhar e a sensação de que alguém o seguia, voltou. Parou novamente e olhou para trás, mas nada viu. Uma grande parte do trajeto foi assim. Isso deve ter acontecido umas cinco vezes. Na última, já que estava bem próximo de casa, resolveu sair correndo mesmo. Mas ao tentar atravessar a rua, quase foi atropelado por um veículo que entrou em disparada e por um tris não o pegou. Chegou a cair com o susto, mas conseguiu se levantar rapidamente. Parecia que não tinha bebido nada. Quem o visse poderia afirmar que estava sóbrio. Ficou em pé no meio fio, sem se balançar. Com certeza não era o mesmo homem de minutos atrás. O álcool evaporou com o susto. Enquanto tentava tirar a poeira da calça, olhava ao redor. Viu que o carro estava parado a alguns metros à frente. Dele saíram dois homens encapuzados. Virou-se para correr, mas já tinha mais dois, também encapuzados, que vinham chegando por trás. Sem muita opção, atravessou a rua correndo. Por sorte apontou um taxi.  Fez sinal e ele parou. Então se jogou dentro do carro e assim conseguiu escapar. Naquele momento não sabia para onde ir.  Mas pediu para o taxista sair o mais rápido possível dali. Depois de se sentir mais aliviado, conseguiu pensar. Mas só veio na cabeça um único lugar: a delegacia. E foi pra lá que o taxista rumou. Na mais próxima ele ficou. Conhecia todo mundo ali. Com certeza esse era o lugar mais seguro. Conversou com o delegado de plantão, deixando-o a par de tudo que aconteceu com ele. O delegado ficou pensativo por algum tempo, mas rapidamente liberou uma viatura com dois policiais fortemente armados. E em pouco tempo já estavam na rua atrás dos bandidos. Os dois atravessaram a madrugada toda vasculhando cada rua, cada buraco, cada ponto que reuniam bandidos. Entraram em cada boca de fumo conhecidas por eles. Viraram a cidade de pernas para o ar. Procuraram informantes escondidos na noite, mas nada de achar o quarteto. Ninguém conhecia esses bandidos. 
A manhã tinha chegado. PC, os dois policiais e o motorista voltaram para a delegacia.  O repórter estava receoso de voltar para casa. Falou com o delegado e arranjou um lugar para tirar uma soneca. Só que essa soneca virou um sono profundo. Quando PC despertou, o relógio marcava quatorze horas e cinco minutos. O plantão da delegacia já tinha trocado. Levantou meio sem jeito, tomou um café que o delegado Adolfo lhe ofereceu, agradeceu pela estadia, saiu da delegacia e pegou um taxi que estava parado na porta. Pediu para seguir até a redação do jornal. Antes de descer, deu uma olhadinha no espelho interno do carro e não gostou muito com o que viu. Entrou no prédio da redação do jornal e subiu os andares pela escada. Ficou meio sem jeito em pegar o elevador. Parou na porta da redação. Como fazia sempre, abriu-a devagarzinho. Uma voz lá de dentro ecoou:
                 Continua semana que vem...