quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Pensamento de Poeta XXVI - Feliz Natal ou Feliz Ressaca?


FELIZ NATAL OU FELIZ RESSACA?
-  José Timotheo -

           Às vezes, me pergunto se Jesus está satisfeito com esse carnaval que fizeram com a data do seu nascimento. É uma confusão dos diabos! Uma porrada de gente enchendo o pote de birita, que quando se dá conta, o natal já está no calcanhar do ano novo. E ainda fica desejando feliz natal no dia 31! Tem alguma coisa errada na história. Devemos estar comemorando o nascimento de Baco. Pelo que diz a história, Jesus não andava nas tavernas enchendo o pote de vinho. Ele pode até ter transformado água em vinho. Mas tenho lá às minhas dúvidas, sobre esse fato. Acho que Jesus tinha coisas mais importantes para resolver, do que alegrar biriteiro. Quero deixar claro que não estou me eximindo da minha parte nessa culpa. Gosto de uma cerva, de um vinho... Mas essa festa é boa para muita gente, menos para Jesus. Para a economia... Jesus deve até perdoar a gente por essa confusão toda. Mas a festa com certeza não é dele. Muitos nem fazem a ligação de Natal com Jesus. O cara está preocupado com o peru, com a cerveja, com o vinho, com o churrasco... Não pode faltar nada. E um abraço no Mestre? Poucos, muito poucos se lembram. Mas como lembrar? A maioria já está de pote cheio! No dia seguinte a dor de cabeça está abraçada ao arrependimento. Aí você se lembrar do Natal, realmente. E pede a Jesus para curar a sua ressaca.
             Assim mesmo desejamos um FELIZ NATAL para todos.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Pensamento de Poeta XXV - A Caminho da Loucura


A CAMINHO DA LOUCURA
- José Timotheo -

Na fila da maluquez
Pode chegar sua vez
Mas não esqueça o elo feito
Que vais carregar pela vida
Na sombra do preconceito
Então a dor vai esticar o seu caminho
Você surtou? Lá vem espinho
Aí você escolhe o seu canto
O seu labirinto... Chuva de pranto
É quase a fila dos esquecidos
Mas não se preocupe, somos muitos e parecidos
Então pergunte se é o medo que castiga o diferente
E se o seu cheiro é que impregna, é aderente
Mesmo não sendo, alguém mudará de calçada
Mas acabará tropeçando na própria loucura
No preconceito e na falsa lisura
Então grite com a garganta da alma
Porém peça com a lucidez da calma
Mas siga em frente na direção do sonho
E poderás dizer: não sou tão tristonho
Pois tem sempre alguém para me ligar à vida
Tem sempre uma mão carinhosa, amiga
Alguém que me diz que não estou deprimido
Alguém a quem eu possa dizer: não quero só comprimido
                               

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Pensamento de Poeta XXIV - Centelha Divina


CENTELHA DIVINA
- José Timotheo -

Desde ontem

O amanhecer ficou mais belo
O sol duplicou
Um deles afastou a noite
Mas não escondeu
As outras estrelas do céu
O galo continuou a cantar às cinco
O mar continuou a bater
Debaixo da minha janela
O entardecer permaneceu entardecendo
A lua não quis se esconder
Continuando com a luz acesa
A as constelações permaneceram
De mãos dadas
No eterno passeio
Correndo atrás do infinito
Tudo reverenciava o segundo sol
O infinito Sol Maior
Então percebi
Que uma centelha Dele
Orbitava dentro de mim

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pensamento de Poeta XXIII - Em São Pedro da Serra - Num Fim de Tarde


EM SÃO PEDRO DA SERRA
- Num fim de tarde-
José Timotheo

Um sabiá, de rabo esbranquiçado
Se pendurou num ramo do ingazeiro
O galho flutuava e desenhava no espaço
O equilíbrio da ave
A paisagem no fundo hesitou
Pareceu-me que uma vaca
Abocanhava o capim
Para não despencar da moldura
Todo aquele infinito pasto
Estava ali posto à mesa
Se equilibrando no ar
E a sabiá, depois de balançar a paisagem
Procurou outro galho
Rapidamente um bem te vi ameaçou
E um beija flor, que não tinha flor
Continuou no seu voo solitário
O vento se acalmou
E deixou a árvore em silêncio
Era mais uma tarde
Que ia para os braços da noite

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Pensamento de Poeta XXII - A Fragilidade do Ser

 A FRAGILIDADE DO SER
-  José Timotheo  -

Pausa
O silêncio pede atenção
Um corpo tomba
Ecoa no chão
Um grito corta o ar
A chuva chora junto com o homem
Alagando a construção
Olhos atentos em dor
Alguém desliza
Pelo corredor
Um corredor largo
Mas estreito
Um caminho comprido
Mas curto
Um corpo inerte
A caminho da incerteza
O baque persiste
Ecoando na minha cabeça
Um som oco e apavorante
O corpo continua caindo
Caindo, caindo

                                               
Obs. No dia 12/11/13, um funcionário do Supermercado Guanabara, em Niterói,, despencou de uma altura de, mais ou menos, quatro metros.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Pensamento de Poeta XXI - Em São Pedro da Serra - Vista Lateral


Em São Pedro da Serra
Vista Lateral
- José Timotheo -
O gado pastava
A neblina pastava também
Enquanto à distância
Um jumento amaciava a grama
E uma égua prenha, sombreava umas sombras
Jogadas no céu
Que iam se aninhando sobre o capim verde
De vez em quando se deslocavam lentamente
Parecendo querer competir com o gado
Era um mastigar silencioso dos dois
Mas o sol desfez a simbiose
E a neblina, já satisfeita
Vai rareando as pinceladas
E dá espaço para novos matizes
Ipê versus ipê
Num amarelo
Que te quero roxo
Mas um bem te vi
Me delatou à natureza
É mais um amanhecer
Numa vista lateral

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Pensamento de Poeta XX - Em São Pedro da Serra - Pela porta da frente


Em São Pedro da Serra
Pela porta da frente
- José Timotheo - 

A embaúba balança
Uma folha tropeça no ar
O vento arrasta-a
Para longe do seu pé
Olho para mais longe
Atravesso pastos e bostas
Cravo os meus olhos na incerteza
Na égua que pasta
Na vaca que arrasta a sua cria
Ou num cavalo sem égua
Ou mesmo numa vaca que não quer dá
Os meus pés também pisam na dúvida
Cravo espinhos e carrapatos no pé
Corro entre sombras
Volto para perto do sol
Sossego a minha ansiedade
E apanho o que está próximo
Flores, frutos e muito verde
Acolho tudo na minha saudade
E espero a noite
Debaixo da claridade do céu

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Memórias de Jornalista - PICLES 5 - José Timotheo


OS TUBARÕES SÃO
TANTOS QUE É
DIFÍCIL SE FAZER
BOCA DE SIRI.

A BASE
DA ECONOMIA
BRASILEIRA
É A MISÉRIA.

REALMENTE
A JUSTIÇA NÃO
FOI FEITA PRA
BRASILEIRO.

O NOSSO PAÍS TÁ
VIOLENTO PORQUE
ELE JÁ NASCEU
DE UM PAU!

...AQUI
MOVIMENTO
POLÍTICO JÁ
NASCE PARTIDO.

Publicado no Pasquim em 14 de Março de 1980.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pensamento de Poeta XIX - Em São Pedro da Serra - Despertar

Em São Pedro da Serra
 Despertar
- José Timoteo -

A mata estava bordada
Com fios de névoa
O campo, com um verde esbranquiçado
Deitava abrigo à algumas vacas dispersas
E o sol já ameaçava salpicar uma encosta
De uma luz ainda fraca
Logo um galo garnizé anunciou o novo dia
E a manhã tentou afastar
O que ainda restava de ausência de luz
São Pedro da Serra acordava

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Memórias de Jornalista - PICLES 4 - José Timotheo


TODO HOMEM
TEM SEU PREÇO,
DESDE QUE
NÃO SEJA PAGO
EM CRUZEIROS.

PENA DE MORTE:
O POVO ESTÁ SENDO
ENFORCADO
PELA BARRIGA!

COM A DITADURA
O GOVERNO É O ÚNICO
QUE GOZA.

MATOU A FOME
DA FAMÍLIA
COM BANANAS
DE DINAMITE.

A MULHER TÁ COM
O GOVERNO,
DEIXANDO, TAMBÉM,
A ABERTURA DE FORA

Publicado no Pasquim - 01 de fevereiro de 1980

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Pensamento de Poeta XVIII - Verde ou Verde

Verde ou Verde
- José Timotheo -

Olha o tráfego
Sinal verde
Pode passar

Olha o tráfico
Sinal verde
Não deve entrar

A cor marca e remarca
Onde você pode pintar
Ela parece a mesma
Mas você tem que escolhê-la
Abraçá-la ou removê-la

A decisão é sua
Verde ou Verde

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Memórias de Jornalista - PICLES 3 - José Timotheo


A VOZ DO BRASIL
TÁ DESAFINANDO

EM GUERRA SANTA
SÓ SE ACEITA TIRO
DE MISERICÓRDIA

NO BRASIL HÁ MAIS
ESTRELAS NO CHÃO
DO QUE NO CÉU

A CIDADE DE DEUS
TÁ DOS DIABOS!

CONSOLO DE BODE
EXPIATÓRIO É
APANHAR COM
PÉ DE CABRA

Publicado no Pasquim - 28 de dezembro de 1979




terça-feira, 27 de agosto de 2013

Memórias de Jornalista - PICLES 2 - José Timotheo



É! A EDUCAÇÃO ANDA CADA VEZ
MAIS MAL EDUCADA!

AFOGAR A DITADURA É,
REALMENTE,
DAR COM OS BURROS N'ÁGUA!

ABOLIRAM A ESCRAVATURA,
SÓ ESQUECERAM DE ACABAR
COM OS ESCRAVOS.

A ÚNICA COISA
QUE O GOVERNO NÃO TOMA,
É EMENDA!

ACABAR COM O DESMATAMENTO
É SÓ PLANTAR
O PAU NA TURMA.

FOI BRINCAR
DE CABRA-CEGA
E DEU O MAIOR BODE.

Publicada no Pasquim de 27 de junho de 1980

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Memórias de Jornalista - PICLES I - José Timotheo


MÃO BRANCA RESOLVEU
O PROBLEMA DA FOME
TÁ DISTRIBUINDO
PRESUNTO NA BAIXADA

A MERENDA ESCOLAR
NUNCA ALIMENTOU
NINGUÉM, MAS DEU
PRA ENCHER A PANÇA
DE MUITA GENTE

A MAMATA DA VALE
MOSTROU MAIS UMA
MÁ AÇÃO DO GOVERNO

O PROBLEMA DA ÁGUA
JÁ TÁ RESOLVIDO
ELA NÃO ENTRA MAIS
PELO CANO

- Publicada no PASQUIM de 22 de Maio de 1980
e quase nada mudou...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Reflexões de um brasileiro 1

JÁ VI ESSE FILME ANTES, 
MAS ESSE 
VAI TER QUE TER UM FINAL FELIZ

                                                                                                                                                                  José Timotheo

               Era uma vez um grupo que, há muitos anos atrás, indignou-se com a forma  como era conduzido este nosso Brasil. Ao ponto de, além das passeatas, criarem outros grupos de enfrentamento com o governo. Alguns movimentos foram implantados, tanto de guerrilha urbana, quanto de guerrilha rural. Pegaram em armas. Mataram e foram mortos.  Mas a maioria que sobreviveu afirma que nunca pegou em armas...    Muito estranho...
            As passeatas por este Brasil afora, foram muitas. Começavam pacíficas, para depois o pau quebrar. Mas esse grupo que partia para o quebra-quebra, segundo os organizadores, era infiltrado para acabar com alegitimidade do movimento. Quebrava, depredava, incendiava... Isso é um fato incontestável. Mas também no meio tinha gente que aproveitava a situação para roubar. Não era nem infiltrado e nem idealista, entretanto, sem medir seus atos, acabava também ajudando a ditadura. Logo não era muito perseguido.  Minha memória pode estar curta, mas não me lembro desse pessoal ser facilmente preso. Só me lembro que fugiam para a polícia enfiar a porrada nos pacíficos, que acabavam sendo presos, torturados e às vezes sumiam. Essa ditadura que havia dado um golpe nos legítimos ficou por aqui, por trinta anos, talvez quarenta. Tem hora que parece não ter acabado.  Muita gente foi para o exílio, muitos ficaram presos e outros tantos sumiram no mar, ou debaixo da terra. Os que estavam à margem, queriam mudar o Brasil. ELES queriam um país livre, um país justo, com educação, saúde para todos, sem corrupção... SEM CORRUPÇÃO!!! Alguns anos depois muitos voltaram. Já ia esquecendo: alguns se auto exilaram. Grandes oportunistas. A abertura política chegou. Muitos se fizeram candidatos. Chegaram à Brasília (e lá estão até hoje). Começaram a mandar na casa. O BRASIL continua no maior azar. Quem manda, está desmemoriado. Cadê a SAÚDE? Está DOENTE. Cadê a EDUCAÇÃO? Está mal educada. Cadê os HONESTOS? Silêncio... Cadê os HONESTOS? A corrupção continua sendo o prato principal. E eles queriam um país sem corrupção...
            Por favor, não nos deixem ter saudade da ditadura militar!  Ninguém merece!
            Alguns anos atrás, a juventude foi para a rua e tirou um presidente. Hoje ela volta novamente e agora mais bem estruturada. Só foi alguém reclamar e deu eco. Rapidamente as ruas ficaram lotadas. Os jovens estão deixando bem claro que não querem ser iguais a eles. Foram para a rua não querendo arruaça, não querendo roubar, não querendo matar, não querendo mais blá, blá,blá. Só estão querendo lembrar que o povo é o patrão, paga para ter o seu dinheiro bem administrado. A educação é nossa, a saúde é nossa, a moradia é nossa, tudo que tem no país é nosso. Se eles estão com o nosso dinheiro e não estão sabendo administrar, têm que sair. Quem estiver roubando, têm que ser preso. Essa é a voz de todo o país.       O que foi mostrado deixa claro que está sendo separado o joio do trigo.  Parece é que o tiro do continuísmo saiu pela culatra. 
               Tem partido que aprendeu com o que a ditadura fazia, infiltrava bandidos para fazerem arruaças e colocarem a culpa na juventude. Entretanto aí estão os nossos jovens, e que não são os jovens de antigamente, e que sem precisar usar a violência, a arma daqueles,simplesmente afastam as bandeiras oportunistas que não querem que o Brasil caminhe e cresça.  Pra fora esses “estrangeiros” que querem envergonhar a nossa nação!
          Não devemos botar no mesmo saco todos os políticos. Tem gente boa nesse meio, só que não acham espaço para os seus projetos. Esses bons brasileiros serão preservados quando conhecermos. A cortina de fumaça é muito densa para que possamos identificá-los agora, mas num futuro próximo vamos conhecê-los. Se Deus quiser!
           Um recado ELES têm que ouvir: fiquem de olhos abertos, porque essa juventude sabe o quer. E o que ela quer, é dela por direito: saúde, educação, moradia, alimento na mesa, trabalho... e felicidade. Todo mundo quer ter paz e ser feliz. Não se esqueçam que a história às vezes pode se repetir. A monarquia francesa tirou o pão da boca do povo, mas acabou sem a cabeça. Às vezes, quem quer paz, pode hastear a bandeira com alguém pendurado na ponta. Mas nós não precisamos disso, pois somos pacíficos. Mas não somos babacas.  
          
                                                            fim

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Pensamento de Poeta XVIII

MALUCOS?
- José Timotheo -

HÁ SOMBRA. ASSOMBRAÇÃO
LIMITE DO MEDO
SINAL DA CRUZ
APAGOU A LUZ, APAGOU A LUZ
CUSCUZ ESTRAGADO NA BANDEJA
ROSA DESBOTADA
NUM BANQUETE DE FUNERAL
NADA MAL, NADA MAL
NA CABEÇA, TOCA SAMBA
NO PÉ, DANÇA BOLERO
DEIXA DE LERO-LERO
FAZ SUA CASA VERDE EM VÊNUS
PLANTA MANDIOCA EM MARTE
PURA ARTE, PURA ARTE
OU MANDA NABO EM VÊNUS
OU CORTA O PEPINO EM MARTE
E A NAVE PARTE. E A NAVE PARTE
TEM ALGUMA LÓGICA
NO SOCO DO ANDERSON?
HÁ ALGUMA ALQUIMIA
ENTRE A CARA E A MÃO?
SOMOS MALUCOS OU NÃO?


INTERPRETANDO O TEXTO

-“ ALGUMA DÚVIDA?”
-“ TODAS! NÃO ENTENDI PATAVINA!”
-“  NADA, NADA? VEJAMOS. SACA SÓ. CADA MACACO NO SEU GALHO.”
-“ PUXA! ESSA É LEGAL! MAS NÃO ENTENDI O MACACO. O QUE É QUE O MACACO ESTÁ FAZENDO NESSA ESTÓRIA? AONDE É QUE ELE ESTÁ?”
-“ PENSA BEM. VAMOS POR PARTE. AONDE PODE ESTAR O MACACO?”
-“ NO MATO OU NO ZOOLÓGICO. MAS AGORA EU NÃO ENTENDI O “POR PARTE.”
-“ MAS A SUA PREOCUPAÇÃO NÃO ERA O TEXTO?”
-“ QUE TEXTO? AH! O TEXTO! AQUELE QUE NÃO ENTENDI?”
-“ AGORA VOCÊ VAI ENTENDER. ESQUECE O MACACO. VEJAMOS:  VOCÊ DÁ UM DEDO E QUEREM A MÃO. ENTENDEU? AGORA EU TENHO CERTEZA QUE VOCÊ SACOU.”
-“ SAQUEI. O DEDO... MAS EU NÃO QUERO O DEDO E MUITO MENOS A MÃO! AINDA MAIS SE FOR AQUELE DEDINHO EM PÉ!”
-“ MAS O DEDINHO EM PÉ, É LÁ NOS ESTADOS UNIDOS. AQUI ELE NÃO PODE ESTAR NA SUA ESTÓRIA.”
-“ ME TIRA DESSA! A ESTÓRIA É SUA! E O DEDO TAMBÉM É! ESSE DEDO PODE ENTRAR É NO SEU...”
-“EI! CALMA AÍ! VOCÊ ESTÁ NERVOSO! FOI VOCÊ QUEM MISTUROU OS DEDOS! NÃO É MINHA A CULPA! TIRA ESSE DEDO DA DIREÇÃO DO MEU...  FALEI? AGORA... TUDO BEM! TUDO BEM! VAMOS TENTAR DE NOVO. VEJAMOS. A SUA QUESTÃO, É ENTENDER A POESIA.”
-“ MAS NÃO ERA UM TEXTO?”
-“ O TEXTO É A POESIA. NÃO TEM POBLEMA. VOU PROCURAR UMA FORMA MAIS FÁCIL PARA O SEU ENTENDIMENTO. VEJAMOS: ACHO QUE ACHEI, OLHA SÓ: OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS.”
-“LEGAL! PUXA CARA, AGORA EU ACHO QUE NÃO SOU BURRO! ISSO NÃO TEM RELAÇÃO COM POLÍTICA?”
-“COM POLÍTICA? É! PODE SER!”
-“ENTÃO! OS PRIMEIROS SÃO SEMPRE OS POLÍTICOS. E OS ÚLTIMOS SOMOS NÓS. NÃO É O POVO QUE ESTÁ SEMPRE FODIDO?”
-“ SABE QUE EU NUNCA TINHA OBSERVADO ISSO? SERÁ QUE VOCÊ NÃO ESTÁ ENGANADO? ELES FALAM SEMPRE O CONTRÁRIO. TUDO PARA O POVO E PRA ELES, O SACRIFÍCIO. COITADOS!”
-“ENTÃO VOCÊ ACHA QUE O POVO É QUE É CORRUPTO?”
-“VOCÊ ESTÁ DESVIRTUANDO O ASSUNTO. O SEU PROBLEMA NÃO ERA INTERPRETAR O TEXTO?”
-“UÉ! MAS EU NÃO CONSEGUÍ ME EXPLICAR?”
-“VOCÊ FOI POR UM CAMINHO MUITO INFANTIL. NÃO. VOCÊ NÃO É INFANTIL. VOCÊ É UMA PESSOA MALDOZA, QUERENDO JOGAR LAMA NAS VERDADES DESSES NOSSOS REPRESENTANTES. ESCUTA SÓ. SE VOCÊ ESTIVESSE NA ÉPOCA DA DITADURA, ISSO LÁ NOS IDOS ANOS 1960 E 1970 E MAIS ALGUNS ANOS, VOCÊ ESTARIA PRESO, TORTURADO E TALVEZ DESAPARECIDO. PENSA NISSO. NUNCA SE ESQUEÇA QUE OS POLÍTICOS SÃO TRANSPARENTES. SÓ QUEREM O NOSSO BEM. SÃO PESSOAS CARIDOSAS. NÃO SÃO AMBICIOSAS.”
-“ PUXA CARA! VOCÊ NÃO ESTÁ EM OUTRO MUNDO? O MEU PAÍS, NÃO É O MESMO DO SEU, COM CERTEZA! ME DIZ UMA COISA: ESSA CONCLUSÃO QUE EU CHEGUEI, NÃO SERVIU DE NADA?
-“QUE CONCLUSÃO?”
-“PORRA CARA! ESTOU AQUI QUERENDO ENTENDER ESSE TEXTO... SABE DE UMA COISA, ANTES EU SÓ TINHA UMA CERTEZA NA VIDA. NA VERDADE TODO MUNDO TEM ESSA CERTEZA, QUE É A MORTE. AGORA EU TENHO MAIS UMA: EU SOU CORRUPTO. SÓ FALTA EU TER CERTEZA QUE EU SOU BURRO. VAMOS LÁ! ME DIZ O QUE QUER DIZER ESSE TEXTO!”
-“TÁ BOM! VOU FALAR COM SINCERIDADE. A INTERPRETAÇÃO É SIMPLES. ISSO TUDO NÃO QUER DIZER NADA. MAS DE REPENTE QUER DIZER TUDO. ENTENDEU?”
 -“PORRA CARA! VOCÊ AINDA ME PERGUNTA SE EU ENTENDI? ENTENDI. É QUE AGORA EU TENHO MAIS UMA CERTEZA NA VIDA: SOU UM TREMENDO BABACA!”
-“NÃO SE SINTA O ÚLTIMO DOS HOMENS. IGUAIS A VOCÊ, TEM UMA PORRADA POR AÍ AFORA. O MUNDO É ASSIM. FAZER O QUÊ? MAS UMA COISA VOCÊ PODE TER EM MENTE: NÃO ACEITE TUDO QUE QUEIRAM TE EMPURRAR PELA GOELA.”

                                                               fim




segunda-feira, 10 de junho de 2013

Memórias de Jornalista II - O PASQUIM

O PASQUIM
- José Timotheo -
Na década de 1970 lia muito o jornal "O PASQUIM". Era uma necessidade alimentar. Tinha que encher o bucho de informação e humor. Não era só eu. O estudante, que já é, em sua maioria, um inconformado nato, um fazedor de transformações, um causador de mudanças na sociedade, caia de garfo e faca dentro daquele mundo "pasquiniano" Nem sempre se podia comprar um exemplar. Quando não se tinha, filava. Quando se tinha, emprestava. O jornal circulava. A gente sabia que era uma das poucas fontes que nos deixavam informados do que estava acontecendo no país. Outros jornais, que eram poucos, tentavam passar alguma coisa. Mas a censura estava lá de espada em punho. Só publicava o que a ditadura mandava. Quando escapulia alguma coisa, era um deus nos acuda. O bicho pegava. Eles queriam nos manter alinhados. A perseguição era implacável. Raramente, principalmente o Pasquim, não era apreendido. E lá iam seus diretores se explicar com a censura. Enquanto eles batiam, nós crescíamos. É igual a massa de pão, que quanto mais apanha, mas cresce. Queríamos saber mais. Quanto mais se esconde, mais a curiosidade é aguçada. Quem não gosta de olhar pela fresta da janela? Todo mundo tinha medo, mas se arriscava. Na realidade eles tinham mais medo do que a gente. Tinham principalmente, medo da liberdade. Ou inveja de quem gostava de ser passarinho. Se não perseguissem, talvez a história fosse outra.
No ano de 1973 comecei a engatinhar no jornalismo. Fiquei impressionado de como as informações chegavam. A maioria a própria censura botava no nosso colo, mas deixava bem claro que era proibida a sua publicação. E o jornal ficava de calça curta e o jornalista amordaçado. Alguns arriscavam, mas acabavam sendo chamados a dar explicações e às vezes, ficavam por lá e podiam até sumir. Era um perigo falar ao telefone, pois ele estava sempre grampeado. Ao ligar, você já sabia que não era só uma pessoa que ia te ouvir. No meio do caminho tinha muitos ouvidos de prontidão. A liberdade estava algemada.
A minha caminhada na imprensa foi curta. A música foi mais forte e me carregou. Entretanto o Pasquim continuava me fascinando. Estava vivo no meu dia a dia. Lia sempre. Mas jamais passou pela minha cabeça, que um dia eu fosse escrever alguma coisa nesse tablóide. O tempo passou e eu parei com a música. Não estagnei, mas deixei-a descansando. Como precisava me manter, voltei para a antiga profissão de desenhista. Retornei para a prancheta. Cai no meio de uma porção de gente inconformada. Alguns eu reencontrei, já que eu tinha trabalhado com eles no início de 1970. E outros, que tinham vindo de outros estaleiros. Lá eu conheci um cartunista: Gersus. Trabalhava num setor ao lado do meu. Estávamos sempre batendo papo. Um dia ele me mostrou alguns cartuns. Todos de primeira linha. Eu já conhecia o trabalho dele. Como lia sempre o Pasquim, não podia deixar de conhecer. E gostava muito. Estar perto do cara, foi muito especial. Um dia ele me perguntou se continuava escrevendo. Fiquei surpreso porque não tinha comentado a respeito. Alguém disse pra ele que eu era poeta. Respondi que sim. Então pediu pra ver. Mostrei algumas poesias, algumas crônicas, letras de músicas...O cara gostou. Depois me perguntou se eu não fazia algumas frases sobre política. Alguma coisa do dia a dia, mesmo que não fosse política. Em seguida abriu o jornal e me mostrou o formato de como seria. Era uma coluna chamada de "picles". Voltei para a minha prancheta e comecei a escrever. Levei duas para ele ver. Viu, gostou e me mandou fazer dez. No dia seguinte entreguei todas. Leu e, pra surpresa minha, disse que ia levar para o Pasquim. Não acreditei no que ouvi. Perguntei se estava falando sério. Me respondeu com um sorriso, que não estava brincando. Pegou o papel, dobrou e colocou no bolso. Depois acrescentou que iria ao Rio após o encerramento do expediente. Quando eu ia saindo, falou que se gostassem do material, sairia no jornal daquela semana. E não deu outra. A emoção foi imensa, quando vi o meu nome estampado no Pasquim. Olhava e continuava duvidando. O entusiasmo foi tanto, que escrevi mais algumas. E assim foi. Durante um período grande, mandava semanalmente dez frases. Quase toda semana cinco eram publicadas. Depois enviei algumas crônicas, mas essas nunca apareceram. Comentei com o meu amigo sobre a quantidade de material que mandava e que somente a metade saía. Falou que era assim mesmo. Acontecia também com ele. Acabou se acostumando. Se quisesse continuar, tinha que aceitar. Um dia fui receber o pagamento pelas publicações, ai aproveitei e perguntei sobre a "sobra de material". Não me deram definição nenhuma. Alguém, não me lembro quem, me disse pra deixar pra lá. De repente seria aproveitada em outra ocasião. Não gostei, mas aceitei. E, realmente, tempos depois vi publicados alguns dos meus textos sem constar como sendo de minha autoria...
Teve um fato marcante pra mim. Numa dessas publicações, tivemos o maior susto. O jornal foi apreendido. Ligaram para Gersus avisando do ocorrido. Ele me chamou e me colocou a par da situação. Estava apreensivo. Mandou me preparar que podiam nos chamar a qualquer momento. O bicho já estava pegando. Os diretores já tinham ido. A gente podia ir também e não voltar. Passamos o dia todo no maior sufoco. Quase no final do expediente o meu amigo recebeu outro telefonema, informando que já estava tudo resolvido. Os diretores do jornal já estavam de volta à redação. Não me lembro qual foi o número dessa edição. Só ficou registrado o medo que senti.
Depois do acontecimento, não sei mais quanto tempo por lá fiquei. Acho que isso não tem muita importância  agora. Importante mesmo foi a experiência que passei. Escrever no Pasquim foi um sonho realizado.
- Fim -

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Pensamento de Poeta XVII

Talvez?
- José Timotheo -

Frente a frente com você, estremeço
Só de pensar no recomeço
Eu me armo de dúvidas
Suo frio é um desespero
Me abraça e me sufoca
Tento jogar fora a lembrança
Mas não dá pra escapar
O destino está instalado
E o meu coração mutilado
Pede socorro a qualquer saudade
Mas que maldade esse amor me fez
Desfez projetos e sonhos
Deixando meus dias tristonhos
Sem horizontes, talvez (?)
Isso não é amor, com certeza
Ele não tem realeza
Então é pura paixão (?)
Então...então...então

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pensamento de Poeta XVI

Pai Nosso Que Estás nos Céus
- José Timotheo -

Pai
Eu não sei quanto tempo tenho pra ficar aqui
Você sabe
Eu só sei que quero pisar mais firme nesse chão
Quero continuar indo em frente sem medo
Ir sempre em frente é a minha vontade
Sempre que encontrar alguém pelo caminho
Se não puder ajudar, que eu não o atrapalhe
Mas eu quero ir sempre em frente
Mesmo estando sentado para descansar
Quero continuar andando
Quero que o horizonte esteja do meu lado
Não quero uma luz no fim do túnel
Quero um ponto de luz na minha mão
Para que eu possa clarear os meus passos
Quem foi que disse que tenho que ter bolhas nos pés
Enquanto caminho?
Colocarei calçados que me dêem firmeza
E prazer para andar pelas estradas da vida
Pai
Eu sei que me deste oxigênio para viver
E que respiro gás carbônico e cigarro para morrer
Mas juro que nada disso inventei
E que me deste água limpa para matar a sede
Mas morro com água suja, álcool e outras coisas mais
Mas pode ter certeza: eu nada disso criei
Não sei quando nos apresentaram isso
Mas parece que é coisa desde quando nos criou
Não estou me desculpando, não
Estou me defendendo, apenas
Mas...Deixa pra lá
Só quero continuar caminhando
Sem precisar carregar uma cruz
Alguém disse que tenho que sofrer
Pra ser feliz
Não acredito nisso
Alguém botou essas palavras na sua boca
Eu só quero ser feliz
Simplesmente feliz
Eu não quero sofrer para ter um lugar no paraíso
Deixa que eu vá sempre pra frente
Mesmo que o mundo vá pra trás
Não sei quem inventou a dor
Não acredito que tenha sido o Senhor
Com certeza não irias perder tempo com isso
Alguém criou uma estória
Que o Senhor castigava quem mudasse de caminho
Mas na realidade era o caminho deles
A partir disso a simplicidade deu lugar ao medo
E ainda disseram que era obra sua
Só bastava alguém contestar alguma coisa
E lá ia o pobre coitado para a masmorra
Depois inventaram a forca
Ou a forca e depois a masmorra
Como sendo obra sua também
Pai
Só queremos ser felizes
E a felicidade é obra sua
Disso eu tenho certeza

sábado, 18 de maio de 2013

Projeto - Hino 7º Distrito de Nova Friburgo - São Pedro da Serra


Tive o prazer de ser convidado a fazer a letra do que irá se tornar o Hino do 7º Distrito de Nova Friburgo - São Pedro da Serra - RJ. Para tal, será criado um Projeto, para depois dos tramites legais, ser votado na Câmara Municipal de Nova Friburgo, e ser enfim oficializado.
Vejam a letra e façam seus comentários:

            Hino
São Pedro da Serra

Letra:  José Timotheo / Música: Martha Taruma e Marjô Gaspary

A lua ilumina o monte
Pinta de luz sua praça
Enche de sonho o horizonte
Saudade que chega e te abraça

Cartão postal imponente
Onde Deus faz recital
Imaculada é a sua gente
Que faz do altar, seu quintal

Refrão...

Desde o século dezenove
Que foi erguida com ardor
Com as mãos do emigrante europeu
Que deu seu suor, seu calor

São Pedro da Serra cresceu
Com liberdade e amor
Lugar de gente valente
Mas que te espera com flor

Refrão:
São Pedro, um presente da serra
Berço de amor e paixão
São Pedro que nasceu da terra
Cresce no seu coração






terça-feira, 23 de abril de 2013

Pensamento de Poeta XV

GIGANDHI
- José Timotheo -

Faltam almas brandas
A povoar nossas esperanças
Há dor, sangue no asfalto
Há pixote estendido
Sem mais sonhos
Quixote? Dom Pixote?
Pixote sem dor
Lá mancha, Pixote
Fruto de uma justiça peçonhenta
De uma balança sem fiel
Fel, que intimida com chicote
Que aborta pixote
Que venham os brandos
Que venham mais Jesus
Que venham mais Gandhi
Mais Pitágoras, mais Platão
Que venham os Mahatma
Que descam os Gigandhi

sábado, 13 de abril de 2013

ALGUNS FATOS QUE ANTECEDERAM A ENTREVISTA COM GAL COSTA


Gal Costa ia fazer um show em Niterói. Se não me engano, no Clube Regatas Icaraí. Fui escalado pelo meu amigo jornalista Mário Dias para entrevistá-la. Seria um grande desafio para mim. Ainda era um foca. Imagine eu em frente daquele mostro sagrado da MPB! Recebi uma credencial e lá fui eu, entre emocionado e nervoso. Ou entre nervoso e apavorado.
Cheguei bem antes do início do show. Ela já estava no camarim. Fiquei rondando, mas não consegui contato. Ninguém aparecia. Circulei pelo clube e de vez em quando passava na porta do camarim e nada. Numa dessas circuladas, começou o show. E pensei desconsolado: perdi uma oportunidade e tanto de falar com ela...Me restou ficar pertinho do palco saboreando aquele show maravilhoso. Não sei quanto tempo fiquei ali na turma do gargarejo. Acabou o show e lá fui eu atrás dela, novamente. Cheguei primeiro do que ela na porta do camarim. Pensei que seria fácil. Só tinha eu da imprensa. Ela chegou e, pra minha tristeza, fizeram um corredor para ela passar. Naturalmente fui afastado pelos seguranças do clube. Ela entrou e fiquei a ver navios. Tentei falar com um cara que estava na porta, me identifiquei, mas ele não deu a mínima pro meu crachá. Disse, sem olhar na minha cara, que estaca destacado ali para não deixar ninguém entrar. Fiquei encostado numa parede bem próximo à porta. Nisso apareceu uma menina. Devia ter uns vinte, vinte e um anos. Uma linda menina. Veio ao meu encontro e pediu para acender o seu cigarro no meu. Começamos a trocar idéias. Me perguntou o que eu fazia ali sozinho. Ei contei o meu drama, disse que era repórter, que tinha pouco tempo na profissão e que estava esperando uma oportunidade para entrevistar Gal Costa. Falei que seria a primeira entrevista importante, mas que estava sendo um fracasso. Ela olhou pra mim e disse: “Espera um pouco, que já volto”. Girou nos calcanhares, passou pelo segurança e entrou no camarim. Não demorou muito, voltou com um sorriso nos lábios e um papel nas pontos dos dedos. Me entregou o papel e disse para eu ligar pra ela na terça feira seguinte.
Na tarde da segunda feira, estava na redação do jornal “A TRIBUNA” E “JORNAL DE ICARAÍ”, em Niterói, tentando me entender com uma velha máquina de escrever Olivetti. Mário chegou e foi cobrando a minha matéria. Estava meio envergonhado por ter falhado. Não precisei nem falar. Ele me sacaneou. Falou alguma coisa que não me recordo. E foi para a sua mesa. Preferi não falar que ia continuar tentando fazer a entrevista. No dia seguinte, liguei para a menina e ela disse que tinha agendado a minha entrevista com a Gal Costa. Nem acreditei. Fiquei mudo. Ela pensou que eu tivesse desligado. Depois do terceiro ou quarto alô é que eu consegui falar alguma coisa. Ela me passou o endereço e marcou para a semana seguinte. Meu coração quase saiu pela boca. Era muita emoção.
Na quarta feira cheguei mais cedo na redação. Mário ainda não estava. Comecei a esquematizar as perguntas que iria fazer. Quando ele chegou, eu já estava com quase tudo pronto. Levei até a mesa dele. Ele olhou, sorriu, falou e disse:
-“Conseguiu, em cara! Gostei. Não desistir é sempre um bom caminho. Deixa isso aqui comigo”.
Ele fez as devidas correções. Tirou algumas perguntas. Colocou outras. Deu uma enxugada geral. No dia seguinte me entregou um gravador.
No dia marcado, lá fui eu para o Vidigal, onde morava Gal Costa. Cheguei com duas horas de antecedência. Estava tenso. Já tinha fumado alguns cigarros. Fiquei parado em frente da porta olhando a campainha. Custei a pegar coragem. A menina que tinha marcado a entrevista foi quem abriu a porta. Sorriu e disse:
-“Chegou muito cedo cara! Ela não está, mas na hora marcada ela vai estar aqui”.
Me mandou entrar e aguardar. Me sentei numa poltrona e ali fiquei até ela voltar. Ela voltou com uma senhora. Era a mãe de Gal. Muito simpática e agradável. Olhou pra mim e disse: -“Menino, minha filha vai chegar na hora, você vai ver só! Fica sentadinho ai. Você quer um copo d’água? Fique à vontade.” – Ela sentou na outra poltrona e continuamos a conversar. Algum tempo depois ela saiu, acompanhada da lourinha. Fiquei um tempo sozinho. Depois voltou a menina com a empregada. Começou a arrumar a sala. Pulei de um lado para o outro para não atrapalhar. No final acabei ajudando a empregada a mudar as poltronas de lugar. A mãe de Gal voltou e deu ok na arrumação.
No horário marcado Gal Costa chegou. Tremi dos pés à cabeça. – “É de carne e osso.” – pensei. Automaticamente fiquei de pé. Falou com a mãe e com a amiga. Depois sorriu pra mim e me cumprimentou. Calado estava mudo continuava. Ela vendo a tensão estampada na minha cara, disse sorrindo: - “Vamos à entrevista?” – Tentei falar alguma coisa, mas apenas balancei a cabeça afirmativamente. Apertou a minha mão e apontou uma cadeira, mas não deixou nem por um instante apagar o sorriso. Sentei de um lado e ela do outro. Peguei a minha lista de perguntas, que estava toda amassada, dentro do bolso da minha calça jeans surrada, e coloquei do lado do gravador. Até aquele momento eu não tinha conseguido falar nada. Respirei fundo e tomei coragem. Perguntei a ela se podíamos começar. Ela confirmou. Quando ia iniciar a entrevista, aconteceu um desastre: o gravador, quando fui apertar o rec, escorregou e se espatifou no chão. Voaram pedaços para todos os lados. Fiquei completamente desbundado. Eu não sabia o que fazer. Mas acabei indo atrás dos pedaços. Fiquei de joelhos atrás dos pedaços, dei conta que ainda faltava a fita. Fui achá-la debaixo da poltrona. Parecia que estava pagando alguma promessa. Depois dessa trabalheira toda, não consegui fazer o troço funcionar. As três me olhavam entre assustadas e incrédulas. Mas eu senti que uma ponta de riso estava por trás daquelas expressões. Mas não era pra menos. Voltei à cadeira. Gal engoliu o riso. Acho que foi a gargalhada. Depois pacientemente, sorrindo pra mim, pediu o papel com a lista de perguntas e disse pra eu ficar calmo. Enquanto lia, eu tentava de novo fazer o gravador funcionar. Leu todas as perguntas e excluiu algumas, e eu não consegui fazer a “merda” do aparelho funcionar. Depois me perguntou se eu já estava preparado. Respirei fundo, joguei o que restava do gravador para um canto, e peguei meu bloco de anotações. Ela lia a pergunta e respondia vagarosamente. Fui escrevendo na integra o que ela ditava. No final deu uma olhada no que eu tinha escrito e deu ok. Saí de lá pisando nas nuvens. Quando a porta se fechou às minhas costas, ouvi uma risada. Era o riso que ela tinha engolido para não me deixar mais constrangido ainda. Depois as três riram juntas. E riram muito. Fiquei encostado à porta por algum tempo. Elas não conseguiam nem falar. Acabei rindo também. Fui embora e, até hoje, o sentimento que guardo é o carinho e o respeito dessa grande estrela por um novato, desconhecido, que precisava mostrar serviço pra conseguir o seu espaço...
- José Timotheo -

sábado, 6 de abril de 2013

Histórias de um Jornalista - Apresentação

Pois é, além de scannear o material que possuo, desses que a gente vai guardando a vida inteira, da minha "encarnação" jornalista, irei publicar aqui também, as histórias de antes, durante e depois das matérias/entrevistas que fiz.
A primeira será publicada na próxima semana, e se refere a matéria que fiz com a fabulosa Gal Costa, que já publiquei aqui.
Aguardem!

sábado, 9 de março de 2013

Memórias de Jornalista I

 Começarei a postar algumas raridades da época em que trabalhei como repórter. Começo com essa entrevista feita com a maravilhosa Gal Costa, no ano de 1973, para o Jornal de Icaraí. Espero que gostem!


terça-feira, 5 de março de 2013

Pensamento de Poeta XIV


ÁFRI...CÁ E LÁ
- José Timotheo –


Em banho maria
Esquenta as esperanças
Nas próprias lágrimas

Áfri...cá e lá
Choram continentes
Resistentes

Fica firme, África
Finca a fé
A dor está prestes a morrer

Seus orixás
Já estão de prontidão

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Moratória - música free

Gravamos ontem (09/01/2013), nos estúdios Luperan em São Pedro da Serra, a canção Moratória, mais uma parceria  de José Timotheo com Martha Taruma e arranjos de Rodrigo Garcia.
Ouçam a canção no myspace do compositor:
http://br.myspace.com/josetimotheo/music/songs/moratoria-mp3-91220515


Moratória - Letra de Música

Moratória
José Timotheo - Martha Taruma

Não me leve, leve agora
Não me jogue fora
Não me deixe triste, não

Não me leve a casa, não
Me tire a causa, não
Me deixe um vão

Não me deixe agora
Não me leve embora
Não me deixe em vão
Agora não, Agora não

Eu faço um trato
Planto e cato
Cacos de esperança
Espalhados da paz
E talvez mais

Rego a flor da saudade
Grito que há de haver liberdade
E o mundo de novo
Que brota do nada

Mas não me leve agora
Não de deixe de fora
Faço parte do novo que chega
Sendo do velho que chora
Sou parte
Sou vida
Sou parte da vida

Não me leve...