SAUDOSISMO
José
Timotheo
Recentemente
“folheava” meu celular. Tenho que fazer isso diariamente, mas esqueço. Sabemos
que uma quantidade grande de mensagens não presta. Fatos, fatos são
poucos. As Fake News entopem o tel e nos fazem de trouxa. São um
peso dentro do nosso aparelhinho e fruto da nossa invigilância. Ele
não é o culpado. Tínhamos que arranjar um jeito de ele, sozinho, vomitar o que
não presta. Seria um imenso serviço à humanidade.
Fico
refletindo sobre como as pessoas perdem tempo em pensar, arquitetar besteiras e
maldades. O tempo é precioso, é finito, não é pra se desperdiçar. Mas o que
fazer, se essas pessoas só tem isso para dar? Só nos resta ficar atento e ir
descartando tudo de ruim. Mas custo tanto a fazer esse serviço chato, que
quando vou olhar, vem o susto: ele está cheio novamente de mentiras e notícias
que podem até ser verdadeiras, mas que não levam a lugar nenhum. É
um saco.
Alguma
mensagem chegou ao meu whatsApp. Ameacei olhar o celular, mas resisti e
deixei-o descansando no bolso. Olhei pela janela do meu apartamento e vi que o
mar estava sereno e o sol me convidava para uma caminhada. Desci e fui passear
pelo calçadão da praia de Icaraí, em Niterói. O único compromisso que tinha,
era olhar o mar e toda a paisagem que o cerca. Tinha certeza que só portava um
documento, além do celular, claro! – uma xerox – para mostrar, se necessário,
que eu era alguém com nome e sobre nome. De repente parei próximo a dois
saudosistas, com mais idade do que eu. Pareciam moradores antigos do bairro. Apontavam
numa direção e falavam sobre um trampolim. Apurei a minha audição e finquei
minha orelha quase entre os dois. O papo me interessava. Era minha a saudade
também. Um mais exaltado afirmava que era naquela direção. Apontando para algum
lugar na baia. Concordei com ele. Era lá, com certeza. A imagem apareceu clara
na minha cabeça. O outro demonstrou que estava na dúvida, mas concordou. Depois
apontou para um ponto no calçadão e comentou que ali fora uma escada, cujos
degraus mergulhavam na areia. Lembrei-me também na hora. E, diga-se de
passagem, em vários pontos tinha uma escada dessas, que davam um charme
especial à praia. Não me recordo qual foi o prefeito que fez o estrago de
retirá-las.
Fiquei
parado esperando para ver se o papo continuava. Mas emudeceram, resmungaram
alguma coisa e saíram andando. Eu continuei olhando na direção do trampolim.
Naquele momento ele estava lá. Eu o via claramente. Mas sei que é muito difícil
para quem nunca o viu, imaginar o quanto era bonito aquele projeto arquitetônico,
brotando de dentro d’água. Era sem dúvida um belo ponto turístico. Há quem
duvide até que ele existiu. Mas isso não é novidade: o homem pousou na lua há
tanto tempo e muita gente diz que é tudo coisa de cinema. Já estamos quase
pisando em solo marciano e acham que é tudo balela. Mas voltando ao trampolim,
esse eu vi. Vi e achava muito bonito. Confesso que nunca tive coragem de entrar
no mar e nadar até onde ele estava cravado, subir, se jogar no espaço e sumir
dentro d’água. Essa aventura cheia de adrenalina, preferi entregar à coragem de
alguns amigos. Éramos todos da faixa dos quinze anos.
Os
menos corajosos - mas com mais coragem do que eu - se arriscavam em mergulhar
do primeiro estágio, que ficava há alguns centímetros da lâmina d’água. Não sei
a altura que tinha entre as plataformas. De longe, as inferiores, não pareciam
muito separadas. Entretanto a última, a mais alta, parecia um arranha céu. A
pessoa quando lá chegava, parecia uma formiga. Por isso concluí que realmente
era alta pra cacete. Mas mesmo assim, de vez em quando surgiam alguns que queriam aparecer, dizendo que deveriam
colocar uma plataforma acima dessa. Babaca sempre tem por aí. O que fazer?
Continua na semana que vem...