terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Reflexão de Poeta - Feliz Natal



                                                                      
FELIZ NATAL
- José Timotheo -



          O que dizer do natal? O natal é uma fita que colocamos pra rodar na hora que se quer. Assim, estou afirmando que o natal é sempre igual. Mas, na verdade, ele  parece, mas não é igual. O vinho que bebi no ano passado não é o mesmo. A rabanada de hoje, pode não ser tão boa quanto à dos anos anteriores. O chester, o peru, o frango... O bacalhau! Ah, o bacalhau! Mas o que é que tem a ver isso tudo com o natal? O que tem a ver... E a economia? Será que os nossos bolsos estão como dantes? E a política? Neste natal, ela está me fazendo mais envergonhado. A ficha limpa continua tão suja! Se for colocar isso tudo na balança, não tem natal. E, realmente, pra muita gente o natal já foi pro brejo. Elegemos a presidente, que continua a mesma.  Preparamos uma copa do mundo que não ganhamos (isso só acontece aqui). A Argentina fez uma e ganhou na marra. E nós... levamos goleada. Mas o natal não é só isso. Tem a Petrobras. Ou quase não tem mais. Está parecendo uma galinha depenada que foi comida crua. Mas ainda acredito na magia natalina. A inflação está rondando, mas dizem que está sob controle. Tudo está sob controle. Não podemos ser pessimistas. O natal... Acho que Jesus anda meio envergonhado com o que fizeram com o natal. Até Papai Noel está difícil de se achar. Mas encontrei um, recentemente, careca, sem barba e sem saco...
           Feliz natal, assim mesmo, feliz natal pra todos nós! E um ano novo sem cara de velho!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

História Verídica - Conde Suldoroski - Parte 2

       
      
Conde Suldoroski - Parte 2
- José Timotheo - 
           Ficamos tão entretidos com o cara, que esquecemos até das meninas. Não escapava nem uma virada de cabeça dele. O seu fiel escudeiro continuava em pé do seu lado. Alguns minutos já tinham se passado quando um garçom se aproximou da mesa, fez uma mesura e deitou uma garrafa de whisky. O meu olho cresceu. Não me lembro da marca. Mas era caro. Se bem que naquela época tudo era caro pra gente. Mas mesmo assim ninguém olhou para ele. Só nós mesmos, porque vigiávamos o seu movimento. O meu amigo então resolveu ir até a sua mesa. Fomos a reboque.                  -“E aí Conde! Tudo bem?”
             O cara levantou um pouco a cabeça, desceu discretamente os óculos pretos e olhou o meu amigo de cima até embaixo. Ficamos apreensivos. Depois escorregou mais um pouco os óculos pelo nariz, que não era pequeno, e olhou em volta, antes de falar alguma coisa, entre dentes.
             -“Eu te conheço de algum lugar? És nobre? Tens sangue azul?”
             -“Qual é Agripino!” - falou o meu amigo, meio azedo.
             -“Psiu! Psiu! Fala baixo, cara! Qual é meu irmão? Tá a fim de atrapalhar a minha, cara? Aí, faz uma reverência pra mim! Sou o conde Suldoroski! Esqueceu? Libero uma dose de whisky. Tá de bom tamanho?”
             O meu amigo fez lá uns movimentos esquisitos, abaixando e levantando a cabeça. Isso tudo entre risos disfarçados. Eu acho que isso acabou ajudando o Conde, pois uma menina que estava em uma mesa próxima viu e cutucou uma colega. Depois ficaram cochichando e olhando. Isso já era o começo. E ele percebeu. Deu um sorriso e piscou um olho para o meu amigo. Voltamos para a nossa mesa com uma dose de whisky generosa. Sentamos e ficamos observando os movimentos do Conde. 
             É melhor eu dar nomes aos meus amigos. Mesmo sendo fictício. Um era de infância. Esse eu vou chamar de Dom. O outro chegou ao bairro, quando a gente já estava na adolescência. Chegou tranqüilo e tranqüilo entrou nas nossas vidas. Formamos um grupo coeso. Posso chamá-lo de Leal. Não devo usar os nomes verdadeiros, tendo em vista que estamos distantes e com pouco contato. Mas a estória é verdadeira.
              Saboreávamos o Scott importado. Passava de boca em boca, mas discretamente. Quando um dava uma golada, já colocava na frente do outro. E assim ia. Nessa altura do campeonato a cerveja já estava quase fervendo. Mas também não tinha muita importância. E as batatas, já estavam bem murchas e quase intocadas. Cada um, seguindo o cronômetro, pegou mais uma. Mas parecia que o prato continuava do mesmo jeito.  Entretanto tínhamos de ficar atentos, senão algum aventureiro lançava mão. Era só a gente se afastar. Como tínhamos ido até a mesa do Conde, Dom fez questão de observar bem a pirâmide de batatas, para ver se alguém tinha lançado mão de alguma. Isso não queria dizer que éramos “pão duro”! Era dureza mesmo!   
              De repente uma voz, saindo de um velho alto-falante, resvalou pelas nossas orelhas, entre ruídos e assobios ensurdecedores. Até o operador conseguir sintonizar o aparelho, o inferno era ali. Não me lembro de ter passado por coisa pior. Entretanto o cara conseguiu acertar o equipamento, depois de apanhar muito. Quando a sua voz saiu clara, fez um comunicado.
              -“Atenção! Atenção! Conde Suldoroski! Queira comparecer à secretaria do clube. Um telefonema internacional o aguarda! A pessoa disse que é muito importante. Ela está falando da Espanha. Disse que o nome dela é Princesa Sofia.”
               Aí o cara se levantou, fez uma tremenda “mise en scène”: andou de um lado para o outro, gesticulou e se dirigiu para o seu secretário, num tom mais alto que o habitual.
             -“Aldo! Aldo! Como é que ela foi me achar aqui! Eu não posso acreditar nisso! Foi você quem avisou onde eu estaria?”
              O secretário balançou a cabeça negativamente, demonstrando um nervosismo quase descontrolado. Nesse momento ele já tinha conseguido o seu intento. Não tinha uma só pessoa que não estivesse olhando em sua direção. Ele, por trás do imenso par de óculos negros, vendo que todos olhavam pra ele, aproveitou para continuar o diálogo com o seu serviçal. O seu falso secretário.
             -“Aldo! Se não foi você, quem foi? Não precisa falar nada! Aguarde-me aqui! Vou resolver logo essa questão!”
             O Conde saiu arrastando a sua saída de banho, pela borda da piscina, em direção à secretaria do clube. Enquanto isso, Leal comentou com a gente.
             -“Pode escrever: ele vai sair daqui com uma gata à tira colo! Filho da mãe! Conseguiu chamar a atenção de todo mundo! Só quero saber aonde esse cara consegue grana pra bancar tudo isso. Olha só. Se a gente bobear a gente sai daqui como chegou: como uma mão na frente e a outra atrás. Vamos aproveitar pra descolar mais uma dose de whisky? O secretario dele não vai poder negar! Deixa comigo. Vou segredar uma coisa: o conde mora pertinho do morro do Estado. É duro feito um coco! Igualzinho a gente! Deixa que vou lá descolar mais uma dose!”
            -“Leal! Olha só! O garçom está deixando na mesa dele um “pratão” de camarão! Olha só o tamanho do bicho!”, falou Dom, com um olho gordo e apontando para a mesa do Conde. Naquela altura ele já devia estar com a boca cheia d’água.    Mas antes que Leal lá chegasse o Conde Suldoroski já estava voltando. Trazia ainda a saída de banho pendurada, arrastando pelo piso de pedra São Tomé. Um dos garçons que estava próximo se adiantou e ajudou-o a se vestir. Antes de se afastar, se curvou como se fosse um súdito.
             O Conde veio caminhando lentamente entre algumas mesas. E nessas mesas,     era onde estava a maioria das meninas. Com certeza, todas elas já tinham notado a sua presença. Por cada mesa que passava, elas olhavam pra ele e sorriam. Ele retribuía também sorrindo e puxando os óculos para a ponta do nariz. E foi assim até sentar-se à mesa. Depois de acomodado, pediu uma dose de whisky   para Aldo, o seu secretário. Pegou um camarão, olhou discretamente pra gente, e saboreou-o, deixando a gente com água na boca. Depois começou olhando para todas as mesas que estavam as meninas, por trás dos óculos escuros. Nisso, Leal disse entre dentes, que o cara estava escolhendo uma gata. E que, pelo jeito, já tinha escolhido. Pois chamou o “secretário” e lhe segredou algo. Este, saiu imediatamente em direção à cantina do clube. Chamou um garçom, falou alguma coisa, voltando para o lado do Conde. Este, escreveu um cartão e o entregou ao garçom que já se aproximava,  indicando, com discrição, a mesa à qual se destinava. Nela, haviam três meninas. Eram duas morenas e uma ruiva. Três lindas mulheres. O garçom saiu em direção à secretaria e voltou minutos depois, indo em direção a mesa das três garotas. Entregou o cartão à ruiva e se retirou. Ela pegou-o, leu, sorriu e olhou para o “Conde”. Ele retribuiu o sorriso e fez uma mesura. Não demorou muito e a menina já estava na mesa do cara. De onde a gente estava não dava para ouvir o que ele dizia pra ela. Ela apenas sorria. Ele falava encostadinho à sua orelha, enquanto escrevia alguma coisa num guardanapo. Naquela altura ela já estava domada. Já estava no papo. Ele alisou o seu rosto e entregou o guardanapo. Ela leu e releu algumas vezes. Entre sorrisos, se levantou e foi em direção à saída do clube. Deu uma paradinha e acenou para as amigas. Não demorou muito e o Conde saiu, seguido do seu vassalo. Olhamos para o camarão e o whisky. Mas não deu nem tempo para levantarmos. Apareceu rapidamente um garçom e levou tudo. Até hoje não soubemos o desfecho. O Dom Juan tupiniquim não deixou vestígio algum. Nem Leal, que conhecia o cara, conseguiu alguma informação. Mas segundo ele, o Conde, com certeza, tinha colocado mais uma no seu harém. Segredou com a gente, que ele demorava muito a atacar no mesmo lugar. Resolvemos ir atrás do trio. Chegamos ao estacionamento, mas não tinha mais ninguém. Um segurança do clube nos informou que o Conde tinha saído com uma ruiva num Landal. Era um carrão da época.
                Leal fez uma careta e disse que ia descobrir outras armações do conde de araque. Nisso o garçom já estava na nossa cola. Veio ver se a gente não tinha dado no pé. Pelo o que eu percebi o segurança já estava avisado. Com certeza ele não ia deixar a gente passar. Eu vi quando, discretamente, levantou o polegar. Voltamos escoltados para a mesa. Ficamos pau da vida quando vimos que a batata tinha sumido. Algum aventureiro, duro igual nós, tinha carregado. A cerveja ficou. Mas do jeito que estava quente, nem de graça o cara quis. O whisky estava no fundo do copo e aguado. O que fazer?  De repente, uma luz apareceu no fundo do túnel. A sorte parecia que ia mudar. Leal encontrou a sua irmã. Já estava bom. Ficou melhor ainda, quando descobrimos que ela estava com duas amigas. Rapidamente pegamos a cerva quente e fomos pra mesa delas, mas com o garçom de butuca em cima da gente.


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

História Verídica - Conde Suldoroski - Parte 1


CONDE SULDOROSKI

- José Timotheo -


          O sol já estava cansado de esquentar aquela manhã. O termômetro devia estar chegando à casa dos 39° e ainda os ponteiros de um relógio de parede, ensebado de gordura, suavam para se aproximar das 13 horas. Naquela altura a piscina não conseguia abrigar nem mais uma alma viva. Eu e meus amigos – éramos três – já estávamos de molho, desde as 11 horas, tentando aliviar o corpo e, de uma forma ou de outra, ficarmos perto de algumas meninas. Mas tem sempre alguém para tentar acabar com a paz. E esse alguém apareceu. Era um cara, com pinta de dono da festa, acompanhado de duas meninas. Começou a reclamar, olhando pra gente, e solicitou, com a maior cara de pau, que alguém saísse para ele e as suas acompanhantes entrassem. Parecia que o cidadão sabia que éramos convidados. O pedido tinha endereço certo: nós. Só faltou pular dentro d’água e jogar a gente pra fora. Mas que culpa nós tínhamos da piscina ser pequena? E diziam que era olímpica...Mas antes que pudéssemos passar algum tipo de vergonha, saímos voluntariamente. Era a segunda vez que íamos ao clube. E queríamos voltar quantas vezes mais conseguíssemos convites. Não podíamos queimar o filme. O mais sensato era engolir o sapo. O cara ficou satisfeito. E ainda sorriu pra gente. Mas nós o xingamos silenciosamente e fomos para a nossa mesa,  torcendo para não ser confiscada. Fomos contrariados. Mas não tínhamos outra saída. Éramos convidados, quase penetras. Sentamos e ficamos na nossa. Não comentamos do ocorrido. O importante era que outras mesas próximas estavam cheias de meninas. Isso era o que realmente importava. Ficamos de butuca em cima. Mas parecíamos três caras invisíveis. Três adolescentes duros: essa era a verdade! Entretanto, não podíamos perder a pose. Trocando em miúdos: tínhamos que pedir alguma coisa. O garçom não tirava o olho de cima de nós. Disfarçadamente, cada um contou o seu parco dinheirinho e chegou-se a conclusão que podíamos esbanjar. Chamamos o garçom – o cara abriu o maior sorriso! -, pedimos um prato de batatas fritas – era o mais barato – e uma cerveja. O cara deve ter ganhado alguma aposta, feita com algum outro garçom. Com a rapidez que ele nos atendeu, só podia ter sido isso, ou as batatas eram sobras. No mínimo o outro disse – se não me engano, eram três – que dali da nossa mesa não sairia nem um copo de água da bica. Mas o importante é que ele foi solícito. O pedido foi feito e meia hora depois já estava na nossa mesa. Antes de comer fizemos um trato: uma batatinha pra cada um a cada meia hora. A cerveja também tinha que ser racionada. Tínhamos que beber bem devagarzinho. O negócio era impressionar. Até pose nós fizemos, mas as meninas nem arriscaram uma olhadela pra gente. Adolescente da minha época sofria!
             O bate papo corria solto. Um dos amigos era um exímio contador de piadas. Ficamos ali rindo um bocado. Pelo menos desopilamos o fígado. E a batata e a cerveja continuavam controladas. A batata já estava murcha e a cerveja, um purgante. Mas não perdíamos a pose. Em hipótese alguma podíamos fazer cara feia. Tínhamos que saborear entre sorrisos. De repente um dos amigos, o contador de piadas, parou.  
             -“Não acredito! Não acredito!” – disse ele com uma entonação tal, que fez a gente esticar o nosso olhar na direção que ele esticava o dele.   
             -“Olha só! Olha só! Aquele ali é o maior 171 que conheço!” – falou ele, apontando discretamente para um cara que chegava acompanhado de outro cara de terno. Vinha cheio de pose. Vestia alguma coisa toda colorida, com um brasão em cima do coração, que lembrava muito um agasalho para se proteger de um frio rigoroso, tipo de Moscou. Muito espalhafatoso o cara. Mesmo chegando daquele jeito, ninguém deu pela sua presença. Ia me esquecendo de um par de óculos preto que cobria quase todo o seu rosto. O meu amigo custou a se recuperar do susto e voltar a falar da figura. Esperou o cara arranjar uma mesa para aportar. De repente veio um funcionário do clube e levou-o até uma bem localizada, que já estava com uma placa indicando que estava reservada. E, estrategicamente, no meio da mulherada. O cara parou próximo à mesa, enquanto o seu acompanhante, secretário ou coisa parecida, puxou a cadeira e esperou que ele se acertasse e empurrou para debaixo da sua bunda.
             O meu amigo continuava só observando o cara. A minha curiosidade estava quase berrando. Eu queria saber quem era a figura. Peguei o amigo pelo braço e perguntei seco.
             -“E aí! Quem é o cara?”
             Sem desgrudar os olhos da figura enigmática, me respondeu quase soletrando cada palavra e entre dentes.
             -“Conde Suldoroski. Assim ele se “auto” batizou. O nome verdadeiro mesmo é Agripino.”
             -“Conde Sul... da onde?”
             -“Suldoroski! – repetiu ele lentamente.                                                
             -“É conde da onde? Não leva a mal não, mas o cara é feio pra daná!”

            -“Ele tem uma lábia danada! O que tem de feio tem de malandro! Não adianta me perguntar de onde ele tirou esse nome, que eu não saberei responder. Eu nem sei se esse nome existe! Agora vamos observar pra ver qual vai ser a dele.”
........................Continua semana que vem....

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Reflexão de Poeta - SOS Travessia



SOS Travessia
- José Timotheo -
Bem estar
Acomodar alegria
Transpirar prazer
Libertar tensão
Então?
Deixa estar
Carregar sonho no estresse
Trafegar pacífico na pacificação
Levar a esperança nos braços
E a vitória na mão

Bem estar ou não?