Continuando...
Joana
caminhou ao encontro deles. Os cumprimentos foram efusivos. Falavam baixinho
com medo que as palavras os traíssem. O padre que chegou mais rápido, pegou a mão da Madre,
beijou-a e disse:
- Mirna!
- Pavan! Não me chame assim! Se
houver esquecimento, no meio dos outros, e me chamar pelo meu nome, vamos ficar
em maus lençóis!
- Desculpe, Madre. Fiquei emocionado
e estava também com saudade do seu nome.
- Está bem, padre, depois matamos a
saudade de...
- Não fale! Senão fico nervoso!
Nisso foi se aproximando o senador.
Eles interromperam a conversa e esperaram a sua chegada. Ele apertou a mão da
Madre e disse:
- Joana, tem carne fresca?
- Claro! Sempre tem!
- Muito bom!
Depois foram os três até a mureta e
ficaram observando o movimento dos convidados. Alguns se dirigiam para o
interior do prédio e outros se espalhavam pelo jardim. Após, aproximadamente,
dois minutos de silêncio, o senador disse para a Madre:
- Minha amiga e sócia, como prometi, consegui trazer alguns afeiçoados
pelo jogo e que gostam de apostar até a alma. Quando disse que ia haver
carteado e outros jogos de cassino, ficaram enlouquecidos. Alguns ainda
comentaram que não podiam ficar fora dessa experiência única: jogar dentro de
um convento. E já está tudo pronto?
- Tudo certo, senador. Trouxe o
croupier?
- Claro, Joana, temos que fazer tudo
com muita discrição, mesmo você sabendo que a nata da corrupção está aqui, pois
nesse meio tem gente - por incrível que pareça! - que não aceita o jogo. O
projeto da legalização não vai pra frente por causa desses “malucos”!
- Mas é bom que não legalize, pelo
menos por enquanto, porque a proibição estimula os adoradores das cartas e vão
entrar pelos nossos porões e gastar uma fortuna! Só vão sair de lá quando
estiverem lisos! Ah! Ah! Ah! Vamos ganhar uma grana preta, meus amigos!
- Joana, Joana! Não posso rir! Se eu
der uma gargalhada, que já atravessa a minha garganta, vai ser um Deus nos
acuda! Deixa-me entrar na sua sala, rápido!
O senador entrou ligeiro, apesar dos
seus quilos a mais, fechou a porta atrás de si e gargalhou com os pulmões dos
gananciosos.
Do lado de fora a Madre Joana e o
padre riam baixinho da gargalhada do amigo, que ainda conseguia escapar pelos
quase inexistentes espaços vazios.
Alguns minutos depois, com a cara bem
vermelha, o senador voltou para o lado dos amigos. Com o seu retorno, a Madre
comentou:
- Senador, estive pensando nesses
dois últimos dias. Acho que esse evento vai funcionar como teste.
- Teste? Teste de quê?
- Sim, teste. Vamos ver como tudo vai
funcionar. Se render muita grana fácil, a gente repete o evento. Dá um espaço
de alguns meses e a gente inventa alguma obra de ampliação. E festa neles!
- Madre! Madre! És uma raposa!
- Senador, Senador! Não estou
sozinha! Somos o quê? Raposada?
O Senador sorriu e disse:
- É jeito de falar! Somos raposas,
sim!
Vamos ao trabalho. Não é o meu
forte, mas... Vou descendo para ir contatando os “meus jogadores”. Logo depois
do almoço, podemos começar o jogo, certo?
O senador deixou os dois, o padre e a
Madre, e foii pegando o caminho da escada. Estava sorridente! Acena para um e
para o outro, espicha os olhos à procura dos amigos adeptos do carteado, da
roleta e de outros jogos. Em pouco tempo de caminhada consegue acertar o
horário da jogatina com todos eles.
Com a saída do senador, o padre e a
Madre continuaram apreciando o movimento no jardim. Os seus conhecidos que circulavam eram poucos.
A maioria dos convidados era do círculo do senador. O padre, aproveitando a
proximidade da Madre, agarrou-a pela cintura. Joana pisou-o no pé e afastou-se.
O padre reclamou, com ar aborrecido.
- Puxa, Mirna, me machucou!
- Já avisei que meu nome é Joana!
Está maluco? Intimidade só lá dentro, entendeu?
- Desculpe-me, Joana, acho melhor eu
circular por aí. Vou seguindo as pegadas do senador, mas antes me diz uma
coisa:
- Tem umas cabritinhas para hoje, né?
A Madre Joana olhou dentro dos seus olhos,
parou alguns segundos até um sorriso malicioso brotar nos seus lábios
descorados. Em seguida crava seus dentes na parte inferior, respira fundo e
fala mansamente:
- Meu amor, preste atenção! Preste mesmo!
A única cabritinha aqui sou eu. Se por um acaso te entusiasmares por outra -
meu querido! - verás o que te acontecerá. Vai ser a última vez que usas a tua
ferramenta. Sabes que não brinco.
- Mirna, não gosto quando você fala na
segunda pessoa. Foi brincadeira. Foi da boca pra fora. Você sabe que só tenho
olhos pra você.
- Isso é que tem que ser. Depois arranjamos um tempo para o nosso
ninho, mas agora vamos dar atenção aos nossos convidados. Arcanjo, quantos
amigos você trouxe para a festinha particular com as meninas?
- Certo, são oito. De repente consigo
mais alguns.
- Temos seis cabritinhas, que já estão
lá dentro à disposição.
- Isso é bom.
- E a grana?
- Está na minha pasta. Cinco já me pagaram
adiantado.
- Quanto foi?
- Cobrei dois mil por cada menina.
- Já temos dez mil.
A Madre Joana olha para o padre, com
um olhar de cobiça, e quase o abraça, mas rapidamente consegue abortar a
vontade. Sorri meio sem jeito e fala baixinho:
- Puxa! Quase que te agarro! Fiquei
emocionada com a grana! Pra começar, dez mil! Tá de bom tamanho! Dá pra faturar
bem mais! Depois que sair alguém, Celeste dá um trato na menina e ela volta
para o quarto.
- É isso, minha Madre! Essas seis vão
nos render bem!
- Será que a gente consegue uns
trinta mil reais?
- Quem sabe?
- Como estão os nossos negócios na capital?
- Os negócios vão de vento em popa!
Depois eu mostro todo o movimento. As nossas contas então recheadas!
- Isso é que é notícia boa!
..............Continua semana que vem!