Continuando...
Em seguida a Madre começou a
falar sobre o amor. Helô ouvia atenta. Ela falou do amor de pais, irmãos, amigos
e amor de homem e mulher, amor este que Helô desconhecia completamente. Depois
dessa conversa, a Madre, antes de sumir, falou:
- Minha filha, se você precisar voltar
aqui é só entrar em sintonia. Acho que você vai querer voltar.
- Será que vou precisar? Tenho quase
certeza que me lembro de tudo, mas quem sabe, né?
Depois da última conversa com a Madre,
Helô entrou de cabeça na feitura do relatório. Estava concentradíssima. A sua
memória era fantástica. Tudo era registrado nos mínimos detalhes. Faltava pouco
para concluí-lo. Os cuidados eram muitos para não ser surpreendida por qualquer
pessoa. Não podia botar tudo a perder. Mesmo não a vendo, sabia que a Madre
fazia uma barreira para protegê-la. Apesar do policiamento mais liberado, mas
que não tinha acabado de todo, ela fazia de tudo para não levantar suspeitas e,
assim, ela foi carregando o dia como se fosse uma joia rara.
Todos os dias, pela manhã, a irmã
Amélia estava liberada para encontrar-se com Helô. Vinha amparada por uma irmã,
que a deixava no banco do jardim. A sua saúde continuava muito ruim, ela
definhava a olhos vistos. Helô estava muito preocupada com o seu quadro.
Algumas vezes pediu socorro a Madre Maria de Lourdes e a sua consulta vinha
sempre com a mesma resposta:
- Paciência, minha filha, no momento
não se pode fazer nada, mas vamos dar tempo ao tempo. A melhora virá. Deus não
dá um peso maior do que podemos carregar. Não vai demorar muito e ela vai ficar
boa disso tudo. Ela está suportando toda provação com muita dignidade. Pede a
Deus pela sua saúde.
Depois dessas conversas, Helô ficava
mais otimista, conseguia até deixar escapar alguns sorrisos.
A festa já se aproximava. Helô já
tinha concluído o relatório, um trabalho muito minucioso. Não esqueceu um
detalhe sequer. Podia-se entrar pelo escritório da Madre Joana ou pela gruta.
Colocou até uma observação, onde se lia: alguns policiais podem entrar pelo
escritório e outros pela gruta, para evitar alguma fuga.
Nesse período em que terminava o seu
relatório, Helô ainda voltou na gruta mais duas vezes. Foi ver se a sua memória
não tinha lhe pregado alguma peça, mas sorriu ao constatar que tinha uma
memória fotográfica. A Madre que estava sempre junto dela sorriu satisfeita
também.
Na última vez que foi até ao arquivo
da sala secreta, por sugestão da Madre, abriu os armários e foi logo na letra
H. Encontrou rapidamente a pasta que tinha o seu nome. Ansiosa e surpresa com o
achado abriu-a, quase a rasgando, mas a decepção veio em seguida: estava vazia.
Olhou para a Madre e pediu socorro:
- Por favor, Madre, explica isso! Pensei
que fosse descobrir a minha origem! E agora?
- Calma, minha filha, os papéis devem
estar em outra pasta. Sabe, Helô, Deus escreve certo por linhas tortas.
- O que a senhora quer dizer com
isso?
- Às vezes acontecem coisas que a
gente não quer, no entanto acontecem para nos proteger. Talvez não seja esse o
momento ainda de você saber a sua história.
Helô não ficou satisfeita com o
argumento da Madre. Continuou a vasculhar pasta por pasta. Não achou a sua
ficha, entretanto fez algumas descobertas interessantes sobre outras internas.
Uma das fichas, da sua amiga Alécia, deixou-a de queixo caído. Lia linha por
linha e não queria acreditar no que estava descobrindo. Boquiaberta, falou para
a Madre:
- Meu Deus! Alécia é filha da irmã Jussara!
É verdade, Madre?
- É isso mesmo, minha filha. Você não
leu? Então é verdade. O arquivo lá da frente é mentiroso, mas esse daqui é
verdadeiro.
- Meu Deus, Madre! Tenho que
continuar procurando pelas fichas de mais amigas! De repente eu as encontro e
com certeza vão esclarecer as suas vidas! Quem sabe eu também ache a minha
ficha?
A Madre procurou não interromper o
entusiasmo de Helô. Com a sua calma habitual, esperou que a sua adrenalina baixasse.
Do jeito que ela estava elétrica, não a ouviria. Aos poucos foi serenando, aí
sim a entidade lhe falou:
- Minha filha, escute-me um pouco.
Acalme-se e preste atenção! O momento ainda não é esse. Depois você vai ter
todo o tempo do mundo para investigar. Vai poder, com calma, olhar pasta por
pasta, mas agora é preciso parar por aqui e, por favor, não fale nada com a sua
amiga Alécia, está bem? Ninguém pode ficar sabendo de nada por enquanto. O
trabalho não pode ser interrompido. Falta pouco tempo para que tudo fique
esclarecido. Você tem que ficar focada até o desfecho da festa, mas, mesmo
assim, terá que continuar esperando pela investigação da polícia. Está bem?
- Desculpe, Madre, fiquei ansiosa, mas
agora está tudo bem. Vou esperar com paciência. Nós já vamos embora?
- Vamos sim. O nosso tempo aqui
acabou.
- Madre, tem só uma coisinha. Eu sei
que peço à beça, mas vê se a senhora pode fazer mais alguma coisa pela irmã
Amélia.
- Já estamos fazendo. Por incrível que
pareça, a Madre Joana tem dispensado total atenção para com Amélia. Minha
filha, ela não é de todo má.
- Puxa, Madre! Não é má? Desde que me
entendo por gente, ela só faz maldade!
- É, Helô, mas as pessoas podem mudar.
Eu sei que o que ela fez e que continua fazendo, vai ter que pagar. Primeiro
pelo tribunal dos homens, depois, por Deus e também com a sua consciência, que
às vezes é o pior.
.............Continua semana que vem!
.............Continua semana que vem!