Continuando...
Helô antes de voltar para o
alojamento olhou ao redor. Viu crianças e freiras circulando. Sorriu novamente,
mas não foi só pela beleza da natureza. Achou graça também num fato inédito que
estava acontecendo: o convento estava despertando com as galinhas. Nunca tinha
observado tamanho burburinho naquela hora da manhã. Ela se aproximava do
refeitório e pelo caminho encontrou-se com todo o estafe da Madre Joana. – Final dos tempos? – perguntou-se, muda.
Ficou procurando nos escaninhos da
sua memória, mas não conseguiu achar algum momento em que, pelo menos, tenha
encontrado alguma dessas irmãs por ali. Nunca em tempo algum. Depois pensou: ¬
Só falta a Madre Joana também aparecer por ali ¬ pensou e não deu outra: era ela de carne e
osso, que entrava no refeitório dando um bom dia sonoro. – Isso não é normal! –
falou baixinho, colocando a mão na frente da boca.
De onde ela estava dava para ver a
entrada do refeitório. Enquanto tomava o seu café, não despregava os olhos
dali. A sua esperança era ver a irmã Amélia entrar feliz e com a saúde em dia,
mas o que estava almejando não aconteceu. O convento estava em peso no
refeitório, menos ela. Em compensação, para aliviar um pouco a sua tristeza,
apareceu a Madre Maria de Lourdes. Tomou conta de toda a porta. De onde estava
se comunicou com ela, por telepatia. Pediu para que fosse encontrá-la depois do
café. Nesse instante uma chuva de rosas caiu sobre todos que ali estavam.
Imediatamente Helô sentiu que foi invadida por uma paz nunca antes sentida. Num
relance olhou para todos que estavam ali
dentro e sentiu que essa onda de paz também abraçou cada um que ali estava.
Levantou-se e foi ao encontro da Madre Maria de Lourdes, que já estava no
corredor à sua espera. Mal se aproximou da Madre, ela disse:
- Minha filha, precisamos agir com
rapidez. Hoje o caminho vai ficar livre. Vamos trabalhar o máximo que pudermos.
Acredito que vamos completar nossa tarefa, mas antes quero que você veja uma
coisa, porém sem se assustar, está bem?
Helô balançou a cabeça num gesto de confirmação.
O seu ok estava dado e preferiu nada perguntar. O que a entidade dizia, naquela
altura, era pegar e ir em frente. A Madre então, com um gesto de mão, fez
aparecer, do lado de fora do corredor, uma porção de manchas escuras, de formas
variadas. Movimentavam-se desordenadamente e emitiam sons de difícil
identificação. Algumas formas e sons ela conseguiu fazer alguma analogia. Umas
lembravam o ser humano, misturadas com animais. Algumas pareciam com um cão,
que até uivavam. Outras se rastejavam como cobra. Até com roedores se pareciam
e com formato de águia também, fora os que ela não conseguiu fazer qualquer
analogia. No meio de todas aquelas manchas viu claramente pessoas se
movimentando. Algumas portavam lanças pontiagudas que de vez em quando espetavam
aquelas formas não identificadas. Quando isso acontecia, chegavam aos seus
ouvidos gritos de dor. De repente ela identificou claramente um homem, com uma
altura descomunal, que se destacava completamente de todas as
entidades. Parecia que era o chefe. Caminhava como se estivesse amassando tudo
que estava sob o seus enormes pés. Além disso, empunhava um chicote na mão direita
e um frasco contendo um líquido esverdeado na outra mão. De vez em quando distribuía
chicotadas e em seguida jogava esse líquido nas manchas que eram açoitadas.
Gritos de dor e pavor espalhavam-se no ar. Helô ficou muito assustada. A Madre
percebendo o seu estado falou mentalmente:
- Não tenha medo! Com a prece você se
isola desse quadro. Você se protege e ajuda esses irmãos sofredores. E são
esses irmãos que a Madre Joana e o seu grupo sintonizam.
- Verdade, Madre? Que coisa horrível
de se ver! Muito triste, irmã! Como é que elas vivem assim? É gente mesmo?
- Essas manchas são pessoas como nós,
minha filha. Estão num estágio de muito atraso, mas Deus não desampara ninguém.
Nenhuma delas vai ficar esquecida pela criação, mas nós temos que fazer a nossa
parte. Lembra o que Jesus falou: orai e vigiai? Quando você não vigia os seus
sentimentos, com certeza vai cair numa teia de aranha. Veja o quadro da irmã
Joana: a ambição desenfreada é seu grave problema. Ela está completamente
desequilibrada moralmente, mas um dia, Deus é paciente, ela conserta esse
defeito. Por enquanto o quadro é esse que você está vendo.
- Horrível, Madre! Horrível!
A Madre com um leve movimento de mão,
fez com que tudo se apagasse para os olhos de Helô, que respirou aliviada. Em
seguida disse:
- Helô, minha filha, vamos ao
trabalho? Hoje vamos andar bem mais rápido. Agora fecha os olhos. Concentre-se
e pensa na gruta.
Num piscar de olhos, Helô já estava parada na porta de entrada para
a primeira sala e, dessa vez, a porta já estava aberta. Como fazia sempre, foi
entrando com cuidado. O ambiente já estava todo iluminado, isso já ajudou
bastante. Caminhou até a outra porta, que também já estava aberta, e entrou na
sala da enfermaria. Seguia a Madre bem de perto. Passava pelas camas vazias,
mas arrumadas. Rapidamente já estava de frente para um das portas fechadas.
Olhou para a Madre e perguntou:
- Madre, é só essa que eu tenho que
abrir? E as outras?
- É só essa. As outras não têm
importância. – respondeu.
Helô ficou olhando para a Madre. De
tão rígida, parecia uma estátua. A Madre olhou-a parada feito uma pedra e
inquiriu-a:
- Ué! O que houve, Helô? Você está
mais para um bloco de granito do que para uma pessoa!
- Ué? Digo eu, Madre, como é que eu
vou abrir essa porta? Não tenho a chave! – falou baixinho, esquecendo-se de conversar
por telepatia.
A
Madre sorriu e disse:
- Coloque a mão na maçaneta e gire.
Alguém a esqueceu aberta.
Helô meio sem graça colocou a mão na
maçaneta e girou-a. A porta foi se abrindo, lentamente, sozinha, pois estava
fora de prumo. A sala, completamente mergulhada na escuridão, não lhe deixava enxergar
um palmo à frente do seu nariz. A Madre então, num simples movimento de mão, iluminou
todo do cômodo, mas, quando a sala ficou clara, Helô ficou pálida. Olhava assustada
para dentro do cômodo e não conseguia se mover. Aquilo tudo ali, o que
representava? Ela nem desconfiava o que poderia ser aquilo, mas sentiu que não
era boa coisa. Nunca tinha visto nada igual. A sua cegueira era completa. Olhava
e nada via. Era total a sua ignorância. Aquilo tudo forrado de preto e roxo
causava-lhe arrepios. Com uma força extra da Madre, ela conseguiu mover-se e
foi entrando.
...............Continua semana que vem!
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