terça-feira, 2 de julho de 2019

A História de Helô - Parte 39



Continuando...

Helô antes de voltar para o alojamento olhou ao redor. Viu crianças e freiras circulando. Sorriu novamente, mas não foi só pela beleza da natureza. Achou graça também num fato inédito que estava acontecendo: o convento estava despertando com as galinhas. Nunca tinha observado tamanho burburinho naquela hora da manhã. Ela se aproximava do refeitório e pelo caminho encontrou-se com todo o estafe da Madre Joana.  – Final dos tempos? – perguntou-se, muda.
          Ficou procurando nos escaninhos da sua memória, mas não conseguiu achar algum momento em que, pelo menos, tenha encontrado alguma dessas irmãs por ali. Nunca em tempo algum. Depois pensou: ¬ Só falta a Madre Joana também aparecer por ali ¬  pensou e não deu outra: era ela de carne e osso, que entrava no refeitório dando um bom dia sonoro. – Isso não é normal! – falou baixinho, colocando a mão na frente da boca.
          De onde ela estava dava para ver a entrada do refeitório. Enquanto tomava o seu café, não despregava os olhos dali. A sua esperança era ver a irmã Amélia entrar feliz e com a saúde em dia, mas o que estava almejando não aconteceu. O convento estava em peso no refeitório, menos ela. Em compensação, para aliviar um pouco a sua tristeza, apareceu a Madre Maria de Lourdes. Tomou conta de toda a porta. De onde estava se comunicou com ela, por telepatia. Pediu para que fosse encontrá-la depois do café. Nesse instante uma chuva de rosas caiu sobre todos que ali estavam. Imediatamente Helô sentiu que foi invadida por uma paz nunca antes sentida. Num relance olhou para todos que estavam  ali dentro e sentiu que essa onda de paz também abraçou cada um que ali estava. Levantou-se e foi ao encontro da Madre Maria de Lourdes, que já estava no corredor à sua espera. Mal se aproximou da Madre, ela disse:
          - Minha filha, precisamos agir com rapidez. Hoje o caminho vai ficar livre. Vamos trabalhar o máximo que pudermos. Acredito que vamos completar nossa tarefa, mas antes quero que você veja uma coisa, porém sem se assustar, está bem?
           Helô balançou a cabeça num gesto de confirmação. O seu ok estava dado e preferiu nada perguntar. O que a entidade dizia, naquela altura, era pegar e ir em frente. A Madre então, com um gesto de mão, fez aparecer, do lado de fora do corredor, uma porção de manchas escuras, de formas variadas. Movimentavam-se desordenadamente e emitiam sons de difícil identificação. Algumas formas e sons ela conseguiu fazer alguma analogia. Umas lembravam o ser humano, misturadas com animais. Algumas pareciam com um cão, que até uivavam. Outras se rastejavam como cobra. Até com roedores se pareciam e com formato de águia também, fora os que ela não conseguiu fazer qualquer analogia. No meio de todas aquelas manchas viu claramente pessoas se movimentando. Algumas portavam lanças pontiagudas que de vez em quando espetavam aquelas formas não identificadas. Quando isso acontecia, chegavam aos seus ouvidos gritos de dor. De repente ela identificou claramente um homem, com uma altura descomunal,  que  se destacava completamente de todas as entidades. Parecia que era o chefe. Caminhava como se estivesse amassando tudo que estava sob o seus enormes pés. Além disso, empunhava um chicote na mão direita e um frasco contendo um líquido esverdeado na outra mão. De vez em quando distribuía chicotadas e em seguida jogava esse líquido nas manchas que eram açoitadas. Gritos de dor e pavor espalhavam-se no ar. Helô ficou muito assustada. A Madre percebendo o seu estado falou mentalmente:
          - Não tenha medo! Com a prece você se isola desse quadro. Você se protege e ajuda esses irmãos sofredores. E são esses irmãos que a Madre Joana e o seu grupo sintonizam.
          - Verdade, Madre? Que coisa horrível de se ver! Muito triste, irmã! Como é que elas vivem assim? É gente mesmo?
         - Essas manchas são pessoas como nós, minha filha. Estão num estágio de muito atraso, mas Deus não desampara ninguém. Nenhuma delas vai ficar esquecida pela criação, mas nós temos que fazer a nossa parte. Lembra o que Jesus falou: orai e vigiai? Quando você não vigia os seus sentimentos, com certeza vai cair numa teia de aranha. Veja o quadro da irmã Joana: a ambição desenfreada é seu grave problema. Ela está completamente desequilibrada moralmente, mas um dia, Deus é paciente, ela conserta esse defeito. Por enquanto o quadro é esse que você está vendo.
          - Horrível, Madre! Horrível!
          A Madre com um leve movimento de mão, fez com que tudo se apagasse para os olhos de Helô, que respirou aliviada. Em seguida disse:
          - Helô, minha filha, vamos ao trabalho? Hoje vamos andar bem mais rápido. Agora fecha os olhos. Concentre-se e pensa na gruta.
          Num piscar de olhos,  Helô já estava parada na porta de entrada para a primeira sala e, dessa vez, a porta já estava aberta. Como fazia sempre, foi entrando com cuidado. O ambiente já estava todo iluminado, isso já ajudou bastante. Caminhou até a outra porta, que também já estava aberta, e entrou na sala da enfermaria. Seguia a Madre bem de perto. Passava pelas camas vazias, mas arrumadas. Rapidamente já estava de frente para um das portas fechadas. Olhou para a Madre e perguntou:
          - Madre, é só essa que eu tenho que abrir? E as outras?
          - É só essa. As outras não têm importância. – respondeu.
          Helô ficou olhando para a Madre. De tão rígida, parecia uma estátua. A Madre olhou-a parada feito uma pedra e inquiriu-a:
          - Ué! O que houve, Helô? Você está mais para um bloco de granito do que para uma pessoa!
          - Ué? Digo eu, Madre, como é que eu vou abrir essa porta? Não tenho a chave! – falou baixinho, esquecendo-se de conversar por telepatia.
          A Madre sorriu e disse:
          - Coloque a mão na maçaneta e gire. Alguém a esqueceu aberta.
          Helô meio sem graça colocou a mão na maçaneta e girou-a. A porta foi se abrindo, lentamente, sozinha, pois estava fora de prumo. A sala, completamente mergulhada na escuridão, não lhe deixava enxergar um palmo à frente do seu nariz. A Madre então, num simples movimento de mão, iluminou todo do cômodo, mas, quando a sala ficou clara, Helô ficou pálida. Olhava assustada para dentro do cômodo e não conseguia se mover. Aquilo tudo ali, o que representava? Ela nem desconfiava o que poderia ser aquilo, mas sentiu que não era boa coisa. Nunca tinha visto nada igual. A sua cegueira era completa. Olhava e nada via. Era total a sua ignorância. Aquilo tudo forrado de preto e roxo causava-lhe arrepios. Com uma força extra da Madre, ela conseguiu mover-se e foi entrando. 
...............Continua semana que vem!

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