terça-feira, 25 de junho de 2019

A História de Helô - Parte 38



Continuando...

Aí sim, as irmãs, que já se olhavam com cifras no olhar, deixaram fluir um largo sorriso. Em seguida, um burburinho se instalou. Empolgadas, visando um futuro de abastança, falavam pelos cotovelos. Imaginavam, caindo do céu, chuvas de dólares, formando rios onde navegavam em iates transbordando ouro. A Madre também sorria mergulhada no mesmo devaneio. As entidades sorriam, pois o planejado estava se concretizando. Ficou satisfeita ao perceber que fora entendida.
         A Madre Maria de Lourdes e a sua equipe foram espalhando fluídos por sobre elas. De repente a alegria brotou geral. Os corações estavam imantados de bondade.  Palavras doces fluíam livremente. Se chegasse alguém naquele momento, que já conhecesse o grupo, ia  achar que aquilo era uma representação teatral. Os corações brutos estavam amolecendo, mas até quando?
          Um trabalho paciente e preciso começou a ser feito. A equipe da Madre Maria arregaçou as mangas e foi à luta. A faxina teve início. O processo para clarear as auras enegrecidas daquelas almas endurecidas pelo mal deveria ser contínuo, sem descanso, bem vigiado e em sintonia constante com o plano superior. Para haver sucesso nessa empreitada, só mesmo com um suporte fluídico emitido por entidades de escol.
          A Madre e a sua equipe, formada por freiras, sabiam que, a qualquer descuido, a Madre Joana e suas assessoras seriam facilmente capturadas novamente pelas entidades trevosas. Então, uma das entidades, irmã Sofia, foi designada para grudar na Madre Joana. Sabia que, enquanto ela estivesse do seu lado, as entidades malignas não conseguiriam atravessar o bloqueio. Ia ter que sugestioná-la a todo instante com bons pensamentos. Sabedora das desqualificações morais da Madre Joana, não podia se descuidar em hipótese alguma. A Madre Maria de Lourdes então colocou, por precaução, mais uma irmã para ajudá-la. Assim fortaleceria a corrente em torno da irmã Joana, não permitindo, com isso, que ela entrasse em sintonia com as trevas. E assim teria que ser até o desfecho da festa.
          Na manhã do dia seguinte, a Madre Joana, de telefone em punho, colocava a par das suas ideias o senador e o padre. Os dois seriam os principais responsáveis em convidar pessoas abastadas. O senador seria o principal responsável por esses convites, tendo em vista a sua penetração na alta sociedade. Eles aceitaram a ideia, mas não alcançaram a sua profundidade. Surpresos com o projeto precisariam de mais esclarecimentos, principalmente o Senador. A Madre então prometeu mostrar-lhes todos os passos da festa. Do outro lado da linha, o silêncio. Imediatamente, duas entidades da equipe da Madre Maria de Lourdes circularam em torno dos dois. Trabalharam com mais intensidade sobre o Senador, tentando apagar a dúvida do seu pensamento, e conseguiram. O Senador voltou a falar e deu carta branca para a Madre Joana resolver tudo. Falou também pelo padre, mas sem dúvida estavam surpresos com o evento. Partindo da Madre Joana, era uma coisa surreal. Eles sabiam muito bem qual o tipo de festa que a Madre gostava, principalmente o padre. Esse mais do que ninguém participava sozinho com ela, pois eram amantes.
             A Madre Joana respirou aliviada. A sua ideia estava aprovada. Aceitaram na íntegra o espírito da festa sem um senão, mas (sempre tem um mas) não podia deixar qualquer margem para uma futura dúvida, pois conhecia muito bem a sua gang, principalmente os dois. Então achou por bem explicar, ponto por ponto, o seu projeto. E foi claríssima na explicação, chamando a atenção para o ganho pecuniário. A sua dissertação acerca das vantagens convencia qualquer expert em pilantragem. A vultosa cifra que afirmou que iam embolsar fez tremer os alicerces daqueles seres abraçados à ambição. Aí sim a cobiça falou mais alto! Então os dois nem pestanejaram e entraram realmente de cabeça na empreitada. Se ainda existia algum fio de dúvida, agora não tinha mais, mas para que eles entendessem e aceitassem, realmente, foi preciso que as duas entidades não se desgrudassem deles, sugestionando-os ininterruptamente.  
          Os preparativos iam de  vento em popa. A Madre Joana escolheu o mês de outubro para a festa. Por que outubro? – comentou baixinho, a irmã Celeste, na orelha da irmã Arminda. Ela não respondeu, mas bateu de ombro. As duas não entenderam a escolha daquele mês. Sabiam que a Madre detestava outubro, mas desconheciam o motivo. - Questionar para quê? Escolheu, está escolhido! – disse a irmã Arminda, com ar de desdém.
           Quando entraram para a gang, foi deixado bem claro que não podiam questionar nada. Tudo que a Madre dissesse teria que ser seguido de olhos fechados, mas de uma coisa as duas sempre desconfiaram: a Madre não era a chefe. E nem o senador. E nem o padre. Quem era, nem desconfiavam. Por precaução ou medo nunca perguntaram quem era o poderoso chefão. Então, obedeciam e pronto.
          O mês de setembro chegou. Helô estava preocupadíssima com mais um sumiço da Madre Maria de Lourdes, entretanto o seu coração estava mais sossegado em relação à irmã Amélia. Depois de períodos de extrema preocupação e tristeza, agora respirava aliviada com o seu estado de saúde. Ainda não estava cem por cento, mas se podia comemorar o seu restabelecimento. Agora a via todos os dias, com tranquilidade. A Madre deixou-a livre, sem a presença das suas escudeiras. A espionagem tinha acabado. Estava feliz, entretanto surpresa com a postura da Madre Joana. Porém, depois de pensar muito, concluiu que esse relaxamento deveu-se à realização da festa que estava prestes a acontecer. Só ia esperar a Madre Maria de Lourdes para confirmar as suas suspeitas.  Mais uma coisa deixou-a com minhocas na cabeça. Depois de pensar e pensar não encontrou resposta. Achou estranho que nem ela e nem as outras meninas da sua idade tivessem sido convidadas para ajudar no que fosse necessário para os preparativos da festa.  Até em pequenas reuniões, como a apresentação do coral, todas as meninas eram sempre convocadas. Como numa festa daquela magnitude as adolescentes ficariam de fora?  Que era estranho era, mas como viu todas as irmãs num empenho total, sem um minuto sequer de ociosidade, preferiu não questionar. Viu nisso tudo a mão de Deus, tendo em vista que seria muito bom para ela e a irmã Amélia, pois teriam mais tempo para ficarem juntas.
         De vez em quando aquele movimento todo a incomodava, ainda mais quando apareciam o senador e o padre. Vinham além do normal, apareciam amiúde, entravam, deixavam mercadorias, encontravam-se com a Madre e depois partiam sorridentes. Nunca tinha sido assim. Isso dava para desconfiar, mas um lado positivo tinha nessa história: não houve sumiço de nenhuma menina nesse período. Ninguém ficou doente. As doenças misteriosas desapareceram, aquelas que levavam as meninas para se tratarem na capital, quando algumas voltavam e outras desapareciam para todo o sempre. Pelo menos nesse período toda e qualquer doença tinha sido erradicada. Respirou aliviada.
          Já era outubro. Um sol morno bateu na janela de Helô, mas ela já havia se levantado um pouco antes dos raios solares. Olhou pelo vidro e viu um domingo se apresentando duvidoso. Mesmo com um pouco de sol, a madrugada tinha sido de chuva. Duvidou daquele sol. Então saiu e foi olhar para o céu. Num cantinho tinha uma nuvem enegrecida, mas com as bordas claras. Notou que o sol bordava as pontas de vermelho intenso, com algumas nuances de um tom alaranjado. Estava embevecida com o quadro, mas isso só foi possível porque o sol tinha escalado uma boa parte da montanha que ficava no fundo, na porta do nascente. Sorriu. E esse sorriso era de esperança. 
..............Continua semana que vem!

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