terça-feira, 29 de março de 2022

Pensamento de Poeta - Surto em Cadeia

 


Surto em Cadeia

- José Timotheo -

 

Entre paredes

Brancas sujas

Tropeço num corpo

Que foi alvo

No meio da rua

Insanidade?

Reflexões me faltam

Há dúvidas da culpa do alvo

O que pensar sem cor?

Levo mais reflexões

Para quatro paredes sujas de branco

O que pensar do pensar em branco?

Só vejo somente a cor branca

Mas sem alvor

Reflexões entre gabinetes

Reflexões frente às câmeras

Um homem julgado e condenado

Morte ao vivo

Paredão da morte

Há sempre uma parede sem sorte

Mas pode haver o ápice da paz entre elas?

Meus olhos caíram no meio das balas

No centro do ápice da insanidade

Sem reflexões no momento

O que pensar?

Sol a pino

Tiros

Revejo um corpo tombar inerte

Apenas por ter refletido alguma coisa

Encontrou a inexistência do amanhã?

Surtou? Dizem

Ficou frente a frente

Com a parede sem sorte

Cravada de projéteis

Foi o fim dos sonhos

Projetos

Projéteis

Entre paredes caiadas de branco

Está o seu último repousar

 

                                                          Fim

terça-feira, 22 de março de 2022

Pensamento de Poeta - Divórcio

 


Divórcio

- José Timotheo -

 

Uma canção

Das sombras do passado

Debruça na saudade

Notas soltas redivivas

Tropeçam invigilantes

Como antes destoaram

Dois pra lá

Dois pra cá

Solidão em par

Passado

Passos largos

Distâncias, mais e mais

E mais... Demais

O tempo gravou o que foi

Mesmo os passos do após

Mas um agora inexistente

Mas que existiu

Dança, dança

Dois pra lá

Dois pra cá

É pura saudade

Um amor como névoa

Uma neblina densa

Cegueira

Dois pra lá

Dois pra cá

Perpassado

Descompassado

Longo desencontro

Um pra lá

Um pra cá

                                                    FIM

terça-feira, 15 de março de 2022

Pensamento de Poeta - Ciclo

 


Ciclo

- José Timotheo -

 

Uma folha descia sem pressa

Jogada de um lado para o outro

Pelas mãos da brisa

E acalentada pelos braços do tempo

Parecia que pousaria carinhosamente

Onde deveria ser o seu destino

Embaixo de um frondoso arvoredo

Mas um vento mais forte

Perturbou o seu curso

Que seria natural  

Deitando-a na borda de um riacho

Metade areia

Metade água

Balançou, balançou e girou

Até ser arrastada por uma

Falsa doçura

Naquele momento

O seu destino abraçou a incerteza

Viajou entre pedras

Deslizou por caminhos desconhecidos

E por aí foi se perdendo

Dentro de um tempo

Sem pressa

À deriva, foi sumindo

Até se deitar nas profundezas

Do oceano

Mesmo que esse momento derradeiro

Não tenha sido a sua escolha

Ali não seria o seu fim

Querendo ou não

Seria o início

De mais um ciclo

                                                 fim