terça-feira, 29 de outubro de 2019

A História de Helô - Parte 55


Continuando...

O delegado, antes de sair, ainda passou os olhos pelos quatros cantos do quarto.  Pensou: - Aqueles outros quartos e mais esse, todos mobiliados iguais, seriam peças importantes para a acusação -. Sentiu na hora que estava com uma preciosa prova para o MP e não se esqueceu de fotografá-los. Tudo que pudesse captar poderia ser interessante para engordar o processo contra a Madre Joana e seu bando.
          Esses aposentos, em número de cinco, estavam equipados com hidro massagem, televisores e outros equipamentos, entre eles objetos pornográficos. Era nesses quartos que as meninas sofriam violências sexuais. O delegado analisou todas as peças que compunham o ambiente. Soube na hora do que se tratava e guardou para si e, mesmo não ouvindo nada da conversa de Helô com a Madre Maria de Lourdes, também preferiu não comentar nada com a menina.
          O delegado foi acompanhando Helô até o último aposento. Antes de entrar pegou uma folha de papel e anotou todos os passos de como abrir os quartos secretos. Quando saísse dali, acrescentaria no caderno de anotações de Helô que já estava sob a sua guarda.
          Rodolfo, depois de fazer as devidas anotações, dobrou o papel e enfiou-o no bolso detrás da sua calça. Helô, que já estava entrando no aposento, chamou-o. Ele levantou a cabeça e seguiu-a. Ela já estava no interior. Ele entrou em seguida e viu que aquele quarto não tinha nada de interessante, ela também achou o mesmo e disse que ia sair. Virou-se e encaminhou-se para a porta, mas, sem mais nem menos, ele ficou parado, sem ação, no meio do quarto. Ela, já do lado de fora, não entendeu o porquê dele não tê-la seguido. Então ficou esperando-o encostada no portal, mas a Madre avisou-lhe que seria prudente chamar Rodolfo, pois ela tinha escutado os pensamentos da Madre Joana e dos seus sócios. Então, por precaução, seria melhor saírem dali rapidamente. Alguns daqueles cômodos seriam usados. Aquele não, pois seria preparado para um futuro próximo, mas mesmo assim: pernas para que te quero. E era isso mesmo que tinha que ser feito, pois, além do mais, aproximava-se a hora da apresentação do coral. Se Helô não estivesse presente, poderia despertar a curiosidade da Madre Joana e isso não era bom para o desenrolar das investigações.  
          Com o aviso da Madre ela entrou, chamou por Rodolfo, mas ele não deu sinal que estivesse ouvindo. Ela então foi até ele e pegou-o pela mão. Nisso a porta foi-se fechando atrás de si.  Ela se virou rapidamente, mas não deu para segurá-la. Um tremor percorreu-lhe o corpo. O medo com certeza anunciava a sua chegada. O delegado, com o toque da mão de Helô, despertou e ouviu também quando a porta se fechou. Correu junto com a sua parceira, mas foi em vão. Ficaram presos dentro do cômodo.  
           A Madre, percebendo o perigo aproximando-se, voltou e antes mesmo que Helô mexesse no segredo, avisou:
          - Helô, não mexa nesse segredo! Fique calma e acalme Rodolfo. Faça o que vou dizer. A porta ainda não está completamente trancada. Procure alguma coisa pontiaguda.
          - Mas como procurar? Tá um breu só!
          - Está bem. Vou iluminar o ambiente, mas avise ao delegado senão ele pode assustar-se.
          - Rodolfo, a Madre mandou avisar-lhe que vai clarear o ambiente. Isso é só para você não ficar assustado.
          - Assustado? Mais do que já estou?
          - Madre, pode acender a luz.
          Rapidamente o cômodo estava iluminado. O delegado olhava assustado. Procurava uma lâmpada que não estava em lugar nenhum. Helô sorriu e pediu para que ficasse calmo. Ele procurou controlar-se e esperou para ver o que aconteceria.
          Helô fez o que a Madre determinou e saiu vasculhando caixas, prateleiras e pelos cantos onde tinham alguns amontoados de tralhas. O delegado Rodolfo apenas olhava. Não sabia o que ela procurava, mas também não perguntou. Finalmente ela encontrou uma pequena faca enferrujada, que deveria ter sido para abrir correspondências. Imediatamente a Madre deu o seu ok. Aquilo, que deveria se transformar em ferramenta, servia.  Helô então aproximou-se da porta e esperou a orientação. E foi imediata.
         - Helô, não force a porta para dentro, não a empurre, enfie essa lâmina... Olhe para baixo e você verá uma pequena fresta. Achou? Então introduza essa lâmina aí. A porta só fica completamente fechada quando esse ponto trava. Com cuidado, vá em frente.
          Ela obedeceu e rapidamente a porta foi-se abrindo. Rodolfo então saiu como uma flecha. Era visível a sua tensão, mas aquele nervosismo não era só pelo fato da porta ter-se fechado, mas principalmente por ter ouvido vozes bem próximas e também – o que era mais intenso ainda - pela confusão que já fazia morada na sua cabeça. Era sonho ou realidade? A Madre mais uma vez pediu para que Helô dissesse a ele que aquilo que estava vivendo não era sonho. Ela viu quando ele ficou parado dentro do quarto perguntando-se sobre tudo aquilo. Helô escutou e reproduziu:
          - Rodolfo, a Madre mandou avisar-lhe que isso que está acontecendo com você não é sonho. Ela observou você parado no meio do quarto, questionado-se sobre uma porção de coisas.
         - Como é que você sabia no que eu estava pensando?
         - Eu não sabia. Eu não disse que foi a Madre que me falou? Então, eu não adivinhei nada. Agora vamos embora. Ela captou movimentos em direção aos outros quartos. É bem provável que ninguém venha para cá. Esse lugar ainda vai ser preparado, mas não devemos arriscar, não é? Vamos?
         - Vamos sim. Ué! Eu também ouvi vozes, bem próximas! Estranho isso. Você não ouviu nada?
         - Claro que não ouvi! Eu já estava aqui fora, mas a Madre tinha nos avisado para que saíssemos. Lembra? Ela já tinha ouvido muito antes a conversa deles. Ela escutou os pensamentos da Madre Joana e dos seus comparsas. Fica tranquilo que você ainda não ouviu vozes do além, mas um dia, quem sabe? 
....................Continua semana que vem!

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A História de Helô - Parte 54



Continuando...

Helô relaxou e sorriu também. Pegou o delegado pela mão e foi em direção ao pomar.  Ela caminhava um pouco à frente. A sensação era que estava arrastando o delegado. Ele a seguia, mas não parecia muito à vontade. Sempre foi muito seguro no que fazia, entretanto, nesse momento, tremia um pouco nas bases porque agora era uma menina quem dava as coordenadas e isso soava um pouco estranho pra ele, mas seguia os passos dela sem titubear.
          Enquanto caminhava, foi ficando mais descontraído. Alguma coisa assoprava no seu ouvido, e não sabia definir o que era, dizendo que podia seguir aquela menina até com uma venda nos olhos. Então foi de corpo e alma nos rastros de Helô.
         Chegaram à entrada da gruta. O delegado, quando olhou o lugar, lembrou-se na hora que já tinha estado ali. – Como aconteceu aquilo? Fechei os olhos e cheguei aqui, mas depois esqueci por completo! Por quê? – pensou, mas sem encontrar a resposta na sua cabeça.
          Entraram na gruta. Rodolfo ficou fascinado com o que via. Olhava placa por placa com os nomes e datas de nascimento e morte das freiras. Sozinho, com as informações de Helô, abriu a primeira porta. Entrou e ficou horrorizado com o que viu. Mesmo acostumado com a violência, ficou impressionado com tanta maldade. A revolta brotou dentro dele. Estava completamente chocado com a visão.
           – Como uma pessoa pode jogar um seu semelhante dentro de um reservatório com ácido? – falou baixinho pra Helô.
          Helô, entre dentes, respondeu mais baixo ainda:
          - Delegado, eu fiquei muito chocada com isso também. Pelo menos eles não jogaram as pessoas vivas aí dentro. Graças a Deus!  A Madre me contou como os recém-nascidos eram trazidos e descartados aqui nessas caixas cheias de ácidos. Horrível, né?
          - Bota horrível nisso! Mesmo não jogando as pessoas vivas dentro dessas caixas, não deixa de ser um crime bárbaro! Não estão muito distantes desses carniceiros que a história nos mostra, tipo Mao Tsé-Tung, Gêngis Khan, Hitler e outros. Todos sanguinários!
         - Já ouvi falar dessas pessoas que você citou, mas as professoras nunca deram muitos detalhes sobre a vida deles. Acho que não queriam nos deixar horrorizadas. Deve ser isso. Então passavam por cima da história. Se já acho isso aqui uma barbaridade, imagino sabendo sobre o que essas outras pessoas fizeram de mal! Só Deus mesmo!
             Helô de repente ficou em silêncio e Rodolfo não comentou nada nesse curto período. Então ela voltou a falar.
            - Rodolfo, a Madre está dizendo pra gente ir em frente. Vamos indo? Depois conversaremos mais sobre isso, está bem?
           - Está bem. Podemos ir.
           Helô já tinha aberto a porta e carinhosamente pegou-o pela mão. Nos outros cômodos ela deixou-o ir abrindo as portas uma a uma. Nos compartimentos secretos, ensinava-lhe pacientemente o segredo e deixava-o ir em frente. Rodolfo não teve dificuldade alguma em vencer esses obstáculos, pois as explicações dela não deixavam qualquer dúvida. Eram precisas. Com isso, em pouco tempo, ele conheceu toda parte escondida do convento. Teve acesso às que Helô conhecia e a outras dependências que ela desconhecia, mas que passou a conhecer naquele momento, junto com ele. A Madre orientou-a nesse sentido, entretanto, antes que ela questionasse a respeito desses lugares que via pela primeira vez, a Madre disse:
           - Helô, achei interessante, depois de analisar, que ele devesse conhecer esses outros cômodos. Para o processo é muito importante. Quanto mais provas, melhor. Não quis mostrar a você. Não achei conveniente.
          - Por que, Madre?
          - Na época você era muito pequena, então preferi excluir esses ambientes e assuntos do seu conhecimento. Hoje ainda não é a hora. Você não é maior de idade para se inteirar de certas coisas. Deixa o tempo passar mais um pouco, aí sim você vai ficar sabendo das coisas mundanas. 
          - Está bem, Madre.
           Rodolfo estava parado olhando aquilo tudo e analisando. Passou pela sua cabeça chamar aquele lugar de “o subterrâneo do crime”. Com alguns anos de polícia, ainda não se acostumara com tanta maldade.  Sabia que grande parte dos crimes deve-se à ganância. As pessoas matam por causa do dinheiro. Estava absorto nesses pensamentos quando foi trazido de volta pelo chamamento de Helô:
          - Rodolfo, tem outros lugares pra gente ir. Vamos?
          - Desculpe, Helô, me desliguei. Vamos sim.
...........Continua semana que vem!

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Poeta se expressando...


ALESSANDRA VAZ, ALÊ PARA OS AMIGOS

                  José Timotheo

Esperávamos você voltar
E raiar com a gente mais um dia
Mas você partiu
Subiu rapidamente ao céu
E pintou-se o mais lindo entardecer
Que São Pedro da Serra podia sonhar
Mas não era pra ser diferente
Você já inventava manhãs, sem sol
Ensolaradas
Noites sem estrelas, estreladas
Claridade não faltava
Nos seus sorrisos, nos seus olhos
Você iluminava quem trazia
A escuridão
Ah! Não posso esquecer do seu abraço
Que não envolvia só o corpo
Ia além, acarinhava a alma
De cada felizardo
Como esquecer a sua gentileza
A sua arte, que permanece, a sua esperança
A sua busca por um dia melhor?
O tempo não vai conseguir apagar
As suas pisadas pelas ruas e vielas
De São Pedro da Serra
Não tem como abolir a saudade
... e essa dor da partida
Graças ao tempo, vai adormecendo
Adormecendo, até dormir de vez
Só ficando mesmo a saudade
Da vida que você tinha
Em abundância
E essa vida, você sabia
Continua aqui e aí
Fim é para quem acha
Que você não vive mais
Para nós, a sua presença será eterna

                  Fim

domingo, 13 de outubro de 2019

A História de Helô - Parte 53



Continuando...

          Estavam andando despreocupados. Passaram por algumas pessoas, mas era como se não existissem. As suas presenças eram totalmente ignoradas. Helô, que já estava de mãos dadas com o delegado, parou em frente a uma porta que estava totalmente aberta. Avisou que era ali o local e convidou-o a entrar. A irmã Fátima estava sentada no lugar de sempre. Eles se aproximaram e observaram que ela dormia, ou pelo menos parecia, mas, estranhamente, com uma caneta na mão escrevia alguma coisa. A caneta estava parada na superfície do papel e não tinha concluído uma palavra. Os olhos abertos, olhando para o caderno, era uma estátua. O delegado achou estranho, ia chamar pela irmã, mas Helô pediu para que não fizesse isso. Puxou-o pela mão e levou-o até onde estavam os quadros. Apontou na direção que estava a foto da irmã, pintada por um artista enviado pela igreja.
          Rodolfo começou a circular pela sala observando cada acervo do convento. Eram muitos objetos antigos. Depois voltou para o balcão com a intenção de acordar a irmã Fátima, porém mais uma vez foi interrompido por Helô, que falando baixo, disse:
          - Rodolfo, deixa-a dormir. Foi a Madre que a deixou assim. A gente conhece muito bem a irmã Fátima. Ela fala pelos cotovelos. Ia fazer tantas perguntas que o melhor é deixá-la dormindo. A Madre achou melhor deixá-la fora de cena. Quando a gente sair, ela acorda. Nem vai perceber o que aconteceu.
          Ele sorriu, um sorriso meio sem graça, mas preferiu não questionar, já tinha um emaranhado de informações estranhas pra desfiar. Helô sentiu que ele estava cheio de interrogações na cabeça. Não sabia o que poderia fazer para ajudá-lo. A Madre então mais uma vez interveio e o melhor era tirá-lo dali. Pediu a Helô para que fizesse com que ele fechasse os olhos. Ela então obedeceu, mesmo não sabendo para quê.
          - Rodolfo, a Madre está pedindo para que você feche os olhos.
          - Pra quê?
          - Não sei bem, mas deve ser para levá-lo para algum lugar. Eu vou fechar os meus olhos também. Vamos juntos. Está com medo?
         - Não. Acho que não, mas vou fazer o que você me pede.
         - O que ela for fazer você não vai nem perceber.
         - Estou tranquilo. Vou fechar.
          Foi no tempo de uma piscadela de olhos  que Helô tocou no seu braço dizendo que já podia abrir os seus olhos. Ao fazer isso levou o maior susto: estava de frente para a entrada da gruta. Não conseguiu entender nada do que tinha acontecido. Parecia que estava plantado feito uma árvore, preso no chão. Não conseguiu se mover, nem falar. O olhar esbugalhado e fixo no buraco, ali na sua frente, fez Helô deixar escapar um sorriso. Depois, deixando o seu companheiro absorver aquela situação sozinho, mas tão diferente para ele, falou com a entidade:
          - Madre, eu nunca tinha visto aquele riacho, ali na frente.
          - Você está vendo?
          - Sim. Estou vendo.
          - Era tão bonito! Quando criança vinha muito aqui, mas o que você vê são as vibrações deixadas por ele. Para as suas vistas da carne ele já secou há muito tempo, mas a sua visão espiritual está melhorando a cada dia. Daqui a pouco você vai confundir-se com os dois planos. Não vai saber direito quem é quem.
          - É mesmo, Madre? A toda hora vou ver gente que já morreu? 
          - Sim e não. Você vai se preparar para isso. Acho que exagerei um pouco, não é?  Não se preocupe, não. Não é assim também como falei.  Você vai ver um desencarnado, mas não a toda hora. Você mesma vai conseguir equilibrar isso na sua vida. Quando não quiser ver, usa um tapa olho. Quando precisar enxergar, tira-o. Nem todo mundo pode fazer isso, mas você já tem essa capacidade latente. O tempo vai lhe mostrar. 
          Enquanto elas conversavam por telepatia, o delegado Rodolfo continuava olhando para a entrada da gruta. Ele ainda não conseguia entender nada do que estava acontecendo. A sua lembrança carregava-o para uma sala onde estava olhando para pinturas de antigas dirigentes do convento. Era uma confusão só na sua cabeça. A Madre Maria de Lourdes percebeu o que estava acontecendo e achou melhor levá-lo de volta para a sala de onde tinha saído. Pediu a Helô para mandar o delegado fechar os olhos novamente. Era melhor levá-lo até ali pelo modo tradicional: a pé.   Isso aconteceu depois. O delegado, quando abriu os olhos, já estava de volta à sala de recepção. Sorriu achando que tinha sonhado. Olhou para a mesa onde estava a irmã Fátima e viu que ela continuava na mesma posição. Helô sorriu e pegando-o pela mão, dirigiu-se para a saída.  Do lado de fora, convidou-o a conhecer outros lugares no convento. Enquanto andavam, conversavam. A Madre ia junto ouvindo a conversa. Ouvia e analisava.
          Além de várias coisas que Helô havia falado com o delegado, as anotações e as suspeitas sobre o que podia estar acontecendo com a irmã Amélia, a Madre Maria de Lourdes achou melhor levá-lo até o interior da gruta. Então pediu à menina para convidá-lo a dar um passeio até lá. Helô ficou pensativa, não tendo certeza de que ele fosse aceitar. Ele já tinha ido até lá e ficado de um jeito muito estranho, numa alienação só, mas mesmo assim ela fez o convite.
         - Rodolfo, vamos caminhar um pouco pela propriedade? Acho que poderíamos ir até a gruta, mas agora caminhando normalmente como todo mortal. Vamos?
          O delegado a princípio ficou mudo. Analisava o que Helô tinha falado. Como nunca tinha ido até a gruta, não entendia o convite daquela forma. Ela então, com o mutismo de Rodolfo, pensou que ele não tivesse aceitado. Aí deixou claro no seu semblante que estava decepcionada. Ele percebendo, deu um sorriso e disse:
          - Eu vou para onde você me levar. Eu confio em você de olhos fechados. 
................Continua semana que vem!