Continuando...
O
delegado, antes de sair, ainda passou os olhos pelos quatros cantos do
quarto. Pensou: - Aqueles outros quartos
e mais esse, todos mobiliados iguais, seriam peças importantes para a acusação
-. Sentiu na hora que estava com uma preciosa prova para o MP e não se esqueceu
de fotografá-los. Tudo que pudesse captar poderia ser interessante para
engordar o processo contra a Madre Joana e seu bando.
Esses aposentos, em número de cinco, estavam
equipados com hidro massagem, televisores e outros equipamentos, entre eles objetos
pornográficos. Era nesses quartos que as meninas sofriam violências sexuais. O
delegado analisou todas as peças que compunham o ambiente. Soube na hora do que
se tratava e guardou para si e, mesmo não ouvindo nada da conversa de Helô com
a Madre Maria de Lourdes, também preferiu não comentar nada com a menina.
O delegado foi acompanhando Helô até
o último aposento. Antes de entrar pegou uma folha de papel e anotou todos os
passos de como abrir os quartos secretos. Quando saísse dali, acrescentaria no
caderno de anotações de Helô que já estava sob a sua guarda.
Rodolfo, depois de fazer as devidas
anotações, dobrou o papel e enfiou-o no bolso detrás da sua calça. Helô, que já
estava entrando no aposento, chamou-o. Ele levantou a cabeça e seguiu-a. Ela já
estava no interior. Ele entrou em seguida e viu que aquele quarto não tinha
nada de interessante, ela também achou o mesmo e disse que ia sair. Virou-se e
encaminhou-se para a porta, mas, sem mais nem menos, ele ficou parado, sem
ação, no meio do quarto. Ela, já do lado de fora, não entendeu o porquê dele
não tê-la seguido. Então ficou esperando-o encostada no portal, mas a Madre avisou-lhe
que seria prudente chamar Rodolfo, pois ela tinha escutado os pensamentos da
Madre Joana e dos seus sócios. Então, por precaução, seria melhor saírem dali
rapidamente. Alguns daqueles cômodos seriam usados. Aquele não, pois seria
preparado para um futuro próximo, mas mesmo assim: pernas para que te quero. E era
isso mesmo que tinha que ser feito, pois, além do mais, aproximava-se a hora da
apresentação do coral. Se Helô não estivesse presente, poderia despertar a
curiosidade da Madre Joana e isso não era bom para o desenrolar das
investigações.
Com o aviso da Madre ela entrou, chamou
por Rodolfo, mas ele não deu sinal que estivesse ouvindo. Ela então foi até ele
e pegou-o pela mão. Nisso a porta foi-se fechando atrás de si. Ela se virou rapidamente, mas não deu para
segurá-la. Um tremor percorreu-lhe o corpo. O medo com certeza anunciava a sua
chegada. O delegado, com o toque da mão de Helô, despertou e ouviu também quando
a porta se fechou. Correu junto com a sua parceira, mas foi em vão. Ficaram
presos dentro do cômodo.
A Madre, percebendo o perigo aproximando-se,
voltou e antes mesmo que Helô mexesse no segredo, avisou:
- Helô, não mexa nesse segredo! Fique
calma e acalme Rodolfo. Faça o que vou dizer. A porta ainda não está
completamente trancada. Procure alguma coisa pontiaguda.
- Mas como procurar? Tá um breu só!
- Está bem. Vou iluminar o ambiente,
mas avise ao delegado senão ele pode assustar-se.
- Rodolfo, a Madre mandou avisar-lhe que vai
clarear o ambiente. Isso é só para você não ficar assustado.
- Assustado? Mais do que já estou?
- Madre, pode acender a luz.
Rapidamente o cômodo estava
iluminado. O delegado olhava assustado. Procurava uma lâmpada que não estava em
lugar nenhum. Helô sorriu e pediu para que ficasse calmo. Ele procurou
controlar-se e esperou para ver o que aconteceria.
Helô fez o que a Madre determinou e
saiu vasculhando caixas, prateleiras e pelos cantos onde tinham alguns
amontoados de tralhas. O delegado Rodolfo apenas olhava. Não sabia o que ela
procurava, mas também não perguntou. Finalmente ela encontrou uma pequena faca
enferrujada, que deveria ter sido para abrir correspondências. Imediatamente a
Madre deu o seu ok. Aquilo, que deveria se transformar em ferramenta,
servia. Helô então aproximou-se da porta
e esperou a orientação. E foi imediata.
- Helô, não force a porta para dentro,
não a empurre, enfie essa lâmina... Olhe para baixo e você verá uma pequena
fresta. Achou? Então introduza essa lâmina aí. A porta só fica completamente
fechada quando esse ponto trava. Com cuidado, vá em frente.
Ela obedeceu e rapidamente a porta foi-se abrindo. Rodolfo então saiu
como uma flecha. Era visível a sua tensão, mas aquele nervosismo não era só pelo
fato da porta ter-se fechado, mas principalmente por ter ouvido vozes bem
próximas e também – o que era mais intenso ainda - pela confusão que já fazia
morada na sua cabeça. Era sonho ou realidade? A Madre mais uma vez pediu para
que Helô dissesse a ele que aquilo que estava vivendo não era sonho. Ela viu
quando ele ficou parado dentro do quarto perguntando-se sobre tudo aquilo. Helô
escutou e reproduziu:
- Rodolfo, a Madre mandou avisar-lhe
que isso que está acontecendo com você não é sonho. Ela observou você parado no
meio do quarto, questionado-se sobre uma porção de coisas.
- Como é que você sabia no que eu
estava pensando?
- Eu não sabia. Eu não disse que foi a
Madre que me falou? Então, eu não adivinhei nada. Agora vamos embora. Ela
captou movimentos em direção aos outros quartos. É bem provável que ninguém
venha para cá. Esse lugar ainda vai ser preparado, mas não devemos arriscar,
não é? Vamos?
- Vamos sim. Ué! Eu também ouvi vozes,
bem próximas! Estranho isso. Você não ouviu nada?
- Claro que não ouvi! Eu já estava
aqui fora, mas a Madre tinha nos avisado para que saíssemos. Lembra? Ela já tinha
ouvido muito antes a conversa deles. Ela escutou os pensamentos da Madre Joana
e dos seus comparsas. Fica tranquilo que você ainda não ouviu vozes do além, mas
um dia, quem sabe?
....................Continua semana que vem!