quarta-feira, 2 de outubro de 2019

A História de Helô - Parte 52


Continuando...

          Helô contou tintim por tintim tudo que vinha acontecendo com a irmã, há muito tempo. Falou sobre os sumiços misteriosos, depois a tal doença estranha que a estava deixando completamente debilitada. Relatou também as suas suspeitas sobre supostos espancamentos que ela sofria, mas que infelizmente a irmã, indagada por ela, não confirmava tal violência, sempre dizia que os hematomas eram causados pelas quedas constantes.
          O delegado Rodolfo escutou tudo com atenção e preferiu não interromper a narrativa de Helô. Com o silêncio dele, ela então retomou a sua narrativa e acabou dando um mergulho no passado, indo até a idade de dez anos.  Foi discorrendo ano por ano até ali e deixou claro que as investigações só aconteceram pela ajuda da Madre Maria de Lourdes.
         Explicou que o princípio da comunicação com a entidade viera por meio da intuição. Tempos depois iniciou-se o intercâmbio pela telepatia, coisa que desconhecia por completo, mas achou muito interessante, pois a conversação não era cansativa. Podiam conversar por períodos longos e nem percebia, além de ser uma comunicação clara. No início ela até achou aquilo muito esquisito, já que desconhecia aquele tipo de comunicação e pra completar, em alguns momentos, confundia-se e acabava usando a fala. Além - uma dúvida que sempre a acompanhou - da sensação de estar dentro de um sonho.  
          Apesar de confundir-se algumas vezes na comunicação mental, com o passar do tempo, pela insistência da entidade, acabou se educando e não mais usou o seu instrumento vocal. Assim ficou por um longo tempo, mas houve um período em que teve a sensação de que alguém falava na sua orelha. Era diferente da intuição e da telepatia. Nesse período - mas que foi curto - viu a Madre por inteiro.  A visão foi como se estivesse vendo uma pessoa de carne e osso. Naquele momento não saberia dizer se aquela Madre que estava à sua frente era diferente de outras Madres. De jeito nenhum! Só foi identificar realmente, quando a entidade começou a conversar por telepatia.
           Voltando para o início, aquilo tudo realmente deixou-lhe assustada, mas depois que começou a conversar naturalmente com a Madre tudo mudou. Só em pensar que não precisava abrir a boca pra falar, deixou-lhe fascinada.
          O delegado Rodolfo ouviu atento tudo que Helô falou. Ficou impressionado, mas não tinha certeza se acreditava naquilo. Aquilo tudo estava distante do seu universo religioso e, como ela disse, podia ser um sonho. Todavia, o que ouvira com tanta convicção saíra da boca de um anjo. E anjo não mente. Depois ficou pensativo e finalmente sorriu. Passou a mão na barba e disse:
          - Muito interessante a sua história. Contada por você, acredito. Não é muito fácil não, mas acredito.
          - Ou acha?
          - Não! Acredito!
           Temporariamente o silêncio envolveu-os. Ele então começou a pensar em como resolver tudo que estava acontecendo ali no convento, mas lembrou-se que, antes de fazer qualquer coisa, tinha que conversar com o seu chefe, o delegado Áureo.
          A Madre Maria de Lourdes escutou o pensamento de Rodolfo e imediatamente assoprou no ouvido de Helô:
          - Helô, o que ele está pensando em fazer não pode ser realizado. O delegado Áureo é amigo do senador.  Se esse delegado for avisado, vai tudo por água abaixo. Ele não pode saber de nada.
          Helô repetiu palavra por palavra que a Madre falou. Ele ficou pensativo e depois perguntou:
           - Quem disse que o delegado Áureo não pode saber?
           - Ué! A Madre!
           - A Madre de novo.
          Aí a Madre soprou de novo no seu ouvido:
          - Diz pra ele que nem o Áureo e nem o Evan podem ficar sabendo de nada. Diz também que fui eu que o trouxe até aqui. Sugeri aos dois que desistissem da festa e depois levei o delegado Evan a escolhê-lo para substituí-lo.
          - Delegado, a Madre está dizendo que foi ela que trouxe você até aqui.
          - Como assim?
         - Ela disse que primeiro fez o delegado Áureo desistir da festa, mas só que ele entregou o convite para o outro delegado de nome Evan. Aí ela foi obrigada a fazer esse também desistir porque também é amigo do senador, logo é pessoa nem um pouco confiável. Então ela fez esse delegado entregar o convite para você, que é uma pessoa do bem.
         - Explica melhor sobre essa Madre. Quem realmente é ela, Helô? Pode ser uma pessoa imaginária, criada por você. Toda criança tem sempre amigo que só existe para ela.
         - Mas eu não criei nada.
         - Então me explique.
          Helô ficou buscando palavras para definir a Madre Maria de Lourdes. Mentalmente pediu a sua ajuda e a ajuda veio.
          - Helô, fale só a verdade, sem fantasia. Ele vai entender, mas se vai acreditar aí é outra história. Ele até disse, quando você explicou aquilo tudo para ele, que acreditava. Pode ser que tenha dito que acredita porque gosta de você. Pode dizer quem sou eu.
          Ela então olha para o delegado, que não tinha tirado os seus olhos dos dela e que esperava ansioso pela sua explicação, e diz:
         - Delegado.
         Ele então lhe interrompe:
         - Rodolfo. Chame-me de Rodolfo.
         - Está bem, Rodolfo. Continuando: a Madre Maria de Lourdes foi a Madre Superiora desse convento, mas isso faz muito tempo. Na verdade é só um espírito.
          - Espírito, Helô?
          - Sim. Aquilo tudo que lhe falei sobre intuição, telepatia e depois a visão da Madre. Ela é sim um espírito. Eu consigo vê-la, ouvi-la, só não consigo pegá-la. Eu converso com ela como estou conversando com você agora, mas não pense que foi fácil eu aceitar isso! Foi difícil! Muito difícil! Tive medo à beça! Você nem imagina!
          - Realmente é complicado. Nem sei se vou aceitar ou entender. Disse até que acreditava, mas... sei lá! De repente, para você que a vê é mais fácil!
          - Fácil? Eu não lhe disse que foi difícil? E foi mesmo! Vamos continuar. Isso tudo que lhe falei e que está escrito aí no caderno só foi possível com a ajuda dela. Sem ela nada disso teria acontecido. E ela é um espírito de verdade.
          - Espírito?
          - É, espírito! Você não acredita, mas um dia vai acreditar. Eu vejo você e a vejo aí do seu lado. Para mim, não tem diferença.
          - Você não se confunde?
          - Agora não. Eu consigo diferenciar um espírito de uma pessoa de carne e osso. Quando eu disse que não tinha diferença, foi modo de dizer. Ela está sorrindo. Agora está me pedindo para levá-lo até a sala que tem um painel com as fotos de antigas dirigentes do convento. Vamos até lá?
          - Sim, podemos ir.
         Saíram os dois caminhando pelo corredor em direção à recepção, onde ficam os quadros de antigas dirigentes. A Madre ia atrás derramando  pétalas de rosas, parecendo pontos de luz que se desprendiam do sol, que iam envolvendo-os lentamente. 
........................Continua semana que vem!

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