terça-feira, 31 de agosto de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 41 - Final

 


Continuando...

            André esticou um braço e conseguiu encostar as pontas dos dedos em Luiza. Estava bem pertinho. Com esforço sobre humano, foi se arrastando pela pedra, seguro na corda que prendia Luiza. Não se conformava em apenas tocá-la à distância. Queria abraçá-la, beijá-la e falar do seu amor. Cada movimento que tentava, a dor aumentava. Não estava conseguindo entender, porque antes tinha cessado a dor e naquele momento voltara quase insuportável. Mas não pensava em desistir. E lá foi ele de centímetro em centímetro até chegar nela. Ele não viu o seu rosto, pois ele estava enfiado numa rachadura da pedra. Com cuidado, para não assustá-la, chamou-a baixinho. Mas ela não deu o menor sinal de vida. Ele então colocou a mão no seu ombro e aproximou mais o seu corpo ao dela. Nesse instante percebeu que ela respirava. Era uma respiração dificultosa, mas o importante é que estava viva. A alegria iluminou o seu rosto. Mesmo com o rosto desfigurado, conseguiu esboçar um sorriso. Em seguida tentou desvira-la, mas a dor que sentiu foi horrível, fazendo com que interrompesse o movimento. Respirou fundo tentando espantar a dor e ficou parado até que ela ficasse suportável novamente. Quando sentiu que estava bem, tentou de novo. Só que dessa vez, com mais decisão. E assim, quase desmaiou, mas conseguiu virá-la. Por sorte ela não despencou. Um dos grampos se soltou e um nó na ponta da corda, milagrosamente, prendeu-se na rachadura da pedra. Esse nó conseguiu suportar o peso de Luiza. André então, com grande esforço, colocou outro grampo no lugar do que tinha soltado. Depois passou a sua corda por ele e prendeu-o na cintura de Luiza. Ele estava esgotado.

          Enquanto André ia se recuperando do esforço, não observou que a corda cedera e Luiza tinha descido aproximadamente cinquenta centímetros. Cedeu mas travou logo em seguida. Como soltou e como travou novamente, ninguém saberia dizer.

          Ele, ao abrir os olhos levou o maior susto. Agora teria outra tarefa, que seria descer. Já sabia de antemão que ia sentir muita dor. Mas como não tinha opção, ia arriscar. Só que não sabia como descer. Estava desorientado. Como soltar um pouco da corda e descer? Tinha esquecido. Ficou então parado por um tempo que não soube determinar. De repente, sem perceber, começou a descer até ficar encostado à Luiza. Quando ele olhou para o seu rosto sofrido, não conseguiu segurar as lágrimas e chorou. Nesse momento ela abriu os olhos e esboçou um sorriso. Ele então estancou suas lágrimas e sorriu também. Em seguida alisou o seu rosto e, com um esforço sobre humano, beijou-lhe as faces. Depois depositou um leve beijo nos lábios. Luiza sorriu novamente, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Mas André não viu, pois fechara os seus enquanto dizia, tomado de emoção:

          - Eu te amo. Eu te amo. Você é o amor da minha vida.

           Quando ele abriu os olhos, Luiza tinha fechado os seus para sempre. Ele ficou sem saber se ela havia ouvido a sua declaração de amor. Mas o sorriso continuava pregado nos seus lábios. No fundo ele sabia que ela percebera que era amada. André com o rosto banhado de lágrimas, não sabia o que fazer. Com certeza ia entrar em desespero, mas parece que alguma coisa fez com que olhasse para o céu. De repente surgiu uma ave branca que vinha planando suavemente. A primeira coisa que veio à sua cabeça era que a ave era Luiza. Então balbuciou:

          - Me espera amor. Vou ao seu encontro.

          Abaixou a cabeça, virou-se para o corpo dela e abraçou-a, já esquecido da dor. Dos olhos desceram dois fios de lágrimas. Depois os fechou também para sempre.

 

                                                        Fim

 ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. QUALQUER SEMELHANÇA COM NOMES, PESSOAS OU ACONTECIMENTOS REAIS TERÁ SIDO MERA COINCIDÊNCIA.

 

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 40 - Penúltimo Capítulo

 


Continuando...

          Naquele momento se sentiu revigorado. Agora era tudo ou nada para chegar até a sua amada. Ficou tão focado nesse objetivo que nem se lembrou da perna, braço e das costelas quebradas.  O foco era um só: chegar até quem era a razão da sua vida. E essa certeza foi num crescente tal que sem perceber começou a rolar o corpo pela pedreira áspera e irregular, até conseguir se aproximar mais um pouco de Luiza. Cada centímetro conquistado era um alívio para a sua alma apaixonada. O impossível já estava ficando no passado. A esperança agora era, mais do que nunca, a sua aliada.

          Luiza estava logo ali. Mas de repente essa pequena distância, foi se tornando difícil, pois naquele momento a dor voltou com toda a força. E essa dor era tão forte, que teve a sensação de que o esforço em chegar até ali, fora em vão.  Procurou se acalmar para que a dor sossegasse. Não podia deixar a esperança ir embora. Fechou os olhos e pediu socorro a Deus. Como por encanto sentiu um vento morno percorrer todo o seu corpo novamente. Parecia que alguém soprava cada local ferido. E em frações de segundo a dor evaporou. Abriu os olhos e não acreditou no que aconteceu. Com a mão que estava sã, apalpou o braço quebrado. Para a sua surpresa não sentiu dor alguma. Depois apertou as costelas e foi a mesma coisa. Com o toque percebeu que a região estava completamente dormente. Parecia que estava anestesiada. Isso acontecia com toda parte que machucara. Discretamente olhou para o céu e agradeceu o milagre.

          Luiza continuava imóvel, quase ao alcance do seu amado. André, depois de agradecer, olhou na direção dela e percebeu que a sua corda estava bem próxima dele. Não sabia como isso tinha acontecido. Mas foi providencial. – Deve ter sido o vento. – pensou. Agora era só se balançar e, com certeza, chegaria até ela. Mas seria um gesto de risco, pois não conseguiria amortecer a pancada que daria de encontro à pedra. Entretanto esse era o jeito mais rápido de lá chegar.  

          Antes de se lançar, gritou por ela. Chamou-a algumas vezes, mas nada dela dar sinal de vida. Com lágrimas nos olhos, olhava-a com tristeza e ternura. De repente um sorriso aflorou dos seus lábios. Tinha certeza que vira Luiza se mexer. Uma chama acendeu nos seus olhos. A esperança estava mais viva do que nunca. Não pensou duas vezes e se lançou no espaço, gritando:

          - Meu Deus! Ela está viva! Está viva!

          O seu corpo descreveu um semicírculo, se chocou violentamente contra a pedreira, mas ele pegou a corda. Com o choque ficou meio atordoado e sentiu um gosto ruim na boca. Tossiu e uma golfada de sangue escorreu pela parede rochosa.  Passou a mão pela boca para tentar limpá-la, mas o nariz também sangrava muito. Apertou as narinas para tentar estancar o sangue, porém a dor que sentiu foi quase insuportável. Devia ter quebrado o nariz, concluiu. Procurou se acalmar. Ainda estava um pouco zonzo. Agora que estava a um palmo da sua amada, não podia fraquejar e sim mostrar-se forte. Com essa força que brotava, foi se aplumando.  

............Termina semana que vem!!!

 

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 39

 


 Continuando...

           De onde estava agora, com muito sacrifício, poderia contornar uma saliência na pedra e aí ver a amiga. Mas antes disso precisava descansar o suficiente, deixando que as energias voltassem a se equilibrar, enquanto torcia para que a dor ficasse suportável. Depois que se sentiu mais revigorado, com mais fôlego, resolveu ir em frente. Mas de repente uma dúvida invadiu a sua mente:

          - Será que agora vou ter coragem e dizer para Luiza que a amo?

          Depois desse pensamento, que disse sim sem dúvida alguma, esboçou um sorriso e em seguida deu movimento à sua vontade. Devagarzinho foi se arrastando com o corpo colado à pedra. Os movimentos eram estudados para não haver erro. Mas parece que a providência divina dava uma mãozinha arranjando sempre uma pequena saliência para que pudesse se apoiar. Não sabia explicar como conseguia, apesar dos grandes ferimentos, ir em busca de Luiza.  Lembrou-se do assopro que sentiu pelo corpo.

             – Será que foi isso que consertou minha perna e braço? – pensou. – Não! Não pode ser! – retrucou a dúvida.

          O trecho até chegar à Luiza, não passava de poucos metros. Mas surgiu no seu caminho uma protuberância na pedra um pouco maior que as anteriores. Não seria difícil transpô-la se não tivesse braço e perna comprometidos. Sabia que Luiza estava logo depois dali, quase ao alcance das suas mãos. Só que não sabia que seus cálculos não estavam tão precisos. Na verdade Luiza estava depois de outra saliência e dentro de uma cavidade, onde escondia parte do seu corpo. Mesmo sem saber de mais essa dificuldade, estava tão determinado que nada disso atrapalharia a sua chegada até ela.  

          Para André, a sensação era de que seus movimentos, apesar do seu estado físico, respondiam satisfatoriamente. Mas era pura ilusão. Ele se arrastava no paredão com muito esforço e não percebia que cada centímetro conquistado era muito demorado. Mas era um obstinado. Se arrastar, realmente, era o que permitia o seu estado. E o tempo se arrastava junto com ele. Já estava exausto. Parou então para respirar um pouco. Mas respirar com cuidado, pois a costela doía. Mexeu na lembrança, mas não encontrou nenhum momento em que houvera quebrado algum osso do seu corpo. Analisou que recordar, às vezes não leva a nada. O que o passado poderia fazer pelo presente? O negócio é tentar resolver o presente com o agora. Com sacrifício voltou a se arrastar e com esse esforço hercúleo acabou conseguindo vencer, depois de horas, mais um pedaço do seu caminho pedregoso. E como prêmio, ganhou a visão de Luiza. A alegria que sentiu não tinha aparelho algum que pudesse medir. O coração quase saiu pela boca. A primeira reação que teve foi chamar por ela. E gritou como nunca gritara antes, fazendo com que o seu nome ecoasse por todo o vale. André não sentindo qualquer reação de Luiza, gritou novamente. Mas ela não respondeu e nem sequer se mexeu. Da explosão de alegria que tivera para a tristeza foi um pulo. As lágrimas descontroladas desabaram pelo seu rosto. Estava perdido dentro da dor. Num repente gritou olhando para o céu, num desabafo a Deus:

          - Meu Deus!  O Senhor não podia fazer isso comigo! Pelo menos tinha que ter deixado eu falar do meu amor!  Eu a amo! O Senhor sabia...

         Ele estava descontrolado. A sua alma estava em frangalhos, juntamente com o seu corpo. Não sabia se conseguiria chegar até Luiza. E ela não estava tão longe assim. Parado, via que estava com o rosto colado na pedra, e não admitia que pudesse estar morta. Nisso um pensamento brotou na sua cabeça dizendo para que fosse até lá, o mais rápido possível, e dissesse que a amava. Com a intuição, o choro parou. A última lágrima ainda escorregava pelo rosto.

..................Continua semana que vem!

 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 38

 


Continuando...

          Karen só foi respirar mesmo com normalidade, quando o seu corpo venceu aquele mundo d’água, que batia no seu rosto quase sufocando-a. Agora estava entrando novamente na vida. Nessa hora fez uma rápida análise do que tinha passado até aquele instante. – Qual o pior momento?  Quando fora arrastada pela água, até ficar presa nas pedras? Rapidamente respondeu a essas suas perguntas: - Sem dúvida o pior momento, foi ficar pendurada na cachoeira, com aquele mundo todo de d’água me sufocando.

          Bordélo puxou-a até colar o seu corpo no dela. Choroso abraçou-a bem apertado. E nesse abraço viu, por cima do ombro, um rastro de sangue que era tragado pela cachoeira. Engoliu em seco. Mas sabia que naquela hora, o pulsar da vida sim é que era relevante. As feridas do corpo iam cicatrizar rapidamente com certeza. A preocupação era somente com as feridas da alma. Em quanto tempo iriam cicatrizar? Com essa pergunta apertou um pouco mais o corpo de Karen contra o seu e sentiu o coração dela bater no seu peito. E tão apertadinho estava, que não teve vontade de se afastar. Só voltou a realidade quando deram um puxão na corda.

          Da margem os amigos continuavam a puxá-los lentamente. Bordélo já tinha recolhido quase toda a corda em excesso e amarrado na cintura, apenas deixou o suficiente para Karen. Ele a manteve, aproximadamente, um metro distante. Os dois iam sendo puxados entre as pedras. Bordélo orientava a amiga a se proteger levando sempre a mão à frente, para evitar que batesse com as pernas em alguma pedra.  Apesar da tensão que ainda apertava o coração dos dois, finalmente conseguiram chegar num local livre de pedras. Só foi colocarem as caras à vista e a alegria dos amigos suplantou o barulho do rio. Uma explosão de gritos de alegria ecoou pelo vale. Era uma cena emocionante de se ver. Eles pulavam e gritavam, feito crianças brincando. E os dois foram rapidamente puxados para fora d’água. Mas o rastro de sangue deixado por Karen continuou sendo engolido pela cachoeira...

                                        

             DE RETORNO À MONTANHA ITA-ITA....

 

André interrompeu a sua lembrança. Talvez não recordasse de mais nada ou, de repente, a dor que sentia tenha-o puxado para o presente assustador. O vento acabara de balança-lo violentamente, batendo com o seu corpo no paredão rochoso. Com o choque, assustado, arregalou os olhos e urrou de dor. Mas, por incrível que pareça, esse movimento brusco o ajudara a erguer o corpo e desvira-lo. E como o vento continuava a balança-lo, milagrosamente conseguiu se segurar numa pequena fenda na pedra.

           Seu corpo acomodou-se de modo que a dor abrandasse um pouco, ajudado também pela retirada da corda que pressionava as suas costelas, causando com isso dor dilacerante. 

...................Continua semana que vem!!