terça-feira, 3 de agosto de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 37

 


Continuando...

            Depois de tanto olhar para a nuvem, viu quando se formou um rosto. Repentinamente de onde poderia ser os olhos da forma, saíram dois raios de luz azulada, indo envolvê-lo por completo. Naquele instante tomou posse de toda a sua coragem e tranquilidade, e nem percebeu que a nuvem já tinha se evaporado. Olhou para o céu e depois voltou a fixar os olhos na mesma direção, e a nuvem já não estava mais ali. Então achou que o que aconteceu foi apenas fruto da sua imaginação. Sorriu e gritou para a amiga:

         - Karen! Você está bem?

         - Estou! Estou Bordélo! – respondeu-lhe a amiga.

         - Pode ficar calma que já vou tirar você daí! Ok?

         - Tudo bem. Estou calma. Por incrível que pareça. Mas estou calma.

         - Então procure não se mexer. Vou dar o sinal para a turma começar a nos puxar.

          Karen sorriu se sentindo aliviada. Sabia que podia confiar no amigo, pois ele era a única pessoa na face da Terra a quem entregaria a sua vida, sem qualquer dúvida.

         Luiza e Luiz sabiam que Bordélo estava preso na corda, entretanto isso não queria dizer que ele estivesse vivo, porque há algum tempo não enviava sinal algum. Como ele estava invisível para eles, isso aumentava a suspeita de que alguma coisa não ia bem. A preocupação estava estampada nos seus rostos. Luiz então, como combinado, deu um puxão na corda e aguardou a resposta. Alguns segundos após, para sua tranquilidade, recebeu um toque de volta. Sorriu e disse para Luiza:

         - Ele está lá. Graças a Deus, ele está lá. E vivo!

         Os corações agora estavam sossegados. Luiza virou-se e gritou para André dizendo que estava tudo ok com Bordélo. Ele, demonstrando alegria, deu um sorriso largo e apenas respondeu, sem palavras, levantando o polegar.

        Bordélo, transbordando de tranquilidade, deu uma puxada na corda. Esse era o combinado para puxarem devagar. Para deixar Karen tranquila, avisou-a que iam começar a puxá-los.

          Luiz recebeu o sinal e começou a puxar a corda, junto com os dois amigos. Bordélo quando sentiu que estava sendo puxado, olhou para o céu e falou alguma coisa que só ele e Deus sabiam. Em seguida fez o sinal da cruz e deu mais uma olhadinha na amiga. Ela parecia concentrada. Cabeça baixa e as duas mãos na corda. Segurou com firmeza a corda que a prendia, puxou-a com cuidado, para que não a machucasse, e sentiu que ela estava sendo içada com facilidade.

          Karen começou a se movimentar. Subia vagarosamente, mas sentiu que a sua barriga, ao passar por alguma pedra pontiaguda, fora cortada. Sentiu muita ardência. Mas isso não a deixou preocupada, porém, nem desconfiou que a cada centímetro que subia, deixava um rastro de sangue. Se por um acaso visse, com certeza a sua calma já teria se despencado pela cachoeira.

          Bordélo não tirava o olho da borda da cachoeira. Nem olhava por onde estava sendo puxado, queria, antes de olhar o caminho, constatar se a amiga estava bem, e depois puxá-la até bem próximo de si. Aí sim, poderia olhar por onde passar. 

          O ardor que Karen sentia na barriga, agora também se espalhava pela coxa. Com isso deu brecha para que o medo se aproximasse. Naquele instante o medo doía mais do que qualquer arranhão. A serenidade parecia que tinha sido carregada pela água. Começou a ficar impaciente. A ansiedade foi tomando corpo. Queria sair dali o mais rápido possível. A sua situação começou a piorar quando deu importância para a água que batia no seu rosto. Isso estava deixando-a quase em pânico. Procurou se acalmar, mas o volume de água era muito, fazendo com que a sua respiração virasse uma missão quase que impossível. Tentando conseguir algum oxigênio, colocou as mãos cobrindo o nariz. Isso aliviou um pouco, entretanto não era o suficiente, precisava sair dali o mais rápido possível. Pensou em gritar para o amigo, porém se o fizesse poderia beber muita água. Engoliu a vontade e pediu a Deus para ajuda-la e o auxílio chegou, quando Bordélo, intuído, resolveu puxá-la com mais rapidez. Se perguntado, com certeza não saberia dizer de onde tirou tanta força. Mas a verdade é que ele, enquanto era puxado lentamente, arrastava Karen com braçadas rápidas, até ela aparecer na borda da cachoeira. – De onde tirou tanta força? – perguntou-se, olhando para a amiga.

 

.................Continua semana que vem!

 

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