terça-feira, 26 de março de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Perte 98

 


Continuando...

            O sargento teve o cuidado de entrar pelos fundos, pois não estava querendo que a sua mãe visse o seu amigo, para evitar muitas perguntas, que com certeza teriam respostas difíceis. Achou melhor deixar para o dia seguinte, as explicações. Ia mantê-lo escondido até o outro dia. A mãe nunca entrava mesmo no seu quarto, principalmente quando ele estava, então seria fácil deixar Mohammed ali escondido.

               Enquanto Mohammed tomava banho, Téo foi até a cozinha pegar alguma coisa para levar para o quarto. Por sorte, para evitar perguntas, a sua mãe não estava. Pegou o que precisava e subiu. Pelo trajeto ia pensando no tempo em que estivera no Afeganistão. Tinha muitas perguntas para fazer ao amigo. Muitas dúvidas para ser sanadas.

               Quando entrou no quarto, Mohammed já tinha tomado o seu banho e estava sentado numa cadeira com a roupa trocada. Parecia outra pessoa. Não era mais o mesmo que tinha sido resgatado por Téo. Sorriu com a chegada do amigo. Parecia disposto, apesar do acontecido. Téo, sentou-se na cama, vendo a tranquilidade demonstrada pelo garoto, perguntou:

                - Mohammed, e o ferimento?

                - Foi só um arranhão. Eu estava preparado com um colete a prova de balas. A pancada foi forte, e foi a que me derrubou e me deixou meio que desorientado. Eu não sabia que mesmo com a proteção, a pancada do tiro fazia tanto estrago. Mas estou bem.

               - Eles colocam colete protetor para homem bomba?

               - Claro que não! Eu é que dei o meu jeito!

               - E a bomba que não estourou?

               - Eu construí um colete que não tinha explosivo. O guerrilheiro que não desgrudava de mim é quem armou a bomba para eu detonar perto de você. Só que eu, antes de sair, fui ao banheiro e lá troquei de colete. Primeiro coloquei o colete a prova de balas, que tinha conseguido, e depois coloquei o meu colete sem bomba. Era igualzinho. Não iam perceber nunca.

                 - E o cara que atirou em você? Eu ainda não tinha descido e a bomba não ia me pegar nunca.

                  - Sargento, isso eu não sei explicar. Eu acho que o guerrilheiro não foi! Pode ter sido alguém, de repente da cia, para protege-lo. Eu não sei mesmo. Eu nunca vi tanta traição, tanto desses grupos paramilitares, como dos americanos. Isso vazou.

                - Deixa para lá, o importante é que você está vivo e eu também. Eu queria, Mohammed, que você me tirasse uma dúvida.

               - Qual dúvida, sargento?

               - Nós não saímos juntos daquele túnel?

               - É o que sempre pareceu. Mas só me lembro quando uma luz nos cobriu, depois só acordei um mês ou mais. Acordei num hospital improvisado e continuo até hoje sem me lembrar de praticamente nada. Murt me disse que eu estava variando. Parecia bem doido. Não falava coisa com coisa.

                - Você sabe como foi parar lá?

                - Me disseram que fui achado, juntamente com Rachid, dentro daquela casa que o senhor matou o chefe dos guerrilheiros, que não sei até hoje a que grupo pertencem.

                - Mas como? Nós estávamos lá embaixo!

                - Isso me deixa muito encucado. E o senhor? Como foi achado?

                - Mohammed, nem te conto!

                - Conta sim, sargento!

                - Não, vou contar sim!  Aqui no Brasil, isso é uma forma de dizer que a pessoa vai te contar.

                - É? Difícil isso, hein! Então conta.

                Téo olhou para o teto, com um olhar mergulhado na dúvida, parecendo       que pedia licença a lembrança para contar a sua história. História que não era só sua, ela pertencia também aos seus amigos que, na verdade, já não faziam mais parte da sua história. Era uma situação complicada, mas tinha que mostrar ao seu amigo Mohammed.

                - A sua história é muita estranha, Mohammed. Você falou alguma coisa a respeito do lugar onde ficamos?

                 - Não, sargento. Quem falou foi Rachid.

                 - Eles foram lá conferir?

                 - Olha só outra coisa estranha: não acharam nada. Nem entrada, nem saída. Disseram que só existia ali, escombros e mais nada. Pelo o que eu escutei, disseram que o meu amigo estava com problemas mentais. Sargento, ele contou até sobre aquele compartimento secreto, que nós não conhecemos, onde tinham seres extraterreno.

                 - É mesmo? Aquela entrada não podia sumir assim! Será que eles não estão mentindo?

                 - Mentindo porquê?

                 - Não sei. Mas aquela entrada do porão, não podia desaparecer. Um local que vocês se escondiam. Não sei não! Esses caras estão mentindo!

 ..........Continua Semana que vem!

terça-feira, 19 de março de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 97

 


Continuando...

            Murt tinha ouvido a conversa de dois bandidos, a respeito deles três. Com o ouvido atento escutou perfeitamente quando disseram que eles seriam treinados para o combate. E tinha por Mohammed uma atenção maior, porque sabia das suas facilidades com outras línguas e a sua memória fotográfica. Iam prepara-lo para infiltra-lo no meio dos inimigos.

           - Será que Mohammed vai recobrar a memória ou vai ficar desmemoriado para o resto da vida? – pensou Murt, deixando escapar duas grossas lágrimas, enquanto olhava para os amigos deitados numa cama improvisada. Estava se sentindo cansado, bocejou. Já nem sabia mais se era noite ou dia, mas sabia que o corpo pedia para que dormisse. Deitou, mas pediu a Alá que desse para ele um bom sonho.

 

           - Mohammed! Mohammed! É você?

            - Claro, sargento! Não podia ser outro!

            - Você está ferido, Mohammed. Vamos ver como está o ferimento.

            - Fica tranquilo, sargento. Não foi nada. Eu estou protegido. Posso até levantar.

            - Mas espera aí, me deixa ver o ferimento.

            Quando Téo abriu a blusa do menino, levou o maior susto.

            - O que é isso Mohammed? Você é um homem bomba?

            - Cadê o soldado corajoso que eu conheci? Está com medo de uma bombinha? – falou sorrindo.

            - E você ainda brinca? Como é que vamos tirar isso do seu corpo?

            - Fica tranquilo sargento. Está tudo bem. Eu estou no controle.

            - Você está no controle? Você veio para me matar?

            - Vim.

            - Você vai explodir... Nós dois vamos morrer!

            - Sargento, o senhor se se olhar no espelho, vai sair correndo.

             - Você ainda brinca! Veio para me matar e ainda bota um sorriso nessa boca de traíra?

             - Calma sargento. Eu não estou brincando. E não vou matar o senhor, de jeito nenhum.

             - Não? Então esse colete amarrado no seu corpo pronto para explodir?

             Mohammed olhou para o amigo e se sentiu triste, vendo que Téo não estava bem. Se arrependeu do sorriso fora de hora e apenas, antes de falar mais alguma coisa, esticou o braço pedindo para que ele o levantasse. Téo então puxou o amigo e colocou-o em pé. Aí sim é que Mohammed falou mais alguma coisa.

              - Desculpe sargento. Eu não sabia que o senhor não estava muito bem. Pode ficar tranquilo que eu não vou mata-lo. Eles me mandaram para isso, pensando que eu seria capaz, mas não sabia que jamais mataria um amigo.

              - E a bomba?

              - Essa bomba eu fiz. Não tem bomba nenhuma. O sistema está ligado, mas não vai explodir, nem daqui a mil anos.

              - Mas como você fez isso?

              - Esqueceu da minha capacidade? Eles acreditaram no meu ódio por vocês. Me prepararam muito bem. Só que depois se cansaram de mim e me colocaram para cumprir a minha última missão. Acho que desconfiaram. Acredito que fui traído. Mas enquanto deu, eu representei bem, querendo ser um homem bomba. Eles caíram na besteira de construir uma bomba na minha frente. Aí o senhor já sabe: aprendi tudo num olhar.

             - Ué, mas você não veio com a bomba de lá, não é?

             - Claro que não. Mas eu vim acompanhado de um rancoroso guerrilheiro.

             - Mas como você entrou no Brasil?

             - Entrei como brasileiro. Tudo documento falso. Falando esse português que falo, nem suspeitaram.

              - Mas Mohammed como você construiu a bomba?

              - Quem construiu a bomba, foi o guerrilheiro. Eu construí a não bomba.

              - A não bomba, é ótimo!

              Téo sorriu levemente, balançou a cabeça e abraçou o amigo. Depois falou baixinho:

               - Mohammed, vamos sair daqui. Vamos logo lá para casa. Daqui a pouco, a polícia vai chegar por aqui. Com certeza alguém já ligou para ela. Vamos, vamos. Temos muito que conversar.

               Os dois saíram caminhando em direção a casa de Téo. Ele sabia que a polícia ia bater em sua casa, mas tinha que preparar o seu amigo. Tomar banho, trocar de roupas e preparar um bom argumento. Tinha esperança da polícia não procurá-lo, porque sabia do seu histórico: um soldado americano/brasileiro condecorado por bravura. De repente alguns poucos amigos que já conhecia, desde que chegou ao Brasil, podiam deixar a coisa quieta. Estava torcendo para que ninguém tivesse visto. 

......Continua Semana que vem!