terça-feira, 12 de março de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 96

 


Continuando...

            Segundos depois apareceram três pontos de luz no teto, que vieram descendo, em formato de cone, até que envolveram cada um deles. Num flash foram todos sugados, desaparecendo sem deixar nenhum vestígio.

 

              - O que houve, doutor?

              - Não precisa se preocupar, agora está tudo bem, sargento.

              - O que houve comigo?

              - Você foi encontrado desacordado no meio de escombros. Você teve alguns ferimentos na perna direita, causado por estilhaços. E um outro ferimento na cabeça causado provavelmente por pedra.

              - Mas eu não me lembro disso, doutor.

              - Sargento, você não se lembra de nada? Faz um esforço. Puxa pela memória. Você conseguiu acordar há dois dias atrás.

              - Acordar? Eu estava dormindo há quantos dias?

              - Você foi encontrado há dois meses, por uma patrulha. Como vocês não voltaram eles foram atrás de vocês.

              - Há dois meses? Não é possível! Eu estava ontem andando, acompanhado por dois garotos, por dentro de umas galerias subterrâneas. Os meus homens já tinham morrido quando tentávamos fugir do cerco de bandidos ou guerrilheiros. Não sei bem.

               - Sargento, enquanto dormia, um momento ou outro você falava sobre esse lugar de onde fugiram.

               - O que é que eu falava, doutor?

 

               Mohammed andava de um lado para o outro inquieto. Sentado num pequeno banco, Murt observava-o, sem entender o que se passava naquela cabeça, desde que acordara. Já tinha tentado falar com ele, mas o amigo não dizia coisa com coisa. Falava num túnel, que ele não conseguia saber onde era. De um gás venenoso, de um sargento de nome Téo, de três soldados, todos americanos, e que sempre estivera acompanhado do amigo Rachid. E que eram prisioneiros deles.  Estava começando a duvidar da sua sanidade mental.

                - Rachid! Rachid! Cadê o sargento? Nós vimos a luz, se lembra? O que aconteceu com a gente?

               - Mohammed, eu não sou Rachid. Olha para mim: eu sou o seu amigo Murt.

               - Não, Murt está com os bandidos! Ele traiu os seus amigos. Não é você Rachid?

               - Não Mohammed, sou eu Murt. E eu não traí ninguém. Fala baixo, Mohammed. Vai dormir mais um pouco. Você está precisando.

               Murt pegou o amigo e levou-o para a cama. Depois foi olhar Rachid, que continuava dormindo um sono profundo. Mirava-o e lembrava-se de como os dois tinham chegado ali, resgatados por alguns guerrilheiros das mãos dos americanos. Isso já fazia dois meses. E ele se sentia triste quando era acusado por Mohammed de traição. Estava ali a sua frente os seus dois melhores amigos. Um acordado, que parecia dormindo na insanidade e o outro dormindo, que não parecia estar em lugar algum. Mas às vezes tentava imaginar que ele pudesse estar nos braços de Alá. Isso dava um pouco de conforto. Chegava até esboçar um sorriso, mas quando olhava para Mohammed, a tristeza invadia o seu coração, fazendo com que o sorriso se recolhesse.

                O lugar era profundo e melancólico. Estava ali junto com os dois num cômodo sujo. Já tinha quase perdido a noção de quantos dias não via a luz do sol. Ele foi o médico, enfermeiro e acompanhante dos dois amigos por todo aquele tempo. Se não estava errado, o tempo girava em torno de dois meses. Só que ele já estava ali por muito mais tempo. Os guerrilheiros diziam que não, mas sabia que eram prisioneiros. Por que não deixavam que saísse dali? Quando perguntava, diziam que só depois da chegada dos amigos, que corriam perigo junto aos americanos. Ele podia ter dado as informações da localização dos dois, mas isso não queria dizer que fosse um traidor. Só queria que os amigos estivessem juntos dele sãos e salvos.      

,,,,,,,,,Continua Semana que vem!

 

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