terça-feira, 5 de março de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 95

 


 Continuando...

          Sabe de uma coisa, irmão Rachid, nós vamos sair daqui e sumir desse lugar que só fede a destruição. Eu não sei quem eu sou e você sabe que é um Afegão, mas nós não temos mais motivo nenhum para ficar nesse lugar, que só nos dá tristeza. Vamos pegar nossos irmãos e sair daqui o mais rápido possível. Nesse momento só temos uma certeza: eu, você e nossos irmãos, menos Murt que é um traidor, somos uma família. Tenho certeza que o sargento vai nos ajudar a sair desse inferno. Não é sargento?

          - Com certeza. Vou fazer o que puder para tirar vocês daqui. Mas primeiro temos que sair de onde estamos. Vamos procurar uma saída?

          Olharam um para o outro, mas com um olhar que não tinham muita certeza no intento. Estavam dentro de um tubo e que parecia que não tinha fim. Desde que entraram ali, a única entrada e saída era o porão. Mas que era impossível voltar. O gás bloqueava o caminho de volta. Todas as escolhas, que achavam a certa, até aquele momento não tinham dado em nada. Agora estavam ali olhando para um lugar que parecia lugar nenhum. Mas como não tinham opção, foram em frente.

            O que acontecia ali embaixo, era muito estranho. O tempo parecia atemporal. As pessoas que ali estavam não sofriam qualquer interferência do segundo à frente. No instante em que pensavam que estavam ali há muito e muito tempo, no momento seguinte tinham a sensação que acabaram de entrar naquele subterrâneo.

             Os pés pareciam pesados. Arrastavam a incerteza em cada passo. Todos os túneis pareciam iguais, não tendo fim. Não sabiam há quanto tempo estavam caminhando sem destino. Não conseguiam nem arriscar uma estimativa a respeito. O que era o tempo ali?  Angustiante? Sem esperança? Com certeza. Isso tudo junto e mais uma porção de coisas. Mas também não era nada. Dentro daquele buraco será que existia tempo?  Tudo não passava de um sonho?

             Mohammed olhava para os amigos e via a tristeza estampada em seus rostos. Não podia aceitar o sargento tão cabisbaixo. E seu amigo Rachid? Esse então, estava com a cara enterrada no chão. Nem parecia que tinham enfrentado tantas adversidades juntos. Mesmo estando um pouquinho abatido, não estava gostando de ver os seus amigos tão para baixo. Tinha que arranjar um jeito de tirá-los do fundo do poço. Mirou até onde as suas vistas alcançaram, parecendo ser o fim do túnel e pensou ver alguma claridade diferente. Se foi imaginação, não tinha importância, pois aquilo tinha lhe dado uma ideia, que botou em prática na mesma hora.

            - Vocês estão muito sem esperança. Sargento, Rachid mesmo sem terra temos que continuar arando...

             Os dois olharam com os olhos arregalados para Mohammed demonstrando não entender o que o amigo acabava de dizer. A interrogação bailava no ar. Mohammed encarou os dois, olho no olho, e sorriu.

             - Vocês estão muito incrédulos. Fé, meus amigos. Falo também de esperança. Bota um pouco de esperança no olhar e de repente vamos enxergar o milagre. A coisa acontece assim de repente. Mirem o horizonte. Isso! Vejam o que acontece! Olha só que claridade! Acho que é a saída! É a nossa salvação! Vamos! Vamos até lá!

            Quando falou em salvação, a palavra mágica, os dois levantaram as cabeças em direção ao céu rapidamente, como quisessem agradecer a Deus ou até tentar vê-lo. Nem pareciam as pessoas de segundos atrás. Olharam para onde Mohammed apontava e saíram numa disparada só, deixando o amigo para trás.

             Realmente ali naquele ponto tinha uma claridade diferente. Mohammed ficou impressionado com o que tinha causado. – Isso foi a imaginação? – falou baixinho para si mesmo. - Pensou em ver uma coisa, depois passou isso como verdade, e os amigos acreditaram, e inclusive ele também estava vendo uma iluminação no ponto que indicara para os amigos.

              Os três ficaram quase se tocando, de tão juntos, mirando aquele rasgo de luz. Olhavam fixamente para o teto para ver de onde saía aquela tênue claridade. De repente esse minúsculo ponto de luz começou a girar. A princípio vagarosamente, mas gradativamente foi aumentando a velocidade até que os olhos não conseguiram mais perceber se realmente continuava girando ou se tinha parado. Com esse movimento da luz, sem que percebessem, foram afastando-se um do outro, e já não olhavam mais para o teto. Repentinamente o túnel ficou numa total escuridão. Mas eles não se assustaram e permaneceram nas mesmas posições, parecendo que estavam adormecidos. 

....Continua Semana que vem...

 

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