terça-feira, 19 de março de 2024

A Minha Casa Não é Essa - Parte 97

 


Continuando...

            Murt tinha ouvido a conversa de dois bandidos, a respeito deles três. Com o ouvido atento escutou perfeitamente quando disseram que eles seriam treinados para o combate. E tinha por Mohammed uma atenção maior, porque sabia das suas facilidades com outras línguas e a sua memória fotográfica. Iam prepara-lo para infiltra-lo no meio dos inimigos.

           - Será que Mohammed vai recobrar a memória ou vai ficar desmemoriado para o resto da vida? – pensou Murt, deixando escapar duas grossas lágrimas, enquanto olhava para os amigos deitados numa cama improvisada. Estava se sentindo cansado, bocejou. Já nem sabia mais se era noite ou dia, mas sabia que o corpo pedia para que dormisse. Deitou, mas pediu a Alá que desse para ele um bom sonho.

 

           - Mohammed! Mohammed! É você?

            - Claro, sargento! Não podia ser outro!

            - Você está ferido, Mohammed. Vamos ver como está o ferimento.

            - Fica tranquilo, sargento. Não foi nada. Eu estou protegido. Posso até levantar.

            - Mas espera aí, me deixa ver o ferimento.

            Quando Téo abriu a blusa do menino, levou o maior susto.

            - O que é isso Mohammed? Você é um homem bomba?

            - Cadê o soldado corajoso que eu conheci? Está com medo de uma bombinha? – falou sorrindo.

            - E você ainda brinca? Como é que vamos tirar isso do seu corpo?

            - Fica tranquilo sargento. Está tudo bem. Eu estou no controle.

            - Você está no controle? Você veio para me matar?

            - Vim.

            - Você vai explodir... Nós dois vamos morrer!

            - Sargento, o senhor se se olhar no espelho, vai sair correndo.

             - Você ainda brinca! Veio para me matar e ainda bota um sorriso nessa boca de traíra?

             - Calma sargento. Eu não estou brincando. E não vou matar o senhor, de jeito nenhum.

             - Não? Então esse colete amarrado no seu corpo pronto para explodir?

             Mohammed olhou para o amigo e se sentiu triste, vendo que Téo não estava bem. Se arrependeu do sorriso fora de hora e apenas, antes de falar mais alguma coisa, esticou o braço pedindo para que ele o levantasse. Téo então puxou o amigo e colocou-o em pé. Aí sim é que Mohammed falou mais alguma coisa.

              - Desculpe sargento. Eu não sabia que o senhor não estava muito bem. Pode ficar tranquilo que eu não vou mata-lo. Eles me mandaram para isso, pensando que eu seria capaz, mas não sabia que jamais mataria um amigo.

              - E a bomba?

              - Essa bomba eu fiz. Não tem bomba nenhuma. O sistema está ligado, mas não vai explodir, nem daqui a mil anos.

              - Mas como você fez isso?

              - Esqueceu da minha capacidade? Eles acreditaram no meu ódio por vocês. Me prepararam muito bem. Só que depois se cansaram de mim e me colocaram para cumprir a minha última missão. Acho que desconfiaram. Acredito que fui traído. Mas enquanto deu, eu representei bem, querendo ser um homem bomba. Eles caíram na besteira de construir uma bomba na minha frente. Aí o senhor já sabe: aprendi tudo num olhar.

             - Ué, mas você não veio com a bomba de lá, não é?

             - Claro que não. Mas eu vim acompanhado de um rancoroso guerrilheiro.

             - Mas como você entrou no Brasil?

             - Entrei como brasileiro. Tudo documento falso. Falando esse português que falo, nem suspeitaram.

              - Mas Mohammed como você construiu a bomba?

              - Quem construiu a bomba, foi o guerrilheiro. Eu construí a não bomba.

              - A não bomba, é ótimo!

              Téo sorriu levemente, balançou a cabeça e abraçou o amigo. Depois falou baixinho:

               - Mohammed, vamos sair daqui. Vamos logo lá para casa. Daqui a pouco, a polícia vai chegar por aqui. Com certeza alguém já ligou para ela. Vamos, vamos. Temos muito que conversar.

               Os dois saíram caminhando em direção a casa de Téo. Ele sabia que a polícia ia bater em sua casa, mas tinha que preparar o seu amigo. Tomar banho, trocar de roupas e preparar um bom argumento. Tinha esperança da polícia não procurá-lo, porque sabia do seu histórico: um soldado americano/brasileiro condecorado por bravura. De repente alguns poucos amigos que já conhecia, desde que chegou ao Brasil, podiam deixar a coisa quieta. Estava torcendo para que ninguém tivesse visto. 

......Continua Semana que vem!

 

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