terça-feira, 26 de maio de 2015

UM GÊNIO QUE ENCONTROU O PARAÍSO NO ESGOTO - Parte 10

Continuando...

            Pedro olha em volta e tenta localizar alguma coisa que possa ser usada como ferramenta. Sai andando, mas sem saber que direção tomar. Poucos metros à frente pára. Ouviu vozes. Eram dois rapazes que vinham na sua direção. Ficou assustado. Não sabia o que fazer. Pensou:
           -Ai Jesus! O que estes gajos farão comigo? Vou fechar os olhos e seja lá o que Deus quiser! Não quero nem ver!
       E assim Pedro fez: fechou os olhos e esperou. O coração só faltava sair pela boca. Não se lembrava de já ter sentido um medo daquele tamanho. Tremia, feito vara verde. E quanto mais as vozes se aproximavam, mais ele sofria. Naquele momento achava que ia desmaiar. Estava quase desabando. De repente, apesar do medo, abriu um dos olhos. Ficou aterrorizado ao ver dois corpos atravessando-o. Não conseguiu gritar, mas arranjou pernas para sair numa tremenda disparada. Em frações de segundos já estava do lado de João, tremendo dos pés a cabeça. O amigo tentou acalmá-lo.
           -O que é isso homem? Viu algum fantasma? A sua palidez é assustadora! Se acalme e me conte o que houve! Respira fundo. De novo. Mais uma vez. Agora fale.
       -Ó pá. Deixa-me refazer do susto. João eu pensei que fosse ser descoberto! Ufá!”
           -Fala logo! Vamos! Desembuche!
           -Calma pá! Saí daqui feliz. Mas quando cheguei defronte àquela porta... Não penses que foi fácil! Não foi fácil! Mas consegui atravessá-la! A vida é assim... Já não me lembrava mais de como era lá em cima. Se bem que muitas coisas foram modificadas. Mas, vamos aos fatos! Quando estava eu a procurar alguma ferramenta, eis que surgem dois gajos. Vinham despreocupadamente em minha direção. E adivinhas o que aconteceu? Fiquei com os pés grudados no chão. Foi tanto medo, que quase me borrei. Sem querer acabei fechando os olhos de pavor. Só em pensar que poderia ser novamente jogado neste cárcere fétido, quase fui às lágrimas. Quando num repente abri um dos olhos, o medo dobrou. Vi quando os dois passaram por dentro de mim. Foi um atropelamento brutal. Fiquei com medo ainda, quando descobri que eram dois fantasmas. Mas graças a Deus consegui fugir. E cá estou eu!
          -Engraçado. Você ficou com medo de fantasma? Amigo! O fantasma é você!
          -Ô gajo! Já vos disse que o único morto aqui, és tu! Os outros dois lá de cima, também são! Vocês três morreram e não foram avisados!
           -Ô Pedro! O seu português está bem misturado, não acha?
           -O que dizes tu?”
           -Quero saber da ferramenta. Conseguiu?
           -Mas como! Depois do episódio que participei, não tinha como preocupar-me com ferramentas! Não achas?
           -Está bem! Está bem! Mas volte lá em cima e me arranje alguma coisa.
           -Nem morto! Nem morto! Vou fugir com o amigo pelo buraco do chão!
           -Sem ferramenta não dá!
           -Damos um jeito!
           -Que jeito Pedro?
           -Eu sei que vamos fugir daqui juntos!
           -Mas se você quiser, já pode fugir. Você não precisa passar pelo buraco do chão. É só sair e mais nada. A hora que você quiser.
          -Aí é que tu te enganas! Para que a liberdade bata à minha porta, eu tenho que conquistá-la, juntamente com o meu caro amigo!
          João olhou para Pedro e ficou emocionado com a fidelidade do amigo. Enxugou a lágrima, que já começava a descer pelo rosto, e pegou a caneca de água que estava próximo à porta, bebeu um pouco e ofereceu ao parceiro. Depois se deu conta de que Pedro não precisava de água. A única sede que ele tinha era de liberdade.
          O trabalho recomeçou. Agora tinha que ter cuidado com o barulho, já que a portinhola estava aberta. Por outro lado era bom, pois tinham mais um pouquinho de luz e um pouco mais de ar. João ficou de joelho e começou a bater no chão. Rodou por toda a cela e nada de achar o ponto certo. Enquanto isso Pedro roía as unhas, demonstrando ansiedade. João olhou para ele e deu a entender que ia desistir. Rapidamente o amigo interveio.
         -Não! Não! Não! Não me digas que vais desistir! Não! Não podes fazer isto! Ô gajo! Continues! Não esmoreças!
         -Mas Pedro, eu já dei três voltas na cela e nada de encontrar a tal suposta passagem, que você disse que existe! Já estou com a mão, o braço e o ombro doendo, de tanto bater nesse chão! Está difícil de aguentar! Vou descansar um pouquinho! Ou, quem sabe, desistir mesmo!
          -Que desistir o quê, homem! Vamos continuar trabalhando! Não temos coisa melhor no momento para fazer! Então! Vamos trabalhar?
         -Você é engraçado mesmo, hein portuga! Vamos? Eu entendi bem? Você disse vamos? Você está sentadinho aí no centro da cela, roendo as unhas e mais nada!
Você falou vamos, então venha me ajudar!
        -Está bem! Está bem! Vou mostrar-te que não estou com má vontade. Vou bater em pedra por pedra até encontrar uma que emita um som mais oco. E lá vou eu!
          Logo na primeira tentativa os dois se assustaram. A mão de Pedro sumiu dentro da pedra. Passado o susto, João deu uma risada, mas, tentando se conter, apontou uma solução para uma possível fuga.
          -Pedro, acho que achei a solução para a gente encontrar a saída.
          -Mas como?
          -Escuta só. Você pode, ao invés de colocar a mão por dentro da pedra, enfiar o rosto no chão e procurar a bendita passagem. Não é genial?
          -Genial? Que genial o quê! Ora pois, pois! Ô pá! Como eu vou botar a minha cara dentro da pedra? Posso ficar com falta de ar! Não pensaste nisto?
          -Que falta de ar o quê! Desde quando alma de outro mundo fica com falta de ar?
          -Já vos disse que não estou morto! O amigo sabe que ainda não parti desta para a melhor! Ô gajo! Tu ainda não pensaste que podemos estar sonhando? Isto tudo pode ser fruto da nossa imaginação, de um sonho! Como disse antes, tu podes também estar morto! É ou não é?
          -Tá bom cara! Mas vamos deixar pra lá esse papo de morto pra lá, morto pra cá! Vamos começar a trabalhar? Então, coloca o rosto no chão e vai fazendo o reconhecimento! Mas tem colocar a cara dentro do piso.
         -Mas como farei isso, ó gajo? Escuta-me: eu posso me sufocar!
         -Caramba! Pedro, como ficar sufocado? Você coloca a cabeça dentro da parede, desde que eu te conheço, e não acontece nada! Colocar a cabeça no chão é a mesma coisa!
         -“Está bem. Vou tentar. Mas é porque confio em ti. Não estás querendo pregar-me nenhuma peça, não é mesmo gajo?
         -Claro que não, Pedro. Somos amigos e parceiros. Não somos?”
         -Tudo bem. Lá vou eu.
           Pedro se abaixa e vai, meio temeroso, penetrando vagarosamente a cabeça no chão. Ao cabo de alguns segundos, já está com meio corpo enterrado. Sem perceber Pedro já está com as pernas para o alto. João não consegue travar o riso. A cena estava engraçada. Pedro ouvindo o amigo rir retira a cabeça do chão e interpela-o:
       -Qual foi à graça, gajo? Conta-me a piada para que faça coro contigo! Estás rindo de mim?”
-Deixa pra lá! Não é nada! Só tive vontade de rir. Deve ser a ansiedade. Me lembrei de uma piada de português. Continua, vamos. Você estava indo muito bem.
-Piada de português. Deixa estar. Vou contar-te uma muito boa, de brasileiro.
-Depois! Depois! Continua meu amigo.
  João bota a mão na boca para esconder o riso. Pedro olha-o desconfiado, mas coloca a cara novamente dentro do piso e em seguida planta bananeira. Com as pernas para cima, vai, flutuando, a procura da tal passagem. De repente pára e fica em pé. João ansioso interpela-o:
-E aí, achou? Achou a passagem? Achou?
-Calma! Ainda não!
-Por que você parou?
-Uma curiosidade apenas.
-Curiosidade?
-Sim! Eu estava lá embaixo solitário e lembrei-me de uma coisa: o que o amigo fazia antes de ser preso?
-Por que isso agora? Eu já disse que era estudante! Você parou só pra isso?
-É! Estudante... Só isso?
-Por que só isso? Você quer saber mais o quê? Que eu era um estudante brilhante? Tudo bem! Eu era um estudante brilhante! Só isso, realmente! Eu era, mas não sou mais! Ou eu achava que era! As outras pessoas também achavam. Mas cheguei à conclusão que de nada disso adiantou. Eu já falei pra você. Todas as teorias que eu sei, somadas com as que eu criei, não estão adiantando de nada. Estou preso aqui nesse buraco fedorento, sem poder fazer nada. Além de depender de um fantasma para fugir. Só isso, realmente.
-Ei! Ó gajo! Já te disse que não sou fantasma! Fantasma é gente que já morreu! Gente que não luta por nada! Vês tu! Estás aí abatido, derrubado! Tu pareces um fantasma! Tu não estás a me ver? Se tu me vês, logicamente é porque não morri! O defunto aqui és tu! E tem mais: se tu me atazanares com está alusão, de que sou um fantasma, cruzarei meus braços! Estamos entendidos?
-Tudo bem. Desculpe. Não está mais aqui, quem falou. Pode continuar?
-Está bem. Ah, tem mais uma coisa! Não estou tentando localizar uma rota de fuga só para o amigo, não! Eu estou dentro de todo e qualquer planejamento para escafeder deste mundo fétido e repugnante! Ok?
-Ok! Ok! Pedro, na sua época não se usava estes termos. Você faz uma embaralhada!
-Ouvi alguém falando por aí. Ou não? Mas acho que é da minha época. Será que não? Deixa para lá! Já estou recomeçando... 
-Pedro, temos que sair o mais rápido possível, antes que os soldados voltem. Se eles fecharem a portinhola, vamos perder esse pedacinho de claridade. Não é muito, mas é sempre alguma coisa.
João falava e observava o amigo, que já de cabeça pra baixo e as pernas pro ar, vasculhava ponto por ponto da cela. Só parou depois de vasculhar todo o cubículo. E nada de encontrar a bendita passagem subterrânea. Nada falou, apenas balançou negativamente a cabeça. Voltou de novo para a procura, mas desta vez o seu trajeto foi o mais encostado nas paredes. Logo depois, no terceiro bloco de pedra, uma pedra maior e mais irregular, situada na parede da esquerda, de quem estava de costas para a porta, no caso João, Pedro parou. Era um granito de aproximadamente um metro quadrado. Ficou com a cabeça enterrada, muito tempo. De vez em quando mexia com as pernas, como se estivesse pedalando uma bicicleta. João estava visivelmente nervoso, mas tentou se segurar para não interromper o amigo. E o tempo passava sem Pedro dar qualquer notícia. E assim foi até João realmente não suportar mais a ansiedade e interpelar o amigo:
-Porra Pedro! O que é que está havendo? Achou alguma coisa? Fala homem! Fala! Vou acabar explodindo de tanto nervosismo!
Pedro não tirou imediatamente a cabeça do chão. Esperou um pouco. Naquele momento só se ouvia a respiração ofegante de João. Ele, lentamente, foi retirando a cabeça que estava enterrada na pedra. Ficou em pé. Com a cara séria, olhou para João. O amigo vendo a expressão do rosto de Pedro vestiu uma cara de decepção. Mas um segundo depois, jogou um sorriso na cara e gritou para o amigo.
-Achei! Achei! Ó pá! Finalmente vamos poder sonhar com a nossa liberdade!
 Num repente fechou o cenho e colocando uma entonação dramática, falou:
-Mas temos um probleminha. De repente isso possa custar a nossa fuga. Possa dificultar a nossa saída deste ambiente infernal. Eu temo até, que isto possa atrasar por mais alguns anos a nossa partida.
-Mas que probleminha é esse? Qual é o tipo de problema que pode abortar a nossa fuga?
-Ô pá! Sabe o que acontece? A tal passagem está exatamente debaixo desta parede. A parte maior da pedra está do outro lado. Pela outra cela seria mais fácil. Lá sim, seria ideal para se fugir. Mas...
-Nem mais, nem menos!
-Eu falei mas...
-Tá legal. Mas por isso a gente vai ficar com os braços cruzados?
-Mas... Ô pá. Acalma-te. Tu nem me deixas completar o pensamento, o raciocínio. Mas eu vou tentar achar uma saída. Vou olhar na outra cela. Aguarde-me.
Imediatamente Pedro atravessou para o outro lado. Numa fração de segundos João perdeu o contato visual com o amigo. O tempo que ele ficou na outra cela, João não conseguiu calcular. Mas parecia uma eternidade, para quem estava naquele confinamento. De repente, um ponto de luz apareceu na parede. Era Pedro que voltava. Estava sério e apresentava uma feição triste. João, vendo a expressão tristonha e preocupada do amigo, e antes que ele falasse alguma coisa, foi indagando:
-E aí, não temos chance nenhuma? Não conseguiu nenhuma possibilidade da gente sair daqui? Fala logo! Vou acabar explodindo!
-Calma. Calma. Realmente estou triste e preocupado. Encontrei lá um homem. Nem sei se posso chamar de homem. Na realidade é um farrapo humano. Acho que tem pouco tempo de vida. Seria mais um braço para ajudar na nossa fuga.
-Você está chateado porque ele não vai poder nos ajudar?
-Não! Nada disso! Só foi um comentário!
-Então, não temos como ajudá-lo?
-Ajudar como? O gajo nem deu conta da minha presença! Se passarmos para o outro lado... Talvez possamos fazer alguma coisa por ele. A fuga tem quer ser por lá mesmo. Logo temos que dar um jeito de nos instalarmos do outro lado. Vou examinar a parede. Já sei de antemão que pelo chão é impossível. Lá vou eu.
-Espera aí. Pela parede? O seu amigo não disse que era pelo chão?
-É claro que só pode ser pelo chão! Foi assim que o meu patrício disse e assim será! Só acho que ele errou de cela ou confundi-me. Falei pela parede, pois é o único caminho para passarmos para o outro lado. Vou examinar novamente.
Pedro começou a olhar todos os blocos de granito rente ao chão. Depois olhou a parede inteira. De repente parou, saiu da parede e, começando a deixar escapar uma euforia contida, disse: - Porque é que não pensei nisso antes!
-Pensou nisso, o quê?
-Lembrei-mede um fato importante. O meu amigo confidenciou-me,na surdina, que em todas as paredes que separam as celas, tem um ponto vulnerável. Ele não me disse qual seria esse ponto, mas temos que procurar e acreditar que ele realmente existe.
-Então temos que achar esse ponto! Vamos procurar!
-Calma. Ele me disse que não seria fácil remover a pedra, visto que ela não fica rente ao chão. Pois, segundo ele, seria muito fácil para ser descoberta. Se a informação vazasse, logicamente eles viriam investigar e achariam com facilidade. Quem poderia imaginar uma coisa dessa no alto? Só maluco mesmo para tentar tirar uma pedra desse tamanho, com um peso descomunal, não achas?
-Talvez! Talvez sim, talvez não! Quem sabe?
-Talvez? Por que talvez? Agora me intrigastes!
-De repente não está tão difícil assim. O cara que colocou a tal pedra, com certeza, estava prevendo que poderia um dia ser preso, certo?
-Certo. Foi com essa intenção que o gajo fez isso.
-Então, ele não seria burro de colocar uma pedra que não tivesse forças para, sozinho, remover. Concorda comigo?
-Faz sentido. Faz sentido. Até que o gajo não é burro! Gostei do rumo da prosa! Mas tem um pequeno problema:
-Que problema? Qual é o problema?
-Observastes que os tamanhos dos blocos de pedras, são praticamente iguais? Elas têm aproximadamente um metro quadrado cada uma. Têm até umas que fogem um pouco do tamanho. São um pouco menores.
-Eu sei. Já olhei todas. Mas deve ter alguma coisa diferente em alguma delas. Mesmo desse tamanho fica difícil a gente empurrá-las, caso alguma não esteja bem grudada. Mas tem que ter um jeito. O cara não ia fazer uma coisa que ele não pudesse tirar depois, em caso de necessidade. Pedro, dá mais uma olhada nessas pedras.
-Tudo bem. Deixa comigo. Se tiver alguma pedra que possa ser solta, deve estar na altura do meu peito, não achas?
-É, pode ser. Mãos à obra!
-Tem um fato interessante que não mencionei. Eu acho que o amigo não observou. Têm algumas pedras que de um lado são mais estreitas que do outro.
-Essa diferença é para poder encaixar melhor. Todas devem ser assim.
-Foi uma colocação sem importância, não foi? O importante é que o amigo vai poder passar por qualquer buraco que surgir. Também com uma magreza dessas o gajo passa até por um buraco de agulha.
-Muito engraçadinho, né seu portuga? Ainda encontra tempo para fazer gracinha. Vamos trabalhar que é melhor.
-Ora pois, pois!O gajo ficou aborrecido! Tenho até que rir um pouquinho!
-Ria! Ria! Mas vai trabalhando!
-Agora falando sério. Não gosto quando tu me chamas de portuga.
-Ficaste ofendido? Está bem, não chamarei mais. Agora, vamos ao trabalho?

                                      Continua semana que vem...

terça-feira, 19 de maio de 2015

UM GÊNIO QUE ENCONTROU O PARAÍSO NO ESGOTO - Parte 9

Continuando...

          De repente João parou de falar, devido a uma luzinha que apareceu no buraco e em seguida uma voz macia, já sua conhecida, encheu a minúscula cela.
          -O gajo está a se confessar? É isto? Acho que o amigo está tentando se livrar das culpas, das mazelas? Acertei? Ô gajo! Ô gajo! Estou de volta! Sabe amigo: descobri que continuo preso. Já sei que só vou conseguir realmente ficar em liberdade, quando o amigo também estiver livre.
          Pedro foi falando e entrando vagarosamente pelo buraco. Depois ficou em pé de frente pra João, que estava mudinho, mas com um sorriso que enchia todo o ambiente. Ao passar o susto, João se levantou e foi abraçar o amigo. Ao tentar levou um susto maior ainda, quando não conseguiu o abraço de carne e osso. Pedro então falou, entre risos:
          -Não te disse, ô gajo! Estás mortinho da Silva! Por isso não conseguiste abraçar-me!
          Acabaram os dois caindo na gargalhada. João dizia que Pedro já tinha morrido. E Pedro falava que João já tinha passado dessa para melhor. Ficaram assim por muito tempo. Dava pra ver o quanto João estava feliz. E Pedro também não conseguia esconder a satisfação de estar de volta àquela cela. João se encostou à parede e vagarosamente foi escorregando, até se sentar. Pedro imitou o amigo. Conseguiram finalmente parar de rir.João quebrou o silêncio, interrogando o amigo:
          -Por que você voltou? O que te trouxe de volta, Pedro?
          -Vou confessar-te uma coisa: não me senti livre. Acreditas? Eu sabendo que o amigo continuavas preso... A minha liberdade só será real, quando estiveres também livre. A grade não desgrudou da minha pele.
         -Mas Pedro, somos amigos há tão pouco tempo... Você deveria ter ido embora. A sua chance apareceu e você tinha que abraçar.
         -Não podia gajo! Não podia! Não deveria... Sabe de uma coisa? Alguma coisa de mim não conseguiu passar pelo buraco. Era como se eu estivesse acorrentado. Eu fui até aonde a corrente deixou. Depois não consegui ir adiante. Mas não estou triste, se queres saber! Vou ficar com o amigo até que consigamos partir juntos. Quero fugir por inteiro. A metade da liberdade não vale à pena. É tudo ou nada!
         -Não sei nem como responder. Estou emocionado. Vou confessar uma coisa: já estava sentindo a falta do amigo. Eu acho que agora, você é o único amigo, vivo ou morto, que eu tenho.
         -Já começaste de novo com gracinha! Quem está morto aqui, és tu! Eu saí e voltei. Logo estou vivo! Vivinho da Silva!
         -Vivinho da Silva? Muito estranho isso. Na sua época não se falava isso!
         -Ouvi de um gajo que aqui esteve. Na realidade eram dois sujeitos mal encarados. Falavam muitas coisas que não entendia. Teve uma vez que um deles falou para o outro que ia fugir. Disse que estava vivinho da Silva. Eu guardei isso na memória. Engraçado que você também fala muitas coisas que não entendo. Eles não eram boas pessoas. Eu senti isso logo que aqui pisaram. Sabe o que eles disseram? Falaram que quando saíssem daqui, iriam espalhar o terror pela cidade. Um deles até questionou o outro, dizendo que aquilo poderia matar muita gente inocente. Mas o outro disse que aquilo seria pela causa. Que alguém tinha que se sacrificar para tirar o país das mãos dos militares. Mas um dia abriram a porta, tiraram os dois e amarraram as suas mãos para trás. Escutei quando um dos carcereiros falou que eles iriam sofrer um pequeno acidente. Iam escorregar e cair dentro d’água.
          -Você se lembra dos nomes deles?
          -Acho que não. Nunca conversaram comigo. Espera ai! Eu acho que eles se tratavam pelo apelido. Um deles chamava o outro de Feici. Eu acho que é isso. F-E-I-C-I.”
          -Eu acho que é face. F-A-C-E. Isso é rosto em inglês. E o outro?
          -Forno. Esquisito, não é? Falavam muito em roubar banco, em jogar bombas pela cidade... Tinha alguma coisa também com drogas. Falavam que após tirarem os militares do poder, os militantes de esquerda iriam deixar o comércio livre para eles. Seriam os donos dos morros.
          -Não estou entendendo. Pelo menos uma coisa é certa, que os caras estiveram aqui há pouco tempo.
          -Eu acho que sim. Deve ter sido um pouco antes de você chegar. Mas como sabes?
          -Eu sei, porque estamos numa ditadura. Os militares deram um golpe, em 1964. O país está sendo comandado por eles. Mas, por incrível que pareça, nós temos um presidente. Só que o povo não o escolheu. Sai um, entra outro. E a gente só fica de fora olhando a farra das cadeiras.
         -Não entendo. E o imperador? Todos devem obedecer ao rei ou ao imperador!
         -Mas nós não temos nem rei ou imperador.
         -E o que fizeram com Don Pedro I?
         -Já morreu.”
         -Já? E ninguém me comunicou o ocorrido. Não ficamos sabendo da passagem do nosso Imperador. É lastimável. Onde nós estamos?
         -No Brasil! Aqui acontece tudo e o povo nada sabe!
         -Mas é? Continuo sem nada entender. Aonde já se viu a família imperial não comunicar a passagem do nosso Imperador!
         -Pedro. Já tivemos até Dom Pedro II. Além de uma porção de presidentes e você não sabe nada?
          - Como poderia saber, se cá estou confinado! Falaste que já tivemos vários presidentes? E o que é presidente? O mundo só tem reis ou imperadores! E nós temos o nosso imperador: Don Pedro I!
          -E Don Pedro II, que era o filho dele.
          -Filho de Dom Pedro I? Como o mundo está mudado! Ninguém respeita o seu rei! O meu rei é Dom João VI! Ninguém avisou-me da mudança de imperador! Ô gajo, eu nem sabia que Don Pedro I tinha filho!
          -Ué! Você não sabia que Dom Pedro I tinha filhos?
          -Claro! Eu me confundi! Agora eu me lembro do menino Pedrinho! Dom Pedro I abdicou... Agora clareou-me a mente! José Bonifácio segurou a banana... Está tudo muito confuso!
          -Isso é Brasil! Você não conhece a terra que você vive? Vou te dizer uma coisa: aqui a gente pode até prever o futuro.
          -Mas como prever o futuro? O que dizes ô pá?
          -Primeiro vou te inteirar de alguns fatos da história. Olha só que país! Tiraram Don Pedro II do poder. Segundo alguns historiadores, ele era mais a favor de uma república do que alguns ditos republicanos. Foram os monarquistas que deram o golpe, isso segundo pesquisadores. Ele bateu de frente com os escravagistas. Queria todos os negros livres e conseguiu, entretanto foi detonado pelos latifundiários.
          -Não! Verdade?
          -Eu acho que é. O que já entrou e saiu de presidente, você nem acredita. As traições continuam... A política parece batata podre. O cara é democrata, daqui a pouco já virou comunista. E assim vai. O Brasil vai sendo embrulhado...
          -Não! Não acredito! O filho de Dom Pedro I não iria admitir uma traição dessas ao seu filho! Isso não! Ele gritaria de novo, “Independência ou morte!
          -Que independência é essa? Isso foi à maior armação da história.
          -Blasfemas, ó gajo? Blasfemas! Blasfemas!
          - Vamos deixar essas coisas do Brasil, pro Brasil... Esse Brasil não é o meu. Eu acho que tem Brasil demais dentro do Brasil. Eu só estou falando o que ouvi por ai. Com o tempo vou te contar mais algumas coisas que eu escutei. Também não tenho muita certeza se ouvi ou não. Tem muita gente inventando uma porção de coisas por ai. Eu até acho que o Brasil não foi descoberto, foi inventado. Não sei se alguém já falou sobre isso. O cárcere está me deixando muito confuso. De repente eu nem estou preso.
         -O que disseste?
         -Nada. Nada. Vou trabalhar que é melhor. É melhor eu começar a examinar o chão?
         -Acho que é o melhor que tu tens a fazer. Tu falas umas coisas que pouco ou quase nada entendo. Vamos ao que interessa. Como disse antes, aqui por baixo tem um pequeno riacho, ou uma vala para escoar a água da chuva. Não me recordo se essa passagem é estreita ou não. Mas segundo o meu amigo, tem um trecho que é uma gruta, por onde entra a água e sai mais abaixo no meio das pedras. A saída só dá para uma pessoa de cada vez e que um homem só consegue sair quase que ajoelhado. Disse-me que não viu, mas que um amigo vos contou. Confidenciou-me que ele e um amigo escolheram as pedras e fizeram a contenção. Outros dois também viram a pequena gruta, mas não deram importância. Assegurou-me que só ele foi até o final. Já que a água descia um pouco abaixo da saída da gruta, ele conseguiu obstruir um pouco essa saída, colocando algumas pedras.
         -Estranho.
         -Como estranho? Estranho o quê?
         -Como você e os outros não ficaram sabendo? Nem os superiores viram nada.
         -Ô gajo. Os superiores só queriam sombra e água fresca. Mas queriam todos trabalhando. E nós trabalhávamos. Cada um no seu setor. Eu só fui para lá, depois que o piso já estava feito. Ô gajo, espera ai. Tem alguém chegando. Ué! Não parece com um dos meus carcereiros! Este veste uma roupa verde.
        -É uma farda. Ele é um soldado do exército. Vou fechar o buraco da parede.
        -Ele está trazendo a vossa comida e a vossa água. Está abrindo a portinhola. Vou dar uma olhada mais de perto.
         Quando Pedro colocou a sua cara pra fora, um grito de terror ecoou pelo subterrâneo. O soldado viu nitidamente o rosto de Pedro no vão da pequena portinhola. O susto foi tanto, que ele largou a comida e a água e saiu correndo desembalado, gritando apavorado. Outros dois que estavam pelo caminho, mesmo não sabendo do que se tratava, correram juntos. Subiram uma escada de pedra que saía dentro de um pequeno compartimento. Trancaram uma pesada porta interna e uma outra que dava para um corredor. Correram sem parar um segundo sequer, até saírem num amplo pátio. Dali foi um para cada lado.
           Pela primeira vez a portinhola ficou aberta. Pedro se dirigiu a João e falou ingenuamente:
          -Ué pá! O que foi que aconteceu com esse gajo? Eu nunca vi uma pessoa tão destrambelhada na minha vida! Parecia que tinha visto um fantasma!
          -Parecia, Pedro?
          João fez a pergunta, mas uma risada estridente ecoou na cela. Pedro olhou para o amigo e retribuiu com um sorriso sem graça. João custou a suspender o riso. Pedro olhava-o com as mãos na cintura, deixando claro que não estava gostando nada da graça. Ficou calado, aguardando o amigo parar, e, ainda entre risos ele se desculpou.
        -Des... Desculpe. Desculpe.
        Respirou fundo e continuou:
         -Sabe de uma coisa: faz muito tempo que não ria tanto. Pode ficar certo de que não estou rindo de você. Só fiquei imaginando a cara que o guarda deve ter feito. O susto dele foi a coisa mais hilária que já vi. Isso só imaginando a cara dele. Já disse a você que nunca fui um cara de muitos risos. Mas engraçado que aqui com você, comecei a ver mais graça nas coisas.
           -Tudo bem. Aceito as suas desculpas. É... Pensando bem até que foi uma coisa engraçada. Já pensaste se realmente eu estivesse morto?
        Ao término da frase, explodiu a risada dos dois, que saiu pela portinhola e ecoou por aquela ala subterrânea. Só foi barrada pela grossa porta, que se fechava herméticamente. Essa barreira isolava qualquer grito de dor ou raros risos dos seus encarcerados. Os esquecidos da pátria. Nada saía daquela galeria. Nunca saía... João soluçava, de tanto rir. Estava difícil de parar. Por sua vez, Pedro já não ria mais da situação, mas sim do amigo. Ficaram assim por um bom tempo, até que Pedro resolveu mudar a situação.
           -Ô pá! Estás na hora de te alimentares! A comida já não é grande coisa, se demorares então, o vosso estômago não vai resistir! Sabe amigo, acho que lá no mundo, se deres isto para um cachorro, com certeza ele recusará. Tu não achas?
          João só balançou a cabeça, mas atendeu ao amigo. Entretanto, de vez em quando, ainda ria um pouquinho, entre uma colherada e outra. Parecia que a gororoba é que fez com que ele parasse completamente de rir. Fez uma careta e ofereceu o que restava no fundo da vasilha, para o amigo. Pedro recusou dizendo que graças a Deus não tinha mais fome. Depois de raspar o fundo do prato e beber um pouco de água, João viu quando Pedro passou a metade do corpo pela porta. Assim ficou durante alguns minutos. João já não se assustava mais com as peripécias do amigo. Tinha hora que a dúvida aflorava à sua mente.
         -Será que ele está morto mesmo? Quem garante que isso não é um sonho? De repente isso é truque. Por que será que ele duvida também que estou vivo? Muito estranha essa situação. Mas eu tenho a certeza de que ainda estou com todas as forças vitais. Estou vivo! Vivíssimo! Se eu for tentar fazer isso que ele faz, quebro a minha cabeça, com certeza. Ele passa pelo meio de uma massa aparentemente compacta. Pra mim é duro feito pedra. Se ele diz que está vivo, então ele é ilusionista.
            Enquanto João fazia seus questionamentos, Pedro passou totalmente pela porta. Caminhou pelo corredor e foi olhando cela por cela. Observou que estava tudo igualzinho como tinha sido construído. Ou melhor, quase. A umidade já tinha tomado conta do lugar e fedia a mofo. Linhas de águas escorriam de alguns pontos. Foi até ao final do corredor. Parou em frente de uma grande porta. Ela era a mesma. Não lembrou qual era o tipo de madeira. Só lembrava que era pesada.Olhou-a de cima a baixo, mas não conseguiu atravessá-la. Alguma coisa puxou-o. Voltou e foi olhando o interior de cada cela. Eram quatro de cada lado.  Estavam todas ocupadas. Não reconheceu ninguém que ali estava. Achou muito estranho. E os amigos que foram presos com ele? Nenhum deles estava por ali. Olhou bastante e viu que ali estavam uns pobres coitados barbados, imundos e doentes. Os únicos com saúde eram ele e o amigo. Mas também a única cela com duas pessoas era a dele. Os outros não tinham ninguém para dividir o infortúnio. Voltou tristonho. Ao atravessar a porta, foi questionado pelo amigo.
           -O que foi que houve? Que cara triste é essa?
    -Ó pá! Com que quadro triste deparei-me agora! Acreditas que todas as celas estão ocupadas por farrapos humanos? Ai, ai! Estou com o coração partido! E os meus amigos que lá estavam... Sabes que não mais lá se encontram? Ó pá! Acho que foram mortos! Estive quase aos prantos! Muito triste! Diga-me: já te alimentastes?
    -Sim. Engoli aquele troço. Você foi até o pátio?
           -Não. Ó pá. Cheguei até a porta grande, mas não consegui atravessá-la. Parece que alguma coisa me puxava.
           -Alguma coisa? Que coisa?
           -Não sei. Não sei mesmo. Não me peças explicações. Como explicar o que não tem explicação? Deve ser alguma força que desconheço. Vamos ao trabalho que é melhor. Vamos ao trabalho?
           -Acho que você quer dizer, “que eu vou ao trabalho”. Você só vai ficar aí sentado mesmo! É ou não é? Só olhando! Só olhando!
          -Mas vou dar todas as informações necessárias. Já é um trabalho e tanto, não achas? Vamos logo! Vamos! Vamos! Já estás bem forte! Pensei cá com meus botões: quem sabe o amigo consegue passar por esta portinhola!
          -Como? Você está brincando! Acha que sou mágico?
          -Só depende de boa vontade. Tentas abrir este vão! Aproveitas que o gajo largou esta portinhola aberta! Sabes de uma coisa, dá-me até vontade de rir, o gajo deve ter se borrado todo!
          -Ele deve ter cagado até a alma, do jeito que ele saiu daqui. Mas vamos lá. Eu acho que você está maluco. Já viu como essa madeira é dura? Não temos ferramenta nenhuma à nossa disposição. É uma empreitada difícil de ser realizada. A não ser...
          -A não ser...”
          -A não ser que você vá lá fora e pegue alguma coisa que possa ser útil e eficiente. De repente encontra até uma ferramenta... Quem sabe as chaves?
          -A idéia não é de toda má! As chaves seriam mais fáceis. Só basta saber com quem estão. Mas aonde? Estou cá a pensar. Vou tentar agora mesmo. Aguarde-me!
      Pedro saiu com ar de felicidade. Antes de atravessar a porta, olhou para João e sorriu. Atravessou-a. Caminhou saltitante pelo corredor, assobiando alguma canção ininteligível, e parou instantaneamente em frente à grande porta. Ficou parado sem saber o que fazer. Na realidade sabia, mas não conseguia se movimentar. Alguma forma invisível empurrava-o para trás. Ficou mirando a porta, não sabe quanto tempo. Não ia pra frente nem pra trás. Estava travado. Foi ficando agoniado. De repente se lembrou de Deus. Não tinha dado conta, desde aquele instante, de, em algum momento ter se lembrado Dele. Além de nunca ter pedido a sua ajuda. E ele que sempre se achou junto dele, principalmente quando vivia com os religiosos. Isso era o que eles diziam. Mas sinceramente, no fundo, ele nunca tinha sentido a proximidade com Deus. Mas também nunca sentiu muita verdade nas ações e nos gestos daqueles religiosos. Tudo neles estava na ponta da língua. Nunca sentiu nada, verdadeiramente, vindo do coração. Mas o mais importante é que agora tinha se lembrado de Deus. Continuou ali postado olhando para a porta, enquanto Deus tomava conta do seu coração. Os batimentos cardíacos foram aumentando lentamente. Foi ficando emocionado. Os seus olhos se encheram de lágrimas. De repente uma luz, a principio débil, foi tomando conta da porta. Quando se deu conta, já estava do lado de fora. Com olhos cheios de lágrimas, olhou para o céu, ergueu as mãos e agradeceu:

          -Oh! meu Deus, muito obrigado! Perdoe este pobre incrédulo! Mas hoje finalmente vos encontrei! Agora sei que estou totalmente liberto! Liberdade! Liberdade, Pai. Vou segredar-te uma coisa: acho que este céu foi o mais lindo que já vi, em toda minha vida. É o mais azul, Pai. Escuta-me. Vê se não me abandones mais! Estás a ouvir-me? Agora vou voltar para avisar ao meu amigo. Puxa. Já ia me esquecendo. Mas antes eu tenho que descobrir alguma ferramenta ou a chave que abra as portas da prisão!
                                                   Continua semana que vem...

terça-feira, 12 de maio de 2015

UM GÊNIO QUE ENCONTROU O PARAÍSO NO ESGOTO - Parte 8

Continuando...

João fez o que o amigo mandou. O frescor da madrugada acariciou-lhe apenas a mão. Era até onde o seu braço alcançava. Aquele contato com o mundo exterior despertou-lhe novamente uma imensa alegria. Mas em seguida, uma tristeza profunda, fez com que qualquer chama de esperança ficasse acesa. Pedro sentiu isso e tentou consolá-lo.
           -Ô pá, não fiques assim! Tu vais conseguir escapar desta gaiola também! Eu demorei, mas consegui! Vês? Estou até mais novo!
           João conseguiu empurrar um pouco para o lado a sua tristeza e falou para o amigo:
           -Como eu posso vê-lo por esse buraquinho? Você está de novo tirando um sarro com a minha cara?
           -De novo não estou a entender-te! Agora dizes que estou a tirar um sarro! Não te entendo! Desconheço também esta palavra! Como disseste antes: querendo me sacanear. É isso?
           -É isso ai! Está aprendendo rápido!
           -É isso ai. Muito estranho o seu palavreado. Sabes... Não sabes... Eu vou cumprir o que prometi. Antes de ir-me, vou mostrar-te o caminho para que possas fugir. Há alguma pedra do piso que pode ser retirada. Uma delas tem apenas um calço segurando-a. Terás que movê-la para que solte. Por aí o amigo poderá escapar. Não faça essa cara de pouco caso. Vais ter que cavar e cavar muito. Embaixo passa um pequeno córrego. Ele corta todo o forte. Ele vem de uma pequena nascente. Serve também para escoar a água da chuva e do esgoto. E deságua no mar. Veja só, por coincidência ele passa bem aqui em baixo!
          -Você tem certeza? Não está querendo me sacanear de novo?
          -Ô gajo! É claro que eu tenho certeza! Eu participei da construção disso aqui. Esqueceu? Não estou querendo vos sacanear! Certeza, certeza eu não tenho! Tendo em vista que apenas coloquei a pedra aqui da parede! A pedra do chão foi colocada por um infortunado amigo. Era meu único amigo. Há muitos anos que não nos vemos. Será que já partiu para a pátria celestial? Não posso responder a tal pergunta. Ele me segredou sobre a tal pedra no chão e eu falei sobre a da parede, isso antes de sermos aprisionados. Tínhamos que manter segredo. Isso só ficou entre ele e eu. Era uma época em que a desconfiança era o prato principal.
           -Mas isso não mudou muito!
           -Não? Como tu dissestes que vives há muitos anos a minha frente,o comportamento humano deveria estar bem mudado! Tu não achas?
          -Claro! Concordo plenamente com você! Mas, infelizmente, esse quadro continua inalterado. Também com essa ditadura que estamos vivendo, todo mundo desconfiando de todo mundo... As pessoas estão com os nervos à flor da pele. Parece que está todo mundo estressado. Muita gente, para suportar o tranco, tem que ter apoio de psicólogo.
          -Ô gajo. Duas coisas eu não estou entendendo. Uma, é estressado e, a outra, é psicólogo.
          -Sabe de uma coisa: no corre-corre do dia a dia, as pessoas ficam nervosas. O desgaste emocional é tanto, que as pessoas acabam adoecendo. Esse desgaste emocional, a gente chama de stress. Você, parece um psicólogo.
         -O que é isso, ó pá, estás querendo me sacanear?
         -É claro que não estou querendo te sacanear! O psicólogo ajuda as pessoas que estão com problemas dentro da cabeça.
        -São médicos?
        -Não. Não é bem assim. Se bem que existem médicos que usam a psicologia...
        -Então eles curam todos os males que estão dentro da cabeça.
        -Não. Não é uma cirurgia. O psicólogo ajuda as pessoas a encontrarem a cura para os seus males, que não são físicos. Às vezes esses males, que chamamos psicológicos, contribuem para os males do corpo. Aí sim, quando passa para o corpo, é que entra o médico.
        -Mas é assim? Assim mesmo?
        -O psicólogo ajuda você a encontrar a chave para abrir o cofre que está dentro da sua cabeça. É lá que estão guardados todos os seus problemas. E essa chave só quem
tem é você. Cada pessoa tem a sua chave. E não existe duplicata. Só você pode abrir a caixa onde estão todos os seus problemas. E a função do psicólogo é fazer você encontrar o caminho para a sua cura.  A cura está em nós, mas às vezes precisamos de alguém habilitado para nos ajudar a descobri-la.
         -Interessante. Muito interessante. Eu acho que conheci alguns franciscanos que faziam algo parecido com isso. Alguns padres também. O confessionário é mais ou menos isso, não é? O padre é um psicólogo?
         -Mais ou menos. Alguns têm até o dom de levar a pessoa, que vai se confessar, que vai pedir ajuda, a encontrar a sua chave e abrir o seu cofre de segredos. Hoje já há alguns padres que são, sim, psicólogos.
        -Acho que entendi. Mas está na hora da minha partida. Quem bom ter te conhecido, amigo. Com a sua presença ficou mais fácil suportar este lugar fétido. Mas... Quem bom ter a liberdade! Um dia eu encontro-te aqui do lado de fora. Quando conseguires escapar, estarei aqui a vos esperar.
        Pedro sumiu da vista de João, que continuava olhando pelo buraco. De repente apareceu novamente, mas voando. João ficou olhando o amigo até perdê-lo de vista. Logo bateu uma tristeza profunda. Encostou o ouvido na pequena janela e ficou ouvindo a onda se chocar contra as pedras. Parecia com a tristeza batendo no seu peito. Não se lembrava da última vez que tinha chorado. Enxugava as lágrimas que desciam pelas suas faces. Jamais poderia imaginar que sentiria saudade de um fantasma. E de um fantasma que falava um português enrolado. Às vezes até sem sotaque. Misturava as pessoas... Mas era mais um amigo que tinha conquistado. Como sempre foi muito difícil para ele ter amigos, aquele até que tinha sido fácil. E era o mais especial, com certeza. Era uma boa companhia. Naquele buraco que estava enterrado vivo, até um fantasma se tornava a melhor companhia do mundo. Voltou a olhar pelo buraco, com a esperança de ver novamente o amigo, mas nada. Nem sombra dele. Enxugou mais uma vez o rosto e tentou recomeçar o seu trabalho, raspando a junta da pedra do lado. Raspou bastante. Mas nem um cisco conseguiu tirar. A fivela já estava quase toda gasta. Então resolveu desistir temporariamente. Tinha que arranjar uma nova ferramenta.  Caminhou  até a porta e sentou-se do lado. Não sabe quanto tempo ficou ali. O estômago começou a roncar. Depois doeu um pouco. A fome era grande e a comida nada. Já tinha perdido a noção do tempo que estava sem comer. Aquela comida passou a ser a melhor do mundo. A água conseguiu economizar. Ia bebendo aos poucos. De repente se lembrou de uns poucos amigos, que eram quase nenhum. Os colegas... Percebeu que pouco ou quase nenhuma vez deram-lhe atenção. E os professores? De repente tinham raiva dele. Também não era para menos: um simples aluno que ensinava o professor! Resolveu falar para si mesmo:
          -Sabe de uma coisa: se eles têm raiva de mim, é com razão. Agora eu tenho quase certeza de que eles achavam que eu estava ali, não para aprender e sim para humilhá-los. Era isso que eu fazia: humilhava-os. Mas era uma coisa que fazia inconsciente. Juro por Deus! Agora estou vendo com clareza. Lá eu não percebia. Não enxergava nada. Eu estava cego. Será que era a cegueira da vaidade? Mas vou mudar.

Vou ser igual a todo mundo. Vou andar com livros, cadernos... Fazer perguntas como todo mundo. Posso até fingir que não entendi, mas vou perguntar qualquer coisa. E agradecer pela explicação. Agradecer... É isso. Tenho que aprender a agradecer.

                                                           Continua semana que vem...

terça-feira, 5 de maio de 2015

UM GÊNIO QUE ENCONTROU O PARAÍSO NO ESGOTO - Parte 7

Continuando...


João não respondeu prontamente. Ficou caminhando pela sua vida. Até esboçou um sorriso. Depois de se lembrar da família, a faculdade invadiu as suas lembranças. Sorriu ao se recordar dos boatos que habitavam o seu dia-a-dia e que fazia questão de não desmentir. Preferia deixar o imaginário das pessoas viajarem nas lendas sobre a sua vida. Uma delas dizia que ele nunca tinha usado livros. Claro que tinha que ler para poder pesquisar. Nunca precisou usar dentro de sala, isso era um fato. Mas dizer que nunca precisou folhear um livro, era um absurdo. Todas àquelas fórmulas habitavam a sua mente e ainda outras que eram de sua autoria e que eram desconhecidas do mundo científico. Ele sabia que era um cientista e um inventor. Pensou na suas fórmulas e invenções mais recentes. Às vezes se perguntava do porque continuar criando, inventando coisas se tudo que tinha feito, nada tinha sido usado. Antes de responder realmente a Pedro, chegou à conclusão que a sua inteligência era limitadíssima. Depois lembrou também que era uma pessoa frustrada por não ser poeta. Naquele momento de revisão da sua vida, não deixou de se recordar do fracasso que foi ao tentar tocar violão. Simplesmente não conseguiu. Não tinha certeza se tinha fracassado por não ter persistido. Na segunda aula, já estava de saco cheio. Esses detalhes, fizeram com que se achasse uma pessoa igual à outra qualquer. Caiu na real, quando percebeu que toda a sua genialidade de nada estava adiantando ali. Olhou para Pedro e, sem muita convicção, respondeu:
-É... sabe. Eu acho que nunca fui nada.
-És um malandro?
-Claro que não. Eu sempre trabalhei muito com a cabeça.
-Eras carregador? Carregavas caixotes na cabeça? Ou era equilibrista? Acertei?
-Não! Nada disso! Deixa pra lá! Me diz uma coisa: já passaram por aqui muitos prisioneiros?
-Ô sim! Nem imaginas quantos! Mas agora estou chegando à conclusão de que eram todos merecedores de estar aqui encarcerados! Era um bando de gente mal educada! Não davam a mínima importância para mim! Sabes, sempre fui uma pessoa bem educada. Pensando bem, ninguém merece este inferno não! Tu foste o único atencioso!
-Sério?
-Com a máxima seriedade possível! Sabes de uma coisa: eu não sei quantas vezes eu tentei ser cortês com eles. Preocupei-me muito com todos. Eles sofriam muito. Mas como eu era mais antigo, já estava mais acostumado com isso aqui dentro. Conseguia sempre manter a calma. Uma coisa que aprendi aqui foi ser paciente. Vou confessar-te uma coisa: se não fosse a paciência eu já tinha sucumbido. Tenho quase certeza que foi a paciência que me fez sobreviver sem nada comer ou beber. Acho que me alimento do ar. Como o ar e bebo o ar. Ô gajo, tu não achas isto estranho?
-Claro! E como! Bota estranho nisso! Agora quem vai segredar uma coisa a você, sou eu: estou me acostumando com você. No início me assustava muito, mas agora não. Cheguei à conclusão, que com a sua companhia, os dias vão passar mais rápido. Ou noite?
-Verdade?
-Verdade verdadeira!
-Estás preocupado com o dia e a noite. Queres saber? Acho que não faz diferença nenhuma. Um dia você vai conseguir saber. Eu nunca me preocupei com isso. Agora eu sei. Acho que foi o instinto de sobrevivência que me fez desenvolver esta habilidade. Não me perguntes como, pois não saberei explicar-te!
-Então me diz se agora é dia ou noite? 
Pedro atravessou a metade do corpo pela parede e ficou contemplando o céu e o mar. Depois retornou para o mesmo local e relatou o que viu.
-Meu caro amigo! Posso colar-te na conta de amigo? Acho que tu és o único, atualmente.
João respondeu, mas antes respirou fundo, pois estava assustado e ao mesmo tempo maravilhado com o que tinha visto.

-Cla...Cla... Claro! Pe... Pelo visto, você também é o meu único amigo. Puxa, nunca tinha visto coisa igual! Realmente você colocou todo o meu conhecimento de física no lixo! Como é que você fez isso? Há! Você é ilusionista?
-Ilusionista? O que é que eu fiz? Não sei. Mas também não importa. Se eu fiz alguma coisa, foi fruto desse tempo todo que estou recluso. Vou continuar a relatar-te o que foi por mim visto. Tu não imaginas como o céu está lindo! O mar também! Está revolto, parecendo de mal humor. Que noite esplendorosa! Só vendo!
-Você fala bem e com entusiasmo. Então é noite?
-Claro! Eu nunca minto! Tu achas que falo bem?
-Acho sim. Você usa muito a segunda pessoa. Mas tem hora que mistura um pouco. Quando eu falei que você falava bem, eu queria dizer que você é bom de papo. Falar na segunda pessoa, eu acho muito chato. Mas... já que tu gostas, o que se há de fazer!
-Não é uma questão de escolha, é uma questão de hábito. Minha mãe falava assim e a mãe dela também. Já meu pai eu não sei, não o conheci. Minha mãe me disse que ele era espanhol. Não sei mesmo. Já que ela assim falava, eu assim falo. Posso segredar-te uma particularidade?
-Pode sim, é claro. Se confias em mim... Olha que comecei a falar igual a você!
-Sabe de uma coisa: nesse pouco tempo que estamos conversando, eu senti que eras uma pessoa de bem. Continuando... Vivi quatro anos com os franciscanos. Quase me tornei um deles. Foi na ordem que aprendi a ler e escrever.
-Por que você não continuou?
-Precisava de liberdade. De certa forma sentia-me um prisioneiro. Fui tentar bater asas para outras paragens, eis que acabei dentro de outra gaiola. Que ironia do destino. O pior é que a minha mãezinha não sabe aonde pousei.
-Mas você pode visitá-la!
-Como, se estou encarcerado? Não sou mágico. Consegui até desenvolver algumas habilidades... Olha só essa.
Pedro de repente começou a levitar. Depois subiu pela parede e caminhou de cabeça para baixo pelo teto.De repente se soltou... João se assustou e correu para segurá-lo. Mas ele interrompeu a queda a alguns centímetros do chão. Depois sorridente brincou com João.
-Viste como tornei-me um artista? Estive pensando, quando sair daqui, em mostrar minhas habilidades circenses, em alguma grande capital européia. Quem sabe Paris! Nisso tudo só tem um fato estranho: nunca aprendi com ninguém essa arte. E também não preciso treinar. É só eu querer e pronto. Eu disse que tinha conseguido algumas habilidades, mas agora eu acho que sempre as tive. O dia em que comecei a apresentar alguma enfermidade, eles me tiraram daqui e me levaram para uma  enfermaria. Quando voltei, já apresentava algumas habilidades. Eu disse que só tinha um fato estranho, mas acho que me enganei, pois tem mais. Eu fui e não me lembro quando voltei. Quando abri os olhos, cá já estava. E já acordei sem precisar mais de comida e água. Estou desconfiado de que me deram alguma beberagem para que nunca mais eu precisasse comer e beber. Nunca mais senti fome e sede! Suspeito que aqui seja algum centro de experiências estranhas. Quando estive no mosteiro, ouvi dizer que alguns franciscanos faziam pesquisas estranhas. Diziam até que eram bruxos. Mas nunca soube que tipo de experiências eram essas. O que achas?
-Interessante isso que você faz. Mas o que eu acho mesmo, é que você está morto.
-Vais começar de novo? Tu sabes que o único morto aqui, és tu.
-Então como você explica o fato de atravessar uma parede, caminhar no teto, fazer levitação e depois se despencar e parar a alguns centímetros do chão! Você colocou a metade do corpo para o lado de fora, cara!
-Isso não é possível! Aonde já se viu alguém atravessar uma parede! Se assim fosse, eu já teria daqui fugido! Não! A única chance que eu consiga fugir daqui, é por este buraco que aí está! De outra forma, não poderia!
-Mas como você sabia que estava noite?
-É mais uma habilidade que me acomete esporadicamente. Eu acho que consigo ver através das paredes. Isto acontece uma vez ou outra.
-Engraçado é que você enxerga através da parede, mas está completamente cego da sua atual condição. E tem mais: como uma pessoa consegue caminhar por um teto, de cabeça para baixo?
-Isto é mais uma habilidade que despertou em mim. Tu achas que estou morto. Mas eu garanto que tu é que estás morto! Nunca pensei que um dia eu fosse falar com alma de outro mundo! Nunca! Ô gajo. Tu me assustas. Por favor, termine logo o que estás fazendo. Quero logo escapar deste buraco.

-Vou te falar uma coisa... Engraçado, eu sempre achei que fosse ficar apavorado ao ver uma alma penada. Realmente quando eu te vi, fiquei com um medo danado! Mas agora não! Você parece uma pessoa igual a mim!
-Hei! Calma lá! Igual a mim, coisa nenhuma! Tu sabes muito bem, que quem está morto aqui és tu! Vamos fazer uma coisa: discutiremos isto quando daqui sairmos. Trato feito?
-Tudo bem. Se é isso que você quer, pra mim está legal.
-João, se não conseguires sair pelo mesmo local que eu, juro que direi o ponto em que poderás tentar escapar. O lugar, realmente eu não sei, mas apontarei o provável ponto de fuga. Aí tu procuras a vontade. Tens todo o tempo do mundo.
Ao terminar o seu pequeno discurso, Pedro caiu na gargalhada. Era só olhar para a cara de João e desabar em risos. João não achou nenhuma graça e fez cara de poucos amigos. Pedro, meio sem jeito, fechou o semblante e comentou:

-Ô gajo! Eu estava só a brincar! Espero que consigas fugir daqui! Desejo isto de coração! Estarei esperando o amigo do lado de fora! O que achas?
-Não acho nada. Ou melhor: acho sim, que você está torcendo para que eu morra aqui dentro! Para que eu fique igual a você, não é?
-Por quem me tomas? O que é isto amigo? Não fiques assim tão zangado! Foi só uma colocação infeliz da minha parte! Queria só rir um pouquinho. Sabe, nem me lembro da última vez que ri.
-Deve ter mais de cem anos!
João nem deixou que Pedro se alongasse em outro discurso, cortou-lhe e caiu na gargalhada. Pedro olhou-o com uma cara desenhada de dor e disse:
-Tu zombas de mim? Queres me ver triste? Vai! Continues jogando na minha cara que estou morto! Vais se sentir melhor? Então vá em frente! Mas eu acho melhor o amigo abrir logo este buraco e deixar-me sair! Acho que o amigo vai se sentir mais feliz longe de mim!
-O que é isso! Não se sinta o último dos homens! Eu só te sacaneei!
-O que é sacaneei? Desconheço este termo! Estás me ofendendo?
-Nada disso. Você fez uma gozação comigo e eu paguei na mesma moeda. Só isso.
-Sabe gajo. Cheguei à conclusão que o meu tempo já se esgotou. Está na hora de partir. Por favor, tire logo esta pedra e deixe me passar! Acho que o amigo já não tem agrado pela minha companhia!
Enquanto Pedro falava, João conseguiu remover a pedra. Imediatamente a lua atravessou o pequeno buraco e se deitou num pedaço de chão úmido. A emoção de João foi indescritível. Lágrimas foram descendo preguiçosamente pelo seu rosto. Em seguida um sorriso que vinha da alma, se abraçou com o choro e um rasgo de luz acariciou as suas faces. Com aquela visão, Pedro parou de falar e ficou observando emoções que brotavam daquela alma. Se emocionou com o estado de alegria em que o amigo estava mergulhado. Permaneceu calado para não acabar com aquela cena maravilhosa. Aquilo tudo estava fazendo muito bem a ele. Só se movimentou quando João olhou na sua direção. Sem falar nada, se dirigiu para o local que estava aberto na parede. Meteu a cabeça no buraco e passou para o outro lado. Só depois de sumir da sua vista é que o amigo despertou. Ficou surpreso com o desaparecimento de Pedro. Mas não conseguiu falar nada. Ficou triste. Não sabia se veria mais o amigo. Depois de alguns segundos, Pedro comentou da sensação que estava sentindo do lado de fora.
-Ô gajo! Que maravilha! Depois de tanto tempo de confinamento, sentir-me abraçado à liberdade, é sensacional! Metes o braço pelo buraco! Vamos! A madrugada está linda!
                                                             
                                                         Continua semana que vem...