segunda-feira, 27 de junho de 2016

Pensamento de Poeta - Ponte


Ponte 

    - José Timotheo -

A água

Dura feito rocha

A rocha

Mole feito água

A sede me devora

Bebo a rocha

Mato a sede ou morro

A perda está envolvida na questão

A água

Mole feito rocha

A rocha

Dura feito água

Quebro a esperança

Na água ou na rocha

Do alto da ponte

Miro aquela imensa

Massa d’água

Dura feito rocha

E a perda é inevitável



quinta-feira, 23 de junho de 2016

Pensamento de Poeta - Dor


Dor
- José Timotheo - 

Como dói

Como dói um sorriso sem calor

Um olhar sem brilho

Um amor sem verdades

Uma partida sem regresso

Um regresso sem procura

Como dói

Como dói um leito só

Não ter amanhecer

Um amor sem arder

Como dói

Como dói ver um dia raiar em trevas

Os pássaros cantarem emudecidos

Os jardins em flor, "infloridos"

Morrerem

Como dói

Como dói tanta ausência

Uma saudade

Desamor

Ah... Como dói


terça-feira, 14 de junho de 2016

Pensamento de Poeta - Ironia



Ironia    
  
                            - José Timotheo -


Vi uma rosa sedenta

Sol a pino, ela curvava

Mais e mais sobre sua sede

Pedia água

Queria água

Mas as nuvens, de folga

Passeavam sobre sua cabeça

Pediu a noite

Precisava da noite

Queria esconder, na escuridão

A sede

Então veio uma noite orvalhada

Molhada de sonhos

Mas, pela manhã

A rosa é encontrada afogada

Numa gota de esperança




terça-feira, 7 de junho de 2016

Pensamento de Poeta - Voz


Voz

                        José Timotheo


Minha voz solta no ar
Rasgava notas tontas
Cruzando o passado
Interrogando o presente
E enterrando o futuro
Cuspia na pauta, tanto, tanto
Que surgiam sons artificiais e felinos
Imantava acordes dissonantes
Derrubando tons maiores e menores
Esquartejava harmonias
De melodias con(fusas)
Afogava sorrisos harmônicos
Breve, brevemente, mínimo
Lentamente sem compasso
Há um passo do abismo
Minha voz sepultava sinfonia
Fruto inerte sem poesia
Minha voz, filha do desalento
Notas desafinadas de um anseio
Canção de um povo quase falido
Sem presente, num futuro sem esperança

Tendo apenas, a saudade como hino