terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 15

Continuando...
            O delegado se dirige para a escada que vai levá-lo para o outro andar. Lucinha olha para o corredor que está a sua frente e resolve começar por ali. O da direita, onde estão os banheiros, deixa pra depois. Lembrou-se do que tinha ocorrido com ela e então preferiu não arriscar por ali.  Para na primeira porta, tenta abri-la, mas não consegue. Foi para segunda e acontece a mesma coisa. Depois foi tentando às outras e nada aconteceu. Além de tentar abrir, ainda bateu em todas as portas, porém não recebeu nenhuma resposta. Saiu desanimada.
           Resolveu pegar o corredor da esquerda. Em uma das portas viu sair um casal. Passou sem nada falar. Apenas deu uma olhada para o interior do aposento, que estava aberto. Parou em frente à porta seguinte. Quando ia tentar abri-la, leva um bruto susto quando um relógio de parede bate a meia hora. Naquele silêncio não podia acontecer coisa pior. Tremeu dos pés à cabeça. E o coração quase explodiu. Refez-se do susto e foi em frente. Ao se aproximar da porta seguinte, ouviu vozes, mas não entendeu o que falavam. Encostou o ouvido e ouviu um nome: PC. Pensou: - Meu Deus. O que deve estar acontecendo com ele? Vou procurar Carlos. – Ao se virar para ir à procura do delegado, se depara com dois homens que vinham em sua direção. Assusta-se, mas tenta ir para a outra direção, entretanto mais dois brutamontes aparecem na outra extremidade do corredor. Ela corre e tenta a porta seguinte. Achou que estava com sorte, pois a porta só estava encostada. Entrou e se trancou. A escuridão era completa. Respirava ofegante. Passou a mão pela parede e encontrou um interruptor. Quando acionou, o seu sorriso veio junto com a claridade que se espalhou pelo ambiente. Respirou aliviada. Entretanto o alívio deu lugar ao susto. Gritou:
          - PC! PC! O que houve? Meu Deus!
            Ela corre em direção ao amigo, que está deitado num chão empoeirado, com as mãos amarradas às costas. Aproxima-se e vê que ele está apagado. Dá uma sacudidela, mas ele não dá nenhum sinal de vida. Então o sacode mais forte. Mas PC não esboça qualquer reação. Lucinha já estava quase entrando em desespero, mas conseguiu se controlar, quando ele respirou fundo. Ela suspirou aliviada e deixou um leve sorriso brotar nos seus lábios. Sentou-se do lado do amigo, desamarrou-o e colocou a sua cabeça no seu colo. PC estava vivo e isso é que era o mais importante. Começou a chamar pelo amigo, mas nada aconteceu. Depois deu uma tapa no seu rosto. Porém a situação continuou na mesma. Nada do cara acordar. Então achou que deveria dar uma tapa mais forte. Mesmo assim nada aconteceu. Então alisou o rosto do amigo e sapecou uma bofetada. Aí o cara voltou à vida na marra. Abre os olhos assustado e reclama:
           - Porra Lucinha! Essa porrada doeu! Que mão pesada!
          - O que é que você queria que eu fizesse? Pensei até que você estivesse batido às botas! O que foi que houve? Você sumiu! Eu estava preocupadíssima! PC essa casa é uma loucura! Temos que sair daqui!
          - Deixa-me colocar a cabeça no lugar. Ela parece que vai estourar. Estou com umas toneladas em cima. Parece que estou com o peso do mundo em cima de mim. Eu não sei o que houve Lucinha. Lembro-me apenas que entrei no banheiro. Fiz o que tinha que fazer. E... Não me lembro. Hei! Espera aí! Alguém me agarrou por trás e colocou alguma coisa no meu nariz! Depois... Não tem depois na minha lembrança.
         - Não se lembra de mais nada? Faz uma forcinha. Chegou a ir para frente do espelho?
        - Espera aí. Acho que sim. Lavei as mãos. Depois joguei bastante água no rosto, para ver se melhorava.
       - Você não viu a cara do sujeito, não?
       - Foi muito rápido. Lucinha, vamos sair daqui?
       - É. Eu acho que sim. Espera que vou te ajudar a se levantar.
          Lucinha coloca o amigo sentado e se levanta. Em seguida o pega pelas as axilas e tenta levantá-lo. O esforço é muito, mas não consegue erguê-lo. Então tenta arrastá-lo até a porta. Aí sim consegue algum sucesso. Porém quando vai tentar abrir a porta, a luz se apaga. Em seguida uma gargalhada, que ela já tinha ouvido antes, ecoa no quarto. Ela tenta abrir a porta, mas alguém pelo lado de fora já tinha trancado. A gargalhada continuava forte. De repente vários olhos fluorescentes despencam do teto e ficam pendurados se balançando. É uma cena macabra. O pânico foi tomando conta dos dois. Começam a gritar desesperadamente. Com o tempo a voz de Lucinha vai sumindo.  PC, que ainda se sentia fraco, também não resistiu e se calou. Mas o medo continua como guardião implacável. Mas de repente o que era noite, se fez dia. E uma luz muito forte tomou conta do quarto. Dois holofotes possantes foram direcionados para cima dos dois. Num flash, os olhos que estavam balançando no teto, sumiram. Nenhum vestígio ficou. O silêncio agora é o dono absoluto do aposento. Os dois não conseguem se olhar. A intensa claridade não permite que se veja nada ao redor. Lucinha se abraça ao amigo e chora baixinho. Ficam assim por alguns minutos, sem falar palavra. Nesse abraço fraterno, os corações vão se acalmando. Lucinha, já mais equilibrada, fala para o amigo que vai tentar mais uma vez abrir a porta. Fecha os olhos bem apertados e vai tateando até encontrar a fechadura. Vira a maçaneta, mas nada acontece. A tentativa foi em vão. De repente ela esmurra a porta com toda a sua força. Volta a gritar, mas parece que o seu pedido de socorro não sai ali do quarto. Desanimada senta ao lado de PC. Nisso as luzes dos holofotes são desligadas. A iluminação normal volta. Um ruído de um microfone se esticou pelo quarto. Lucinha fica em pé e ajuda o amigo a se levantar. Dessa vez, já mais refeito, consegue se erguer.  Os dois então se encostam à parede, do lado esquerdo da porta, e ficam procurando por onde pode estar saindo o som. Mas a voz cavernosa ecoa:

          - Meus convidados ilustres, não desejo que fiquem loucos. Mas não podem xeretar. Têm que ficar e aguardar os acontecimentos. Vocês aqui não são repórteres. São pessoas comuns, sem títulos. Vocês não podem atrapalhar a surpresa que tenho para todos os meus queridos convidados. Até agora está indo tudo certo, como planejado.  Mas não podem atrapalhar. Todos se divertem como nunca. Que tal a recepção? Se vocês tivessem olhos azuis... Olhos azuis. Não os quero vivos! Nenhum olho azul sobreviverá! Vocês ainda me verão hoje e ouvirão, mais uma vez, a minha gargalhada!
                  Continua semana que vem...

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 14

Continuando...
Ela fica olhando pra ele, mas parece que não o está vendo. Depois de um período de alienação, fala:
          - É... Talvez... Onde está PC? Ele disse que ia ao banheiro. Ele já apareceu? Mas eu vi! Não estou maluca, não! Aquele par de olhos... Azuis! Muito azuis! Eles olhavam pra mim! Aquela gargalhada!
            Nesse momento os degraus já estavam cheios de gente. Próximo de Lucinha tinha um garçom, que tentando ajudá-la, oferece uma bebida:
          - A senhora aceita uma bebida? É bom pra relaxar.
            Lucinha olha para o garçom, dá um sorriso morno, estica o braço e pega um copo de uísque. Levanta-se, com a ajuda do delegado, e, pedindo licença, vai descendo a escada. Já embaixo, no salão, o delegado leva-a até uma poltrona. Ela bebe um gole, antes de sentar-se. Entrega o copo ao delegado e se acomoda no assento. Fecha os olhos, mas não consegue relaxar. A visão começa a passear pela sua mente. De repente, ao abrir os olhos, grita desesperada. Mas uma voz suave tenta acalmá-la:
         - Calma senhorita. O que houve? O que está se passando? Você está entre amigos. Fique tranquila.
            Lucinha para de gritar, mas não consegue articular palavra. Abre os olhos assustada. Parece que está vendo uma assombração. Baixa a cabeça imediatamente. Não consegue encarar o par de olhos azuis que estava devorando-a. Então a pessoa a sua frente fala docemente:
          - Oh! Senhorita! Senhorita! Desculpe esse seu criado! Devo me apresentar. Com certeza a senhorita não me conhece pessoalmente. Talvez por nome: L. W. Rich, Rique para os íntimos, às suas ordens.
             Depois de um pequeno período em silêncio, finalmente Lucinha levanta a cabeça. Olha meio desconfiada para o senhor que se posta a sua frente. Não consegue falar nada, mas finalmente deixa escapulir um leve sorriso. Então LW aproveita que a repórter já está apresentando uma leve melhora, continua falando:
          - Parece que assustei a senhorita. Mais uma vez, me desculpe. Essa não foi a minha intensão. Soube pelo meu garçom que a senhorita não estava se sentindo bem. Foi um susto? Não foi isso?
            Lucinha não consegue responder. Continua olhando para o anfitrião, emudecida. Ele então, tentando faze-la se descontrair, fala:
         - Conheço o seu trabalho e sei que a senhorita é uma repórter de fibra. Sempre equilibrada e determinada. O que houve hoje, que a deixou nervosa? Uma moça tão linda como você. Tenho alguns quartos a disposição dos meus convidados. Caso queira repousar um pouco, a fim de recuperar o controle, pode dispor de um deles.
            Antes mesmo de terminar de falar, Rique vai se virando e caminha em direção à escada. Quando chega ao topo, para e se vira. Fixa os seus olhos azuis nos olhos de Lucinha, sorrir e some de vista. Um olhar misto de dor e morte fez com que ela se arrepiasse toda. Um pressentimento ruim invadiu o seu coração. Ela olha para o delegado e fala:
          - Carlos, senti uma coisa muito ruim. Não gostei nada, nada desse senhor. Foram esses olhos que vi refletido no espelho. Tenho certeza. Eles fazem me lembrar de morte. Estou ficando maluca? Até a gargalhada continua ecoando dentro da minha cabeça.
            O delegado se abaixa em frente de Lucinha, pega na sua mão, faz um carinho e fala:
          - Você está tensa. Vamos lá pra fora pegar um pouco de ar. Depois tomamos um chope para relaxar. Você só está um pouco impressionada. Devem ter sido os olhos azuis dele. Eu também quando vejo alguém com olhos azuis, lembro-me das pessoas que foram mortas. E fico pensando se ela não será a próxima vítima.
          - Será? Carlos, temos que procurar PC.
          - Ele deve ter ido embora.
          - Não. Ele jamais faria isso com a gente. Pode até ser um maluco, mas é amigo. Além de ser um repórter responsável. Pode escrever aí: aconteceu alguma coisa com ele.
          - Será que ficou de porre mesmo?
          - Pode ser. Então deve estar em algum quarto curando a bebedeira. Vamos atrás! O tal senhor – Rique para os íntimos! – não disse que tem vários quartos a disposição dos convidados? MD pode estar dentro de um desses! Carlos, ele não foi embora. Eu o conheço muito bem.
         - Você falou, está falado! Por onde começamos?
         - Você é que é o policial! Você é que sabe!
         - Está bem. Vamos subir. Eu observei que além desse andar, tem mais outro. Você olha nesse primeiro e eu vou para o outro.
        - Não é perigoso? Estou com medo. Acho melhor irmos juntos.
        - Não precisa. Não vai ter problema. Assim andamos mais rápido. Mas qualquer anormalidade você grita. Combinado?
       - Tudo bem. Gritar é comigo mesmo!
           Antes de começar a empreitada, o delegado olha ao redor e observa que em alguns pontos foram aparecendo seguranças. Eram homens de terno preto e óculos escuros. Notou que na altura do bolso superior de cada um tinha um volume, que podia ser de uma arma de fogo. Antes de subir a escada comenta com Lucinha:
         - Não olha não. Mas apareceram alguns seguranças e estão espalhados pelo salão. E eu acho que estão armados. Fica atenta. Vamos subindo devagar sem levantar suspeitas. Vamos subir abraçados?
        - Mas não vai te comprometer? 
        - De jeito nenhum. Quem vai prestar atenção na gente? Minha única preocupação agora, é se tem seguranças lá em cima. Aí pode atrapalhar os nossos planos. De resto... Não estou me preocupando com mais nada.
          - Então chega pra cá! Já que não tem problema, vamos agarradinhos!
             Os dois sobem bem devagar. O delegado dá um beijo no rosto de Lucinha, fala alguma coisa e sorrir.  Ao chegar ao primeiro andar, antes de se separarem, prestam atenção no papo de um casal:
           - Você viu aquela velha lá na piscina, Augusto?
           - Aquela toda de vermelho?
           - É! Sabe que ela fez topless? Que troço mais de ridículo!
           - E você não sabe quem é ela! E não é tão velha assim!
           - Quem é?
           - Minha querida Olga. Você não prestou atenção. Se tivesse olhado com atenção, ia saber quem era.
          - Fala logo!
          - Senta pra não cair. É a mulher do senador...
          - Já sei! Não precisa nem falar! É uma ordinária! Bel me disse que ela ganhou de um deputado – aquele que está envolvido em algumas falcatruas! - O seu amigo do peito! – um anel de brilhante, que de tão pesado é capaz de quebrar o dedo!
          - Amigo uma ova! De velha ela não tem nada. Mas de velhaca, tem tudo!
            Os dois caem na gargalhada. Lucinha então olha para o delegado, balança a cabeça e fala:

         - Não vamos perder nosso tempo com isso não! Vamos procurar o nosso amigo? Sobe para o outro andar, que eu vou olhar nesse. Bom que não tem nenhum segurança. Aqui a gente pode dar um beijinho. Eu falei um beijinho. Vai! Vai!
             Continua semana que vem...

domingo, 17 de dezembro de 2017

Reflexão Natalina!!

SÓ FALTAVA ESSA: PAPAI NOEL É CHINÊS   
José Timotheo



          Mais um ano. Mais um Natal. Mais um Ano Novo. Mais um carnaval. E assim vai. Vão passando os dias. Vai passando a nossa esperança. E ela parece elástica. Como elástico parece o nosso saco. E o de Papai Noel também!

          O otimismo em primeiro lugar! – dizia um vizinho. No dia seguinte estava aos berros, pois tinha completado dois meses sem salário. O otimismo tinha ido para o brejo.

         Mais um mês ! – dizia um cara num bar tomando uma pinga. Um amigo que estava ao  lado, consolava-o: não fique assim não. Lá em casa a coisa está pior. E nem por isso estou reclamando. Somos eu e a mulher professores. O outro deixou até um sorriso fugir, e segredou: - é, amigo, a educação é analfabeta! Ela votou mal!

        E o Natal não tem nada com isso. Papai Noel nem tem pé grande. Somente saco. E o que fazer? Acho que vamos voltar aos tempos da criatividade. Era um carrinho feito pelo pai, não Noel, com pedaços de madeira. As rodinhas eram de rolimã. Outro tipo de carrinho também caía bem: um cabo de vassoura, para o corpo do veículo, um pedaço na parte de baixo, preso por um parafuso ou prego, com duas tampas de leite em pó fazendo de rodas; na parte superior, fazendo o papel de volante, também preso com prego ou parafuso, outro pedaço de madeira. Depois se colocava dois barbantes, um de cada lado da madeira, que ficavam amarrados da parte superior até a inferior. A criançada saía na maior alegria. Para as meninas, normalmente era feito uma boneca de pano. E roupas também. Tudo feito em casa.

          A vassoura está cara. A madeira está pela hora da morte. O tecido, nem se fala. O negócio é ir de papai Noel chinês mesmo. Pode estar sem dinheiro, mas um carrinho chinês dá pra comprar. A gente sabe que no dia seguinte do Natal, o carrinho começa a soltar as rodinhas. Mas pelo menos o Natal passou.

        Papai Noel é chinês. Mas tem gente que duvida. Constatei isso ao montar uma árvore de natal. Peguei as bolinhas e fui pendurando uma aqui, outra ali, espalhando tudo que eu podia. No fundo de uma caixa achei um papai Noel. Comecei a procurar um lugar para pendurá-lo. Achei entre duas bolas, que não eram as minhas, e pendurei-o. Fiquei um tempão olhando bem na cara do Papai Noel. Não é que ele tinha os olhinhos rasgados!  Isso mesmo! Olhinhos rasgados! E eu que sempre acreditei que o Noel era da Lapônia! Realmente estamos em outros tempos!

           Desejo de coração ao povo brasileiro, em especial ao Fluminense, um Feliz Natal. Apesar de ter um pé atrás com a esperança. E mais um Feliz Ano Novo. Batemos tanto nessa tecla, que um dia vamos ter uns Natais e muitos Anos Novos felizes. E que tenhamos braços suficientes para darmos um abraço fraterno no mundo.

          Que todos fiquem felizes com os seus presentes. Mas ao abri-los, cuidado: pode vir um chinês de brinde.  É a globalização!



                                                        fim

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 13

Continuando...
A norma do milionário excêntrico era que todos, ao ser convidado, se despissem da posição social.  Isso - é claro! - para quem tinha alguma posição. Mas quem não aceitasse a condição, não entrava na festa. Os sem posição social, recebiam roupas novas e caras. E, além disso, ganhava banho de loja, salão de cabeleireiro e mais uma porção de mimos. Mas isso realmente era somente para aqueles que não tinham um tostão furado no bolso. Depois da arrumação, juntos e misturados, ninguém sabia quem era quem. 
           PC já estava com um copo de scotch. Ele não sabia como aquele copo tinha ido parar entre seus dedos. Estava conversando com Lucinha e alguém o colocou na sua mão. Achou estranho, mas como estava sempre com sede, virou quase tudo de uma só vez. Nesse momento um garçom passava do seu lado. E só foi trocar de copo. Mas dessa vez deu apenas uma bebericada. Não havia passado cinco minutos que tinha esvaziado a primeira dose, ele colocou a mão na cabeça e falou para a amiga:
          - Lucinha. Que coisa estranha. Estou me sentindo tonto. A cabeça está ficando pesada. Estou parecendo que estou acordando no dia seguinte.
         - Como assim? Com uma dose só? Está ficando fraco? Um pé de cana da sua classe, cair com uma dose apenas? Não estou te conhecendo!
        - Cair nunca! Jamais em tempo algum! Só estou meio pianinho! Lucinha é o “figueredo” que está meio baleado. Com certeza foi à cocada que comi ontem!
       - Essa cocada deve ser do Paraguai. É mais uma marca de uísque?
       - Você está muito engraçadinha, hoje!  Vou procurar um banheiro e não demoro. Vê se Marcão está anotando tudo.
         PC termina de falar, vira às costas e sai à procura de um banheiro. Enquanto isso Lucinha vai curtindo a música que se espalha pela mansão. Ela não conhecia, mas mesmo assim ia se mexendo. Ainda não tinha visto Marcão e nem o delegado. Olhou em volta, mas não encontrou nenhuma cara conhecida. Pegou um copo de chope que um garçom lhe oferecia e bebericou. Parecia que tinha apenas molhado os lábios. A espuma ficou agarrada num canto da boca. Enxugou com um guardanapo que tinha pegado quando comeu um canapé. Já estava ficando impaciente. O amigo estava demorando. Mas alguém colocou a mão no seu ombro e quando virou, deu de cara com o delegado. Respirou aliviada quando viu o namorado. Sorriu para ele e disse:
         - Carlos, sumiu todo mundo! Já estou aqui sozinha, faz tempo!
         - PC foi embora?
         - Não! Ele saiu para ir ao banheiro e ainda não voltou! Estou ficando preocupada!
         - Deve ter ido embora.                                                                                                      
          - Não! Acho que não! Ele não iria embora sem me avisar! Mas já tem mais de meia hora que saiu procurando o banheiro. Ele deve estar em qualquer canto por aí, não é? Aquele pilantra deve ter achado algum rabo de saia!
         - Concordo! PC só vive encrencado com mulheres! Já deve estar enroscado com alguma por aí! Não vamos nos surpreender se, pra semana, ele já estiver vivendo maritalmente com ela! Já casou quantas vezes?
         - Sei não! Cinco ou seis. Não tenho certeza. Pode ser que seja sete. Já perdemos a conta. Galinhão!
        Em meio a esse bate papo, um tremendo barulho ecoa pelo palacete. Parecia uma explosão. O susto foi geral. A música foi interrompida e uma voz feminina ecoou no salão, justificando o tal barulho:
          - Senhora. Senhores. Podem ficar tranquilos. Nada de grave aconteceu. Foi apenas um garçom desatento que derrubou um armário abarrotado de louças. Podem voltar aos comes e bebes. A música volta em seguida.
            O sorriso foi substituindo o susto. A descontração foi voltando. O delegado aproveitou e deu um beijo rápido em Lucinha. Ela sorriu, mas disse:
           - Carlos, nós temos que ter cuidado! Não quero encrenca para o meu lado!
          - Foi rápido. Nessa confusão toda, ninguém percebeu. Se tiver algum espião por aqui, não deve ter visto nada.
          - Espero. Estou com vontade de ir ao banheiro. Não demoro.
          - Vou ficar aqui. Estou te esperando.
             Lucinha vai ao encontro de um garçom e pergunta onde fica o toalete. Ele aponta na direção e diz que é no andar superior. Ela vai subindo às escadas e na sua cabeça vem à figura do amigo PC. E a pergunta rola:
         - Onde será que se meteu esse pilantra?
            Chega ao andar de cima e vai procurando pelo banheiro. Encontra uma placa indicativa. Para o lado direito, o banheiro masculino. Em frente, o feminino. Já dentro do toalete, antes de urinar, vai se olhar no espelho. Ao se mirar, ela grita de pavor, ao ver refletido nele um par de olhos azuis. Em seguida uma gargalhada, parecendo que saia do inferno, ecoou estridente. Lucinha, completamente apavorada, sai numa tremenda carreira, em gritos. Na escada é interceptada pelo delegado, que também tinha resolvido ir até o banheiro. Ele vendo a expressão assustada dela, pergunta:
         - O que houve Lucinha?
            Lucinha tremendo dos pés a cabeça, mal consegue articular palavras. O delegado então insiste:
         - O que houve Lucinha? O que é que te aconteceu? Fala! Olha pra mim! Sou eu: Carlos! Está me reconhecendo? O que houve, fala?
           Lucinha com dificuldade, quase em estado de choque, fazendo um esforço hercúleo, conta ao delegado o que aconteceu. Ele larga a namorada ali mesmo e corre até ao banheiro feminino. Mas nada encontra. Olha cada palmo do reservado e nada.  Volta e encontra Lucinha sentada no degrau da escada. Senta-se ao seu lado, coloca o braço no seu ombro fala calmamente, mas reticencioso:

         - Lucinha, eu olhei tudo, mas não encontrei nada. Deve... Quem sabe... Deve ter sido criação da sua mente. É...  Você deve estar com os nervos à flor da pele. Também não é pra menos, né?  O que tem acontecido nesses últimos meses, dá pra deixar qualquer um maluco. Quem sabe...
                                     Continua semana que vem...

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 12

Continuando...
      É muito grande. Você percebeu o tempo que estamos andando e ainda não demos a volta completa? Olha só que iluminação nesse entorno! Parece até dia claro!
        - E esses jardins! O paisagista que criou esse ambiente é simplesmente fantástico! Você sabe quem foi?
         - Não. Acho que é original. O jardineiro que cuida disso tudo manteve cada jardim do mesmo jeito. Nada mudou desde a última vez que aqui estive. Mantem isso tudo um brinco, há muitos anos.
           Eles continuam andando e apreciando cada pedaço daquele paraíso. De repente os dois levam o maior susto, quando, saindo de dentro de um orquidário, o delegado Carlos aparece ao lado deles.
          - Porra, delegado! Assim você mata a gente! Caraca!
          - Calma PC! O que é que você faz por aqui?
          - Fui convidado! E por um acaso veio investigar algum crime?
          - Longe disso! Só vim mesmo me divertir! Chega de ser policial às vinte e quatro horas! Hoje resolvi tirar a fantasia! Recebi um convite, mas só que não conheço o homem! E você conhece?
         - Claro! Gente muito fina! Só é mais gordo que uma agulha!
         - Já vem você de gozação! Cá entre nós: achei meio estranho o convite, mas mesmo assim vim. Eu nem conheço o cara! Mas já que resolvi vir, vou tentar curtir! Estava precisando refrescar a cuca!
            Oi Lucinha! Tudo bem?
         - Pensei que fosse me ignorar! Mas...
         - Como eu posso ignorar você? De jeito nenhum!
         - Ih! Tá rolando algum clima aí?
         - Que clima? O clima tá mudando! Vem frente fria! Daqui a pouco pode pintar chuva, com raios, trovões e o escambau a quatro!
         - Calma Lucinha! Você não disse que ia vir com a sua mãe e com o seu pai? Então, como eu ia pegar você? Está nervosa?
         - Não. Desculpe.
         - Não disse que estava rolando um clima!
         - Tá sim! Já rolou! Está rolando! PC tá se metendo muito na minha vida!
        - Tá legal, Lucinha. Desculpe. Pô! Vocês não falaram nada! Esconderam o romance!
       - PC, não podíamos colocar o nosso namoro público. Eu estou ainda em processo de separação. Peço encarecidamente, segredo. Podemos contar com a tua discrição?
      - Tudo bem, delegado. Somos amigos. Segredo total.
      - Valeu. Eu e Lucinha não podemos facilitar. Não podemos ser vistos juntos. Mas nada nos impede de ficarmos próximos. E eu não vou tirar o olho de você, Lucinha, nem um minuto sequer! Pode apostar nisso!
     - Está bem Carlos. Mas eu também vou estar de olho em você, o tempo todo. Se pintar alguma piriguete no pedaço, eu caio de porrada nela.
     - Você sabe que eu sou comportado. Só vim para refrescar a cuca. Mesmo não sabendo o porquê de ter sido convidado.
     - Delegado, não precisa estranhar o fato de ter sido convidado, sem mais nem menos, não! Já olhou a turma que está chegando? E vai pintar mais gente estranha ainda! Olha lá um mendigo! Já tem, com certeza, prostituta, médico, advogado, engenheiro, militar, bandido, Juiz, delegado! Não se surpreenda se aparecer o governador, prefeito, vereador, deputado, ministro, etc. Só que – você leu o convite? – aqui ninguém tem título. Todo mundo é igual. Se alguém tentar se achar... Os seguranças põem o cara no olho da rua. O velho é o maior excêntrico que já vi!
      - E bota excêntrico nisso! Eu tive que ler a observação de qualquer jeito! Também com as letras daquele tamanho, quem ia deixar passar? Espero não me arrepender de ter atravessado para o Rio de Janeiro.
      - Vocês são dois preconceituosos! O cara só é um “maluco beleza”!
      - Delegado, vai ter que aturar!
      - Com o maior prazer!
         O trio consegue dar a volta em torno do palacete. Quando vai entrando pela porta principal, uma voz grave e um tanto cavernosa cai sobre todos os convidados, que naquele instante superlotavam as dependências:
         - Atenção! Atenção senhores e senhoras! Primeiramente gostaria de agradecer a todos por aceitarem o meu convite. É uma honra, depois de tantos anos, ter a cidade do Rio de Janeiro e adjacências dentro da minha humilde casa. Apenas um convidado, que ia dar mais autenticidade a minha festa, não aceitou o meu convite: o Cristo Redentor. Faltou-me um pouco mais de argumento.
            Seguindo estas últimas palavras, que saiam de um alto-falante, o anfitrião deu uma longa e estridente gargalhada, que ecoava parecendo que jamais terminaria. Ficaram todos com as caras assustadas. O efeito que aquela voz e a gargalhada causaram nos convidados, foi uma coisa assustadora.  O silêncio que veio em seguida deixou no ar um temor que ninguém sabia do quê. Parecia proposital da parte de LW, esse suspense. Estava querendo testar os nervos daquela gente. E pelo visto conseguiu o seu intento. A vida só voltou, quando alguém deixou escapulir um riso tímido. E isso foi o bastante para que a gargalhada tomasse conta do ambiente.  
              O silêncio tinha voltado. Mas ninguém conseguia se movimentar. As pessoas olhavam querendo descobrir onde estava o alto falante. Mas no fundo sabiam que não era só isso. Na verdade tinham certeza que de uma hora para outra aquela voz cortaria novamente o ar. E não deu outra: depois do breve silêncio, LW voltou a despejar a sua voz cavernosa no ambiente:
          - Senhoras. Senhores. Todos devem estar estranhando o fato deste criando de vocês, não aparecer. Fiquem tranquilos, pois na hora certa a minha presença será em carne e osso. Até lá, sintam-se como se estivessem em suas próprias casas. A mesa está servida. Comam e bebam à vontade.
           Com a pausa, os convidados começaram a se movimentar em direção à porta principal. Porém o anfitrião voltou a falar:
         - Um minuto, por favor. Gostaria de dizer mais algumas palavras. Tenho uma grande surpresa para vocês. Será uma coisa grandiosa, que jamais esquecerão. Estou ultimando os preparativos. Esta festa ficará marcada, como se fosse uma tatuagem, dentro de cada cabeça.

            Eu quero lembra-los que aqui, na minha casa, todos são iguais. Única condição para que pudessem comparecer a minha festa. Então, esqueçam-se da posição social de cada um, pois aqui ninguém a tem. As fantasias foram deixadas lá fora, nos cabides da vaidade. Divirtam-se. E obrigado.
                 Continua semana que vem...