terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 12

Continuando...
      É muito grande. Você percebeu o tempo que estamos andando e ainda não demos a volta completa? Olha só que iluminação nesse entorno! Parece até dia claro!
        - E esses jardins! O paisagista que criou esse ambiente é simplesmente fantástico! Você sabe quem foi?
         - Não. Acho que é original. O jardineiro que cuida disso tudo manteve cada jardim do mesmo jeito. Nada mudou desde a última vez que aqui estive. Mantem isso tudo um brinco, há muitos anos.
           Eles continuam andando e apreciando cada pedaço daquele paraíso. De repente os dois levam o maior susto, quando, saindo de dentro de um orquidário, o delegado Carlos aparece ao lado deles.
          - Porra, delegado! Assim você mata a gente! Caraca!
          - Calma PC! O que é que você faz por aqui?
          - Fui convidado! E por um acaso veio investigar algum crime?
          - Longe disso! Só vim mesmo me divertir! Chega de ser policial às vinte e quatro horas! Hoje resolvi tirar a fantasia! Recebi um convite, mas só que não conheço o homem! E você conhece?
         - Claro! Gente muito fina! Só é mais gordo que uma agulha!
         - Já vem você de gozação! Cá entre nós: achei meio estranho o convite, mas mesmo assim vim. Eu nem conheço o cara! Mas já que resolvi vir, vou tentar curtir! Estava precisando refrescar a cuca!
            Oi Lucinha! Tudo bem?
         - Pensei que fosse me ignorar! Mas...
         - Como eu posso ignorar você? De jeito nenhum!
         - Ih! Tá rolando algum clima aí?
         - Que clima? O clima tá mudando! Vem frente fria! Daqui a pouco pode pintar chuva, com raios, trovões e o escambau a quatro!
         - Calma Lucinha! Você não disse que ia vir com a sua mãe e com o seu pai? Então, como eu ia pegar você? Está nervosa?
         - Não. Desculpe.
         - Não disse que estava rolando um clima!
         - Tá sim! Já rolou! Está rolando! PC tá se metendo muito na minha vida!
        - Tá legal, Lucinha. Desculpe. Pô! Vocês não falaram nada! Esconderam o romance!
       - PC, não podíamos colocar o nosso namoro público. Eu estou ainda em processo de separação. Peço encarecidamente, segredo. Podemos contar com a tua discrição?
      - Tudo bem, delegado. Somos amigos. Segredo total.
      - Valeu. Eu e Lucinha não podemos facilitar. Não podemos ser vistos juntos. Mas nada nos impede de ficarmos próximos. E eu não vou tirar o olho de você, Lucinha, nem um minuto sequer! Pode apostar nisso!
     - Está bem Carlos. Mas eu também vou estar de olho em você, o tempo todo. Se pintar alguma piriguete no pedaço, eu caio de porrada nela.
     - Você sabe que eu sou comportado. Só vim para refrescar a cuca. Mesmo não sabendo o porquê de ter sido convidado.
     - Delegado, não precisa estranhar o fato de ter sido convidado, sem mais nem menos, não! Já olhou a turma que está chegando? E vai pintar mais gente estranha ainda! Olha lá um mendigo! Já tem, com certeza, prostituta, médico, advogado, engenheiro, militar, bandido, Juiz, delegado! Não se surpreenda se aparecer o governador, prefeito, vereador, deputado, ministro, etc. Só que – você leu o convite? – aqui ninguém tem título. Todo mundo é igual. Se alguém tentar se achar... Os seguranças põem o cara no olho da rua. O velho é o maior excêntrico que já vi!
      - E bota excêntrico nisso! Eu tive que ler a observação de qualquer jeito! Também com as letras daquele tamanho, quem ia deixar passar? Espero não me arrepender de ter atravessado para o Rio de Janeiro.
      - Vocês são dois preconceituosos! O cara só é um “maluco beleza”!
      - Delegado, vai ter que aturar!
      - Com o maior prazer!
         O trio consegue dar a volta em torno do palacete. Quando vai entrando pela porta principal, uma voz grave e um tanto cavernosa cai sobre todos os convidados, que naquele instante superlotavam as dependências:
         - Atenção! Atenção senhores e senhoras! Primeiramente gostaria de agradecer a todos por aceitarem o meu convite. É uma honra, depois de tantos anos, ter a cidade do Rio de Janeiro e adjacências dentro da minha humilde casa. Apenas um convidado, que ia dar mais autenticidade a minha festa, não aceitou o meu convite: o Cristo Redentor. Faltou-me um pouco mais de argumento.
            Seguindo estas últimas palavras, que saiam de um alto-falante, o anfitrião deu uma longa e estridente gargalhada, que ecoava parecendo que jamais terminaria. Ficaram todos com as caras assustadas. O efeito que aquela voz e a gargalhada causaram nos convidados, foi uma coisa assustadora.  O silêncio que veio em seguida deixou no ar um temor que ninguém sabia do quê. Parecia proposital da parte de LW, esse suspense. Estava querendo testar os nervos daquela gente. E pelo visto conseguiu o seu intento. A vida só voltou, quando alguém deixou escapulir um riso tímido. E isso foi o bastante para que a gargalhada tomasse conta do ambiente.  
              O silêncio tinha voltado. Mas ninguém conseguia se movimentar. As pessoas olhavam querendo descobrir onde estava o alto falante. Mas no fundo sabiam que não era só isso. Na verdade tinham certeza que de uma hora para outra aquela voz cortaria novamente o ar. E não deu outra: depois do breve silêncio, LW voltou a despejar a sua voz cavernosa no ambiente:
          - Senhoras. Senhores. Todos devem estar estranhando o fato deste criando de vocês, não aparecer. Fiquem tranquilos, pois na hora certa a minha presença será em carne e osso. Até lá, sintam-se como se estivessem em suas próprias casas. A mesa está servida. Comam e bebam à vontade.
           Com a pausa, os convidados começaram a se movimentar em direção à porta principal. Porém o anfitrião voltou a falar:
         - Um minuto, por favor. Gostaria de dizer mais algumas palavras. Tenho uma grande surpresa para vocês. Será uma coisa grandiosa, que jamais esquecerão. Estou ultimando os preparativos. Esta festa ficará marcada, como se fosse uma tatuagem, dentro de cada cabeça.

            Eu quero lembra-los que aqui, na minha casa, todos são iguais. Única condição para que pudessem comparecer a minha festa. Então, esqueçam-se da posição social de cada um, pois aqui ninguém a tem. As fantasias foram deixadas lá fora, nos cabides da vaidade. Divirtam-se. E obrigado.
                 Continua semana que vem... 

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