O delegado se dirige para a escada
que vai levá-lo para o outro andar. Lucinha olha para o corredor que está a sua
frente e resolve começar por ali. O da direita, onde estão os banheiros, deixa
pra depois. Lembrou-se do que tinha ocorrido com ela e então preferiu não
arriscar por ali. Para na primeira
porta, tenta abri-la, mas não consegue. Foi para segunda e acontece a mesma
coisa. Depois foi tentando às outras e nada aconteceu. Além de tentar abrir,
ainda bateu em todas as portas, porém não recebeu nenhuma resposta. Saiu
desanimada.
Resolveu pegar o corredor da
esquerda. Em uma das portas viu sair um casal. Passou sem nada falar. Apenas
deu uma olhada para o interior do aposento, que estava aberto. Parou em frente
à porta seguinte. Quando ia tentar abri-la, leva um bruto susto quando um
relógio de parede bate a meia hora. Naquele silêncio não podia acontecer coisa
pior. Tremeu dos pés à cabeça. E o coração quase explodiu. Refez-se do susto e
foi em frente. Ao
se aproximar da porta seguinte, ouviu vozes, mas não entendeu o que falavam.
Encostou o ouvido e ouviu um nome: PC. Pensou: - Meu Deus. O que deve estar
acontecendo com ele? Vou procurar Carlos. – Ao se virar para ir à procura do
delegado, se depara com dois homens que vinham em sua direção. Assusta-se, mas
tenta ir para a outra direção, entretanto mais dois brutamontes aparecem na
outra extremidade do corredor. Ela corre e tenta a porta seguinte. Achou que
estava com sorte, pois a porta só estava encostada. Entrou e se trancou. A
escuridão era completa. Respirava ofegante. Passou a mão pela parede e
encontrou um interruptor. Quando acionou, o seu sorriso veio junto com a
claridade que se espalhou pelo ambiente. Respirou aliviada. Entretanto o alívio
deu lugar ao susto. Gritou:
- PC! PC! O que houve? Meu Deus!
Ela corre em direção ao amigo, que
está deitado num chão empoeirado, com as mãos amarradas às costas. Aproxima-se
e vê que ele está apagado. Dá uma sacudidela, mas ele não dá nenhum sinal de
vida. Então o sacode mais forte. Mas PC não esboça qualquer reação. Lucinha já
estava quase entrando em desespero, mas conseguiu se controlar, quando ele
respirou fundo. Ela suspirou aliviada e deixou um leve sorriso brotar nos seus
lábios. Sentou-se do lado do amigo, desamarrou-o e colocou a sua cabeça no seu
colo. PC estava vivo e isso é que era o mais importante. Começou a chamar pelo
amigo, mas nada aconteceu. Depois deu uma tapa no seu rosto. Porém a situação
continuou na mesma. Nada do cara acordar. Então achou que deveria dar uma tapa
mais forte. Mesmo assim nada aconteceu. Então alisou o rosto do amigo e sapecou
uma bofetada. Aí o cara voltou à vida na marra. Abre os olhos assustado e
reclama:
- Porra Lucinha! Essa porrada doeu!
Que mão pesada!
- O que é que você queria que eu
fizesse? Pensei até que você estivesse batido às botas! O que foi que houve?
Você sumiu! Eu estava preocupadíssima! PC essa casa é uma loucura! Temos que
sair daqui!
- Deixa-me colocar a cabeça no lugar.
Ela parece que vai estourar. Estou com umas toneladas em cima. Parece que
estou com o peso do mundo em cima de mim. Eu não sei o que houve Lucinha.
Lembro-me apenas que entrei no banheiro. Fiz o que tinha que fazer. E... Não me
lembro. Hei! Espera aí! Alguém me agarrou por trás e colocou alguma coisa no
meu nariz! Depois... Não tem depois na minha lembrança.
- Não se lembra de mais nada? Faz uma
forcinha. Chegou a ir para frente do espelho?
- Espera aí. Acho que sim. Lavei as
mãos. Depois joguei bastante água no rosto, para ver se melhorava.
- Você não viu a cara do sujeito, não?
- Foi muito rápido. Lucinha, vamos sair
daqui?
- É. Eu acho que sim. Espera que vou te
ajudar a se levantar.
Lucinha coloca o amigo sentado e se
levanta. Em seguida o pega pelas as axilas e tenta levantá-lo. O esforço é
muito, mas não consegue erguê-lo. Então tenta arrastá-lo até a porta. Aí sim
consegue algum sucesso. Porém quando vai tentar abrir a porta, a luz se apaga.
Em seguida uma gargalhada, que ela já tinha ouvido antes, ecoa no quarto. Ela
tenta abrir a porta, mas alguém pelo lado de fora já tinha trancado. A
gargalhada continuava forte. De repente vários olhos fluorescentes despencam do
teto e ficam pendurados se balançando. É uma cena macabra. O pânico foi tomando
conta dos dois. Começam a gritar desesperadamente. Com o tempo a voz de Lucinha
vai sumindo. PC, que ainda se sentia
fraco, também não resistiu e se calou. Mas o medo continua como guardião
implacável. Mas de repente o que era noite, se fez dia. E uma luz muito forte
tomou conta do quarto. Dois holofotes possantes foram direcionados para cima
dos dois. Num flash, os olhos que estavam balançando no teto, sumiram. Nenhum
vestígio ficou. O silêncio agora é o dono absoluto do aposento. Os dois não
conseguem se olhar. A intensa claridade não permite que se veja nada ao redor.
Lucinha se abraça ao amigo e chora baixinho. Ficam assim por alguns minutos,
sem falar palavra. Nesse abraço fraterno, os corações vão se acalmando.
Lucinha, já mais equilibrada, fala para o amigo que vai tentar mais uma vez
abrir a porta. Fecha os olhos bem apertados e vai tateando até encontrar a
fechadura. Vira a maçaneta, mas nada acontece. A tentativa foi em vão. De repente ela
esmurra a porta com toda a sua força. Volta a gritar, mas parece que o seu
pedido de socorro não sai ali do quarto. Desanimada senta ao lado de PC. Nisso
as luzes dos holofotes são desligadas. A iluminação normal volta. Um ruído de
um microfone se esticou pelo quarto. Lucinha fica em pé e ajuda o amigo a se
levantar. Dessa vez, já mais refeito, consegue se erguer. Os dois então se encostam à parede, do lado esquerdo
da porta, e ficam procurando por onde pode estar saindo o som. Mas a voz
cavernosa ecoa:
- Meus convidados ilustres, não
desejo que fiquem loucos. Mas não podem xeretar. Têm que ficar e aguardar os
acontecimentos. Vocês aqui não são repórteres. São pessoas comuns, sem títulos.
Vocês não podem atrapalhar a surpresa que tenho para todos os meus queridos
convidados. Até agora está indo tudo certo, como planejado. Mas não podem atrapalhar. Todos se divertem
como nunca. Que tal a recepção? Se vocês tivessem olhos azuis... Olhos azuis.
Não os quero vivos! Nenhum olho azul sobreviverá! Vocês ainda me verão hoje e
ouvirão, mais uma vez, a minha gargalhada!
Continua semana que vem...
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