Continuando...
O delegado não sabia bem o que fazer com
aquelas informações. Tinha certeza que era prostituição, pedofilia. Devia ter
trabalho escravo também, quando as meninas iam embora. Ficou em silêncio,
pensativo. Começou a andar de um lado para o outro. Helô ficou observando o movimento de Rodolfo,
silenciosa. Achou melhor não interrompê-lo, mas a Madre Maria de Lourdes chegou
do seu lado e começou a falar. Helô absorta que estava em observar o delegado
nem captou as suas palavras. A Madre então se postou bem na sua frente. Aí ela
percebeu que a Madre estava querendo falar alguma coisa, então ficou atenta. A
Madre então disse:
- Helô, fala sobre as suas anotações.
Pode contar o que você sabe. Ele tem que ficar a par de tudo hoje. Se quiser,
leva-o até a gruta.
- Está bem, mas, Madre, eu prefiro que
ele leia o que escrevi. Certas coisas eu não vou falar, não.
-
Está bem. Faz o que você achar melhor, mas faz. Começa interrompendo os
pensamentos dele.
Ela então resolveu seguir a orientação
da Madre e interrompeu as cismas do delegado.
- Delegado, desculpe atrapalhar os seus
pensamentos, mas eu tenho uma coisa importante para lhe dizer. Eu fiz várias
anotações, inclusive ilustrei com desenhos, para entregar ao senhor.
- Senhor não, Helô!
- Está bem. Rodolfo está melhor?
- Muito! Fez para me entregar?
- Sim. Não sei até agora como foi
isso. Nem sabia que era para entregar a
você, até esse momento, mas a Madre deu o jeito dela.
-
Deu o jeito dela... Depois a gente fala sobre essa Madre. Agora continue...
- Além de escrever praticamente uma
história, eu desenhei cada cômodo que tem escondido ali por baixo e tem alguns
por cima também. Quase todos são secretos.
- Lugares secretos?
- Sim. Eu e a Madre Maria de Lourdes andamos
por alguns deles. Ela me disse que tem outros, mas sem importância.
- Diz quem é essa Madre.
- Pena que você não a vê. Ela aparece
para mim. Conversamos muito por telepatia. Eu nem preciso abrir a boca. Foi ela
quem me mandou anotar tudo e entregar ao...
a você, quem, como lhe disse, eu nem sabia como era. Nem imaginar eu podia, você era uma
incógnita. Só a Madre mesmo!
- Ela me conhece?
- Não sei. Ela me disse isso, mas uma coisa
ela falou e deu certo.
- E o que foi?
- Que você viria até mim. E ela é que
iria trazê-lo até a minha presença.
- É? E cadê ela? Eu não encontrei
nenhuma irmã de caridade que me trouxesse até você. Então eu fui conduzido por
uma força misteriosa? Pelo menos aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido
antes: eu nunca senti por outra mulher o que senti por você, mas depois a gente
vai falar sobre isso, está bem?
- É. Está bem. Eu também senti uma
coisa muito esquisita.
- Mas agora, Helô, vamos falar sobre
essas coisas estranhas que acontecem aqui. Onde estão as anotações que você
falou?
- Vou pegar. O caderno está bem
escondido. Vai esperar-me?
- Claro! Como não esperar? Vou ficar aqui o
tempo que for preciso. Vai com calma! Tenha cuidado! Quer que eu vá junto com
você?
- A Madre disse que não. Alguém pode
nos ver indo para o pomar e isso pode ser perigoso, pode atrapalhar tudo. Fique
tranquilo que não demoro.
Helô saiu calmamente e dirigiu-se
para o local onde escondera o seu caderno. Pegou-o com carinho, beijou-o e
colocou-o em cima do coração. Ali continha todas as anotações e desenhos feitos
por ela, dos quase oito anos de investigações. O futuro do convento dependia da
sua história e do delegado Rodolfo, principalmente dele, pois sem a sua boa
vontade, a sua disposição e o seu senso de justiça nada poderia acontecer. Como
a Madre Maria de Lourdes lhe falou que poderia confiar nele, ela então apagou
qualquer sombra de dúvida. Agora a justiça ia ser feita.
Ela de posse do material tão valioso, por
precaução, escondeu-o debaixo da sua saia. Voltou cautelosamente. Aproximou-se
do delegado. Ele muito ansioso nem esperou que ela dissesse alguma coisa.
- Então? Trouxe as anotações? Cadê?
- Calma! Estão aqui comigo, mas...
- Por que a reticência?
- É porque eu guardei...
- Deixou no mesmo lugar?
- Não! Não é isso! É porque eu não
sabia como trazê-lo. Fiquei preocupada em vir com ele na mão, então guardei
debaixo da minha roupa!
O delegado deu um ar de riso que deixou Helô
com a cara rosada. Depois se recompôs e percebendo o jeito desconcertado dela,
desculpou-se:
- Desculpe, Helô, o meu sorriso...
Não teve maldade nenhuma. Só achei a situação engraçada e foi bom porque
relaxei um pouco. Desculpe-me?
- Fiquei com vergonha, mas eu sei que
foi sem maldade. Não tenho o que desculpar.
- Assim fica melhor. Fico aliviado da
minha falta de tato. Como você vai me passar o relatório?
- Ih! A Madre está rindo também!
- Então não fui a única pessoa que
achou engraçada a situação, viu?
- Engraçadinho! A Madre também está
ficando muito engraçadinha! Pode rir! O quê? Ela disse para eu ficar
despreocupada. Ninguém me verá tirando o documento debaixo da saia. Agora o
senhor tem que se virar.
- Tudo bem.
Helô levantou um pouco a sua roupa e
pegou o caderno precioso. Em seguida avisou-lhe que podia virar-se. Com a sua
história na mão, entregou-a a Rodolfo que olhava o caderno como se fosse um
tesouro. Depois ameaçou abrí-lo. Ela, demonstrando preocupação, pediu-lhe que o
guardasse e o lesse quando estivesse longe dali. O seu medo era que alguém o visse
com o caderno na mão e fosse falar com a Madre Joana. Isso poderia complicar
muito a vida, que já não estava fácil, da irmã Amélia. Naquele momento uma imagem formou-se na sua
cabeça. Viu claramente a sua mãezinha deitada numa cama com os pés e as mãos
amarrados. A sensação era que ela estava prisioneira da Madre Joana. Uma
expressão de tristeza invadiu o seu rosto. O delegado percebeu e indagou-a:
- O que foi, Helô? Ficou triste de
repente!
- Estranho! Apareceu claramente na
minha cabeça a imagem da irmã Amélia deitada numa cama. Ela estava amarrada.
Parecia que dormia, mas eu tive a sensação que ela era prisioneira da Madre
Joana. Foi uma sensação esquisita. Deixou-me triste e preocupada.
- Isso pode ser fruto da sua
preocupação. Ela deve estar bem.
- Mas eu estou com uma sensação ruim.
Acho que ela está refém da Madre Joana. Você não a conhece. Nunca vi uma pessoa
tão má.
O delegado com cuidado pegou-a pela mão e
levou-a até um banco próximo, depois pediu para que ela explicasse melhor essa
suspeita.
.........Continua semana que vem!