sábado, 7 de setembro de 2019

A História de Helô - Parte 48



Continuando...


          Os dois ficaram mais algum tempo conversando e observando o movimento em torno do jardim. Alguns convidados ainda se encontravam por ali, esperando o horário do almoço, mas não havia mais congestionamento no local, pois a maioria tinha se espalhado pela propriedade. De vez em quando o coral das crianças menores cantava alguma cantiga conhecida, mesclando música popular com clássica. O coral das adolescentes se apresentaria próximo ao encerramento da festa. Todos esperavam ansiosos pelo almoço. A Madre ainda aguardava por alguns retardatários importantes.
          Durante a tarde e a noite teria uma programação variada. Dentro desse programa estava a apresentação de uma dupla sertaneja convidada pelo senador. Com certeza seria o ponto alto da festa.
          Helô tinha conseguido sentar-se no seu banco predileto. Ali era o local de melhor visibilidade do portão. Estava um pouco tensa. Até agora não avistara ninguém que despertasse qualquer emoção nela. A Madre dissera que ela identificaria a pessoa só ao olhá-la, pois o seu coração avisá-la, mas a dúvida estava presente, pois nem desconfiava de como seria esse delegado da polícia federal. Não sabia o seu nome e nem se ele vinha só ou acompanhado, entretanto não podia duvidar do que a Madre dissera. Até aquele momento ela nunca falhara, então apagaria de vez aquela dúvida da sua cabeça.
          Todos que chegavam, mesmo com o convite em punho, tinham que apresentar o seu RG. Dois recepcionistas ainda conferiam se o nome estava na lista e por quem foi convidado. O cerco era grande contra penetras.
          O almoço tardava. Já passava das doze horas. Os quatro relógios do convento bateram juntos a meia hora, precisamente às doze horas e trinta minutos. A Madre Joana olhou o seu relógio de pulso, mas não conferia. O seu estava adiantado dois minutos. Sinalizou para a irmã Arminda e mandou-a avisar à irmã Celeste, que naquele momento era a responsável pelo refeitório, que já podia liberar o almoço.  Rapidamente a fila foi se formando na porta do refeitório.
           Alguns convidados que ainda circulavam pelo jardim tomaram o caminho do refeitório. O local ficou vazio, pelo menos em tese, pois permaneceram ali Helô, que não pretendia arredar pé dali enquanto o delegado não chegasse, e os dois recepcionistas, os quais não se desgrudaram do portão nem para ir ao banheiro.
          Helô mantinha-se com os olhos pregados na entrada. Como prometera à Madre Maria de Lourdes, nada iria atrapalhá-la. Com olhos fixos, não se daria ao luxo de dar uma piscadela sequer. Seria uma sentinela da guarda palaciana da Rainha Elizabeth, só que sentada, e assim permaneceria até a chegada do delegado, mas só que já estava ali há muito tempo. E como tudo tem sempre um “mas” na vida, com ela não poderia ser diferente. Acabou, mesmo jurando que não sairia dali por nada desse mundo, ensaiando alguma desistência. Só que a Madre, cujo interesse em acabar com as nuvens negras que envolviam o convento era primordial, não permitiria que ela vacilasse.  Então, de vez em quando, enviava mensagens mandando-a permanecer no mesmo lugar. Parecia que ela adivinhava, pois nessas horas era que a tensão minava as forças de Helô e cochichava, na sua orelha, mandando-a levantar-se e ir embora. Nesse momento sentia-se uma árvore sem nenhuma utilidade, perdia o verde e a sombra. Enquanto controlava sua dúvida, a irmã Gertrudes chegou e sentou-se ao seu lado.  Se ela não tocasse no seu braço, talvez nem percebesse a sua presença, mas Helô nem se assustou, apenas olhou para a irmã.
          A irmã Gertrudes já estivera ali. Encontrara Helô naquele mesmo banco. Essa era então a segunda vez que falava com a menina. A curiosidade era grande. Estivera um bom tempo observando-a. Nesse tempão todo, notou que Helô praticamente não se mexia.  Percebeu que algumas vezes ela espichava o pescoço parecendo procurar alguém. A curiosidade foi mais forte e fez com que a interrogasse:
          - Oh guria! O que fazes tanto tempo aqui parada?
          Helô de imediato não respondeu, ficou procurando uma desculpa convincente para justificar a sua parada por tanto tempo ali. Olhava para a irmã e nada vinha à sua cabeça, mas a entidade, mesmo distante, assoprou na sua orelha:
          - Diz que está esperando a irmã Amélia.
          Helô sorriu um sorriso sem jeito e repetiu o que a Madre sugeriu, mesmo não sendo essa a verdade, mas gostaria de estar com a irmã Amélia, sem dúvida. Não era uma verdade, mas também não era uma mentira.
          - Irmã, estou com saudade da irmã Amélia. Tenho esperanças de que ela apareça. 
          Com essa resposta a irmã Gertrudes torceu um pouco a boca e ficou, por um instante, pensativa. Estava também engasgada, pois sabia muito bem o motivo da ausência de Amélia nos festejos, mas não podia dizer. Então teve que arranjar uma desculpa.
          - Helô, tu sabes como está, nos últimos dias, a saúde da irmã Amélia. É um alto e baixo só. Está oscilando muito, minha menina.  Hoje é um daqueles dias em que acordou muito indisposta. Então a Madre Joana achou melhor deixá-la na enfermaria, mas estou com esperança que mais tarde seja liberada. Tu sabes como torço por ela! Não sabes?
          - Claro,  irmã, mas será que não é melhor eu ir vê-la?
          - Acho melhor não! Tu não podes contrariar as ordens da Madre Joana. Tudo tem andado tão bem para ti e para Amélia, que não vale o risco. Tu bem sabes como é a Madre Joana, não sabes? Então guria, paciência.   
          - É, irmã, a senhora tem razão. Pode ser que mais tarde ela melhore. Vou esperar.
.............Continua semana que vem!

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