Continuando...
Bordélo e André olhavam o estrago que o rio tinha feito. Até onde a água conseguiu chegar; com a sua força destruiu tudo que encontrou pelo caminho. O outro lado do rio, onde uma grande planície esticava-se até encostar numa montanha, a água foi mais longe e arrastou tudo que encontrou pela frente.
Das árvores das margens do rio, só o ipê ficou de pé. André fez um cálculo por alto e estimou que o rio ampliou suas margens por mais de trinta metros, isso do lado que eles estavam. Do outro lado, onde estava o ipê, não soube calcular.
André, acompanhado de Bordélo, foi até a sua barraca, encontrando Luiza no mesmo lugar que tinha deixado. Ele demorou um pouco, mas conseguiu trazê-la de volta à realidade. Depois saíram os três e olharam desolados para tudo que tinha acontecido. Luiza viu que as únicas barracas que ficaram de pé, além da de André, foram a sua e a de Bordélo. Ela então colocou a mão na cabeça e gritou para o amigo:
- André! André! Meu Deus! O que é que aconteceu aqui? Onde estão Luiz e Karen? Vamos procura-los!
- Calma. Minha querida, calma. O melhor por enquanto é levar a sua barraca e monta-la mais acima, longe dessa água. Você vai ficar lá descansando, enquanto eu e Bordélo vamos procurar Karen. O Luiz nós já encontramos e ele está agora dormindo na barraca de Bordélo.
- E o que aconteceu com a Karen?
- Nós ainda não sabemos, mas vamos encontrá-la. Sei que não vai ser fácil achá-la nesse escuro, mas não vamos medir esforços. Vamos começar agora mesmo, não é Bordélo?
- Claro. Nesse minuto.
- Eu vou com vocês. De jeito nenhum vou deixar vocês sozinhos nessa.
- Luiza. Você tem que botar roupas secas. Você não pode ficar do jeito que está. E tem que se equilibrar emocionalmente. Eu peguei você, sentada na posição de lótus, simplesmente com a água cobrindo as suas pernas, sem demonstrar qualquer reação. Vamos levar as duas barracas lá pra cima e você vai ficar quietinha dentro da sua, descansando.
- Nessa hora eu devia estar dormindo! Mas agora estou bem!
- Quem é que dorme quase coberto d’água?
- Eu estou bem. Você me conhece. Quando digo que estou bem é porque estou bem!
- Está mesmo? Legal. Então pelo menos você tem que trocar de roupa.
Mas vou desmontar as nossas barracas e coloca-las mais acima.
- Eu ajudo, André.
- Obrigado amigo.
- André, estou vendo que está tudo uma lástima. É uma sujeira só. Vou ajudar vocês dois a desmontá-las. Depois vamos à procura de Karen. Ok?
- Tá legal. Não vou contrariá-la. Você diz que está bem, então concordo. Você manda. Então mãos à obra. E outra coisa: falei pra você mudar de roupas, mas nem sei se você tem roupa seca.
- Tenho sim. Por sorte coloquei dentro de um saco plástico.
Em tempo recorde conseguiram desmontar as duas barracas e remonta-las em lugar mais seguro. Com a atividade, os três conseguiram se acalmar um pouco. Agora mais equilibrados podiam traçar estratégias para procurar Karen. Então foram até a barraca de Bordélo, para ver como estava Luiz. Mas não o encontraram. Bordélo passou a mão nervosa na cabeça e saiu numa disparada só. André e Luiza ficaram parados sem saber o que fazer. Pareciam petrificados. Não esboçavam qualquer reação. Apenas olhavam-se. Até que André pegou Luiza pela mão e puxou-a para fora da barraca. Mas Bordélo já tinha sumido. Não encontraram nem sombra dele.
- Bordélo, cadê você? – gritou André. A resposta foi o silêncio.
- Bordélo, pra onde você foi? – André gritou novamente e mais alto.
Depois de alguns minutos veio à resposta:
- André! Estou aqui no capinzal! Encontrei Luiz quase no mesmo lugar! Vem até aqui!
André saiu correndo e Luiza saiu no seu calcanhar. Sem muita dificuldade encontraram os dois. Bordélo já estava erguendo Luiz, que tinha o rosto coberto de sangue. Luiza assustou-se ao ver o amigo naquele estado. André se adiantou e ajudou-o a terminar de erguê-lo. Depois não aguentou de curiosidade e perguntou:
- Luiz, não estou entendendo: o que aconteceu? Nós já havíamos deixado você em segurança! Aí de repente você volta para o mesmo lugar?! O que houve, cara?
..................Continua semana que vem!