terça-feira, 20 de abril de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 22

 


Continuando...

           A enxurrada veio arrastando árvores, animais e tudo o mais que ela encontrou pelo caminho. Foi tudo muito rápido. Em fração de segundos o acampamento já estava debaixo d’água. Uma árvore com raiz e tudo levou a barraca de Luiz e de Karen. Luiz teve mais sorte, escapando milagrosamente, mesmo sendo carregado pela água, pois foi jogado dentro de um capinzal, há poucos metros à frente. Já Karen não teve a mesma sorte. E a sua barraca foi arrastada com ela dentro, para lugar não sabido. No momento trágico, ela dormia. Realmente nada conspirou a seu favor. 

          André e Luiza que estavam com as barracas mais próximas de uma árvore, a água invadiu, mas pouco, não causando grandes estragos. André quando sentiu a água tocar seu corpo, acordou imediatamente. Levantou-se num pulo e a primeira coisa que veio a sua cabeça foi Luiza. Saiu rapidamente da sua barraca e foi até a da amiga, encontrando-a sentada, fora do saco de dormir, numa poça d’água. Luiza parecia em estado de choque. André pegou-a pelo braço e tirou-a dali, sem que ela dissesse coisa alguma. Percebeu o estado em que ela se encontrava e com a sua paciência habitual e com carinho foi tentando trazê-la de volta à realidade. Ele não conseguiu entender o porquê dela ter ficado naquele estado, já que a quantidade d’água que entrara na sua barraca, a princípio, não assustaria ninguém. Ainda mais se tratando dela: uma mulher destemida. Acreditou, então, que o responsável teria sido o barulho.

                          Bordélo saiu da sua barraca assustado com aquela barulheira toda. A dele foi a única que a água não entrou. Com o olhar esbugalhado observava toda aquela devastação, sem querer acreditar no que via. Eram troncos e mais troncos de árvores enganchados nas pedras mais altas, bem próximos de onde estavam acampados.  Quando percebeu que as barracas de Luiz e Karen não estavam mais ali, começou a tremer sem parar. Ficou assim por um bom tempo, até que de repente começou a gritar loucamente chamando pelos nomes dos amigos. André vendo a sua aflição foi socorrê-lo, abraçando-o carinhosamente. O seu gesto de solidariedade fez com que Bordélo deixasse que as lágrimas represadas despencassem dos seus olhos, como uma cachoeira.

           André esperou o amigo parar de chorar para tentar acalmá-lo de alguma forma, mas nesse instante chegou até eles, mesmo meio fraco, o grito de Luiz pedindo socorro. Bordélo rapidamente parou de chorar e, já parecendo outra pessoa, enxugou os olhos e disse entusiasmado:

           - Escutou André? Escutou? É a voz de Luiz! Ele está vivo! Está vivo! Vamos procurá-lo!

           - Escutei sim! Ele está aqui por perto! Vamos!

           Saíram os dois caminhando rio abaixo, pela margem que tinha muitos arbustos e muitas touceiras de capim. Não andaram nem vinte metros e encontraram Luiz caído dentro de uma moita de capim, com o rosto banhado de sangue. Os dois o pegaram com cuidado e o levaram para a barraca de Bordélo. Não estava desmaiado, mas parecia meio atordoado. Só foi falar alguma coisa, ao chegar à barraca.

          - Oi amigo. Estou bem. O que aconteceu?

           - Você não se lembra de nada?

            - Não. Minha cabeça está doendo. Bordélo...

            - O que foi amigo? Acho que você bateu com a cabeça em algum lugar. Você sabe de Karen?

           - Não sei. Deve estar na sua barraca. Ela dorme até mais tarde.

           Bordélo não quis falar do sumiço da amiga. Fez uma cara triste e disse:

           - Dorme um pouquinho Luiz. O amigo precisa descansar. Mas primeiro vou limpar esse machucado e colocar uma atadura na sua cabeça.

 

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