terça-feira, 13 de abril de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 21

 


Continuando...

          Luiz ia de hora em hora até o rio, onde enterrara o cabo de vassoura, conferir a marcação e analisar a coloração da água. Na última vez observou que o volume d’água aumentara consideravelmente. Agora o nível marcava seis. O aumento fora de cinco centímetros. Coçou a cabeça. Ficou preocupado não só com o nível, mas também com a coloração da água. Comparou o conteúdo do copo, de uma hora atrás, com esse agora. A água estava quase vermelha. Depois olhou rio acima e viu raios cruzando o céu. O som da trovoada já estava chegando. Naquela direção já chovia muito. E chuva pesada. Não ia demorar muito e o rio ia encher. Coçou a cabeça de um jeito preocupado. Voltou para junto dos amigos e fez um pequeno relato do que estava ocorrendo e do que poderia acontecer.

          - Amigos. Estoi preocupado. O nível del rio aumentou um pouquito. La coloracion da água, agora, estai vermedja. Olhem aquelas nuvens! – apontando rio acima. – Olhem os raios! Bamos ter que ficar por a cá. Por aqui. Amanhã acho que nom bamos atrabessar. Estái ficando mui perigoso esse rio. Bamos atravessar só se Dios quiser!

          Mesmo Luiz colocando um tom dramático no seu relato, André sorriu colocando a mão na frente da boca. Ele não conseguia deixar de rir, toda vez que o amigo falava. – O cara não consegue falar português e nem língua nenhuma. Será que o cara é brasileiro e fala assim enrolado só para parecer que é estrangeiro? – ficou se questionando e tentando esconder o riso.

          A noite desceu rápido. Ficaram acordados papeando até que o sono chegou. Um bocejava daqui e outro dali, e já estavam todos contaminados. Mas antes de cada um seguir para a sua barraca, analisaram a localização delas, para ver se havia algum perigo da água do rio chegar até ali. Calcularam que estava há mais de trinta metros da beira do rio. Para a cheia chegar até aquele ponto, só se houvesse uma tromba d’água. E o serviço de meteorologia não havia previsto chuva com esse potencial.

         Depois dessa análise rápida, cada um pegou o caminho da cama. Até aquele momento não houvera nenhum fato que merecesse registro.  Bordélo foi o último a ir se deitar, pois ainda foi colocar mais lenha na fogueira, a fim de manter aquecido o ambiente. Fez o que tinha que ser feito e foi dormir. Seu relógio marcava vinte e uma horas e dez minutos, e antes de pegar no sono, ainda ouviu alguém ressonar. Identificou o ronco do amigo Luiz, sorriu, virou o rosto para o lado e apagou.

        O silêncio da mata e do rio continuava como sempre. Um silêncio barulhento, diga-se de passagem. Mas que é mais tranquilo para se dormir, isso é. Diferentemente das buzinas dos carros, freadas bruscas e... tiros, das cidades. Os cinco aventureiros dormiam no colo da tranquilidade. Mas como nem tudo são flores, precisamente às três horas da manhã os grilos emudeceram, a coruja parou de piar, os morcegos pararam de voar, o vento sumiu e até o rio estava mais silencioso. O silêncio incomodou tanto, tanto que Luiz acordou assustado. Meteu a cara pra fora da barraca e se arrepiou todo ao olhar para o céu. Não gostou nada, nada do que viu. Balançou a cabeça com ar preocupado. Fechou-se novamente na barraca. Mas mal deitou, despencou uma chuva de granizo, que parecia que ia furar a barraca. Do silêncio assustador anterior, agora veio um barulho aterrorizante. 

            Luiz parecia que era o único acordado. Em meio ao barulho do granizo, ele ouviu um barulho diferente, que ia aumentando significativamente. Pensou que fosse o estouro de uma boiada. Mas ao botar um pé para fora da barraca, com a intenção de saber o que acontecia, que barulheira era aquela, não teve nem tempo de correr, porque um mundo de água caiu sobre ele.

 

..............Continua semana que vem!

 

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