terça-feira, 27 de outubro de 2020

Pensamento de Poeta - A Correnteza

 


A Correnteza

- José Timotheo -

Caminho rente ao rio

A lâmina d’água não me corta

Piso nas poças

Rio das posses

E das poses sem crédito

Mas acredito nas selfies

Mesmo nas montagens da vida

Se tiver vida, por que não?

Caminho rente ao rio

A corrente não me prende

Mas acorrentado navego solto

Dentro de poças e posses

Gargalho de selfies e fakes

Montagens de poses sem vida

Continuo rente ao rio

Sem lâmina, sem corte

E procurando

Não me afogar nas poças

Peço apenas uma self

Das peças que fiz da minha vida

De choro, mas que só rio

De risos, mas que só choro

Paro ao lado do rio

Vejo-me no espelho d’água

Pareço velho e enrugado

Então deixo que a correnteza

Leve o antigo

Pois esforço-me para que o novo

Continue morando dentro de mim

 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Pensamento de Poeta - Imputável

 


Imputável

- José Timotheo -

 

Dor

Mente

Sem tato

Ato falho

Atalho

Falência dos sonhos

Balança pesa ou pensa?

A dor não se ausenta

Mente oscila, vacila

É vero?

Veredito feito

Folhas rasgadas

Flutuam no ar

O livro perdeu

O conteúdo

O seu valor

O fiel da balança

Não é mais um escudeiro

Tão fiel assim

Não precisa bater o martelo

A sentença está editada

É vero?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Pensamento de Poeta - Não me Zango

 


Não me Zango

- José Timotheo -

                                                  

Não me zango

Deito-me de barriga pra cima

Deixando o tempo passar

Não remo contra a maré

Aprecio as estrelas

Viajo nelas como se viajasse de metrô

Estou dentro da aglomeração

Mas não me aborreço

Desvio-me de uma estrela para outra

E não me esbarro em ninguém

Se tenho uma nave, sento-me em qualquer lugar

Se não tenho, atravesso as constelações

Andando livremente no pensamento

Não vejo arma

Nada a temer

Carrego o bolso furado

E sem planejamento de futuro

Não tenho nada a ser furtado

Alguém vai me roubar a esperança

O sonho?

Ando livremente com minha mochila

De saudades

Mas não vivo de ontem

E nem morro de amanhã

Sou viajante do hoje

Liberto o sono

E a preguiça

Reconstruo o que nunca existiu

Pronto para o caminho

Mesmo que ele seja de pedra

Mas se não der certo

Não me zango comigo

E nem com o mundo

Só não largo a minha mochila

Porque ela é o passaporte

 para as incertezas da vida