terça-feira, 30 de novembro de 2021

A Paixão de Lady Gaga - Parte 7

 


 Continuando...

            O trabalho continuou do mesmo jeito que o pai fazia. Só que agora tinha um ajudante. Tropêço continuava lado a lado com Hendrixson. Era como um cão de guarda, não desgrudava nunca. E assim foi por três anos. Até que um dia o mico ouviu um chamamento da mata. Era uma fêmea. Instintivamente, como um raio, já se pendurava nos primeiros galhos de árvore próxima. E dali até sumir de vista, foi num piscar de olhos. Nunca mais Hendrixson viu Tropêço. Nas primeiras semanas ficou acabrunhado, triste mesmo. Mas depois foi se aprumando até ficar livre da saudade. Isso se deu numa ida até ao armazém.

             O velho Alfeu comprara uma televisão, era a única da região. Hendrixson viu uma aglomeração na porta do armazém e ficou curioso. Nunca tinha acontecido isso. Se chegou bem devagar, estilo que herdara do pai, e tentou ver o que estava acontecendo. Foi arranjando espaço entre as pessoas até chegar bem na frente. Qual não foi o seu susto, ao ver pessoas andando e falando dentro de uma caixa preta. Depois ficou anestesiado e não se mexeu por muito tempo. Só voltou a realidade quando o porquinho preto ficou se roçando na sua perna. Aí foi ao encontro do seu Alfeu, que já estava com a sua mercadoria separada, deixou o porquinho, colocou dentro do balaio o fruto da troca e voltou para o sítio. Mas aquela imagem não saía da sua cabeça. E foi assim por uma semana, quando acordado. Quando dormia, sonhava com a loura. Não esperou nem o mês seguinte para voltar ao armazém. Seu Alfeu ficou até surpreso com a sua chegada, já que a tarde repousava. Pensou que estivesse doente. Mas Hendrixson balançou a cabeça negando e apontou para a tv. O velho comerciante sorriu, ligou o aparelho e deixou-o sozinho vendo a tv. Ele perdeu foi tempo alí parado. De repente apareceu lady gaga cantando. Ele ficou alucinado. Era a loura dos seus sonhos. O velho Alfeu percebeu aquela mudança de comportamento do rapaz e curioso foi ver o que estava acontecendo. Ficou surpreso ao vê-lo transtornado. Colocou a mão no seu ombro e o chamou. Mas nada aconteceu. Ele então desligou o aparelho. Foi então que Hendrixson voltou a realidade. Porém olhou para o velho com a cara aborrecida.

             O comerciante voltou para o seu balcão, sem trocar palavras com Hendrixson, por não ter gostado do jeito que ele o olhou. E dali ficou a observá-lo, com o punho fechado. Ele já tinha passado bem dos setenta anos, mas aparentava uma saúde de ferro. Parecia que estava com vontade de dar uns cascudos em Hendrixson. 

           O rapaz continuava parado olhando para a televisão apagada. Depois de algum tempo plantado sem saber o que fazer, olhou para o velho comerciante e finalmente foi até ele. Mas ficou mudo frente a frente com Alfeu. Parecia que não sabia o que falar. Alfeu sabia que ele era um bicho do mato. Então olhou-o nos olhos e quis saber o que se passava com ele. Hendrixson sem saber direito o que dizer, fez rodeios sem chegar a lugar nenhum. Alfeu sorriu e perguntou se não era sobre a loura que queria saber. Hendrixson sorriu e confirmou. Ele então disse que era uma artista estrangeira. Que já tinha visto outras vezes ela cantando. – e o nome? – perguntou o rapaz ansioso. - acho que é lady. Lady gaga. – respondeu-lhe Alfeu. 

..............Continua semana que vem!

 

 

terça-feira, 23 de novembro de 2021

A Paixão por Lady Gaga - Parte 6

 


Continuando...

            Hendrixson ameaçou chorar, mas como nunca tinha chorado, resolveu gritar. O galo Bertoldo, que já estava na janela, deu mais um voo daqueles matinais, mas dentro da escuridão, e caiu, dessa vez, em cima dos porcos. Foi um alvoroço só. Dessa vez ele perdeu uma quantidade considerada de suas penas. E ainda saiu de lá pulando numa perna só, porque a outra tinha ficado na boca de algum porco.

             O tempo foi passando e Hendrixson foi dando continuidade a obra do pai. Mas a solidão foi deixando-o acabrunhado. Numa dessas idas a cidade viu uma linda menina. Aquilo mexeu com o seu coração. Depois desse dia começou a sonhar com uma mulher loura. Acordava pensando nela. Só que a do sonho era diferente da que tinha visto, e que nunca mais avistara.

                Hendrixson já estava com trinta anos e nunca mais tivera notícia dos seus pais. Tinham sumido pelo mundo e da sua vida para sempre (?) Com o tempo, até a fisionomia deles foi se apagando na sua memória. Depois até os nomes se perderam também.

              Já estava enjoado de fumar sozinho. Um dia qualquer, olhando para uma árvore a poucos metros da casa, viu um mico olhando-o fixamente. Acenou para o animal, mas ele pulou para outro galho e sumiu das suas vistas.  No dia seguinte foi a mesma coisa. E isso foi por meses. Até que um dia o bicho chegou até a rede de Hendrixson e deu várias voltas ao redor, até que finalmente subiu.

              Depois desse dia os dois viraram unha e carne. Onde Hendrixson estava, o mico estava em cima do seu ombro. Podia-se dizer, já amigos inseparáveis. Tropêço, o mico, já dormia numa caminha improvisada no quarto de Hendrixson. Agora não era mais o galo Bertoldo que o acordava, um dos seus descendentes, mas o mico Tropêço. Mas esse tataraneto de Bertoldo se assustava também como o seu ancestral. Só que agora era com o mico. Mal Tropêço gritava, o galo voava desesperado até cair dentro do lamaçal da pocilga. Pelos olhares dos porcos, já era uma persona non grata.

              Numa manhã nublada, Hendrixson se esparramou na rede e acendeu o seu cigarro. O mico logo arranjou um espaçozinho e se aconchegou debaixo do sovaco dele. Na primeira tragada, Hendrixson encheu o pulmão de fumaça. Segurou por algum tempo, até onde deu. Depois soltou-a todinha em cima de Tropêço. No início o mico ficou desesperado, mas foi se acalmando até que começou a rir e a rolar por cima de Hendrixson. O rapaz percebeu que o amigo estava doidão, então pegou o cigarro e colocou na sua boca. Mas não é que o mico fumou! Entretanto depois de rir bastante, lambeu, lambeu e depois comeu o cigarro de uma vez só. Aí Hendrixson caiu na gargalhada, como nunca fizera em toda a sua vida.  E riu mais ainda, quando o mico cruzou as pernas e colocou os braços atrás da cabeça. Ali estava formada definitivamente a dupla. Agora Hendrixson tinha um companheiro para dividir o baseado. 

..................Continua semana que vem!

 

terça-feira, 16 de novembro de 2021

A Paixão por Lady Gaga - Parte 5

 

               


             No dia seguinte, Tonico, logo pela manhã foi acordar o filho. Foi a primeira vez que isso acontecia. Hendrixson abriu os olhos meio assustado, sem entender o que estava acontecendo. Aquilo era um fato novo na sua vida. E o mais estranho é que o pai não estava chapado.

              Tonico fez um relatório para o filho sobre o comércio. Não podia falhar os dias. Era deixar a mercadoria na entrada da propriedade, pegar o dinheiro e voltar para casa sem olhar para trás. Isso era só duas vezes no mês, dias quinze e trinta. Tonico não tinha certeza se o filho ia perguntar, mas adiantou sobre o mês de fevereiro: dias 15 e 28.  Ele já estava com tudo anotado e entregou-o a Hendrixson. O rapaz olhou o papel, leu rapidamente e balançou a cabeça. Nunca tinha ido ao colégio, mas o pai tinha-o ensinado a ler, escrever e fazer contas.  

               Os dias foram passando e chegou o dia da sua primeira entrega. Fez tudo que o pai tinha lhe ensinado. Até pesar a erva antes de embalar junto com a banana ele fez. Tudo dentro do planejado. Colocou o embrulho no local indicado e pegou o dinheiro no esconderijo.

               Quatro dias depois da sua estreia no crime, ele acordou com o galo cantando, mais uma vez, na sua janela. Mas dessa vez não bocejou e levantou em silêncio. Mas mesmo assim o galo saiu voando e caiu dentro da pocilga. Chegou ofegante e se sujou todo de lama. A idade já estava meio avançada. Era um galo velho e estressado. Depois de anos se assustando diariamente com o bocejo de Hendrixson, esse dia se assustou em pensar no susto.

             A casa estava mais silenciosa do que de costume. Foi até a cozinha e encontrou uma caneca de café e uma broa meio dura ao lado. Em seguida foi à procura da mãe, coisa que fazia há anos, mas não a encontrou no lugar de sempre. Pela primeira vez a rede estava vazia. Depois foi atrás da casa procurar o pai e nada dele. Estranhou. Todo o dia encontrava-o sentado no seu banquinho preparando um baseado. Voltou para a cozinha e tomou o seu café. Seria o primeiro da sua vida sem a presença da mãe e do pai. Foi para a rede e ali ficou até o pôr do sol. Perdeu a conta de quantos cigarros fumou. A fome não existia mais. Parece que a maconha tinha engolido o seu estômago.

          Só conseguiu sair da rede quando a lua iluminou a sua cara. Deu uma volta em torno da casa, com uma preguiça nunca antes sentida. Rodou, rodou até lembrar-se que estava com sede. Entrou na cozinha e quando foi pegar a sua caneca, uma lata de leite condensado amassada, para beber água, encontrou um papel enrolado. Desenrolou-o e leu o seu conteúdo.

          - Hendrixson. Toma conta de tudo. Fomos sair pelo mundo. Não sabemos quando voltamos e se vamos voltar um dia. Se vira. Um dia você vai fazer a mesma coisa, espero. Guarda na sua cabeça: nunca ande com dinheiro, continue trocando mercadorias; faça direitinho o que lhe ensinei com a nossa plantação, agora sua, e nunca erre a data de entrega; guarde o dinheiro no mesmo local de sempre. Um dia arranja uma mulher para viver com você, mas não deixe ela saber de nada. Alimente-a com a erva.

             Mexi no nosso tesouro. Tirei alguns trocados para nossa viagem. Fique bem. Paz e amor.

 ....................Continua semana que vem!