quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Pensamento de Poeta - É Preciso Arriscar


É Preciso Arriscar 

                                                 - José Timotheo -

Não é preciso doar um sonho
Dê apenas um sorriso
O sonho pode ser quimérico
Uma esperança nunca alcançada
Dê um simples abraço sem medida
Desperte uma saudade boa
Doe uma promessa verdadeira
Aquela que possa se realizar no dia seguinte
Fale de amor, de natureza
De um pássaro que cantando
Faça alguém despertar o seu canto
Não presenteie papo vazio
Fale das coisas simples da vida
Fale o que é necessário alguém ouvir
Mas não sem verdade
Arrisque para a felicidade
Dar às caras
                                                fim 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Pensamento de Poeta - Majestosamente Emburrecidos


Majestosamente Emburrecidos
- José Timotheo - 


A natureza majestosa
Continua impávida
Humilde, prossegue
Embelezando a nossa violência
A nossa tristeza
Impávidos, continuamos
Perseguindo, matando
Majestosos, continuamos

Morrendo

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O Caso dos Olhos Azuis - Parte Final

Continuando...
           Na redação do jornal, na manhã seguinte do trágico dia, PC, Souza e Lucinha conversam sobre o caso dos olhos azuis. Souza então procura saber alguma coisa a respeito do caso, com o amigo.
          - PC, a polícia já conseguiu localizar algum comparsa de Leo?   
          - Não chefe. Parece que sumiram todos num passe de mágica. O delegado está atento. Mas perdido. Não tem outra saída, a não ser esperar. Será que as mortes vão recomeçar?
         - Espero que não. Esperamos que não. Não é Souza?
         - É Lucinha. Vamos torcer para que tenha terminado juntamente com Leo.
           PC começa a rabiscar alguma coisa num folha de papel. Ele demonstrava ansiedade. Era visível que não estava querendo terminar a conversa ali. Tinha que escrever sobre o caso. Estava de frente pra tela do computador. Mas só tinha o título: O CASO DOS OLHOS AZUIS.  Tinha que entregar a matéria, mas precisava conversar com Souza. Olhou para o amigo e disse:
          - Souza. Meu irmão. Continuo ainda sem entender isso tudo. Tem momento que não se consegue fazer uma analise das reações do homem. Sai ano, entra ano, convivendo diariamente com o crime, ainda não consigo acreditar que as pessoas possam matar. Possam morrer. Sabia que Leo tinha câncer nas vistas? Alguém me falou. E não tinha cura. Por que será que as pessoas matam por estarem condenadas a morrer? Não saem da minha cabeça aqueles olhos azuis. Olha só que coisa estranha: na festa só tinha sido convidado pessoas com olhos castanhos ou verdes. O único de olho azul era ele. E o único louco. O único não. Ele era o mais louco. Tinha gente doida à beça lá. Na verdade todos nós somos um pouco louco, né? Chefe, por que será que ele se juntou a essa turma? Por dinheiro, com certeza, não foi. Deve ter sido apenas por ódio?
          - PC! Essas perguntas são dificílimas de serem respondidas! O único que poderia responder está morto! Ou, talvez, nem ele!
         - Mas se a polícia pegar alguém da gang, de repente tem a resposta.
         - PC, o chefe está certo. O cara era completamente doido. O maluco faz coisa que até Deus duvida.
        - Mas Lucinha, os outros não são doidos. Quando conheci Leo, ele não era maluco. Era uma das pessoas mais equilibradas que já tinha conhecido. Ele ficou doido com a doença.
        - É! Pode ser! Quantas pessoas vão dormir de um jeito e quando acordam estão doentes! Meu Deus!
       - Tem que se benzer mesmo! Vai que você...
       - Vira essa boca pra lá! Vira essa boca pra lá, PC!
          E a vida na cidade continua de morte, para quem trabalha no jornalismo policial. Os repórteres vão carregando diariamente a tragédia humana. O que fazer se o homem é trágico?
          Os repórteres PC e Lucinha vão saindo da redação para mais um dia de ronda policial. Vermelho já está com o motor do carro ligado. Mas Lucinha volta na redação para pegar a sua bolsa. PC fica impaciente com a demora da amiga. Quando ela retorna, ele reclama:
          - Pô Lucinha! A gente já estava quase indo embora sem você! Deu um tremendo castigo em Vermelho, no Marcão e no seu amigo aqui! Diga-se de passagem, o melhor repórter da cidade! É ou não é? Vamos rápido, menina! Entra logo! Temos que fazer a cobertura da prisão do ex-governador!
          Lucinha vai entrando no carro e faz careta pra PC, que já está com um sorriso na boca. Vermelho olha para trás, pede para ela colocar o cinto de segurança e sai em disparada.
                                         
                                                   fim    

OBS. Essa é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a história, nomes dos personagens, é pura coincidência.
           




terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 17

Continuando...
         - Calma PC! Me explica o que está acontecendo!
         - Não dá tempo. Temos que agir com rapidez.
         - Está bem. Eu telefono já, já! Mas me deixa tomar só mais um golinho desse chope geladinho!
        - Pô doutor! Não dá tempo pra gole não! Vamos logo!
        - Tudo bem! Só que não podemos resolver essa questão, sozinhos! Sabe que só nós dois, não dá!
       - É... Então liga logo para a delegacia! Eu sei que não podemos dar uma de herói, mas também não podemos deixar o barco virar! Você está armado?
        - Não. Aqui não. Deixei a arma no carro. Hei! Espera aí! Você quer prender o velho Leo? É isso?
        - É! É isso mesmo!
        - Está maluco? Prender o homem sob que acusação? Estou meio bêbado, mas ainda estou lúcido! PC - você sabe! – pra se prender alguém tem que se ter algum motivo! Me dê um motivo só e eu prendo o homem!  Mas... PC me dê um motivo!        
         - Doutor ele é o homem que tirou os olhos daquela turma toda! Garanto, sem sombra de dúvida, que é ele o autor daquelas mortes! Pode ser apenas mandante, mas é o cara que tirou os olhos dos presuntos! O cara é doido varrido, delegado! Estive preso num quarto. Depois encaixotaram Lucinha também. Ficamos os dois presos. Aconteceram coisas do arco da velha com a gente! Lucinha pode confirmar isso. Só não consegui entender porque deixaram a porta aberta, para que fugíssemos. Por quê? E pra quê?
         - Carlos.
         - O que foi Lucinha?
         - Depois que aconteceu aquele lance comigo. Eu...
         - Que lance, Lucinha?
         - PC depois eu te conto tudo. Tudo detalhado, tá legal? Mas me deixa explicar pro Carlos todo lance. Foi o seguinte: quando você foi para o segundo andar, eu comecei a ir de porta em porta. Mas só as encontrava fechadas. Tentei em várias. Mas nada. Porém, em uma delas, escutei vozes. A princípio não entendia o que falavam. Então encostei a orelha na porta, aí ouvi claramente o nome de PC. Resolvi ir procura-lo, mas aí apareceram dois homens. Tentei ir para o outro lado, então me deparei com mais dois brutamontes. Então achei melhor tentar encontrar algum lugar para me esconder. Girei nos calcanhares e fui para outro corredor. Fui passando de porta em porta e finalmente em uma delas consegui abrir e entrei. Ali encontrei PC desacordado. Depois passamos por poucas e boas. Só em pensar me dar arrepios.  Só vendo! Apareceram vários pares de olhos azuis... Foi uma coisa horrível!
             O delegado abraça a namorada e dá um beijo estalado em uma das bochechas. Depois a enlaça pela cintura e se dirige para o portão. Avisa ao porteiro que vai até o carro, mas que vai voltar. Que vai só tomar um remédio e voltara em seguida. Lucinha fica próximo do portão, com PC, esperando o retorno do delegado. Carlos não demora e consegue entrar com a arma escondida. Depois se afasta com os dois, dos convidados, e procura um local mais escondido para usar o celular.  O delegado fica desapontado quando observa que não tem sinal.
          - Não acredito! Olha só! Não tem sinal nenhum aqui! Essa não!
          - Delegado, vamos mudar de lugar. Vamos para o outro lado. De repente atrás da casa a gente consiga. Vamos Lucinha.
             Eles voltam para o meio do pessoal e vão tentando ultrapassar a massa que vai ficando cada vez mais compacta. Mas nem chegam atravessá-la, pois a voz de Leo se espalha, ensurdecedora, pelo ar, acompanhada de microfonia, e os três então param.
          - Senhoras. Senhores. Desculpem a qualidade do som. Mas vai melhorar. Agora está bom. Aqui em cima, por favor.
             Pela primeira vez na festa, Leo vai aparecer para todos. E realmente quando os convidados olham para cima, um “oh!” vibra no ar. Lá estava ele, completamente despido, no alto do prédio. O delegado, Lucinha e PC estavam boquiabertos com a cena surreal.
            Depois que o silêncio volta, Leo continua a falar:
          - Acho que a maioria não estenderá nada do que está acontecendo. Não está entendendo nada mesmo!
             Ele faz outra pausa. E o silêncio mais uma vez toma conta do ambiente. Estão todos atônitos. Lucinha faz uma cara de espanto e fala:
           - PC foi esse velho que falou comigo!
           - Falou quando?
           - Quando eu vi os olhos azuis no espelho! O Carlos sabe! Eu falei pra ele!
          - Que olhos azuis no espelho, Lucinha? Me explica isso!
          - Eu saí à procura do banheiro. Ia aproveitar para dar uma olhada e ver se te achava.  Quando olhei no espelho, lá estava um par de olhos azuis. Pareciam dois olhos mortos. E depois apareceu o rosto dele. Não quero nem lembrar.
            Nisso a voz de Leo volta a ser ouvida:
           - Todos me olham e não entendem nada. – Interrompe a fala e volta a dar gargalhadas. Depois de mais uma pausa, recomeça a falar:
          - Vocês sabem que os meus olhos morreram? Vocês estão vendo dois olhos azuis sem vida! – mais uma vez deixa a sua gargalhada ecoando, ecoando, até morrer lentamente. Nisso entra uma música pesada, dando um ar sinistro ao evento. Um chamamento fúnebre. A execução dura aproximadamente dois minutos. Quando a música morre, a voz cavernosa do anfitrião retorna.

          - Eu poderia ter continuado no anonimato. Deveria ter continuado guardado nos meus domínios. Ninguém jamais iria saber que estou por detrás dos fatos. Muitos olhos estão pagando pelos meus olhos mortos. Mesmo à mostra, jamais me pegarão. Vocês não acham que o mundo é um imenso circo? – novamente deixou a sua gargalhada ecoar. Depois continuou: - Antes eram olhos sem órbitas. Agora, vão ficar nas órbitas, mas as córneas vão continuar viajando. Viajando! Viajando! – aí, depois de outra pausa, toma um ar mais sério no seu discurso: - Vou confessar uma coisa para vocês: faltou-me tempo para acabar com todos os olhos azuis. Isso mesmo! Faltou-me tempo! Eu odeio olhos azuis! Odeio todo mundo! – termina de falar e recomeça a sua diabólica gargalhada. Mas de repente começa a chorar. Chora bastante. Um choro repleto de dor. Depois dá um riso nervoso. E chora e ri ao mesmo tempo. Pouco depois silencia. Os convidados atentos não tiram os olhos dele. Esperam que ele fale mais alguma coisa. Mas nada. Simplesmente abre os braços e se joga no espaço. E em poucos segundos o seu corpo se choca com a borda da piscina. Agora os seus olhos não estão mais azuis. Seus frios olhos dão lugar a duas borras de sangue.
                   Continua na semana que vem... 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 16

Continuando...
A voz saía de todos os pontos do cômodo. Os dois pareciam em estado de choque. Olhavam-se, mas não conseguiam falar nada. O silêncio foi breve, pois uma gargalhada, talvez a mais estridente, mergulhou dentro quarto. Lucinha colocou as mãos nos ouvidos e já chorando, balbuciou:
          - Por que PC? Por quê? Estou sonhando?
          - Calma menina. Já estou quase inteiro. Vou tirar você desse lugar. Pode apostar nisso. E os porquês, a gente vê depois! Agora temos que encontrar um ponto de fuga! Lucinha, nós não estamos sonhando, minha querida. Estamos é dentro de um senhor pesadelo. Pode se preparar para sair daqui comigo. Ou não me chamo PC!
            Ele tenta abrir as janelas, mas nada acontece. Todas as três estão bem trancadas. Ele procura algum objeto que possa usar, porém nada é encontrado. O cômodo está completamente vazio. Ele olha para amiga e comenta:
          - Lucinha, se pelo menos tivesse uma cadeira, eu quebrava uma dessas janelas. Mas não tem nada que possamos usar.
             Ele senta-se no chão desanimado. Lucinha, que ainda estava encostada na parede do lado da porta, põe a mão na maçaneta e torce, nisso a porta se abre. Ela fica surpresa e chama o amigo:
           - PC! Olha aqui! A porta está aberta! Só está encostada! Dá uma olhada!
             Ele se levanta rapidamente, mas está com uma expressão de incredulidade. Aproxima-se com cautela da porta e mete a mão na maçaneta. Antes de movimentá-la  fala para a amiga:
          - Lucinha será que não é uma armadilha? Há poucos minutos estava trancada e agora, sem mais nem menos, aparece encostada.  Dá pra gente ficar com uma pulga atrás da orelha, não é?
          - Temos que ter cautela. Acho que foi proposital. Mas vai abrindo devagar.
             PC vai abrindo a porta lentamente. O coração está aos saltos. Dá uma parada e olha atentamente pelo espaço aproximado de meio metro de abertura e avista todo o corredor à esquerda. Constata que está vazio. Olha para a amiga e dá um suspiro de alívio. Mas ainda tem o corredor da direita. Para vê-lo tem que abrir a porta totalmente. Antes de escancarar a porta, olha para a amiga e fala baixinho:
          - Lucinha. Será que tem alguém desse lado? Estou preocupado. Isso pode ser uma armadilha. O que você acha?
          - Não sei. De repente resolveram nos deixar livres. Se quisessem fazer alguma coisa, tinham feito aqui dentro. Não acha?
          - Acho que você tem razão. Ainda não consegui acertar meus pensamentos. Seja lá o que Deus quiser.
             PC num repente abre a porta de uma vez só. Devagarinho vai botando a cara para fora. Olha o corredor e constata que ele está também vazio. Pega a amiga pela mão e sai rapidamente do quarto. No meio do corredor fala:
          - Vamos Lucinha! Vamos aproveitar que a barra está limpa! Vamos rápido! Vamos procurar o delegado! Acho que o velho é o responsável por todos esses crimes horrendos, que a nossa cidade foi palco! Vamos Lucinha!
             PC vai puxando a amiga pelo braço e consegue descer a escada, sem derrubá-la, e chega ao salão. Os dois estão  ofegantes. Olham em volta e nada de ver o delegado. Vão se metendo pelo meio dos convidados e vasculham cada ponto do salão. PC já demonstrando impaciência, fala:
           - Que droga! Onde, diabo, o delegado se meteu?
           - PC será que esses bandidos o pegaram também?
           - Só falta essa né Lucinha? Tá brincando! Vamos sair desse lugar sufocante! Ele deve estar lá fora! Vamos lá?
              Mas antes que eles se movimentem, a música para e a tal voz cavernosa ecoa no salão:
           - Senhoras. Senhores. Por favor, queiram ficar em silêncio. Obrigado. Tenho a satisfação e prazer de apresentar-lhes a surpresa que prometi. Como disse, anteriormente, vocês jamais se esquecerão dessa minha última festa. Só não disse que seria a última.
               Um lamento se espalhou pelo ambiente. Os convidados se olhavam com um ar de pesar. O anfitrião então continuou o seu discurso:
          - Não fiquem tristes. Essa será a última, mas a melhor de todas. Vocês jamais a esquecerão. E, logicamente, de mim também. Para quem já me conhece, deve ficar feliz em me rever. E quem ainda não me conhece...
             Ele fez uma pausa, mas de repente começou a gargalhar. Ficou assim por alguns minutos. Como tinha começado repentinamente, repentinamente parou. Antes de recomeçar a falar, esperou para ver se os convidados teriam alguma reação. Já que o silêncio continuou, ele recomeçou:
           - Senhoras! Senhores! Queiram se dirigir, por favor, à pérgula da piscina! Com calma, por favor.
             Mal terminou de falar, uma música macabra tomou conta do ambiente. Os convidados começaram a se movimentar, mas nesse momento já era visível às caras assustadas que se escorregavam pelo salão em direção à porta principal. PC e Lucinha aproveitam essa onda humana que se dirigia em direção à piscina e vão tentando avistar o delegado. Quando saem na área externa, avistam-no encostado numa palmeira, saboreando um chope gelado. Os dois saem rapidamente do meio da massa e vão ao seu encontro. PC antes de chegar perto, já vai chamando pelo amigo:
          - Delegado! Delegado!
          - O que houve, ô fujão?
          - Meu irmão, depois a gente brinca! Vamos comigo delegado!
          - O que houve? O que houve com vocês dois?
          - Carlos depois a gente explica. PC e eu passamos o maior sufoco!

          - É isso mesmo delegado! Temos que prender o velho Leo! Ele tem muitos homens espalhados por aqui! Vamos nós dois. Lucinha fica por aqui e tenta achar Marcão. A barra pode pesar doutor. É melhor ligar para a delegacia e pedir reforço.
                Continua semana que vem...