terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 17

Continuando...
         - Calma PC! Me explica o que está acontecendo!
         - Não dá tempo. Temos que agir com rapidez.
         - Está bem. Eu telefono já, já! Mas me deixa tomar só mais um golinho desse chope geladinho!
        - Pô doutor! Não dá tempo pra gole não! Vamos logo!
        - Tudo bem! Só que não podemos resolver essa questão, sozinhos! Sabe que só nós dois, não dá!
       - É... Então liga logo para a delegacia! Eu sei que não podemos dar uma de herói, mas também não podemos deixar o barco virar! Você está armado?
        - Não. Aqui não. Deixei a arma no carro. Hei! Espera aí! Você quer prender o velho Leo? É isso?
        - É! É isso mesmo!
        - Está maluco? Prender o homem sob que acusação? Estou meio bêbado, mas ainda estou lúcido! PC - você sabe! – pra se prender alguém tem que se ter algum motivo! Me dê um motivo só e eu prendo o homem!  Mas... PC me dê um motivo!        
         - Doutor ele é o homem que tirou os olhos daquela turma toda! Garanto, sem sombra de dúvida, que é ele o autor daquelas mortes! Pode ser apenas mandante, mas é o cara que tirou os olhos dos presuntos! O cara é doido varrido, delegado! Estive preso num quarto. Depois encaixotaram Lucinha também. Ficamos os dois presos. Aconteceram coisas do arco da velha com a gente! Lucinha pode confirmar isso. Só não consegui entender porque deixaram a porta aberta, para que fugíssemos. Por quê? E pra quê?
         - Carlos.
         - O que foi Lucinha?
         - Depois que aconteceu aquele lance comigo. Eu...
         - Que lance, Lucinha?
         - PC depois eu te conto tudo. Tudo detalhado, tá legal? Mas me deixa explicar pro Carlos todo lance. Foi o seguinte: quando você foi para o segundo andar, eu comecei a ir de porta em porta. Mas só as encontrava fechadas. Tentei em várias. Mas nada. Porém, em uma delas, escutei vozes. A princípio não entendia o que falavam. Então encostei a orelha na porta, aí ouvi claramente o nome de PC. Resolvi ir procura-lo, mas aí apareceram dois homens. Tentei ir para o outro lado, então me deparei com mais dois brutamontes. Então achei melhor tentar encontrar algum lugar para me esconder. Girei nos calcanhares e fui para outro corredor. Fui passando de porta em porta e finalmente em uma delas consegui abrir e entrei. Ali encontrei PC desacordado. Depois passamos por poucas e boas. Só em pensar me dar arrepios.  Só vendo! Apareceram vários pares de olhos azuis... Foi uma coisa horrível!
             O delegado abraça a namorada e dá um beijo estalado em uma das bochechas. Depois a enlaça pela cintura e se dirige para o portão. Avisa ao porteiro que vai até o carro, mas que vai voltar. Que vai só tomar um remédio e voltara em seguida. Lucinha fica próximo do portão, com PC, esperando o retorno do delegado. Carlos não demora e consegue entrar com a arma escondida. Depois se afasta com os dois, dos convidados, e procura um local mais escondido para usar o celular.  O delegado fica desapontado quando observa que não tem sinal.
          - Não acredito! Olha só! Não tem sinal nenhum aqui! Essa não!
          - Delegado, vamos mudar de lugar. Vamos para o outro lado. De repente atrás da casa a gente consiga. Vamos Lucinha.
             Eles voltam para o meio do pessoal e vão tentando ultrapassar a massa que vai ficando cada vez mais compacta. Mas nem chegam atravessá-la, pois a voz de Leo se espalha, ensurdecedora, pelo ar, acompanhada de microfonia, e os três então param.
          - Senhoras. Senhores. Desculpem a qualidade do som. Mas vai melhorar. Agora está bom. Aqui em cima, por favor.
             Pela primeira vez na festa, Leo vai aparecer para todos. E realmente quando os convidados olham para cima, um “oh!” vibra no ar. Lá estava ele, completamente despido, no alto do prédio. O delegado, Lucinha e PC estavam boquiabertos com a cena surreal.
            Depois que o silêncio volta, Leo continua a falar:
          - Acho que a maioria não estenderá nada do que está acontecendo. Não está entendendo nada mesmo!
             Ele faz outra pausa. E o silêncio mais uma vez toma conta do ambiente. Estão todos atônitos. Lucinha faz uma cara de espanto e fala:
           - PC foi esse velho que falou comigo!
           - Falou quando?
           - Quando eu vi os olhos azuis no espelho! O Carlos sabe! Eu falei pra ele!
          - Que olhos azuis no espelho, Lucinha? Me explica isso!
          - Eu saí à procura do banheiro. Ia aproveitar para dar uma olhada e ver se te achava.  Quando olhei no espelho, lá estava um par de olhos azuis. Pareciam dois olhos mortos. E depois apareceu o rosto dele. Não quero nem lembrar.
            Nisso a voz de Leo volta a ser ouvida:
           - Todos me olham e não entendem nada. – Interrompe a fala e volta a dar gargalhadas. Depois de mais uma pausa, recomeça a falar:
          - Vocês sabem que os meus olhos morreram? Vocês estão vendo dois olhos azuis sem vida! – mais uma vez deixa a sua gargalhada ecoando, ecoando, até morrer lentamente. Nisso entra uma música pesada, dando um ar sinistro ao evento. Um chamamento fúnebre. A execução dura aproximadamente dois minutos. Quando a música morre, a voz cavernosa do anfitrião retorna.

          - Eu poderia ter continuado no anonimato. Deveria ter continuado guardado nos meus domínios. Ninguém jamais iria saber que estou por detrás dos fatos. Muitos olhos estão pagando pelos meus olhos mortos. Mesmo à mostra, jamais me pegarão. Vocês não acham que o mundo é um imenso circo? – novamente deixou a sua gargalhada ecoar. Depois continuou: - Antes eram olhos sem órbitas. Agora, vão ficar nas órbitas, mas as córneas vão continuar viajando. Viajando! Viajando! – aí, depois de outra pausa, toma um ar mais sério no seu discurso: - Vou confessar uma coisa para vocês: faltou-me tempo para acabar com todos os olhos azuis. Isso mesmo! Faltou-me tempo! Eu odeio olhos azuis! Odeio todo mundo! – termina de falar e recomeça a sua diabólica gargalhada. Mas de repente começa a chorar. Chora bastante. Um choro repleto de dor. Depois dá um riso nervoso. E chora e ri ao mesmo tempo. Pouco depois silencia. Os convidados atentos não tiram os olhos dele. Esperam que ele fale mais alguma coisa. Mas nada. Simplesmente abre os braços e se joga no espaço. E em poucos segundos o seu corpo se choca com a borda da piscina. Agora os seus olhos não estão mais azuis. Seus frios olhos dão lugar a duas borras de sangue.
                   Continua na semana que vem... 

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