- Calma PC! Me explica o que está
acontecendo!
- Não dá tempo. Temos que agir com
rapidez.
- Está bem. Eu telefono já, já! Mas me
deixa tomar só mais um golinho desse chope geladinho!
- Pô doutor! Não dá tempo pra gole não!
Vamos logo!
- Tudo bem! Só que não podemos resolver
essa questão, sozinhos! Sabe que só nós dois, não dá!
- É... Então liga logo para a delegacia!
Eu sei que não podemos dar uma de herói, mas também não podemos deixar o barco
virar! Você está armado?
- Não. Aqui não. Deixei a arma no
carro. Hei! Espera aí! Você quer prender o velho Leo? É isso?
- É! É isso mesmo!
- Está maluco? Prender o homem sob que
acusação? Estou meio bêbado, mas ainda estou lúcido! PC - você sabe! – pra se
prender alguém tem que se ter algum motivo! Me dê um motivo só e eu prendo o
homem! Mas... PC me dê um motivo!
- Doutor ele é o homem que tirou os olhos daquela turma
toda! Garanto, sem sombra de dúvida, que é ele o autor daquelas mortes! Pode
ser apenas mandante, mas é o cara que tirou os olhos dos presuntos! O cara é
doido varrido, delegado! Estive preso num quarto. Depois encaixotaram Lucinha
também. Ficamos os dois presos. Aconteceram coisas do arco da velha com a
gente! Lucinha pode confirmar isso. Só não consegui entender porque deixaram a
porta aberta, para que fugíssemos. Por quê? E pra quê?
- Carlos.
- O que foi Lucinha?
- Depois que aconteceu aquele lance
comigo. Eu...
- Que lance, Lucinha?
- PC depois eu te conto tudo. Tudo
detalhado, tá legal? Mas me deixa explicar pro Carlos todo lance. Foi o
seguinte: quando você foi para o segundo andar, eu comecei a ir de porta em porta. Mas só as
encontrava fechadas. Tentei em
várias. Mas nada. Porém, em uma delas, escutei vozes. A
princípio não entendia o que falavam. Então encostei a orelha na porta, aí ouvi
claramente o nome de PC. Resolvi ir procura-lo, mas aí apareceram dois homens.
Tentei ir para o outro lado, então me deparei com mais dois brutamontes. Então
achei melhor tentar encontrar algum lugar para me esconder. Girei nos
calcanhares e fui para outro corredor. Fui passando de porta em porta e
finalmente em uma delas consegui abrir e entrei. Ali encontrei PC desacordado.
Depois passamos por poucas e boas. Só em pensar me dar arrepios. Só vendo! Apareceram vários pares de olhos
azuis... Foi uma coisa horrível!
O delegado abraça a namorada e dá
um beijo estalado em uma das bochechas. Depois a enlaça pela cintura e se
dirige para o portão. Avisa ao porteiro que vai até o carro, mas que vai
voltar. Que vai só tomar um remédio e voltara em seguida. Lucinha
fica próximo do portão, com PC, esperando o retorno do delegado. Carlos não
demora e consegue entrar com a arma escondida. Depois se afasta com os dois,
dos convidados, e procura um local mais escondido para usar o celular. O delegado fica desapontado quando observa que
não tem sinal.
- Não acredito! Olha só! Não tem
sinal nenhum aqui! Essa não!
- Delegado, vamos mudar de lugar.
Vamos para o outro lado. De repente atrás da casa a gente consiga. Vamos
Lucinha.
Eles voltam para o meio do pessoal
e vão tentando ultrapassar a massa que vai ficando cada vez mais compacta. Mas
nem chegam atravessá-la, pois a voz de Leo se espalha, ensurdecedora, pelo ar,
acompanhada de microfonia, e os três então param.
- Senhoras. Senhores. Desculpem a
qualidade do som. Mas vai melhorar. Agora está bom. Aqui em cima, por favor.
Pela primeira vez na festa, Leo
vai aparecer para todos. E realmente quando os convidados olham para cima, um
“oh!” vibra no ar. Lá estava ele, completamente despido, no alto do prédio. O
delegado, Lucinha e PC estavam boquiabertos com a cena surreal.
Depois que o silêncio volta, Leo
continua a falar:
- Acho que a maioria não estenderá
nada do que está acontecendo. Não está entendendo nada mesmo!
Ele faz outra pausa. E o silêncio
mais uma vez toma conta do ambiente. Estão todos atônitos. Lucinha faz uma cara
de espanto e fala:
- PC foi esse velho que falou
comigo!
- Falou quando?
- Quando eu vi os olhos azuis no
espelho! O Carlos sabe! Eu falei pra ele!
- Que olhos azuis no espelho,
Lucinha? Me explica isso!
- Eu saí à procura do banheiro. Ia
aproveitar para dar uma olhada e ver se te achava. Quando olhei no espelho, lá estava um par de
olhos azuis. Pareciam dois olhos mortos. E depois apareceu o rosto dele. Não
quero nem lembrar.
Nisso a voz de Leo volta a ser
ouvida:
- Todos me olham e não entendem
nada. – Interrompe a fala e volta a dar gargalhadas. Depois de mais uma pausa,
recomeça a falar:
- Vocês sabem que os meus olhos
morreram? Vocês estão vendo dois olhos azuis sem vida! – mais uma vez deixa a
sua gargalhada ecoando, ecoando, até morrer lentamente. Nisso entra uma música
pesada, dando um ar sinistro ao evento. Um chamamento fúnebre. A execução dura
aproximadamente dois minutos. Quando a música morre, a voz cavernosa do
anfitrião retorna.
- Eu poderia ter continuado no
anonimato. Deveria ter continuado guardado nos meus domínios. Ninguém jamais
iria saber que estou por detrás dos fatos. Muitos olhos estão pagando pelos
meus olhos mortos. Mesmo à mostra, jamais me pegarão. Vocês não acham que o
mundo é um imenso circo? – novamente deixou a sua gargalhada ecoar. Depois continuou:
- Antes eram olhos sem órbitas. Agora, vão ficar nas órbitas, mas as córneas
vão continuar viajando. Viajando! Viajando! – aí, depois de outra pausa, toma
um ar mais sério no seu discurso: - Vou confessar uma coisa para vocês:
faltou-me tempo para acabar com todos os olhos azuis. Isso mesmo! Faltou-me
tempo! Eu odeio olhos azuis! Odeio todo mundo! – termina de falar e recomeça a
sua diabólica gargalhada. Mas de repente começa a chorar. Chora bastante. Um
choro repleto de dor. Depois dá um riso nervoso. E chora e ri ao mesmo tempo.
Pouco depois silencia. Os convidados atentos não tiram os olhos dele. Esperam
que ele fale mais alguma coisa. Mas nada. Simplesmente abre os braços e se joga
no espaço. E em poucos segundos o seu corpo se choca com a borda da piscina.
Agora os seus olhos não estão mais azuis. Seus frios olhos dão lugar a duas
borras de sangue.
Continua na semana que vem...
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