terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 85

 


Continuando...

        Pegou a bandeja e foi servir aos agentes. Ela começou pelo chefe e depois serviu aos outros. Só que o último disse que não queria, mas, talvez por educação, pegou a xícara e colocou no chão, do lado da cadeira. Helga não falou nada, apenas sorriu para o agente e conseguiu não demonstrar preocupação. Em seguida ofereceu uma xícara ao marido. Kurt levantou a sua caneca e agradeceu a mulher.

          - Obrigado querida, mas ainda tenho café. Talvez mais tarde eu beba mais. Essa já é a segunda.

       Kurt virou-se para o agente e pediu para que o agente cheirasse o seu café. Weber cheirou e sorriu. Depois de um tempinho comentou:

         - Herr general o seu café é especial. Qual a bebida que o senhor colocou aí dentro?

         - O senhor não identificou? Coloquei um pouco de rum. Só gosto do café assim. O meu sobrinho diz que eu estrago o café.

         - Também acho. Mas gostaria de tomar uma dose do rum. Pode ser?

         - Sim senhor. Helga pode pegar a garrafa para servir ao chefe Weber?

         Helga balançou afirmativamente a cabeça e foi até onde tinha deixado à garrafa de rum. Pegou-a e ficou pensativa, enquanto balançava o liquido. De repente colocou-a de volta de onde tinha tirado. Abriu a sua bolsa e pegou o pequeno vidro. Primeiro retirou a tampa do rum e depois a do frasco com o liquido venenoso. Quando ia jogar o liquido na garrafa de rum, alguma coisa fez com que ela interrompesse a operação. Rapidamente recolheu o pequeno frasco, guardando-o dentro da bolsa. Pegou a garrafa de rum, colocou a tampa e levou-a para os homens. Mas antes parou um pouco antes da porta e se recompôs, colocando um leve sorriso nos seus lábios sensuais.

         Helga foi até a mesa e pegou uns pequenos copos e ofereceu aos quatro homens. Todos pegaram. Curiosamente ninguém ainda tinha bebido o café. Ela sabia que o veneno começava a agir depois de aproximadamente quinze minutos. Na sua cabeça surgiu a dúvida se eles iriam realmente beber o café. Se não bebessem, o que teriam que fazer? Institivamente apertou o casaco sobre o corpo e sentiu que a arma estava repousando no bolso.

         Todos os copos já estavam cheios. Weber sorriu, olhou para os seus homens, e antes de levar o seu copo a boca, disse para o general:

         - Herr general, não vai fazer a honra? Beba o senhor primeiro, já que o senhor é a maior autoridade presente. E principalmente amigo íntimo do nosso fuhrer.

         Kurt sorriu um sorriso morno, olhou para a esposa e percebeu que estava num beco sem saída. Helga percebeu a situação difícil que estava o marido, levantou-se com graciosidade e, mentalmente agradeceu a Deus por não ter colocado veneno dentro da garrafa, disse:

         - Deixa Kurt que eu pego o rum e sirvo-o. E beberei também a saúde de todos nós, principalmente a do nosso amigo Hitler.

           Levantou-se e foi até a mesa, pegou um copo, encheu-o de rum e deu ao marido. Encheu o segundo e fez a saudação nazista. Todos se levantaram rapidamente e seguiram a anfitriã. Kurt, sentindo a firmeza da mulher, bebeu todo o conteúdo do copo de um gole só, seguido de Helga.

           Weber vendo o general e a esposa não titubearam, bebeu também o seu rum e autorizou os outros a fazerem o mesmo. Helga então voltou para a sua cadeira, próxima aos três agentes, principalmente do policial que rejeitou o café.

            Kurt levantou-se e colocou o seu copo em cima da mesa. Depois pegou a sua caneca de café, virou-se para o policial e comentou:

            - Herr Weber, beberei o meu café, antes que esfrie. Se bem que já estou bem aquecido com o rum, mas o café aquece além do corpo, também a alma. Não acha? E bebeu de uma vez só.

             Weber olhou para Kurt e pegou a sua caneca que estava no chão, ao lado da cadeira. Cheirou o café e levou-o até a boca e bebeu num só gole também. Os outros três policiais, até o que recusara, vendo o que o chefe fizera repetiram o seu gesto, bebendo de uma só vez todo o conteúdo das canecas.

             A esposa do general observava a cena, com um certo alívio misturado com culpa, por ter, com certeza, eliminado quatro vidas, mesmo sabendo que tratassem de homens que carregavam a maldade a tira colo. Mas uma voz interior segredou-lhe que ela não era tão diferente deles. Teve a sensação que estava com a garganta obstruída. A respiração temporariamente faltou-lhe. Procurou não demonstrar o que estava sentindo e levantou-se para pegar o seu café que tinha deixado na mesa. Mal pegou a sua caneca, o policial que tinha rejeitado, elogiou-a. Com um sorriso disfarçado, pediu até mais um pouco. Helga, respirou aliviada, pegou o bule que estava no fogão e encheu a xicara do nazista. Sorriu amavelmente e entregou-a ao policial. Depois se sentou calmamente na sua cadeira, olhou para o marido e deixou escapar um leve sorriso. Kurt sorriu de volta. Depois, percebendo que o agente Weber tinha observado a troca de sorrisos, falou:

              - Herr Weber. Já tomamos rum, saboreamos o bom café da minha esposa e não sabemos até agora o motivo da sua visita ao meu sobrinho. Parece-me que o senhor veio apenas se aquecer com o nosso café e o nosso rum. Ou melhor: café e rum do meu sobrinho.

             - É Herr general. Já estávamos aqui a quase uma hora e nada do seu sobrinho voltar. Parece até que viemos de tão longe para um passeio. E o mais intrigante é que o senhor nem demonstrou qualquer preocupação com a nossa presença.

             - Herr Weber qual o motivo para me preocupar? Sou um general da Alemanha, condecorado na primeira guerra e nessa, e amigo íntimo de Hitler. Não tenho e não devo ter qualquer preocupação. Eu acho estranho é o senhor vir até aqui e para quê?

             - Para quê? O senhor ainda pergunta? Parece que o senhor não sabe o motivo da nossa presença? Isso é que é estranho. Um dos amigos mais chegados do nosso führer deveria estar bem informado, não acha?

           - O que eu deveria saber?

           - O seu sobrinho, caro general, está protegendo judeus. O senhor acha que o nosso führer vai gostar de saber disso?

          - Caro Weber, o senhor não está bem informado. O meu sobrinho é muito respeitado. Foi oficial condecorado na primeira grande guerra e que traz consigo a marca que o impossibilitou de lutar agora contra os inimigos da Alemanha.

          - Nós sabemos. Só que o que eu sei, Herr general, e só eu sei, vai colocá-lo em maus lençóis. Quando o führer souber, não só o senhor, mas toda a sua família, que se diz tão poderosa, vai perder toda a pompa. Herr general eu sempre quis isso: acabar com todos vocês. Todo o poder que vocês têm vão para um campo de concentração.

          - Que ódio é esse, Herr chefe? O senhor sabe se eu falar com o nosso führer o senhor é quem vai ficar em maus lençóis!

 .....Continua Semana que vem!

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Pensamento de Poeta - Construido um Mundo

 

 


Construindo um Mundo

                                          - José Timotheo -

 

Não tenho pressa

Caminho, quase sem andar

Meu pensamento

Vai limpando a estrada

Onde tem pedra

Planto uma árvore

Se puder, faço nascer flor

Caminho sem pressa

Vou chegar aonde quero

Mesmo não sabendo onde  

É esse lugar

O que importa isso?

Para quê determinar direção?

O que me leva é a ação

Vou sem pressa

Para poder chegar

E lá chegando

Não vou parar

O meu sonho

Já espalhou a semente

Posso até colher frutos

E alimentar a minha alma

É lá que está o céu

O sol, a água

O sal

A vida está lá

Está escrito

É possível

                                                           Fim

 

    Eu e a minha amiga Martha Taruma, desejamos um Natal pra lá de feliz e um Ano Novo melhor do que esse que chega ao fim, para todos os amigos que nos acompanham, pacientemente, há vários anos. Que Deus abençoe a caminhada de cada um, protegendo-o nas estradas esburacadas da vida. Somos gratos a todos. Gratidão. Gratidão. Gratidão.