Continuando...
O tempo corria, Kurt foi até a cozinha e, depois de tomar todo o café da caneca, encheu-a de vinho. Voltou e sentou-se na cadeira ao lado da esposa. Ela então passou a mão na sua cabeça, tentando arrumar o penteado, que o vento tinha espalhado um pouco. Em seguida levantou-se e beijou-lhe a face. Andou um pouco para lá e para cá, até que não resistindo à ansiedade, perguntou:
- Querido, será que eles vêm mesmo?
- Sem dúvida. Se já não estão na redondeza.
- Será?
- Com certeza. Querida...
- O que foi Kurt? – perguntou, deixando claro na sua entonação, a sua preocupação.
- Quando eles chegarem não poderemos deixar que percebam a nossa preocupação. Já passamos por momentos difíceis e nos saímos bem, certo? Então, vamos ficar o mais calmo possível. Escuta: se for preciso, e eu acho que vai ser, vamos aplicar o nosso plano “café com leite”, certo?
- Kurt, nós já fizemos isso uma vez. E esperava nunca mais precisar usá-lo novamente. Você sabe que eles vêm sempre em dois carros. Como pode dar certo? Na primeira vez eram somente duas pessoas, agora podem ser oito.
- Mas tem que dar certo. Tem café suficiente para todos eles?
- Sim, tem.
- Então vamos conseguir. Está bastante frio e a temperatura vai descer mais. Temos que contar com a sorte.
- E se nem todos quiserem o café?
O general ficou pensativo. Depois de algum tempo pediu para a esposa pegar uma garrafa de rum que o sobrinho tinha guardado na cristaleira. Ela trouxe e, antes de colocar em cima da mesa, perguntou:
- Kurt para que o rum?
- Helga, prepara esse rum também.
- Desistiu do café?
- Não. Prepara os dois. Mas antes vamos colocar nas nossas canecas.
- Está bem. Posso passar o café?
- Mas não tem o suficiente?
- Tem, mas acho melhor preparar outro. Vou trazer aqui para fora e fazer aqui nesse fogão. É melhor que me vejam fazendo. São muito espertos.
- Perfeito.
- Kurt, será que Deus vai me castigar?
- Estamos em guerra. É pela nossa sobrevivência e a dos nossos familiares. Você pensa que eles nos deixarão com vida? De jeito nenhum, minha querida. Vão arranjar algum acidente para nos tirar do caminho, com certeza. A minha amizade com o führer causa muito ciúme. Sempre fui uma pedra no sapato de muita gente. Deus não vai nos castigar por isso, Helga. Vamos acelerando.
Helga foi para a cozinha e trouxe o bule e o pó de café, enquanto Kurt acendia o fogão a lenha. Depois ela pegou a garrafa de rum e colocou em cima da mesa. Em seguida despejou o café nas canecas deles dois e numa terceira, que colocou junto com outras vazias, e foi lavar o bule. Enquanto o marido terminava de acender o fogão, ela pegou um pequeno frasco, em um compartimento escondido na sua bolsa, e despejou a metade do conteúdo dentro do bule. Em outra vasilha colocou água e deixou em uma das bocas do fogão para ferver. Como o fogão ainda não estava completamente quente a água ia demorar pelo menos quinze minutos até o ponto de fervura.
O general já estava sentado numa cadeira com a sua caneca na mão. Chamou a mulher para sentar-se ao seu lado, para esperar os nazistas chegarem. Helga pegou a sua caneca que estava em cima da mesa e sentou-se ao seu lado. Sorriu para ele e levantou a caneca propondo um brinde. Ele bateu a sua na dela, mas sem entender o porquê do brinde. Ela adivinhou o seu pensamento e disse:
- Querido. Isso não quer dizer nada. É só para descontrair e torcer para que tudo dê certo.
Terminou de falar, bebericou o café e, ao olhar para mesa, viu a garrafa de rum, e lembrou-se que não tinha colocado a porção venenosa dentro. Levantou-se e foi terminar o serviço que tinha esquecido. Nisso o marido que tinha acabado de pegar o binóculo e olhado para a estrada, levantou-se rapidamente e disse:
- Helga. Eles estão chegando. Só tem um carro, com quatro agentes. Para onde será que foi o outro? Estranho. Não coloque nada dentro da bebida.
- Por quê?
- Não vai dar tempo. Esquece. Faz melhor, leva a garrafa lá pra dentro. Vamos apostar só no café. Mas antes joga a sua xicara no chão. Acho que assim vai ser melhor. A água já deve estar quase fervida.
- Dá tempo sim, Kurt, de colocar o “remédio” na bebida.
- Esquece. Não podemos correr risco.
......Continua na Semana que vem!
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