terça-feira, 19 de dezembro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 84

 


Continuando...

        A mulher não questionou mais e fez o que ele falou, jogando a caneca no chão. Mas antes jogou um pouco de café com rum em cima da mesa.

        Kurt já estava sentado novamente e tinha guardado o seu pequeno binóculo dentro do casaco. Pegou novamente a sua caneca e ficou bebericando, enquanto Helga entrava em casa para pegar algum pano para enxugar a mesa.

        Em poucos minutos o carro parava ao lado da casa. Rapidamente desceram os quatro agentes. Kurt continuou sentado sem demonstrar nenhuma ansiedade com a chegada deles. Deu mais uma bicada na caneca e olhou para os agentes que entravam.

        - Boa tarde, Herr General. – falou o que tinha a casaca mais longa, e que vinha na frente.

        - Boa tarde, Herr... – respondeu o general, que no momento já estava de pé e fazia a saudação nazista.

       O agente fez também a saudação e disse o seu nome.

       - Weber. É o meu nome.

       - Senta-se. O que traz o senhor aqui por essas bandas?

       - Não é aqui a casa do seu sobrinho?

       - É sim. Bati com a cara na porta, mas como eu sabia onde guardavam a chave, tomei a liberdade e abri a casa. Estou aqui para atender um chamado do sobrinho, para atender o filho dele que está com muita febre. Mas pelo jeito parece que o garoto melhorou. Eles não estavam em casa, mas não devem demorar.

       - O senhor sabe, Herr general, para onde eles foram?

       - Não senhor. Mas vou aguardar eles chegarem.

       Nisso a esposa do general sai de dentro da casa com uma vasilha com água e um pano. O agente tira o chapéu e cumprimenta Helga.

       Ela responde apenas com a cabeça e sorri um sorriso meio tímido. Depois pede licença e vai até o lado da mesa, se abaixa e cata os cacos que estão no chão. Leva-os até uma lata de lixo e despeja-os. Volta e limpa a mesa. Nisso o general comenta:

       - Herr Weber, a minha esposa vai fazer outro café, porque o dela caiu. O senhor gostaria de tomar uma xicara? Não só o senhor, mas também os seus agentes, é claro! O frio está aumentando. Se não tiver pressa é só esperar um pouquinho. A água deve está quase fervendo. Vamos sentar?

       O agente não respondeu nem que sim e nem que não, apenas olhou para os outros três, parecendo que esperava alguma concordância deles, ou apenas um sinal para que também se sentassem. E realmente foi a segunda hipótese, pois cada um escolheu uma cadeira e se acomodou sem fazer qualquer tipo de ruído. Aí sim é que Weber se sentou ao lado do general, na cadeira que seria de Frau Helga.

       A esposa de Kurt se dirigiu para o fogão e olhou para ver se a água já estava fervendo. A ebulição iniciava-se. Ela então abriu o armário, ao lado do fogão, e pegou uma vasilha com o pó de café, abriu-a e, o aroma do café subiu no ar e tomou conta do ambiente, pegou a colher que estava próxima ao coador. Mas antes de encher olhou para o visitante e perguntou:

       - Herr Weber, gosta do café bem forte ou mais fraquinho?

       O agente, antes de responder, levantou-se e se encaminhou até onde estava Helga. Olhou o bule, pegou, examinou-o e finalmente cheirou-o. Depois fez o mesmo com o vasilhame do pó de café. Olhou para Helga, sorriu e respondeu a sua pergunta.

         - Frau Helga, gosto do café bem forte. Por favor.

          - Sim senhor. Também gostamos dele bem encorpado. O meu marido não gosta de ver o outro lado da xícara, através do café.

         Helga colocou três colheres do pó no coador e esperou uns minutos até que passasse. O cheiro chegou até aos agentes da Gestapo, que instintivamente deixaram escapar um leve sorriso de satisfação. Mesmo ainda não tendo bebido um gole sequer, aquele cheiro tinha trazido uma sensação de prazer. Helga percebeu as expressões e comentou:

          - Herr Weber como o café nos levanta o ânimo! Traz até uma certa felicidade! Beber um bom café é prazeroso e espanta até a tristeza, se ela estiver por perto, é claro! O senhor não acha?

          O agente sorriu, mas não quis fazer qualquer tipo de comentário, apenas pediu que ela servisse o café. Helga pegou a bandeja com as xicaras e colocou-a em cima da mesa. Observou que tinha cinco xicaras, então colocou mais uma.

 Pegou o bule e foi enchendo uma a uma com calma. Depois de encher as quatro com visibilidade para os agentes, torceu um pouco o corpo e pareceu que estava enchendo as outras. Mas a sexta xicara continuou vazia. Ela então retirou-a, deixando-a em cima da mesa. Depois pegou a sua xícara e levou-a aos lábios, sorveu o liquido lentamente, sorriu e disse:

           - Que maravilha! Como eu gosto de café! Para mim é a melhor bebida do mundo! E modéstia à parte, o meu café é o melhor.

         Nisso o marido interviu:

          - Helga, assim o café vai esfriar! Com esse discurso todo, daqui a pouco vai ter que esquentá-lo novamente!

          - Desculpe senhores. Acho que estou me elogiando antes dos senhores provarem. Fiquei com o ego inflado. Mais uma vez desculpe.

......Continua Semana que vem!

 

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