terça-feira, 10 de setembro de 2019

A História de Helô - Parte 49



Continuando...

Enquanto as duas conversavam, um jovem, que não devia passar dos trinta e dois anos, desceu de um taxi em frente ao portão. Pagou a corrida e dirigiu-se a um dos recepcionistas. Apresentou um convite e a sua carteira de identidade, que fora pedida por um dos recepcionistas, e, colocando os braços para trás, esperou a conclusão das formalidades. O segundo pegou o convite e foi verificar na lista. Olhou e viu que o número não batia com o nome, mas, quando ia falar alguma coisa, ficou com o olhar perdido no nada e um sorriso sem motivo aparente aflorou dos seus lábios. Nesse mesmo instante, Helô olhou para o portão e ficou surpresa ao ver a Madre Maria de Lourdes envolvendo os três num abraço de luz. Quando voltou os olhos para a irmã Gertrudes, ela já ia a dois passos adiante, mas sem mais nem menos parou, gesticulou e falou alguma coisa, mas que Helô não entendeu. Então, como não tinha entendido a sua saída assim rápido, perguntou:
          - O que foi, irmã? Por que está indo embora? E não entendi o que a senhora falou!
          - Tenho que ir! Está na minha hora! E só falei, tchau! Fique com Deus, minha filha!
          - Obrigada, irmã. Vai com Deus também.
          O recepcionista, que pegou o convite para conferir na listagem, voltou os olhos novamente para a relação de convidados e dessa vez viu que constava o nome do rapaz na lista. O outro rapidamente abriu o portão deixando-o passar.  Helô ficou olhando, com o coração aos pulos, ele vir em sua direção. Caminhava a passos curtos e firmes. A Madre Maria de Lourdes, sem que ele percebesse, direcionava-o.
          A menina parecia que estava petrificada. Onde tinha parado, no momento em que conversava com a irmã Gertrudes, ali ficou. Estava anestesiada, não mexia um músculo sequer, mas quando deu conta de si o rapaz já estava em pé na sua frente. Os dois olhavam-se sem emitir qualquer som. Pareciam hipnotizados ou duas estátuas, porém com vida, tendo em vista que os corações batiam, mas em um total descompasso. O pouco que Helô raciocinava, não conseguia entender o que estava acontecendo com ela, entretanto uma única certeza apareceu clara na sua mente: o seu coração já não era mais só dela, batia também dentro do peito daquela pessoa que estava à sua frente. Ele por sua vez também sentiu a mesma coisa. Era a certeza que dali pra frente enxergaria com os olhos dela, o seu coração bateria no peito dela, o ar que respiraria seria o mesmo respirado por ela, tudo seu jamais seria só seu. Agora existia Helô  e isso era uma confusão só na sua cabeça. A experiência de vida que tinha, não estava dizendo nada. Parecia um adolescente frente à primeira namorada. Não conseguia falar nada e tinha as pernas completamente bambas. Como explicar aquilo? Amor à primeira vista? Era só isso.
          A Madre Maria de Lourdes sorria feliz. Bebia aquela fusão de dois corações que se pertenciam há muitos séculos. Olhou para Helô e percebeu que estava chegando a hora de deixá-la por conta própria. Tentou mandar-lhe alguma mensagem, mas sentiu que naquele momento não seria ouvida. Sorriu para si mesma e virou fumaça.
          O tempo que ficaram em silêncio não precisava ser medido. Nessa troca de emoções não era permitida qualquer interrupção. Era um idílio espiritual. Não trocavam qualquer palavra oral. Um de frente para o outro, como duas estátuas, falando sem palavras. Naquele momento qualquer fração de tempo era eterna. Quando retornariam do imponderável? Ninguém deveria questionar. Apenas esperar.
          Na outra extremidade do jardim o padre observava o rapaz próximo de Helô. Arcanjo tinha descido logo depois dela e tomava conta do portão. Parecia que esperava alguém, como Helô. Ele estava tão distraído que não percebeu a aproximação do senador. Só pisou no chão quando o senador interrogou-o:
          - Padre, que é que está olhando, há tanto tempo, com tanta atenção?
          - Puxa, senador, que susto! Estava aqui olhando, olhando. Na verdade esperando o meu amigo Blanco que até agora não veio. É mais um para o carteado e para as meninas.
          - Lembro-me dele, mas você não estava olhando para o portão.
          - É o seguinte, senador: você conhece aquele rapaz – apontando na direção – que está com Helô?
         - Não. E não é meu convidado, com certeza. Será um penetra? Temos que abordá-lo! Vai lá! Se não for amigo, bota pra fora!
          Rapidamente Arcanjo aproximou-se do jovem. Sem rodeios, foi indagando:
          - Meu jovem, o meu amigo senador está curioso, pois foi ele o responsável em convidar praticamente todas as pessoas para a festa, já que não o conhece gostaria de saber quem o convidou.
          - Sim, desculpe, não entendi o que o senhor falou. Algum problema?
         - Sim. Sim. Não. É que o meu amigo, o senador, não o conhece. Ele gostaria de saber quem o convidou.
          O rapaz, que parecia estar mais no céu do que na terra, deu um sorriso meio sem jeito. Olhava para o padre sem nada falar. Custou um pouco a se situar. Passou a mão no cabelo e em seguida disse, sem, no entanto, responder à pergunta do padre.
          - Sou o delegado da Polícia Federal, Rodolfo. – esticou a mão para cumprimentá-lo.
         - Delegado? Isso mesmo?
         - Sim. Vim em cima da hora, em substituição ao delegado Evan, que por sua vez substituiu o delegado Áureo. Não sei qual foi o motivo da desistência dos dois. Algum contratempo...isso acontece, então acabou sobrando para mim. Incomodo?
          - Não! Claro que não! Foi só curiosidade mesmo! Fique à vontade! 
.........................Continua semana que vem!

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