Continuando...
Enquanto
as duas conversavam, um jovem, que não devia passar dos trinta e dois anos,
desceu de um taxi em frente ao portão. Pagou a corrida e dirigiu-se a um dos
recepcionistas. Apresentou um convite e a sua carteira de identidade, que fora
pedida por um dos recepcionistas, e, colocando os braços para trás, esperou a
conclusão das formalidades. O segundo pegou o convite e foi verificar na lista.
Olhou e viu que o número não batia com o nome, mas, quando ia falar alguma
coisa, ficou com o olhar perdido no nada e um sorriso sem motivo aparente
aflorou dos seus lábios. Nesse mesmo instante, Helô olhou para o portão e ficou
surpresa ao ver a Madre Maria de Lourdes envolvendo os três num abraço de luz.
Quando voltou os olhos para a irmã Gertrudes, ela já ia a dois passos adiante,
mas sem mais nem menos parou, gesticulou e falou alguma coisa, mas que Helô não
entendeu. Então, como não tinha entendido a sua saída assim rápido, perguntou:
- O que foi, irmã? Por que está indo
embora? E não entendi o que a senhora falou!
- Tenho que ir! Está na minha hora! E
só falei, tchau! Fique com Deus, minha filha!
- Obrigada, irmã. Vai com Deus
também.
O recepcionista, que pegou o convite
para conferir na listagem, voltou os olhos novamente para a relação de
convidados e dessa vez viu que constava o nome do rapaz na lista. O outro
rapidamente abriu o portão deixando-o passar.
Helô ficou olhando, com o coração aos pulos, ele vir em sua direção.
Caminhava a passos curtos e firmes. A Madre Maria de Lourdes, sem que ele
percebesse, direcionava-o.
A menina parecia que estava petrificada.
Onde tinha parado, no momento em que conversava com a irmã Gertrudes, ali ficou.
Estava anestesiada, não mexia um músculo sequer, mas quando deu conta de si o rapaz
já estava em pé na sua frente. Os dois olhavam-se sem emitir qualquer som.
Pareciam hipnotizados ou duas estátuas, porém com vida, tendo em vista que os
corações batiam, mas em um total descompasso. O pouco que Helô raciocinava, não
conseguia entender o que estava acontecendo com ela, entretanto uma única
certeza apareceu clara na sua mente: o seu coração já não era mais só dela, batia
também dentro do peito daquela pessoa que estava à sua frente. Ele por sua vez
também sentiu a mesma coisa. Era a certeza que dali pra frente enxergaria com
os olhos dela, o seu coração bateria no peito dela, o ar que respiraria seria o
mesmo respirado por ela, tudo seu jamais seria só seu. Agora existia Helô e isso era uma confusão só na sua cabeça. A
experiência de vida que tinha, não estava dizendo nada. Parecia um adolescente
frente à primeira namorada. Não conseguia falar nada e tinha as pernas completamente
bambas. Como explicar aquilo? Amor à primeira vista? Era só isso.
A Madre Maria de Lourdes sorria
feliz. Bebia aquela fusão de dois corações que se pertenciam há muitos séculos.
Olhou para Helô e percebeu que estava chegando a hora de deixá-la por conta
própria. Tentou mandar-lhe alguma mensagem, mas sentiu que naquele momento não
seria ouvida. Sorriu para si mesma e virou fumaça.
O tempo que ficaram em silêncio não
precisava ser medido. Nessa troca de emoções não era permitida qualquer
interrupção. Era um idílio espiritual. Não trocavam qualquer palavra oral. Um
de frente para o outro, como duas estátuas, falando sem palavras. Naquele
momento qualquer fração de tempo era eterna. Quando retornariam do
imponderável? Ninguém deveria questionar. Apenas esperar.
Na outra extremidade do jardim o
padre observava o rapaz próximo de Helô. Arcanjo tinha descido logo depois dela
e tomava conta do portão. Parecia que esperava alguém, como Helô. Ele estava
tão distraído que não percebeu a aproximação do senador. Só pisou no chão
quando o senador interrogou-o:
- Padre, que é que está olhando, há
tanto tempo, com tanta atenção?
- Puxa, senador, que susto! Estava
aqui olhando, olhando. Na verdade esperando o meu amigo Blanco que até agora
não veio. É mais um para o carteado e para as meninas.
- Lembro-me dele, mas você não estava
olhando para o portão.
- É o seguinte, senador: você conhece
aquele rapaz – apontando na direção – que está com Helô?
- Não. E não é meu convidado, com
certeza. Será um penetra? Temos que abordá-lo! Vai lá! Se não for amigo, bota
pra fora!
Rapidamente Arcanjo aproximou-se do
jovem. Sem rodeios, foi indagando:
- Meu jovem, o meu amigo senador está
curioso, pois foi ele o responsável em convidar praticamente todas as pessoas
para a festa, já que não o conhece gostaria de saber quem o convidou.
- Sim, desculpe, não entendi o que o senhor
falou. Algum problema?
- Sim. Sim. Não. É que o meu amigo, o
senador, não o conhece. Ele gostaria de saber quem o convidou.
O rapaz, que parecia estar mais no
céu do que na terra, deu um sorriso meio sem jeito. Olhava para o padre sem
nada falar. Custou um pouco a se situar. Passou a mão no cabelo e em seguida
disse, sem, no entanto, responder à pergunta do padre.
- Sou o delegado da Polícia Federal,
Rodolfo. – esticou a mão para cumprimentá-lo.
- Delegado? Isso mesmo?
- Sim. Vim em cima da hora, em
substituição ao delegado Evan, que por sua vez substituiu o delegado Áureo. Não
sei qual foi o motivo da desistência dos dois. Algum contratempo...isso
acontece, então acabou sobrando para mim. Incomodo?
- Não! Claro que não! Foi só curiosidade
mesmo! Fique à vontade! .........................Continua semana que vem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário