terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 14

Continuando...
Ela fica olhando pra ele, mas parece que não o está vendo. Depois de um período de alienação, fala:
          - É... Talvez... Onde está PC? Ele disse que ia ao banheiro. Ele já apareceu? Mas eu vi! Não estou maluca, não! Aquele par de olhos... Azuis! Muito azuis! Eles olhavam pra mim! Aquela gargalhada!
            Nesse momento os degraus já estavam cheios de gente. Próximo de Lucinha tinha um garçom, que tentando ajudá-la, oferece uma bebida:
          - A senhora aceita uma bebida? É bom pra relaxar.
            Lucinha olha para o garçom, dá um sorriso morno, estica o braço e pega um copo de uísque. Levanta-se, com a ajuda do delegado, e, pedindo licença, vai descendo a escada. Já embaixo, no salão, o delegado leva-a até uma poltrona. Ela bebe um gole, antes de sentar-se. Entrega o copo ao delegado e se acomoda no assento. Fecha os olhos, mas não consegue relaxar. A visão começa a passear pela sua mente. De repente, ao abrir os olhos, grita desesperada. Mas uma voz suave tenta acalmá-la:
         - Calma senhorita. O que houve? O que está se passando? Você está entre amigos. Fique tranquila.
            Lucinha para de gritar, mas não consegue articular palavra. Abre os olhos assustada. Parece que está vendo uma assombração. Baixa a cabeça imediatamente. Não consegue encarar o par de olhos azuis que estava devorando-a. Então a pessoa a sua frente fala docemente:
          - Oh! Senhorita! Senhorita! Desculpe esse seu criado! Devo me apresentar. Com certeza a senhorita não me conhece pessoalmente. Talvez por nome: L. W. Rich, Rique para os íntimos, às suas ordens.
             Depois de um pequeno período em silêncio, finalmente Lucinha levanta a cabeça. Olha meio desconfiada para o senhor que se posta a sua frente. Não consegue falar nada, mas finalmente deixa escapulir um leve sorriso. Então LW aproveita que a repórter já está apresentando uma leve melhora, continua falando:
          - Parece que assustei a senhorita. Mais uma vez, me desculpe. Essa não foi a minha intensão. Soube pelo meu garçom que a senhorita não estava se sentindo bem. Foi um susto? Não foi isso?
            Lucinha não consegue responder. Continua olhando para o anfitrião, emudecida. Ele então, tentando faze-la se descontrair, fala:
         - Conheço o seu trabalho e sei que a senhorita é uma repórter de fibra. Sempre equilibrada e determinada. O que houve hoje, que a deixou nervosa? Uma moça tão linda como você. Tenho alguns quartos a disposição dos meus convidados. Caso queira repousar um pouco, a fim de recuperar o controle, pode dispor de um deles.
            Antes mesmo de terminar de falar, Rique vai se virando e caminha em direção à escada. Quando chega ao topo, para e se vira. Fixa os seus olhos azuis nos olhos de Lucinha, sorrir e some de vista. Um olhar misto de dor e morte fez com que ela se arrepiasse toda. Um pressentimento ruim invadiu o seu coração. Ela olha para o delegado e fala:
          - Carlos, senti uma coisa muito ruim. Não gostei nada, nada desse senhor. Foram esses olhos que vi refletido no espelho. Tenho certeza. Eles fazem me lembrar de morte. Estou ficando maluca? Até a gargalhada continua ecoando dentro da minha cabeça.
            O delegado se abaixa em frente de Lucinha, pega na sua mão, faz um carinho e fala:
          - Você está tensa. Vamos lá pra fora pegar um pouco de ar. Depois tomamos um chope para relaxar. Você só está um pouco impressionada. Devem ter sido os olhos azuis dele. Eu também quando vejo alguém com olhos azuis, lembro-me das pessoas que foram mortas. E fico pensando se ela não será a próxima vítima.
          - Será? Carlos, temos que procurar PC.
          - Ele deve ter ido embora.
          - Não. Ele jamais faria isso com a gente. Pode até ser um maluco, mas é amigo. Além de ser um repórter responsável. Pode escrever aí: aconteceu alguma coisa com ele.
          - Será que ficou de porre mesmo?
          - Pode ser. Então deve estar em algum quarto curando a bebedeira. Vamos atrás! O tal senhor – Rique para os íntimos! – não disse que tem vários quartos a disposição dos convidados? MD pode estar dentro de um desses! Carlos, ele não foi embora. Eu o conheço muito bem.
         - Você falou, está falado! Por onde começamos?
         - Você é que é o policial! Você é que sabe!
         - Está bem. Vamos subir. Eu observei que além desse andar, tem mais outro. Você olha nesse primeiro e eu vou para o outro.
        - Não é perigoso? Estou com medo. Acho melhor irmos juntos.
        - Não precisa. Não vai ter problema. Assim andamos mais rápido. Mas qualquer anormalidade você grita. Combinado?
       - Tudo bem. Gritar é comigo mesmo!
           Antes de começar a empreitada, o delegado olha ao redor e observa que em alguns pontos foram aparecendo seguranças. Eram homens de terno preto e óculos escuros. Notou que na altura do bolso superior de cada um tinha um volume, que podia ser de uma arma de fogo. Antes de subir a escada comenta com Lucinha:
         - Não olha não. Mas apareceram alguns seguranças e estão espalhados pelo salão. E eu acho que estão armados. Fica atenta. Vamos subindo devagar sem levantar suspeitas. Vamos subir abraçados?
        - Mas não vai te comprometer? 
        - De jeito nenhum. Quem vai prestar atenção na gente? Minha única preocupação agora, é se tem seguranças lá em cima. Aí pode atrapalhar os nossos planos. De resto... Não estou me preocupando com mais nada.
          - Então chega pra cá! Já que não tem problema, vamos agarradinhos!
             Os dois sobem bem devagar. O delegado dá um beijo no rosto de Lucinha, fala alguma coisa e sorrir.  Ao chegar ao primeiro andar, antes de se separarem, prestam atenção no papo de um casal:
           - Você viu aquela velha lá na piscina, Augusto?
           - Aquela toda de vermelho?
           - É! Sabe que ela fez topless? Que troço mais de ridículo!
           - E você não sabe quem é ela! E não é tão velha assim!
           - Quem é?
           - Minha querida Olga. Você não prestou atenção. Se tivesse olhado com atenção, ia saber quem era.
          - Fala logo!
          - Senta pra não cair. É a mulher do senador...
          - Já sei! Não precisa nem falar! É uma ordinária! Bel me disse que ela ganhou de um deputado – aquele que está envolvido em algumas falcatruas! - O seu amigo do peito! – um anel de brilhante, que de tão pesado é capaz de quebrar o dedo!
          - Amigo uma ova! De velha ela não tem nada. Mas de velhaca, tem tudo!
            Os dois caem na gargalhada. Lucinha então olha para o delegado, balança a cabeça e fala:

         - Não vamos perder nosso tempo com isso não! Vamos procurar o nosso amigo? Sobe para o outro andar, que eu vou olhar nesse. Bom que não tem nenhum segurança. Aqui a gente pode dar um beijinho. Eu falei um beijinho. Vai! Vai!
             Continua semana que vem...

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