Ela fica
olhando pra ele, mas parece que não o está vendo. Depois de um período de
alienação, fala:
- É... Talvez... Onde está PC? Ele
disse que ia ao banheiro. Ele já apareceu? Mas eu vi! Não estou maluca, não!
Aquele par de olhos... Azuis! Muito azuis! Eles olhavam pra mim! Aquela
gargalhada!
Nesse momento os degraus já estavam
cheios de gente. Próximo de Lucinha tinha um garçom, que tentando ajudá-la, oferece
uma bebida:
- A senhora aceita uma bebida? É bom
pra relaxar.
Lucinha olha para o garçom, dá um
sorriso morno, estica o braço e pega um copo de uísque. Levanta-se, com a ajuda
do delegado, e, pedindo licença, vai descendo a escada. Já embaixo, no salão, o
delegado leva-a até uma poltrona. Ela bebe um gole, antes de sentar-se. Entrega
o copo ao delegado e se acomoda no assento. Fecha os olhos, mas não consegue
relaxar. A visão começa a passear pela sua mente. De repente, ao abrir os
olhos, grita desesperada. Mas uma voz suave tenta acalmá-la:
- Calma senhorita. O que houve? O que
está se passando? Você está entre amigos. Fique tranquila.
Lucinha para de gritar, mas não
consegue articular palavra. Abre os olhos assustada. Parece que está vendo uma
assombração. Baixa a cabeça imediatamente. Não consegue encarar o par de olhos
azuis que estava devorando-a. Então a pessoa a sua frente fala docemente:
- Oh! Senhorita! Senhorita! Desculpe
esse seu criado! Devo me apresentar. Com certeza a senhorita não me conhece
pessoalmente. Talvez por nome: L. W. Rich, Rique para os íntimos, às suas
ordens.
Depois de um pequeno período em
silêncio, finalmente Lucinha levanta a cabeça. Olha meio desconfiada para o
senhor que se posta a sua frente. Não consegue falar nada, mas finalmente deixa
escapulir um leve sorriso. Então LW aproveita que a repórter já está
apresentando uma leve melhora, continua falando:
- Parece que assustei a senhorita.
Mais uma vez, me desculpe. Essa não foi a minha intensão. Soube pelo meu garçom
que a senhorita não estava se sentindo bem. Foi um susto? Não foi isso?
Lucinha não consegue responder.
Continua olhando para o anfitrião, emudecida. Ele então, tentando faze-la se
descontrair, fala:
- Conheço o seu trabalho e sei que a
senhorita é uma repórter de fibra. Sempre equilibrada e determinada. O que
houve hoje, que a deixou nervosa? Uma moça tão linda como você. Tenho alguns
quartos a disposição dos meus convidados. Caso queira repousar um pouco, a fim
de recuperar o controle, pode dispor de um deles.
Antes mesmo de terminar de falar,
Rique vai se virando e caminha em direção à escada. Quando chega ao topo, para
e se vira. Fixa os seus olhos azuis nos olhos de Lucinha, sorrir e some de
vista. Um olhar misto de dor e morte fez com que ela se arrepiasse toda. Um
pressentimento ruim invadiu o seu coração. Ela olha para o delegado e fala:
- Carlos, senti uma coisa muito ruim.
Não gostei nada, nada desse senhor. Foram esses olhos que vi refletido no
espelho. Tenho certeza. Eles fazem me lembrar de morte. Estou ficando maluca?
Até a gargalhada continua ecoando dentro da minha cabeça.
O delegado se abaixa em frente de
Lucinha, pega na sua mão, faz um carinho e fala:
- Você está tensa. Vamos lá pra fora
pegar um pouco de ar. Depois tomamos um chope para relaxar. Você só está um
pouco impressionada. Devem ter sido os olhos azuis dele. Eu também quando vejo
alguém com olhos azuis, lembro-me das pessoas que foram mortas. E fico pensando
se ela não será a próxima vítima.
- Será? Carlos, temos que procurar
PC.
- Ele deve ter ido embora.
- Não. Ele jamais faria isso com a
gente. Pode até ser um maluco, mas é amigo. Além de ser um repórter
responsável. Pode escrever aí: aconteceu alguma coisa com ele.
- Será que ficou de porre mesmo?
- Pode ser. Então deve estar em algum
quarto curando a bebedeira. Vamos atrás! O tal senhor – Rique para os íntimos!
– não disse que tem vários quartos a disposição dos convidados? MD pode estar
dentro de um desses! Carlos, ele não foi embora. Eu o conheço muito bem.
- Você falou, está falado! Por onde
começamos?
- Você é que é o policial! Você é que
sabe!
- Está bem. Vamos subir. Eu observei
que além desse andar, tem mais outro. Você olha nesse primeiro e eu vou para o
outro.
- Não é perigoso? Estou com medo. Acho
melhor irmos juntos.
- Não precisa. Não vai ter problema.
Assim andamos mais rápido. Mas qualquer anormalidade você grita. Combinado?
- Tudo bem. Gritar é comigo mesmo!
Antes de começar a empreitada, o
delegado olha ao redor e observa que em alguns pontos foram aparecendo seguranças.
Eram homens de terno preto e óculos escuros. Notou que na altura do bolso
superior de cada um tinha um volume, que podia ser de uma arma de fogo. Antes
de subir a escada comenta com Lucinha:
- Não olha não. Mas apareceram alguns
seguranças e estão espalhados pelo salão. E eu acho que estão armados. Fica
atenta. Vamos subindo devagar sem levantar suspeitas. Vamos subir abraçados?
- Mas não vai te comprometer?
- De jeito nenhum. Quem vai prestar
atenção na gente? Minha única preocupação agora, é se tem seguranças lá em cima. Aí pode atrapalhar
os nossos planos. De resto... Não estou me preocupando com mais nada.
- Então chega pra cá! Já que não tem
problema, vamos agarradinhos!
Os dois sobem bem devagar. O
delegado dá um beijo no rosto de Lucinha, fala alguma coisa e sorrir. Ao chegar ao primeiro andar, antes de se
separarem, prestam atenção no papo de um casal:
- Você viu aquela velha lá na
piscina, Augusto?
- Aquela toda de vermelho?
- É! Sabe que ela fez topless? Que
troço mais de ridículo!
- E você não sabe quem é ela! E não
é tão velha assim!
- Quem é?
- Minha querida Olga. Você não
prestou atenção. Se tivesse olhado com atenção, ia saber quem era.
- Fala logo!
- Senta pra não cair. É a mulher do
senador...
- Já sei! Não precisa nem falar! É
uma ordinária! Bel me disse que ela ganhou de um deputado – aquele que está
envolvido em algumas falcatruas! - O seu amigo do peito! – um anel de
brilhante, que de tão pesado é capaz de quebrar o dedo!
- Amigo uma ova! De velha ela não tem
nada. Mas de velhaca, tem tudo!
Os dois caem na gargalhada. Lucinha
então olha para o delegado, balança a cabeça e fala:
- Não vamos perder nosso tempo com
isso não! Vamos procurar o nosso amigo? Sobe para o outro andar, que eu vou
olhar nesse. Bom que não tem nenhum segurança. Aqui a gente pode dar um
beijinho. Eu falei um beijinho. Vai! Vai!
Continua semana que vem...
Nenhum comentário:
Postar um comentário