terça-feira, 17 de agosto de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 39

 


 Continuando...

           De onde estava agora, com muito sacrifício, poderia contornar uma saliência na pedra e aí ver a amiga. Mas antes disso precisava descansar o suficiente, deixando que as energias voltassem a se equilibrar, enquanto torcia para que a dor ficasse suportável. Depois que se sentiu mais revigorado, com mais fôlego, resolveu ir em frente. Mas de repente uma dúvida invadiu a sua mente:

          - Será que agora vou ter coragem e dizer para Luiza que a amo?

          Depois desse pensamento, que disse sim sem dúvida alguma, esboçou um sorriso e em seguida deu movimento à sua vontade. Devagarzinho foi se arrastando com o corpo colado à pedra. Os movimentos eram estudados para não haver erro. Mas parece que a providência divina dava uma mãozinha arranjando sempre uma pequena saliência para que pudesse se apoiar. Não sabia explicar como conseguia, apesar dos grandes ferimentos, ir em busca de Luiza.  Lembrou-se do assopro que sentiu pelo corpo.

             – Será que foi isso que consertou minha perna e braço? – pensou. – Não! Não pode ser! – retrucou a dúvida.

          O trecho até chegar à Luiza, não passava de poucos metros. Mas surgiu no seu caminho uma protuberância na pedra um pouco maior que as anteriores. Não seria difícil transpô-la se não tivesse braço e perna comprometidos. Sabia que Luiza estava logo depois dali, quase ao alcance das suas mãos. Só que não sabia que seus cálculos não estavam tão precisos. Na verdade Luiza estava depois de outra saliência e dentro de uma cavidade, onde escondia parte do seu corpo. Mesmo sem saber de mais essa dificuldade, estava tão determinado que nada disso atrapalharia a sua chegada até ela.  

          Para André, a sensação era de que seus movimentos, apesar do seu estado físico, respondiam satisfatoriamente. Mas era pura ilusão. Ele se arrastava no paredão com muito esforço e não percebia que cada centímetro conquistado era muito demorado. Mas era um obstinado. Se arrastar, realmente, era o que permitia o seu estado. E o tempo se arrastava junto com ele. Já estava exausto. Parou então para respirar um pouco. Mas respirar com cuidado, pois a costela doía. Mexeu na lembrança, mas não encontrou nenhum momento em que houvera quebrado algum osso do seu corpo. Analisou que recordar, às vezes não leva a nada. O que o passado poderia fazer pelo presente? O negócio é tentar resolver o presente com o agora. Com sacrifício voltou a se arrastar e com esse esforço hercúleo acabou conseguindo vencer, depois de horas, mais um pedaço do seu caminho pedregoso. E como prêmio, ganhou a visão de Luiza. A alegria que sentiu não tinha aparelho algum que pudesse medir. O coração quase saiu pela boca. A primeira reação que teve foi chamar por ela. E gritou como nunca gritara antes, fazendo com que o seu nome ecoasse por todo o vale. André não sentindo qualquer reação de Luiza, gritou novamente. Mas ela não respondeu e nem sequer se mexeu. Da explosão de alegria que tivera para a tristeza foi um pulo. As lágrimas descontroladas desabaram pelo seu rosto. Estava perdido dentro da dor. Num repente gritou olhando para o céu, num desabafo a Deus:

          - Meu Deus!  O Senhor não podia fazer isso comigo! Pelo menos tinha que ter deixado eu falar do meu amor!  Eu a amo! O Senhor sabia...

         Ele estava descontrolado. A sua alma estava em frangalhos, juntamente com o seu corpo. Não sabia se conseguiria chegar até Luiza. E ela não estava tão longe assim. Parado, via que estava com o rosto colado na pedra, e não admitia que pudesse estar morta. Nisso um pensamento brotou na sua cabeça dizendo para que fosse até lá, o mais rápido possível, e dissesse que a amava. Com a intuição, o choro parou. A última lágrima ainda escorregava pelo rosto.

..................Continua semana que vem!

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário