domingo, 13 de outubro de 2019

A História de Helô - Parte 53



Continuando...

          Estavam andando despreocupados. Passaram por algumas pessoas, mas era como se não existissem. As suas presenças eram totalmente ignoradas. Helô, que já estava de mãos dadas com o delegado, parou em frente a uma porta que estava totalmente aberta. Avisou que era ali o local e convidou-o a entrar. A irmã Fátima estava sentada no lugar de sempre. Eles se aproximaram e observaram que ela dormia, ou pelo menos parecia, mas, estranhamente, com uma caneta na mão escrevia alguma coisa. A caneta estava parada na superfície do papel e não tinha concluído uma palavra. Os olhos abertos, olhando para o caderno, era uma estátua. O delegado achou estranho, ia chamar pela irmã, mas Helô pediu para que não fizesse isso. Puxou-o pela mão e levou-o até onde estavam os quadros. Apontou na direção que estava a foto da irmã, pintada por um artista enviado pela igreja.
          Rodolfo começou a circular pela sala observando cada acervo do convento. Eram muitos objetos antigos. Depois voltou para o balcão com a intenção de acordar a irmã Fátima, porém mais uma vez foi interrompido por Helô, que falando baixo, disse:
          - Rodolfo, deixa-a dormir. Foi a Madre que a deixou assim. A gente conhece muito bem a irmã Fátima. Ela fala pelos cotovelos. Ia fazer tantas perguntas que o melhor é deixá-la dormindo. A Madre achou melhor deixá-la fora de cena. Quando a gente sair, ela acorda. Nem vai perceber o que aconteceu.
          Ele sorriu, um sorriso meio sem graça, mas preferiu não questionar, já tinha um emaranhado de informações estranhas pra desfiar. Helô sentiu que ele estava cheio de interrogações na cabeça. Não sabia o que poderia fazer para ajudá-lo. A Madre então mais uma vez interveio e o melhor era tirá-lo dali. Pediu a Helô para que fizesse com que ele fechasse os olhos. Ela então obedeceu, mesmo não sabendo para quê.
          - Rodolfo, a Madre está pedindo para que você feche os olhos.
          - Pra quê?
          - Não sei bem, mas deve ser para levá-lo para algum lugar. Eu vou fechar os meus olhos também. Vamos juntos. Está com medo?
         - Não. Acho que não, mas vou fazer o que você me pede.
         - O que ela for fazer você não vai nem perceber.
         - Estou tranquilo. Vou fechar.
          Foi no tempo de uma piscadela de olhos  que Helô tocou no seu braço dizendo que já podia abrir os seus olhos. Ao fazer isso levou o maior susto: estava de frente para a entrada da gruta. Não conseguiu entender nada do que tinha acontecido. Parecia que estava plantado feito uma árvore, preso no chão. Não conseguiu se mover, nem falar. O olhar esbugalhado e fixo no buraco, ali na sua frente, fez Helô deixar escapar um sorriso. Depois, deixando o seu companheiro absorver aquela situação sozinho, mas tão diferente para ele, falou com a entidade:
          - Madre, eu nunca tinha visto aquele riacho, ali na frente.
          - Você está vendo?
          - Sim. Estou vendo.
          - Era tão bonito! Quando criança vinha muito aqui, mas o que você vê são as vibrações deixadas por ele. Para as suas vistas da carne ele já secou há muito tempo, mas a sua visão espiritual está melhorando a cada dia. Daqui a pouco você vai confundir-se com os dois planos. Não vai saber direito quem é quem.
          - É mesmo, Madre? A toda hora vou ver gente que já morreu? 
          - Sim e não. Você vai se preparar para isso. Acho que exagerei um pouco, não é?  Não se preocupe, não. Não é assim também como falei.  Você vai ver um desencarnado, mas não a toda hora. Você mesma vai conseguir equilibrar isso na sua vida. Quando não quiser ver, usa um tapa olho. Quando precisar enxergar, tira-o. Nem todo mundo pode fazer isso, mas você já tem essa capacidade latente. O tempo vai lhe mostrar. 
          Enquanto elas conversavam por telepatia, o delegado Rodolfo continuava olhando para a entrada da gruta. Ele ainda não conseguia entender nada do que estava acontecendo. A sua lembrança carregava-o para uma sala onde estava olhando para pinturas de antigas dirigentes do convento. Era uma confusão só na sua cabeça. A Madre Maria de Lourdes percebeu o que estava acontecendo e achou melhor levá-lo de volta para a sala de onde tinha saído. Pediu a Helô para mandar o delegado fechar os olhos novamente. Era melhor levá-lo até ali pelo modo tradicional: a pé.   Isso aconteceu depois. O delegado, quando abriu os olhos, já estava de volta à sala de recepção. Sorriu achando que tinha sonhado. Olhou para a mesa onde estava a irmã Fátima e viu que ela continuava na mesma posição. Helô sorriu e pegando-o pela mão, dirigiu-se para a saída.  Do lado de fora, convidou-o a conhecer outros lugares no convento. Enquanto andavam, conversavam. A Madre ia junto ouvindo a conversa. Ouvia e analisava.
          Além de várias coisas que Helô havia falado com o delegado, as anotações e as suspeitas sobre o que podia estar acontecendo com a irmã Amélia, a Madre Maria de Lourdes achou melhor levá-lo até o interior da gruta. Então pediu à menina para convidá-lo a dar um passeio até lá. Helô ficou pensativa, não tendo certeza de que ele fosse aceitar. Ele já tinha ido até lá e ficado de um jeito muito estranho, numa alienação só, mas mesmo assim ela fez o convite.
         - Rodolfo, vamos caminhar um pouco pela propriedade? Acho que poderíamos ir até a gruta, mas agora caminhando normalmente como todo mortal. Vamos?
          O delegado a princípio ficou mudo. Analisava o que Helô tinha falado. Como nunca tinha ido até a gruta, não entendia o convite daquela forma. Ela então, com o mutismo de Rodolfo, pensou que ele não tivesse aceitado. Aí deixou claro no seu semblante que estava decepcionada. Ele percebendo, deu um sorriso e disse:
          - Eu vou para onde você me levar. Eu confio em você de olhos fechados. 
................Continua semana que vem!

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