terça-feira, 4 de junho de 2019

A História de Helô - Parte 35

Continuando...

          A Madre já estava em frente de outra porta e essa era mais larga, parecia com as portas de hospitais, onde passavam com facilidade macas transportando pacientes. Sinalizou para Helô. Ela aproximou-se e, como não tinha fechadura, meteu as mãos para empurrar, mas retrocedeu de repente. A Madre mentalmente disse que podia ir em frente, que do outro lado estava liberado.  Ela, então, com decisão empurrou as duas bandas da porta e abriu-a. Uma sala menor do que a anterior surgiu à sua frente. Não identificou os equipamentos que continha, mas a Madre informou-a que era um centro cirúrgico. Rapidamente Helô passou os olhos em tudo, só identificou mesmo a cama, o restante passou em branco. Ia perguntar à Madre, entretanto ela já estava de fronte a outra porta e pedia para que Helô se adiantasse. Essa porta estava fechada e com cadeado. Agora é que as coisas iam se complicar. Helô viu mais duas portas e comentou com a Madre:
         - Irmã, e aquelas duas portas ali?
         - Aquelas não adiantam nada. São apenas usadas para depósitos de material de limpeza e material cirúrgico.
         - O que é que tem de tão importante nessa sala?
          - Você verá. Aqui está a solução de parte da história. Minha filha, temos que ir embora. Vou voltar aqui até que apareça alguém. Agora vamos.
          Já na saída da gruta Helô olhou para a entidade e falou:
          - Madre, levamos um tempão para voltarmos aqui e agora só demos um pequeno passo. E agora, quando vamos voltar?
          - Paciência, minha filha. Acredito que em breve. Eu a aviso quando for a hora.
          Dois meses depois.
         Helô caminhava nervosa pelo jardim, esfregava as mãos sem parar e da quantidade de voltas que tinha dado ao redor do jardim, já tinha perdido as contas. Sentiu-se cansada e sentou-se num banco próximo a uma roseira. Pegou uma rosa, sem arrancá-la, e ficou com ela algum tempo entre os dedos. O vermelho das pétalas estava quase da cor dos seus olhos, devido ao choro. Essas lágrimas transbordaram em abundância por dias seguidos, isso devido a muitos dias que ficara sem ver e ter notícias da irmã Amélia. Era uma tortura sem fim para ela. Não tinha uma notícia sequer da sua mãezinha. Estava triste e visivelmente abatida.
         Uma brisa roçou o rosto da menina. Ela imediatamente se esticou. Em seguida uma voz já tão sua conhecida ecoou dentro da sua orelha:
         - Minha filha, fique calma. Amélia vai ficar bem.
          Aquela doce voz fez com que Helô emergisse daquela dor, temporariamente. Ao virar-se deu de cara com a Madre Maria de Lourdes, que estava sentada ao seu lado. Essa voz tão sua familiar parecia que vinha com medicamento suficiente para acalmá-la. A tristeza que a jogava por terra foi embora, mas, mesmo assim, depois de ter uma trégua na dor, perguntou à Madre:
          - Madre, por favor, diz onde ela está!
            Ela, sabedora da angústia que amofinava a menina, procurou amenizá-la com algumas palavras de ânimo:
          - Fique calma, minha filha, a irmã Amélia está bem. A irmã Gertrudes vem falar com você. Aquiete seu coração. As noticias serão boas. Fique com Deus!
          Ela terminou de falar e desapareceu das vistas de Helô. A menina queria saber mais algumas coisas, principalmente o porquê dessas perseguições à irmã Amélia, mas as respostas não chegaram.
          A irmã Gertrudes, que vinha passando pelo corredor, viu-a sentada, parecendo distraída, aproximou-se pé ante pé e lascou um beijo na sua bochecha. Helô levou o maior susto, chegando a pular. Colocou a mão sobre o coração e, sobressaltada, disse:
          - Puxa, irmã! Assim a senhora me mata! Já pensei que fosse...
          - Fosse o quê?
            Helô cautelosamente abraçou a irmã, deu-lhe um beijo na  bochecha rosada e lhe falou na  orelha:
          - A Madre, só em pensar nela me dá calafrios.
           A irmã Gertrudes, não deixando o seu bom humor, que era marca registrada do seu feitio, com um sorriso que nunca se desgrudava dos lábios, disse:
          - Vem cá, meu amor, senta aqui no meu colo, mas larga do meu pescoço! Isso! Fica calma que trago boas notícias!
          - Verdade?
          - Sim, minha querida! E eu sou de mentir?
          - Claro que não. Desculpe.
          - Meu anjo, você vai ver a irmã Amélia hoje. A Madre permitiu que ela a visse.
          - E onde ela está? Eu quero vê-la!
          - Calma! A irmã esteve adoentada. Esse foi o motivo do seu sumiço.
          - Mas por que a Madre não falou nada?
          - Você sabe muito bem como ela é, não sabe?
          - Eu sei, mas não me conformo com isso. Não entendo esse prazer que ela tem em ver-nos sofrer. Eu queria saber a causa disso. Um dia, juro por Deus, vou descobrir.
           A irmã Gertrudes levantou-se rapidamente sem nada falar. Com esse gesto brusco, assustou Helô que imediatamente percebeu que ela não queria continuar com aquela conversa. Era um caminho perigoso para se trilhar. Ficou em pé meio desajeitada, olhando assustada para a irmã que arrumava o seu hábito.
          Gertrudes era mais esperta do que a irmã Amélia e, sabedora que a Madre Joana de Maria tinha suas espiãs, não queria se comprometer e nem expor Helô às garras da megera. Então, colocando o sorriso de volta aos lábios, que já se espalhava pelo rosto, disse:
          - Minha filha! Minha filha! Vamos ao que interessa? As conjecturas, vamos deixar para depois! Certo?  Agora me deixa vender meu peixe? Vamos ao que interessa! Você vai ver a sua mãezinha hoje!  Não é isso a coisa mais importante pra você?
          - Claro, irmã! Claro! É tudo de bom! É o que eu desejo mais nessa vida: estar com a irmã Amélia! Ué, irmã! Hoje tu não falaste como uma gaúcha, né, guria?
          A irmã Gertrudes não respondeu, mas soltou uma sonora gargalhada ao perceber a ironia sem malícia de Helô. Acabaram as duas tentando engolir, sem muito sucesso, aquele estardalhaço todo, mas depois de alguns minutos, finalmente, a irmã Gertrudes conseguiu controlar-se e com isso Helô também emudeceu. Em seguida a Irmã deu um beijo em Helô e saiu, deixando-a sem saber qual a parte do dia em que ia ver a irmã Amélia. A angústia foi se chegando novamente.
...............Continua semana que vem!
 


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