A Madre já estava em frente de outra
porta e essa era mais larga, parecia com as portas de hospitais, onde passavam
com facilidade macas transportando pacientes. Sinalizou para Helô. Ela
aproximou-se e, como não tinha fechadura, meteu as mãos para empurrar, mas
retrocedeu de repente. A Madre mentalmente disse que podia ir em frente, que do
outro lado estava liberado. Ela, então, com
decisão empurrou as duas bandas da porta e abriu-a. Uma sala menor do que a
anterior surgiu à sua frente. Não identificou os equipamentos que continha, mas
a Madre informou-a que era um centro cirúrgico. Rapidamente Helô passou os
olhos em tudo, só identificou mesmo a cama, o restante passou em branco. Ia
perguntar à Madre, entretanto ela já estava de fronte a outra porta e pedia
para que Helô se adiantasse. Essa porta estava fechada e com cadeado. Agora é
que as coisas iam se complicar. Helô viu mais duas portas e comentou com a
Madre:
- Irmã, e aquelas duas portas ali?
- Aquelas não adiantam nada. São
apenas usadas para depósitos de material de limpeza e material cirúrgico.
- O que é que tem de tão importante
nessa sala?
- Você verá. Aqui está a solução de
parte da história. Minha filha, temos que ir embora. Vou voltar aqui até que
apareça alguém. Agora vamos.
Já na saída da gruta Helô olhou para
a entidade e falou:
- Madre, levamos um tempão para
voltarmos aqui e agora só demos um pequeno passo. E agora, quando vamos voltar?
- Paciência, minha filha. Acredito
que em breve. Eu a aviso quando for a hora.
Dois meses depois.
Helô caminhava nervosa pelo jardim,
esfregava as mãos sem parar e da quantidade de voltas que tinha dado ao redor
do jardim, já tinha perdido as contas. Sentiu-se cansada e sentou-se num banco
próximo a uma roseira. Pegou uma rosa, sem arrancá-la, e ficou com ela algum
tempo entre os dedos. O vermelho das pétalas estava quase da cor dos seus
olhos, devido ao choro. Essas lágrimas transbordaram em abundância por dias
seguidos, isso devido a muitos dias que ficara sem ver e ter notícias da irmã
Amélia. Era uma tortura sem fim para ela. Não tinha uma notícia sequer da sua
mãezinha. Estava triste e visivelmente abatida.
Uma brisa roçou o rosto da menina. Ela
imediatamente se esticou. Em seguida uma voz já tão sua conhecida ecoou dentro
da sua orelha:
- Minha filha, fique calma. Amélia vai
ficar bem.
Aquela doce voz fez com que Helô emergisse
daquela dor, temporariamente. Ao virar-se deu de cara com a Madre Maria de
Lourdes, que estava sentada ao seu lado. Essa voz tão sua familiar parecia que
vinha com medicamento suficiente para acalmá-la. A tristeza que a jogava por
terra foi embora, mas, mesmo assim, depois de ter uma trégua na dor, perguntou
à Madre:
- Madre, por favor, diz onde ela
está!
Ela, sabedora da angústia que amofinava
a menina, procurou amenizá-la com algumas palavras de ânimo:
- Fique calma, minha filha, a irmã Amélia
está bem. A irmã Gertrudes vem falar com você. Aquiete seu coração. As noticias
serão boas. Fique com Deus!
Ela terminou de falar e desapareceu
das vistas de Helô. A menina queria saber mais algumas coisas, principalmente o
porquê dessas perseguições à irmã Amélia, mas as respostas não chegaram.
A irmã Gertrudes, que vinha passando
pelo corredor, viu-a sentada, parecendo distraída, aproximou-se pé ante pé e
lascou um beijo na sua bochecha. Helô levou o maior susto, chegando a pular.
Colocou a mão sobre o coração e, sobressaltada, disse:
- Puxa, irmã! Assim a senhora me
mata! Já pensei que fosse...
- Fosse o quê?
Helô cautelosamente abraçou a irmã,
deu-lhe um beijo na bochecha rosada e lhe
falou na orelha:
- A Madre, só em pensar nela me dá
calafrios.
A irmã Gertrudes, não deixando o seu
bom humor, que era marca registrada do seu feitio, com um sorriso que nunca se
desgrudava dos lábios, disse:
- Vem cá, meu amor, senta aqui no meu
colo, mas larga do meu pescoço! Isso! Fica calma que trago boas notícias!
- Verdade?
- Sim, minha querida! E eu sou de mentir?
- Claro que não. Desculpe.
- Meu anjo, você vai ver a irmã
Amélia hoje. A Madre permitiu que ela a visse.
- E onde ela está? Eu quero vê-la!
- Calma! A irmã esteve adoentada.
Esse foi o motivo do seu sumiço.
- Mas por que a Madre não falou nada?
- Você sabe muito bem como ela é, não
sabe?
- Eu sei, mas não me conformo com
isso. Não entendo esse prazer que ela tem em ver-nos sofrer. Eu queria saber a
causa disso. Um dia, juro por Deus, vou descobrir.
A irmã Gertrudes levantou-se
rapidamente sem nada falar. Com esse gesto brusco, assustou Helô que
imediatamente percebeu que ela não queria continuar com aquela conversa. Era um
caminho perigoso para se trilhar. Ficou em pé meio desajeitada, olhando
assustada para a irmã que arrumava o seu hábito.
Gertrudes era mais esperta do que a
irmã Amélia e, sabedora que a Madre Joana de Maria tinha suas espiãs, não
queria se comprometer e nem expor Helô às garras da megera. Então, colocando o
sorriso de volta aos lábios, que já se espalhava pelo rosto, disse:
- Minha filha! Minha filha! Vamos ao
que interessa? As conjecturas, vamos deixar para depois! Certo? Agora me deixa vender meu peixe? Vamos ao que interessa!
Você vai ver a sua mãezinha hoje! Não é
isso a coisa mais importante pra você?
- Claro, irmã! Claro! É tudo de bom!
É o que eu desejo mais nessa vida: estar com a irmã Amélia! Ué, irmã! Hoje tu
não falaste como uma gaúcha, né, guria?
A irmã Gertrudes não respondeu, mas
soltou uma sonora gargalhada ao perceber a ironia sem malícia de Helô. Acabaram
as duas tentando engolir, sem muito sucesso, aquele estardalhaço todo, mas
depois de alguns minutos, finalmente, a irmã Gertrudes conseguiu controlar-se e
com isso Helô também emudeceu. Em seguida a Irmã deu um beijo em Helô e saiu,
deixando-a sem saber qual a parte do dia em que ia ver a irmã Amélia. A
angústia foi se chegando novamente.
...............Continua semana que vem!
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