Continuando...
A entidade rondava a menina, mas não conseguia
entrar em sintonia com ela. Aproximava-se e deixava bons fluídos. Até que
nesses momentos Helô conseguia ter uma visível melhora. Em um desses dias, já no
último dia do mês, a Madre Maria de Lourdes distribuiu fluídos pelo corpo de
Helô e, em seguida, foi até a sala da Madre Joana de Maria. Lá chegando,
encontrou outras entidades da sua equipe. Imediatamente começaram a fazer a
limpeza no ambiente, retirando manchas escuras que se espremiam pelos cantos e
outras ligadas com a Madre Joana. A sala de repente ficou com uma luz azulada.
A Madre sabia que em muitos anos aquela sala não tivera uma claridade tão
intensa. A faxina foi necessária para que a execução dos planos, por ela
arquitetados, tivesse êxito. Depois que as vibrações se equilibraram, a Madre
Maria de Lourdes começou a falar algumas coisas no ouvido da Madre Joana.
Começando, sugeriu a liberação da irmã Amélia. Tentou por muito tempo cravar
essa ideia na sua cabeça, entretanto percebeu que ela não demonstrou qualquer
reação a sua sugestão, mesmo com o ambiente limpo, favorável a comunicação
entre os dois planos. Então, como estava difícil, pediu ajuda às outras
entidades, que começaram imediatamente a moldar a ideia que ela queria plantar
no cérebro de Joana. Após a preparação começou o trabalho, mas não estava
fácil, tendo em vista que Joana tinha uma cabeça dura e desequilibrada. Foi
preciso o auxílio de outras entidades trabalhadoras da seara do bem,
especializadas nesse tipo de serviço, e por meio de alta sugestão foram
implantando a ideia arquitetada pela Madre, que consistia no afrouxamento da
perseguição a irmã Amélia e numa programação festiva com o intuito de se
arrecadar fundos para o convento, principalmente para o orfanato, utilizando
autoridades e famílias abastadas da capital paulista e muitos políticos
conhecidos do senador e que rezavam na mesma cartilha. Mas a ideia não fixava
na mente da Madre Joana. Ela não conseguia assimilar todo o plano. Um fio negro
chegava até ela e atrapalhava essa assimilação. Foi então que uma das entidades
seguiu o fio. Distante dali tinha uma massa disforme conectada a esse fio. A
entidade chamou a Madre Maria de Lourdes e ambas conseguiram desconectá-las. A
mancha sumiu rapidamente e a Madre Joana sentiu um estremecimento no corpo. A
equipe então voltou ao trabalho. O caminho que acharam mais fácil foi desenhar
no cérebro dela muitas cédulas de dinheiro. E a arrecadação de toda essa grana
estava atrelada a um evento festivo. Aí sim, aquele dinheiro que já estava
imantado na sua cabeça despertou a cobiça da Madre Joana. Ela já estava achando
que a ideia era toda sua. Sorriu
satisfeita. Fora possuída completamente com a criação. Criação que abraçou como
sendo sua. O pensamento só tomou realmente forma quando o dinheiro não saiu um
segundo da sua cabeça. O que imaginou, aí já era seu o pensamento, que poderia
arrecadar com o evento, trouxe de volta o sorriso que há muitos anos tinha sido
afastado litigiosamente. Naquele momento parecia outra mulher. Era um sorriso
sem gosto de sangue.
Enquanto se preparava para apresentar
a sua ideia às assessoras e posteriormente ao Senador e ao padre, a imagem de
Helô se meteu nos seus pensamentos. Nisso teve mais ideias: ia aproveitar a
festa para apresentar Helô a qualquer autoridade. Ia falar com o Senador, que era a pessoa mais
indicada para tal serviço. Ele conhecia a nata da sociedade, mas a nata mais
podre. Depois sentaria com todas as comparsas para delinearem o que chamou de
“a grande festa”. Depois de tudo acertado, comunicaria a todas as irmãs o que
tinha sido resolvido. Com elas escolheria algumas com aptidão para organizar
toda a parte cultural. Teria com certeza, entre outras coisas, muita música e
teatro.
A Madre Joana ficou ruminando, pelo
menos durante dez dias, a sua ideia. Queria se convencer se realmente seria
lucrativa. Quando a dúvida aparecia, notas e mais notas de cem reais
despencavam do céu e caíam no seu colo. Aí se empolgava totalmente. Ela não via
e nem sentia, mas sutilmente estava sendo sugestionada pela Madre Maria de
Lourdes ou por outras entidades.
Finalmente, numa segunda feira, ao
acordar, a certeza já morava dentro de si. Despertou totalmente convencida. O
seu projeto era real. Não tinha mais dúvida alguma na sua realização. Estava
feliz com a sua ideia. Empolgada, mandou a irmã Celeste chamar todas as
assessoras para comunicar o seu plano festivo. Elas ouviram caladas, mas a
ideia não desceu bem. Não entendiam aquele comportamento da Madre Joana. Uma
pessoa que nunca demonstrou qualquer sensibilidade e motivação para festas e,
de repente, aparece com uma programação festiva. Dava para deixar qualquer um
com um pé atrás e isso foi o que aconteceu. Elas ficaram mudas ante a exposição
da Madre. A irmã Arminda, discretamente, perguntou entre dentes para a irmã
Celeste:
- Celeste, o que aconteceu com ela? Coração mole, agora?
-
Sem perguntas. É aceitar e pronto. O negócio é bom.
A Madre percebeu que a sua ideia não
teve boa acolhida pelas suas assessoras. Gentilmente, o que não era de sua
natureza, explicou tintim por tintim o que tinha bolado.
- Minhas queridas, senti claramente
que a minha ideia não foi entendida, mas vou explicar. Pensei no ganho. E vamos
ganhar muito, podem ter certeza. O dinheiro vai chover na nossa horta. O
senador vai ficar encarregado dos convidados. Cada um deles vai contribuir com
uma grande soma. E tem mais: já temos algumas meninas com quinze anos para...
Vocês sabem. Temos os jogos, a sala já está pronta, além de termos a
oportunidade de apresentar as meninas que já estão prestes a sair daqui. Vai
que alguém se interessa por elas? Já tem algumas prontas para o trabalho lá
fora. Podem render uma boa soma. Entenderam a minha ideia?
.........................Continua na semana que vem!
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