terça-feira, 23 de julho de 2019

A História de Helô - Parte 42



...Continuando

As duas foram saindo e deixaram a irmã com o seu choro, mas a Madre ainda mandou um jato de luz na sua direção. No entanto pouco adiantou essa tentativa de ajuda, pois esses jatos luminosos se desfizeram antes de alcançá-la.
          Helô já tinha entrado na sala dos arquivos e a porta já tinha se fechado atrás de si. Ela olhou e ficou impressionada com o trabalho feito naquela passagem secreta. Nem parecia que existia qualquer porta por ali. A Madre passou por ela e parou em frente de uma parede. Helô acompanhou-a e ficou esperando que ela dissesse alguma coisa, mas para a sua surpresa a Madre atravessou essa parede e, mal piscou os olhos, já estava de volta. Ao chegar pediu para Helô fazer o mesmo procedimento que havia feito antes, nas máscaras. Ela fez e abriu-se um vão na sua frente. Ela entrou em mais um cômodo. No entanto aquele já era seu conhecido, pelo menos duas vezes estivera ali. Era a sala de arquivos que continham os históricos de cada irmã e órfã, desde a sua fundação. Não entendeu porque foi até ali. A Madre então captando a sua dúvida, falou:
          - Helô, olhe para trás.
          Quando se vira, se assusta ao não ver porta alguma. Ficou apreensiva. O medo rondou-lhe a mente. A entidade então olhou fixamente dentro dos seus olhos. Instantaneamente Helô se acalmou. Sabedora de que ela já estava controlada, disse:
          - Não tem motivo para você ficar apreensiva. Medo é coisa do passado, não é? Fique tranquila. Era preciso que viesse até aqui. Tinha que saber dessa passagem secreta para o outro cômodo.
         - Mas se aparecer alguém aqui? Estou preocupada, Madre!
         - Não vai aparecer ninguém. Estão todos ocupados com a festa e a nossa equipe está a postos para afastar qualquer um que se aproximar. Não se preocupe. Agora já podemos voltar pelo mesmo caminho. Olha lá a escultura.
         - Parece com as outras.
         - Isso. Então sabe como fazer.
         Helô foi abrindo porta por porta. Enquanto passava pelos cômodos foi vendo algumas entidades da equipe da Madre Maria de Lourdes. Umas até acenaram para ela. Olhou para a Madre, já mostrando que estava emocionada. A Madre passou a mão na sua cabeça, espalhando bastante luz, e sorriu docemente.
          O caminho de volta foi rápido. Já estava saindo da gruta, quando foi recebida por um sabiá laranjeira  que cantava numa árvore próxima. Sentiu claramente que a ave cantava para ela. Ficou mais uma vez emocionada. Olhou para falar com a Madre, mas ela já não estava mais do seu lado, flutuava a alguns metros à frente. Ela então fixou o seu olhar nela e se perguntou:
          - Será, meu Deus, que estou sonhando? Estou vendo mesmo essas pessoas que já morreram?
        A entidade captou o seu pensamento e num flash postou-se ao seu lado. Em seguida passou a mão na sua cabeça e disse:
          - E você duvida? Mas por um lado você tem razão. Realmente tudo parece um sonho. Muita gente que morre, ao chegar do outro lado, acha que está sonhando e assim fica por muitos e muitos anos. Às vezes, só cessa essa sensação quando já está próximo de voltar e, já falei, pode voltar sem saber que tinha morrido. Faz a regressão e toma outro corpo emprestado. Fica assim num vai e vem sem entender o que se passou nesses períodos, até que um dia acorda. Aí as coisas ficam mais fáceis.
          - É, Madre? É assim mesmo?
          - É, minha filha. No meu caso, quando acordei, nessa última vez, abri os olhos e já sabia que tinha feito a passagem. Acordei ainda precisando de cuidados. Fui para o hospital, fui tratada e fiquei bem. Mas só que eu queria encontrar Deus. E qual não foi a minha decepção: não encontrei Deus nenhum, nem Jesus, nem Maria, mãe de Jesus, e nem santa nenhuma, mas, graças a Deus, encontrei a minha mãezinha e isso já foi uma grande benção. Sabe que na maioria das vezes não tem ninguém te esperando? Quero dizer, ninguém da sua família aqui da Terra, mas sempre tem uma mão para te ajudar. Sabe que não sei até hoje por onde anda meu pai? Nem a minha mãe soube me dizer, mas um dia vamos nos encontrar, isso quando Deus permitir.
          - Que história, Madre!
          - Encontrei também algumas irmãs, amigas da época que estava encarnada. Helô, está pensando que é fácil morrer? Não é não! Como também não é fácil viver! A vida e a morte só ficam fáceis quando vamos nos tornando pessoas melhores. Se você seguir os ensinamentos de Jesus Cristo, aí sim, você vê o céu.
          - Puxa, irmã, já estou preocupada! Já pensou? Eu não saber que morri? Não quero nem pensar nisso!
          - Não se preocupe com isso! Quando acontecer, estarei do seu lado! E eu lhe aviso quando chegar perto, está bem?
         - Tá. Tá nada! Não quero morrer não! Deixa isso pra lá!
         - Calma! Isso vai demorar muito ainda. Precisava ver a sua cara! Meu Deus! Parece até que nunca morreu!
         - Mas eu não me lembro. Se eu morri, não sei.
         - Como não morreu? Eu sei que todos nós esquecemos esse fato, mas quando a gente morre de novo, conseguimos, às vezes, nos lembrar de outras vezes que estivemos aqui. Dependendo da evolução da pessoa, é dado esse presente. É quando conseguimos entender porque nos damos mal com algumas pessoas e com outras nos damos bem. Muitas vezes achamos que o irmão de caminhada nos persegue, só vive nos fazendo mal gratuito. Quando nós temos acesso a outras vidas, constatamos que a culpa é única e exclusiva nossa.
          - Que coisa! É verdade isso mesmo que a senhora está falando?
          - E você acha que sou mentirosa?
          - Não é isso! É só modo de falar.
          - Está bem, Helô. Agora vamos voltar ao trabalho. Isso, no momento, é o que importa. Com o tempo vamos conversar bastante sobre isso tudo.
          - Está bem! Isso é muito interessante. Dá pra pensar... Madre, a senhora falou pra gente voltar ao trabalho, nós vamos voltar lá pra dentro?
          - Não, já fizemos tudo que tínhamos que fazer. Essa parte já está terminada. Agora vamos para outra etapa. Gostaria de saber se você tem tudo guardado dentro da sua cabeça, desde o início. Os segredos das portas, tudo que acontece em cada cômodo, tudo, tudo.
          - Sim, Madre, tenho tudo guardado na minha cabeça. Eu me lembro de cada pedacinho, desde a entrada da gruta até o último compartimento.
         - Muito bem! Agora eu gostaria que você colocasse isso tudo num papel. Escreva tudo, sem esquecer nenhum detalhe. Faça até a planta de todas as salas, a disposição dos móveis... Ainda se lembra?
          - Sim, me lembro até das baratas que vi.
          - Helô! Helô! Não precisa chegar a tanto! Você está ficando engraçadinha! Recordando: como se abre as portas, as disposições dos móveis, a quantidade de cômodos, para que são utilizados e tudo que você lembrar.
         - Vou me lembrar de tudo, pode ficar tranquila, mas pra que tudo isso?
         - Nessa festa, Helô, é que teremos a chance disso tudo acabar. Você vai conhecer uma pessoa, um convidado, que vai dar um basta a toda essa maldade. Maldade que tomou conta desse convento há muito tempo.
          Esse convidado, na verdade, ainda não é convidado, mas vai passar a ser.
         - Não entendi.
         - A pessoa convidada não vai poder vir e o substituto também não virá. Em cima da hora vai desistir. Aí é que entra esse, que é pessoa do bem. Você vai gostar muito dele e ele de você.
          - Gostar de mim?
          - Sim.
......................Continua semana que vem!

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