...Continuando
As duas foram saindo e deixaram
a irmã com o seu choro, mas a Madre ainda mandou um jato de luz na sua direção.
No entanto pouco adiantou essa tentativa de ajuda, pois esses jatos luminosos
se desfizeram antes de alcançá-la.
Helô já tinha entrado na sala dos
arquivos e a porta já tinha se fechado atrás de si. Ela olhou e ficou
impressionada com o trabalho feito naquela passagem secreta. Nem parecia que
existia qualquer porta por ali. A Madre passou por ela e parou em frente de uma
parede. Helô acompanhou-a e ficou esperando que ela dissesse alguma coisa, mas
para a sua surpresa a Madre atravessou essa parede e, mal piscou os olhos, já
estava de volta. Ao chegar pediu para Helô fazer o mesmo procedimento que havia
feito antes, nas máscaras. Ela fez e abriu-se um vão na sua frente. Ela entrou
em mais um cômodo. No entanto aquele já era seu conhecido, pelo menos duas
vezes estivera ali. Era a sala de arquivos que continham os históricos de cada
irmã e órfã, desde a sua fundação. Não entendeu porque foi até ali. A Madre
então captando a sua dúvida, falou:
- Helô, olhe para trás.
Quando se vira, se assusta ao não ver
porta alguma. Ficou apreensiva. O medo rondou-lhe a mente. A entidade então olhou
fixamente dentro dos seus olhos. Instantaneamente Helô se acalmou. Sabedora de que
ela já estava controlada, disse:
- Não tem motivo para você ficar
apreensiva. Medo é coisa do passado, não é? Fique tranquila. Era preciso que
viesse até aqui. Tinha que saber dessa passagem secreta para o outro cômodo.
- Mas se aparecer alguém aqui? Estou
preocupada, Madre!
- Não vai aparecer ninguém. Estão
todos ocupados com a festa e a nossa equipe está a postos para afastar qualquer
um que se aproximar. Não se preocupe. Agora já podemos voltar pelo mesmo
caminho. Olha lá a escultura.
- Parece com as outras.
- Isso. Então sabe como fazer.
Helô foi abrindo porta por porta.
Enquanto passava pelos cômodos foi vendo algumas entidades da equipe da Madre
Maria de Lourdes. Umas até acenaram para ela. Olhou para a Madre, já mostrando
que estava emocionada. A Madre passou a mão na sua cabeça, espalhando bastante
luz, e sorriu docemente.
O caminho de volta foi rápido. Já
estava saindo da gruta, quando foi recebida por um sabiá laranjeira que cantava numa árvore próxima. Sentiu
claramente que a ave cantava para ela. Ficou mais uma vez emocionada. Olhou
para falar com a Madre, mas ela já não estava mais do seu lado, flutuava a
alguns metros à frente. Ela então fixou o seu olhar nela e se perguntou:
- Será, meu Deus, que estou sonhando?
Estou vendo mesmo essas pessoas que já morreram?
A
entidade captou o seu pensamento e num flash postou-se ao seu lado. Em seguida
passou a mão na sua cabeça e disse:
- E você duvida? Mas por um lado você
tem razão. Realmente tudo parece um sonho. Muita gente que morre, ao chegar do
outro lado, acha que está sonhando e assim fica por muitos e muitos anos. Às
vezes, só cessa essa sensação quando já está próximo de voltar e, já falei,
pode voltar sem saber que tinha morrido. Faz a regressão e toma outro corpo
emprestado. Fica assim num vai e vem sem entender o que se passou nesses
períodos, até que um dia acorda. Aí as coisas ficam mais fáceis.
- É, Madre? É assim mesmo?
- É, minha filha. No meu caso, quando
acordei, nessa última vez, abri os olhos e já sabia que tinha feito a passagem.
Acordei ainda precisando de cuidados. Fui para o hospital, fui tratada e fiquei
bem. Mas só que eu queria encontrar Deus. E qual não foi a minha decepção: não
encontrei Deus nenhum, nem Jesus, nem Maria, mãe de Jesus, e nem santa nenhuma,
mas, graças a Deus, encontrei a minha mãezinha e isso já foi uma grande benção.
Sabe que na maioria das vezes não tem ninguém te esperando? Quero dizer, ninguém
da sua família aqui da Terra, mas sempre tem uma mão para te ajudar. Sabe que
não sei até hoje por onde anda meu pai? Nem a minha mãe soube me dizer, mas um
dia vamos nos encontrar, isso quando Deus permitir.
- Que história, Madre!
- Encontrei também algumas irmãs,
amigas da época que estava encarnada. Helô, está pensando que é fácil morrer?
Não é não! Como também não é fácil viver! A vida e a morte só ficam fáceis
quando vamos nos tornando pessoas melhores. Se você seguir os ensinamentos de
Jesus Cristo, aí sim, você vê o céu.
- Puxa, irmã, já estou preocupada! Já
pensou? Eu não saber que morri? Não quero nem pensar nisso!
- Não se preocupe com isso! Quando
acontecer, estarei do seu lado! E eu lhe aviso quando chegar perto, está bem?
- Tá. Tá nada! Não quero morrer não!
Deixa isso pra lá!
- Calma! Isso vai demorar muito ainda.
Precisava ver a sua cara! Meu Deus! Parece até que nunca morreu!
- Mas eu não me lembro. Se eu morri,
não sei.
- Como não morreu? Eu sei que todos
nós esquecemos esse fato, mas quando a gente morre de novo, conseguimos, às vezes,
nos lembrar de outras vezes que estivemos aqui. Dependendo da evolução da pessoa,
é dado esse presente. É quando conseguimos entender porque nos damos mal com
algumas pessoas e com outras nos damos bem. Muitas vezes achamos que o irmão de
caminhada nos persegue, só vive nos fazendo mal gratuito. Quando nós temos
acesso a outras vidas, constatamos que a culpa é única e exclusiva nossa.
- Que coisa! É verdade isso mesmo que
a senhora está falando?
- E você acha que sou mentirosa?
- Não é isso! É só modo de falar.
- Está bem, Helô. Agora vamos voltar
ao trabalho. Isso, no momento, é o que importa. Com o tempo vamos conversar
bastante sobre isso tudo.
- Está bem! Isso é muito
interessante. Dá pra pensar... Madre, a senhora falou pra gente voltar ao
trabalho, nós vamos voltar lá pra dentro?
- Não, já fizemos tudo que tínhamos
que fazer. Essa parte já está terminada. Agora vamos para outra etapa. Gostaria
de saber se você tem tudo guardado dentro da sua cabeça, desde o início. Os segredos
das portas, tudo que acontece em cada cômodo, tudo, tudo.
- Sim, Madre, tenho tudo guardado na
minha cabeça. Eu me lembro de cada pedacinho, desde a entrada da gruta até o
último compartimento.
- Muito bem! Agora eu gostaria que
você colocasse isso tudo num papel. Escreva tudo, sem esquecer nenhum detalhe.
Faça até a planta de todas as salas, a disposição dos móveis... Ainda se
lembra?
- Sim, me lembro até das baratas que
vi.
- Helô! Helô! Não precisa chegar a
tanto! Você está ficando engraçadinha! Recordando: como se abre as portas, as
disposições dos móveis, a quantidade de cômodos, para que são utilizados e tudo
que você lembrar.
- Vou me lembrar de tudo, pode ficar tranquila,
mas pra que tudo isso?
- Nessa festa, Helô, é que teremos a
chance disso tudo acabar. Você vai conhecer uma pessoa, um convidado, que vai
dar um basta a toda essa maldade. Maldade que tomou conta desse convento há
muito tempo.
Esse convidado, na verdade, ainda não
é convidado, mas vai passar a ser.
- Não entendi.
- A pessoa convidada não vai poder vir
e o substituto também não virá. Em cima da hora vai desistir. Aí é que entra
esse, que é pessoa do bem. Você vai gostar muito dele e ele de você.
- Gostar de mim?
- Sim.
......................Continua semana que vem!
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