Continuando...
Dividindo a sala tinha uma
mesa de grades proporções, cercada de cadeiras acolchoadas. No seu centro, sobre
uma base, com aproximadamente dez centímetros de altura, um tabuleiro redondo com vários desenhos não identificados por ela.
Na parede de fundo, uma pia grande, que parecia mais uma pequena piscina, e ao
seu lado, cobrindo toda a extensão dessa parede, com mais ou menos dois metros
por um de largura, uma pedra de granito preto. Nessa mesma parede, várias facas
e pequenos machados destacavam-se
pendurados num quadro de madeira. Na parede do lado direito, estavam várias
roupas penduradas, enfileiradas num espaço de dois metros. Algumas no tom
marrom escuro, outras em vermelho e a maioria em preto. Todas, sem exceção,
tinham capuz. Helô olhava aquilo tudo, sem entender nada. Depois de passar os
olhos em tudo, com a expressão de uma pessoa bem assustada, olhou para a Madre.
Só com esse olhar a entidade entendeu o seu pedido de socorro.
- Relaxe, minha filha! Fique calma!
Confie em Deus e eu estou aqui também para não deixar que nada lhe aconteça.
Este local aqui é de uma negatividade enorme. O mal que é orquestrado e
realizado aqui prefiro que você ignore. Só
as mentes trevosas aqui se manifestam. Você olhou tudo e nada entendeu. Tudo
que você viu é utilizado em magia negra. Um dia conversarei sobre isso. Vamos
continuar com as investigações. Não podemos perder tempo, mas antes quero falar
mais uma coisa. Quero saber se você está atenda. Você viu alguma coisa? Percebeu
como está vigiado esse quarto?
- Não, Madre. Não vi nada, mas senti que a
coisa aqui não é boa.
- Foi melhor assim. O policiamento
que está aqui é bem feio de se ver. Esses irmãos estão presos à ignorância... mas
um dia eles verão a luz. Todos nós já fomos assim e até pior.
- É, Madre? Eu já fui assim também?
Já fiz mal pra muita gente?
- Sim, minha filha, todos nós, mas
vamos continuar, já que não nos viram. Eles não perceberam a minha presença e nem
a sua. Você está sob a minha capa. Agora vamos para mais um cômodo.
Helô saiu da sala e foi caminhando à frente
da Madre, que mentalmente indicava-lhe a direção. Entrou por um corredor comprido, que se abraçava
à escuridão, mas de repente ela virou uma lanterna viva. À sua volta, as trevas
eram abocanhadas pela luz. A sua claridade, a cada passo, iluminava metros à
frente. Já quase chegando ao fundo do
corredor, avistou duas portas negras, cravadas numa parede roxa. Parou em
frente de uma delas, mas a Madre avisou que não era aquela. Rapidamente deslocou-se
para a outra, que distava pouco mais de três metros, e, sem falar nada com a
Madre, meteu a mão na maçaneta e girou-a. Essa porta, como a outra, foi se
abrindo sozinha. Helô então esperou que ela ficasse escancarada. Depois, antes
de entrar, fez uma varredura em todo o cômodo, que naquele momento já estava
totalmente claro. Olhou bastante, mas não entendeu muito o que viu. Um quarto
bem grande, com armários de aço cobrindo todo o ambiente. Ela então pediu para
que a Madre explicasse o que representavam todos aqueles armários enfileirados
e trancados com fechaduras com segredo e o que tinha dentro deles, para que
precisasse de tanto cuidado.
A Madre Maria de Lourdes, demonstrando
uma leve emoção, disse calmamente:
- Minha filha, aqui está a história
triste do convento, desde a entrada da Madre Joana. Os segredos serão
descobertos por você, minha querida, inclusive a sua própria história.
- A minha história, Madre?
- Sim, minha filha, e você vai se
surpreender com as descobertas. Umas boas e outras, infelizmente, ruins, mas
escute com atenção: você não pode se descontrolar. Aconteça o que acontecer,
fique firme. Não podemos correr o risco de você ser descoberta.
- Pode confiar, Madre! Farei o que a
senhora determinar.
- Está bem, mas tire essa ansiedade
de dentro de você. Acalme-se bem senão podemos botar tudo a perder.
- Estou bem, Madre. Foi só um
pouquinho de ansiedade. Acho que misturou com curiosidade, mas agora estou
tranquila.
- Mas antes de começarmos a olhar
esses arquivos, quero mostrar-lhe outra coisa.
A Madre caminhou até um vão entre
dois armários, com Helô em seus calcanhares. Parou, olhou para ela e disse:
- Helô, aqui tem uma passagem
secreta.
- Mas, Madre, não tem porta nenhuma
aí. Não vejo nenhuma marca na parede.
- E as outras tinham alguma marca? Não
tinham. A passagem secreta é para isso mesmo: para ninguém saber, mas aqui não
é secreta para mim e não vai ser para você. Minha filha, abrindo essa porta você
vai conhecer um cômodo secretíssimo. Esse só é do conhecimento da Madre Joana, mas
que eu conheço e vai ser também do seu conhecimento. Está vendo aquela porta
ali adiante? Ela vai sair dentro de uma sala que é do conhecimento da Madre e
das suas assessoras. Aquela ali sim,
mais de um sabe da sua existência.
- Como eu então vou abrir essa tal
porta?
- Venha até aqui. Vou mostrar o local secreto.
Helô então entrou no vão de dois
armários. O lugar era bem apertado. Entre eles, o espaço disponível era de
apenas sessenta centímetros. Ela se acomodou e esperou a Madre falar alguma
coisa. E não demorou muito, foi quase imediato ao seu pensamento.
- Você está vendo aquela máscara, lá
em cima?
- Sim.
- Então é ali que está o segredo.
Era o rosto de uma mulher, entalhado
numa pedra de cor escura, numa altura de, aproximadamente, um metro e oitenta
centímetros do chão, presa na parede por concreto. Essa pequena escultura
estava, também, em outros vãos dos armários.
Helô olhava para escultura e pensava
em como seria o segredo. Foi se aproximando mais e mais até ficar bem encostada
na Madre. Parou e pensou:
- Madre, como vai dar eu e a senhora
nesse espaço? Não vai dar pra chegar até a parede.
A Madre balançou a cabeça, deu um leve
sorriso e respondeu à curiosidade dela:
- Helô! Helô! É claro que dá! Eu não sou feita igual a você. Se eu fosse,
não poderíamos ocupar o mesmo lugar no espaço.
Lembrou-se?
- Tudo bem, Madre! Tudo bem!
- Agora presta atenção no que eu vou
fazer.
A entidade colocou dois dedos nos
olhos da imagem. Depois disse:
- Você viu o que eu fiz? Agora é só
fazer pressão na cavidade ocular. Depois é só esperá-la se abrir. Entendeu?
Helô balançou afirmativamente a
cabeça, confirmando que tinha entendido. Em seguida, com um sorriso nos lábios,
encostou-se à parede. Quem olhasse a cena - mas que tivesse olhos para ver -
teria a sensação de que uma parte da Madre estava em cima do seu ombro. Depois
esticou um braço, sem muito esforço conseguiu colocar a mão em cima da
escultura. Seguindo o que a Madre mostrou, colocou dois dedos, um em cada olho
da máscara, e fez pressão para dentro. Na primeira tentativa nada aconteceu. Na
segunda, colocando mais força, sentiu que os olhos cederam e lentamente a porta
foi recuando até ficar completamente aberta.
Ela não ousou entrar de imediato. A escuridão no interior era total.
Apenas olhou para o alto, na direção da Madre, e esperou que ela falasse alguma
coisa, mas ela nada disse. Apenas saiu de cima do seu ombro e entrou no cômodo.
Mal chegou ao interior, a sua claridade já tinha iluminado todo o quarto.
...........................Continua semana que vem!
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