terça-feira, 9 de julho de 2019

A História de Helô - Parte 40



Continuando...


Dividindo a sala tinha uma mesa de grades proporções, cercada de cadeiras acolchoadas. No seu centro, sobre uma base, com aproximadamente dez centímetros de altura, um tabuleiro redondo  com vários desenhos não identificados por ela. Na parede de fundo, uma pia grande, que parecia mais uma pequena piscina, e ao seu lado, cobrindo toda a extensão dessa parede, com mais ou menos dois metros por um de largura, uma pedra de granito preto. Nessa mesma parede, várias facas e pequenos machados  destacavam-se pendurados num quadro de madeira. Na parede do lado direito, estavam várias roupas penduradas, enfileiradas num espaço de dois metros. Algumas no tom marrom escuro, outras em vermelho e a maioria em preto. Todas, sem exceção, tinham capuz. Helô olhava aquilo tudo, sem entender nada. Depois de passar os olhos em tudo, com a expressão de uma pessoa bem assustada, olhou para a Madre. Só com esse olhar a entidade entendeu o seu pedido de socorro.
          - Relaxe, minha filha! Fique calma! Confie em Deus e eu estou aqui também para não deixar que nada lhe aconteça. Este local aqui é de uma negatividade enorme. O mal que é orquestrado e realizado aqui prefiro que você ignore.  Só as mentes trevosas aqui se manifestam. Você olhou tudo e nada entendeu. Tudo que você viu é utilizado em magia negra. Um dia conversarei sobre isso. Vamos continuar com as investigações. Não podemos perder tempo, mas antes quero falar mais uma coisa. Quero saber se você está atenda. Você viu alguma coisa? Percebeu como está vigiado esse quarto?
          - Não, Madre. Não vi nada, mas senti que a coisa aqui não é boa.
          - Foi melhor assim. O policiamento que está aqui é bem feio de se ver. Esses irmãos estão presos à ignorância... mas um dia eles verão a luz. Todos nós já fomos assim e até pior.
           - É, Madre? Eu já fui assim também? Já fiz mal pra muita gente?
           - Sim, minha filha, todos nós, mas vamos continuar, já que não nos viram. Eles não perceberam a minha presença e nem a sua. Você está sob a minha capa. Agora vamos para mais um cômodo.
           Helô saiu da sala e foi caminhando à frente da Madre, que mentalmente indicava-lhe a direção.  Entrou por um corredor comprido, que se abraçava à escuridão, mas de repente ela virou uma lanterna viva. À sua volta, as trevas eram abocanhadas pela luz. A sua claridade, a cada passo, iluminava metros à frente.  Já quase chegando ao fundo do corredor, avistou duas portas negras, cravadas numa parede roxa. Parou em frente de uma delas, mas a Madre avisou que não era aquela. Rapidamente deslocou-se para a outra, que distava pouco mais de três metros, e, sem falar nada com a Madre, meteu a mão na maçaneta e girou-a. Essa porta, como a outra, foi se abrindo sozinha. Helô então esperou que ela ficasse escancarada. Depois, antes de entrar, fez uma varredura em todo o cômodo, que naquele momento já estava totalmente claro. Olhou bastante, mas não entendeu muito o que viu. Um quarto bem grande, com armários de aço cobrindo todo o ambiente. Ela então pediu para que a Madre explicasse o que representavam todos aqueles armários enfileirados e trancados com fechaduras com segredo e o que tinha dentro deles, para que precisasse de tanto cuidado.
          A Madre Maria de Lourdes, demonstrando uma leve emoção, disse calmamente:
          - Minha filha, aqui está a história triste do convento, desde a entrada da Madre Joana. Os segredos serão descobertos por você, minha querida, inclusive a sua própria história.
          - A minha história, Madre?
         - Sim, minha filha, e você vai se surpreender com as descobertas. Umas boas e outras, infelizmente, ruins, mas escute com atenção: você não pode se descontrolar. Aconteça o que acontecer, fique firme. Não podemos correr o risco de você ser descoberta.
          - Pode confiar, Madre! Farei o que a senhora determinar.
          - Está bem, mas tire essa ansiedade de dentro de você. Acalme-se bem senão podemos botar tudo a perder.
         - Estou bem, Madre. Foi só um pouquinho de ansiedade. Acho que misturou com curiosidade, mas agora estou tranquila.
         - Mas antes de começarmos a olhar esses arquivos, quero mostrar-lhe outra coisa.
          A Madre caminhou até um vão entre dois armários, com Helô em seus calcanhares. Parou, olhou para ela e disse:
          - Helô, aqui tem uma passagem secreta.
          - Mas, Madre, não tem porta nenhuma aí. Não vejo nenhuma marca na parede.
          - E as outras tinham alguma marca? Não tinham. A passagem secreta é para isso mesmo: para ninguém saber, mas aqui não é secreta para mim e não vai ser para você. Minha filha, abrindo essa porta você vai conhecer um cômodo secretíssimo. Esse só é do conhecimento da Madre Joana, mas que eu conheço e vai ser também do seu conhecimento. Está vendo aquela porta ali adiante? Ela vai sair dentro de uma sala que é do conhecimento da Madre e das suas assessoras.  Aquela ali sim, mais de um sabe da sua existência.
          - Como eu então vou abrir essa tal porta?
          - Venha até aqui. Vou mostrar o local secreto.
          Helô então entrou no vão de dois armários. O lugar era bem apertado. Entre eles, o espaço disponível era de apenas sessenta centímetros. Ela se acomodou e esperou a Madre falar alguma coisa. E não demorou muito, foi quase imediato ao seu pensamento.
          - Você está vendo aquela máscara, lá em cima?
          - Sim.
          - Então é ali que está o segredo.
          Era o rosto de uma mulher, entalhado numa pedra de cor escura, numa altura de, aproximadamente, um metro e oitenta centímetros do chão, presa na parede por concreto. Essa pequena escultura estava, também, em outros vãos dos armários.
          Helô olhava para escultura e pensava em como seria o segredo. Foi se aproximando mais e mais até ficar bem encostada na Madre. Parou e pensou:
          - Madre, como vai dar eu e a senhora nesse espaço? Não vai dar pra chegar até a parede.
          A Madre balançou a cabeça, deu um leve sorriso e respondeu à curiosidade dela:
          - Helô! Helô! É claro que dá!  Eu não sou feita igual a você. Se eu fosse, não poderíamos ocupar o mesmo lugar no espaço.  Lembrou-se?
          - Tudo bem, Madre! Tudo bem!
         - Agora presta atenção no que eu vou fazer.
           A entidade colocou dois dedos nos olhos da imagem. Depois disse:
          - Você viu o que eu fiz? Agora é só fazer pressão na cavidade ocular. Depois é só esperá-la se abrir. Entendeu?
          Helô balançou afirmativamente a cabeça, confirmando que tinha entendido. Em seguida, com um sorriso nos lábios, encostou-se à parede. Quem olhasse a cena - mas que tivesse olhos para ver - teria a sensação de que uma parte da Madre estava em cima do seu ombro. Depois esticou um braço, sem muito esforço conseguiu colocar a mão em cima da escultura. Seguindo o que a Madre mostrou, colocou dois dedos, um em cada olho da máscara, e fez pressão para dentro. Na primeira tentativa nada aconteceu. Na segunda, colocando mais força, sentiu que os olhos cederam e lentamente a porta foi recuando até ficar completamente aberta.  Ela não ousou entrar de imediato. A escuridão no interior era total. Apenas olhou para o alto, na direção da Madre, e esperou que ela falasse alguma coisa, mas ela nada disse. Apenas saiu de cima do seu ombro e entrou no cômodo. Mal chegou ao interior, a sua claridade já tinha iluminado todo o quarto. 
...........................Continua semana que vem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário