Continuando...
Ela ficou olhando a Madre sem saber o
que dizer, mas também sabia, de antemão, que não ia adiantar muito os seus
argumentos. Ela, no fundo da alma, queria apenas que a Madre Joana fosse presa
e castigada pelos seus crimes sem julgamento algum, pois para ela a Madre Joana
já estava condenada a pagar por tudo de mal que tinha feito até hoje. E que no
momento seria melhor se manter calada. Mas a Madre Maria de Lourdes escutou o
seu pensamento e disse:
- Minha filha, você pode emitir a sua
opinião, mas pense bem no que for falar. Você acha que ela, mesmo estando presa
à maldade, não tem direito a julgamento? Todo mundo tem o direito a ter alguém
para defendê-lo. Uma coisa é certa: se ela errou, vai ter que pagar pelo que
fez e tudo vai acontecer na hora certa, com a permissão de Deus. Se eu estou
aqui com você, nesse trabalho, é porque eu tive permissão e você está sendo o
veículo para a execução. Tudo está sendo permitido por Deus. Minha filha, o que
estamos fazendo é para benefício da nossa irmã Joana.
- Para benefício dela? Como assim?
- Ela perdeu o controle. Ela está
mergulhada no ódio, na ganância, na vaidade, no mal. Está indo cada vez
mais para o fundo. Para que ela não se
comprometa mais e mais tem que ser parada já. Temos que ter compaixão por ela.
Eu estou aqui para ajudá-la a perdoá-la.
- Mas, Madre, perdoá-la?
- Sim. Eu sei que você tem um coração
bom, mas às vezes sente raiva da Madre Joana, não é?
- Sim. Tenho, mas só às vezes. O que
ela faz com a irmã Amélia é cruel!
- Eu sei, mas pergunte a irmã Amélia se
ela tem ódio da Madre.
- A senhora acha que ela não tem?
- Sim, eu sei, a irmã Amélia tem um
coração grandioso. Sabe, minha filha, as duas têm um lugar dentro do meu
coração.
- A senhora gosta da Madre?
- Gosto muito e fico muito triste por
ela estar tão presa no mal, mas ela vai melhorar.
- Puxa, Madre, a senhora me desculpe,
mas amar a Madre Joana é muito difícil pra mim. Estou até ficando feliz em
saber que o reinado dela está acabando.
- Mas não pode é ter ódio.
- Ódio não! Às vezes até sinto pena
dela!
- Eu sei, mas para o bem dela o
trabalho tem que continuar. Então vamos em frente.
- Eu tenho fé em Deus que tudo vai
correr como estamos desejando.
- Mas para que isso aconteça tem que
se ter muito cuidado. As paredes têm ouvidos, Helô. Preste atenção numa coisa:
quando você estiver com a irmã Amélia não a deixe falar muito.
- Por que?
- Ela pode falar o que não deve.
Interrompe-a, está bem?
- Está, mas nem baixinho?
- Minha filha, a Madre Joana não sabe
de tudo?
- Sim!
- Então, até segredo ela escuta.
Helô abaixou a cabeça pensativa. As
palavras da Madre Maria de Lourdes rolavam dentro da sua cabeça: até segredo
ela escuta. Ficou pensando, pensando por mais algum tempo. De repente levantou
a cabeça, deu um sorriso enigmático e falou:
- Madre, por um acaso ela botou algum
aparelho de escuta?
- Acertou, Helô!
- Puxa, Madre! Onde foi instalado
esse aparelho?
- Adivinha?
- Nem imagino!
- Esse aparelho está com Amélia.
- Como é que é?
- É, mas ela nem desconfia. A Madre
Joana escuta tudo que vocês falam. Entendeu o porquê do cuidado?
- Até isso, Madre? Meu Deus!
No dia seguinte, bem cedinho, Helô ao
sair do refeitório avistou a irmã Amélia que se dirigia para o jardim
acompanhada da irmã Celeste. Achou estranho vê-la àquela hora da manhã. A
escudeira fiel da Madre aparava-a com tanta gentileza que ela ficou até
desconfiada. Há alguns dias ela estava sendo liberada para encontrar-se com
Helô. Isso realmente causou- lhe desconfiança. – O que será que ela quer? –
pensou.
Helô, antes de ir ao encontro da sua
mãezinha, meteu a mão no bolso e conferiu se o papel que tinha colocado ali
ainda estava no mesmo lugar. Respirou aliviada quando se certificou que
continuava sim. Tinha que agir rápido, antes que, com a sua chegada, ela
dissesse alguma coisa comprometedora. Aproximou-se, sem que ela percebesse,
abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa. Em seguida cumprimentou a irmã Celeste,
pegou-a pelo braço e levou-a até o banco de sempre, debaixo de um caramanchão de
bouganville vermelho. A irmã Celeste ameaçou retirar-se, mas resolveu voltar.
Helô rapidamente, percebendo que a irmã Amélia ia falar alguma coisa, puxou-a e
abraçou-a com força, apertando-lhe o rosto de encontro ao peito. Amélia sentiu-se
um pouco sufocada. Não falou o que queria, mas conseguiu afastar um pouco o
rosto e reclamou:
- Puxa, Helô, você quase me matou
sufocada! Além de me dar um puxão!
- Foi por causa da emoção, mãezinha.
Desculpa.
.................Continua semana que vem!
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