terça-feira, 6 de agosto de 2019

A História de Helô - Parte 44



Continuando...

         
          Ela ficou olhando a Madre sem saber o que dizer, mas também sabia, de antemão, que não ia adiantar muito os seus argumentos. Ela, no fundo da alma, queria apenas que a Madre Joana fosse presa e castigada pelos seus crimes sem julgamento algum, pois para ela a Madre Joana já estava condenada a pagar por tudo de mal que tinha feito até hoje. E que no momento seria melhor se manter calada. Mas a Madre Maria de Lourdes escutou o seu pensamento e disse:
         - Minha filha, você pode emitir a sua opinião, mas pense bem no que for falar. Você acha que ela, mesmo estando presa à maldade, não tem direito a julgamento? Todo mundo tem o direito a ter alguém para defendê-lo. Uma coisa é certa: se ela errou, vai ter que pagar pelo que fez e tudo vai acontecer na hora certa, com a permissão de Deus. Se eu estou aqui com você, nesse trabalho, é porque eu tive permissão e você está sendo o veículo para a execução. Tudo está sendo permitido por Deus. Minha filha, o que estamos fazendo é para benefício da nossa irmã Joana.
          - Para benefício dela? Como assim?
          - Ela perdeu o controle. Ela está mergulhada no ódio, na ganância, na vaidade, no mal. Está indo cada vez mais  para o fundo. Para que ela não se comprometa mais e mais tem que ser parada já. Temos que ter compaixão por ela. Eu estou aqui para ajudá-la a perdoá-la.
          - Mas, Madre, perdoá-la?
          - Sim. Eu sei que você tem um coração bom, mas às vezes sente raiva da Madre Joana, não é?
          - Sim. Tenho, mas só às vezes. O que ela faz com a irmã Amélia é cruel!
          - Eu sei, mas pergunte a irmã Amélia se ela tem ódio da Madre.
          - A senhora acha que ela não tem?
          - Sim, eu sei, a irmã Amélia tem um coração grandioso. Sabe, minha filha, as duas têm um lugar dentro do meu coração.
          - A senhora gosta da Madre?
          - Gosto muito e fico muito triste por ela estar tão presa no mal, mas ela vai melhorar.
          - Puxa, Madre, a senhora me desculpe, mas amar a Madre Joana é muito difícil pra mim. Estou até ficando feliz em saber que o reinado dela está acabando.
           - Mas não pode é ter ódio.
           - Ódio não! Às vezes até sinto pena dela!
           - Eu sei, mas para o bem dela o trabalho tem que continuar. Então vamos em frente.
           - Eu tenho fé em Deus que tudo vai correr como estamos desejando.
         - Mas para que isso aconteça tem que se ter muito cuidado. As paredes têm ouvidos, Helô. Preste atenção numa coisa: quando você estiver com a irmã Amélia não a deixe falar muito.
         - Por que?
         - Ela pode falar o que não deve. Interrompe-a, está bem?
         - Está, mas nem baixinho?
         - Minha filha, a Madre Joana não sabe de tudo?
         - Sim!
         - Então, até segredo ela escuta.
         Helô abaixou a cabeça pensativa. As palavras da Madre Maria de Lourdes rolavam dentro da sua cabeça: até segredo ela escuta. Ficou pensando, pensando por mais algum tempo. De repente levantou a cabeça, deu um sorriso enigmático e falou:
          - Madre, por um acaso ela botou algum aparelho de escuta?
          - Acertou, Helô!
          - Puxa, Madre! Onde foi instalado esse aparelho?
          - Adivinha?
          - Nem imagino!
          - Esse aparelho está com Amélia.
          - Como é que é?
          - É, mas ela nem desconfia. A Madre Joana escuta tudo que vocês falam. Entendeu o porquê do cuidado?
         - Até isso, Madre? Meu Deus!
          No dia seguinte, bem cedinho, Helô ao sair do refeitório avistou a irmã Amélia que se dirigia para o jardim acompanhada da irmã Celeste. Achou estranho vê-la àquela hora da manhã. A escudeira fiel da Madre aparava-a com tanta gentileza que ela ficou até desconfiada. Há alguns dias ela estava sendo liberada para encontrar-se com Helô. Isso realmente causou- lhe desconfiança. – O que será que ela quer? – pensou.
          Helô, antes de ir ao encontro da sua mãezinha, meteu a mão no bolso e conferiu se o papel que tinha colocado ali ainda estava no mesmo lugar. Respirou aliviada quando se certificou que continuava sim. Tinha que agir rápido, antes que, com a sua chegada, ela dissesse alguma coisa comprometedora. Aproximou-se, sem que ela percebesse, abraçou-a e deu-lhe um beijo na testa. Em seguida cumprimentou a irmã Celeste, pegou-a pelo braço e levou-a até o banco de sempre, debaixo de um caramanchão de bouganville vermelho. A irmã Celeste ameaçou retirar-se, mas resolveu voltar. Helô rapidamente, percebendo que a irmã Amélia ia falar alguma coisa, puxou-a e abraçou-a com força, apertando-lhe o rosto de encontro ao peito. Amélia sentiu-se um pouco sufocada. Não falou o que queria, mas conseguiu afastar um pouco o rosto e reclamou:
          - Puxa, Helô, você quase me matou sufocada! Além de me dar um puxão!
          - Foi por causa da emoção, mãezinha. Desculpa. 
.................Continua semana que vem!

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