terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 8

Continuando...
          - PC, por onde você andou cara? Estamos há um tempão tentando falar com você! Eu sei que o liberei! Mas...
          - Fica calmo chefe! Meus olhos ainda estão no lugar! Não vai ser muito fácil eles me agarrarem, não! PC é um osso duro de roer!
             Quando ele termina de adentrar a sala, Souza se assusta com o estado dele e fala:
          - Meu Deus! Cara, você está todo sujo! Todo rasgado! Você está com a cara... De quem está com ressaca?
          - Não chefe! Ressaca não!
            Nisso Lucinha entra nervosa. Quando depara com PC naquele estado, fica assustada. Ao invés de demonstrar preocupação, dá a maior bronca no repórter:
         - Porra PC! Você está de sacanagem com a gente? Todos nós preocupados e você me chega desse jeito! Ainda está de porre? Cara! Procuramos você por toda a cidade! Falamos com o delegado Carlos e fomos até no necrotério! Falamos com Deus e o diabo!
         - Calma meu anjo.
         - Calma? Já são três horas da tarde!
         - Deixa-me explicar? Estou vivo por milagre. Entrei numa tremenda fria ontem. Quatro caras me cercaram. Eles quase me atropelaram. Pegou-me de leve, cheguei até a cair, mas consegui me levantar e correr. Por sorte veio um taxi e consegui fugir. Pedi para o cara me levar para longe aqui do centro. No meio do caminho lembrei de que o melhor lugar para me esconder, seria numa delegacia. E assim fui parar na delegacia do delegado Adolfo. Mas ele não estava naquela hora, estava o adjunto. Contei a história para ele e rapidamente já estávamos na rua: eu e dois policiais civis. Rodamos a madrugada toda, procurando pelos bandidos, mas não achamos ninguém. Fiquei com medo de ir para casa, então pedi ao delegado um lugar para dormir. E dormi tudo que tinha direito e mais um bônus. Há muito tempo que não dormia tanto. Mas agora não sei pra onde vou. Voltar pra casa, nem pensar! Os caras sabem onde moro! Foi pertinho do edifício que alguém tentou me apagar! Chefe essa é a minha história!
            Todos os amigos estavam impressionados com o relato de PC. Dessa vez acreditaram na história dele. Tendo em vista que estavam presentes quando ele foi ameaçado pelo maníaco dos olhos azuis. De outras vezes, quando chegava molambento, era confusão com mulheres.  Contava umas histórias de cerca Lourenço, para ficar bem na fita. De vez em quando repetia a mesma história. Brigou com pivete, na saída de um bar; salvou uma velhinha que tinha sofrido um acidente e etc. etc. Mas sempre quem parecia acidentado era ele mesmo.
           Souza esperou PC fazer todo o seu relato. No final pediu para ele colocar a história no papel. Em seguida anunciou que ia dar uma notícia boa. PC que ainda estava cabisbaixo, assim mesmo deixou escapar um leve sorriso. Depois pediu para que ele desse a tal notícia. Souza sentou-se e disse:
          - Senta aí, PC. Pode relaxar. A notícia é boa. Esse foi o motivo de termos procurado você. Acreditamos que o caso será, finalmente, esclarecido.
          - Como é que é? Será que escutei direito? Pode repetir chefinho?
          - A polícia conseguiu botar a mão em um dos bandidos. O delegado Carlos me disse que o cara é quente. Não é coisa pequena, não! Ele falou que foi pura casualidade a prisão do meliante. O detetive Duílio estava na pista de um traficante. Pegaram o cara e uma quantidade imensa de cocaína. Só que a cocaína é, nesse momento, a coisa menos importante.
        - Por quê?
         - Por quê? O delegado me ligou a menos de meia hora e disse que quer falar com você. Vou adiantar, mais ou menos, o motivo da sua presença: o seu nome estava num papel que acharam com o traficante. E você estava marcado pra morrer.
        - Caraca!  Cheguei a me arrepiar! Então esse pode ser um dos que atentaram contra a minha vida? Só pode ser! Chefe! Vou já, já pra delegacia! Lucinha se prepara que hoje você vai comigo! Barcos ao mar! Vamos zarpar que vem tempo de calmaria!
          - Mas desse jeito? PC você está parecendo um mendigo! Não vai tirar esse trapo, não?
           - Puxa! É mesmo! Vamos passar lá em casa rapidinho! Ih! Perdi até o medo! Vamos lá Lucinha? Não. É melhor você esperar aqui em embaixo. Na volta eu te pego.
           - E você acha que estou com medo? Pode tirar o cavalinho da chuva! Estou contigo e não abro! Vou junto! Já que Marcão não veio hoje, estou dentro!
          - A nossa doce menina! Que de doce não tem nada! Tudo bem! Vamos nessa!
             PC passou no seu apartamento, tomou um bom banho e encontrou com Vermelho e Lucinha que estavam a sua espera, na frente do edifício. Entrou no carro e a repórter começou a espirrar. O seu perfume paraguaio tomou conta do veículo. Lucinha saiu do carro reclamando:
         - Porra PC! Além do uísque paraguaio - aquela droga! – e, agora, essa bosta de perfume! Que pelo jeito, também é paraguaio!      
         - Caraca Lucinha! Rejeição pelos produtos daqueles hermanos? Até parece que essa droga que você usa é francês! Deve ser também chinês! A procedência é a mesma, só que o meu passou pelo Paraguai!  
         - Como é que eu vou entrar nesse carro?
         - Vai a pé? Não vai! Então entra e bota a cara pra fora da janela!
         - Também vou espirrar em cima de você!
         - Você acostuma! Até parece que é a primeira vez que acontece isso! Esqueceu que você achava bom?
         - Vamos parar por aqui, tá legal? Isso foi há muito tempo! Agora o tempo é outro! 
            Finalmente Lucinha entra no carro, apesar dos protestos, mas bota a cara na janela. Ela acabou aceitando a sugestão de PC. Vermelho dá partida no carro e vai rumo à delegacia. Naquele momento, só o motor fazia barulho. O silêncio estava selado entre eles. PC olha para os seus rabiscos, que às vezes não entende, mas que consegue decifrar mergulhando na memória.  E foram até o destino sem trocar uma palavra sequer. Parecia que estavam brigados, mas era sempre assim. Não demorava muito e lá estava ela soltando farpas, com as suas provocações. 

           Na porta da delegacia tinha uma vaga, que parecia ter sido guardada para eles. Vermelho parou, mas preferiu não sair. Com certeza ia tirar uma soneca. PC olhou para Lucinha e os dois riram. Com o riso, já tinham voltado às boas. E PC coloca a mão no ombro dela e entram os dois na delegacia. 
                 Continua na semana que vem...

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