A porta da sala do delegado Carlos
estava encostada. PC bate levemente antes de entrar. O delegado olha, mas como
estava no telefone, fez um sinal com uma das mãos, para ele entrar. Lucinha
veio logo atrás. O delegado sorriu e mandou um beijo com as pontas dos dedos
pra ela. Em seguida apontou para duas cadeiras, convidando-os a se sentarem.
PC estava ansioso. Aqueles
minutinhos que o delegado estava no telefone, pareciam que iam se estender por
horas. Levantou-se algumas vezes. Numa dessas, Lucinha puxou-o pela camisa.
Finalmente o delegado largou o telefone e fez questão de deixa-lo fora do
gancho. Saiu detrás da sua mesa e foi falar com os amigos. Deu um aperto de mão
em MD e beijou Lucinha. Em seguida disse:
- Vamos sentar. Temos que conversar
bastante. Parece que as coisas estão clareando.
A conexão só foi feita por causa do papel que estava com o seu nome. Se
não fosse isso, ia ser mais um caso de tráfico de drogas. Mas a coisa é maior.
- O meu nome no papel, dizendo que
eu estava marcado pra morrer. É isso mesmo?
- Com todas as letras. Dia e hora,
para darem cabo de você. Você nasceu de novo, meu irmão.
- Não foi mole, não! Mas estou aqui!
Firme e forte!
- PC acredito piamente que estamos a
um passo de desmantelarmos o tráfico de drogas na cidade. Pode botar fé que
finalmente, vamos poder começar a mexer com as pedras do tabuleiro de xadrez. O
tráfico, sem sombra de dúvida, é de uma rede internacional. Eu sei que foi
apenas um peão que saiu do jogo. Mas esse peão, quem sabe, pode nos levar até o
final do jogo, com um xeque mate nosso!
- Delegado, não quero ser pessimista.
Mas a perda de um peão, pra quem sabe jogar, não quer dizer muita coisa, não!
Às vezes se sacrifica uma peça, para depois derrubar outras do adversário! O
rei têm muitas peças a protegê-lo! Agora, poço ver esse peão que está fora do
jogo? Posso conversar com ele?
- Claro, PC. Vê o que você consegue,
porque com a gente ele nada falou. Por enquanto fomos com educação. Aí nem o
nome ele disse. Mas depois vamos dar uns apertos nele. Vamos ver se vai falar
ou não!
O delegado chama os dois e se
encaminham para a cela, que está guardando o bandido. Lucinha, antes de chegar
até o local, pede para ficar por ali. Disse que não estava com estômago para
olhar aquele marginal. O delegado então sugere que ela volte para a sua sala.
PC vai passando, junto com o
delegado, cela por cela. Estavam todas ocupadas e com lotação máxima. Somente a
última estava com um único bandido. O
delegado bate com um porrete na grade, para chamar a atenção do traficante. Do
jeito que ele estava, continuou: cabeça baixa. PC então fala:
- Ô cara! Será que pode me responder
alguma pergunta?
O prisioneiro vai levantando a cabeça
vagarosamente. Quando fixa o seu olhar no de PC, se levanta e fala cheio de
ódio:
- Cara! Mexeste em casa de
marimbondo! Tiveste sorte da última vez, mas com certeza vais levar uma
ferroada! E com bastante veneno! Repórter xereta! A tua sentença foi decretada!
Eu falhei, mas outros não falharão!
O bandido voltou para onde estava
sentado, arriou a cabeça e ficou calado. E nada mais se conseguiu dele. PC
então sugere ao delegado para que saíssem dali.
- Delegado, vamos sair um pouco.
Vamos dar um tempo pra esse pilantra pensar. Depois nós voltamos. Pode ser que
resolva falar.
O delegado concorda. Porém faz uma
observação:
- Tudo bem. Mas anota aí: dentro de
meia hora a gente volta. Se nada for conseguido por bem, vamos conseguir por
mal. Eu te garanto que, se preciso for, arrancaremos a pele do safado.
Quando estavam de volta, um
prisioneiro, que estava com a cara encostada na grade, esperou o delegado
passar e deu-lhe uma cusparada. Rapidamente o delegado deu com o bastão na
grade. Mas o bandido conseguiu se afastar e se misturar aos outros. O
carcereiro se aproximou do Dr. Carlos e perguntou o que tinha acontecido. Ele
então respondeu:
- Juventino. Quantos nessa cela foram presos
com aquele traficante?
- Doutor. Tem dois aí dentro.
- Então arranca os caras daí e
leva-os para sala de terapia intensiva. Vou mandar Berto e Jonas para vir
ajudar. Qualquer probleminha manda chumbo. Depois, se não houver dificuldade,
me chamem, mas só quando já estiverem com os dois lá dentro. Ok? PC vai querer assistir a terapia?
- Não doutor. Estou fora.
- Ah! Ah! Ah! Continua sensível!
- Sensível? Não! Não se trata disso!
- Vamos indo, PC. Lucinha está a
nossa espera.
- Ela sim, é sensível. Mas na hora
que tem que ser dura, ela ultrapassa qualquer expectativa. Aquele docinho pode
surpreender a gente. Cuidado delegado!
- Ah! Já estou com medo! Vamos logo!
Entram na sala e encontram a
repórter sentada na cadeira do delegado. Rapidamente ela se levanta, mas Carlos
a impede:
- Não. Pode ficar aí. Sabe que você
fica bem nesta cadeira? De repente você seria uma boa delegada. Quem sabe você
não muda de profissão?
- Estou fora, doutor! A cadeira é
confortável, mas a função é bem desconfortável!
Enquanto conversam, o carcereiro
entra na sala gritando e com a cara assustada:
- Doutor! Doutor! O prisioneiro... O prisioneiro da última cela...
- O quê houve, Juventino? O safado fugiu?
Continua semana que vem...
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