terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 37

 


 Continuando...

            Não acredito que a pessoa possa ser religiosa ao matar em nome de Deus. A igreja católica fez isso na época das cruzadas, não foi? Não podia ter sido inspiração de Alá. Usam o nome do Pai, para justificar a ambição de alguns membros. Nem todos apoiaram essa insanidade. O que alguns queriam era a riqueza e o poder. A religião não tem nada a ver com isso.  Ninguém pode usar a religião para saciar a sua ambição.

         - Estou impressionado com você. Para a idade que aparenta, não é normal os conhecimentos que você tem. Você tem um discernimento das coisas muito claro.

         - Eu falo muitas coisas, mas não sei como sei. Eu só sei que sei.

         - É Mohammed você de criança não tem nada. Acho que você é um anão.

         - Anão? Anão é bem diferente de mim.

         Téo ficou por trás do silêncio observando o menino. Gostaria de descobrir quem era ele. Tinha a sensação que se escondia por detrás da aparecia juvenil. Ele podia ter dez anos... Não podia. Tinha que ser acima disso. Dezesseis talvez. Dezoito ou mais, mas com aquela aparência de garoto. Pensou: pode ser. Na segunda guerra mundial muitos meninos alemães foram para a linha de frente e lutavam como se fossem veteranos de guerra. Cogitou também na hipótese de ele ser um espião daqueles bandidos. Nesse momento Téo franziu o cenho. Uma vermelhidão invadiu o seu rosto, só não foi visível, porque o ambiente estava mergulhado numa quase escuridão. Mas depois de uma respirada funda, fez uma rápida avaliação na sua suspeita. Veio claro na sua cabeça a palavra não. Olhou com mais brandura para o garoto e desconstruiu a sua avaliação dura que fizera. Depois, lembrou-se da pecha de preconceituoso que Mohammed lançara sobre ele. Só que não entendera a pergunta, já que não explicara. Rapidamente saiu do seu silêncio.

          - Mohammed, então você acha que eu sou preconceituoso? Engano seu. Se falei alguma coisa, não me lembro. E deve ter sido num momento de raiva. Aí acabei não me fazendo claro. Mas não me recordo ter demonstrado qualquer tipo de preconceito. Falei mal dos Mulçumanos? Não me lembro mesmo. Para não deixar dúvida, vou contar pra você quem sou eu. Contar, porque eu sei que aí não se esconde nenhuma criança. Você me fez uma acusação e eu vou – não querendo me defender, por defender – contar um pouquinho da minha vida. É até bom eu falar, porque é uma história até – acho que é – original. Acredito que tem poucas pessoas do quilate do meu pai. Mohammed, eu não sou racista e nem preconceituoso. Eu penso que racismo é insanidade e preconceito é medo.  

          - Eu não gosto de discutir isso não. Eu só comentei. Mas, o senhor falou história, não foi? Eu gosto muito de histórias!

          - Mas não é o tipo de história que você está pensando não! É um fato real. Vou começar a dissertar:

          Eu tinha dezesseis anos. E até aquela idade, ainda não tinha religião. Estava mergulhado na dúvida sem saber qual o caminho a trilhar. Se seguisse a religião da minha mãe, pensei que meu pai pudesse ficar triste. Se eu trilhasse os passos do meu pai, - conjecturei também - ia, com certeza, magoar a minha mãe. Eu só achava. Esse achismo que nos persegue a vida toda, nos impede de resolver questões imediatas, postergando, postergando soluções que estão a um passo de nós.

          Sofri dias e mais dias, à toa. A falta de coragem ficou zanzando na minha cabeça por muitos dias. Até o sono me tirou. Foram dias sofridos dentro da dúvida. Pensei até em não abraçar nenhuma das duas religiões. Seria um ateu convicto, isso sim! Mas dei uma olhadinha pra trás e vi que não havia ateu na minha família. Nem do lado da minha mãe e nem da do meu pai. Depois de vários dias de sofrimento, resolvi procurá-lo e falar abertamente sobre essa situação, já que ele sempre fora uma pessoa pronta pra me ouvir. Não me lembro de já ter existido uma única vez que tenha me recusado qualquer solicitação. Sempre me atendeu e resolveu todas as minhas dúvidas. Nunca fiquei sem um esclarecimento que precisava. Então, por que o medo? A coragem chegou finalmente.

.......Continua Semana que Vem! 

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