segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 35

 


Continuando...

         Um senhor vinha caminhando, sem muita pressa, com um caniço no ombro e batia a mão para mim: era a mesma cena diariamente. Ia até o pequeno lago, como eu falei, pegava uma minhoca na margem do rio e colocava no anzol. Depois jogava a linha dentro d’água. Em poucos minutos recolhia a linha já com um peixe preso no anzol. Em seguida tirava o peixe do anzol, jogava-o dentro de um cesto pequeno, e ia embora.

         No dia seguinte lá estava ele de volta. E o ritual era quase o mesmo: só que jogava o anzol dentro d’água sem nenhuma isca, e ali ele ficava horas e horas na mesma posição. Isso se repetiu muitas e muitas vezes. Aí a minha curiosidade foi ficando gigantesca. Então resolvi sair da ponte e espera-lo na beira do rio. Quando lá chegou, bateu com a mão como se eu estivesse na ponte. Parecia que não tinha me visto. Estranho aquele comportamento.

        Às horas foram passando e ele continuou no mesmo lugar. De repente recolheu a linha, segurou o anzol e fez o movimento como se tivesse tirando alguma coisa dali. Depois botou essa coisa na mão, e o que era eu não vi, e em seguida fechou os olhos e colocou a mão espalmada em cima do coração. E eu fiquei ali do seu lado esperando que abrisse os olhos. Quando isso aconteceu, eu pedi licença e perguntei, porque um dia jogava o anzol com isca e o outro dia sem isca, já que não pegaria peixe nenhum. Ele então me disse que num dia pescava o alimento para o corpo e no outro dia pescava o alimento para a alma.

         - E o que mais?

         - Não tem mais, é só isso. Isso diz alguma coisa para o senhor?

         - Pra mim não. Pode ser que diga alguma coisa pra você. Essa pessoa do sonho era algum monge?

         - Não. Não sei. Eu nunca vi a sua cara. E nem sei como se vestia, nunca reparei.

         - Devia ser algum religioso. Alguém que exercitava a paciência. Procurava a paz. Ou então isso quer dizer pra você esperar, que um dia você vai saber a sua origem. Vai descobrir de onde você veio.

         - Será? Paciência até que eu tenho. Se for isso mesmo, vou esperar. Também não tem outro jeito, não é mesmo?

         - Um dia você descobre quem você é.

         - Tem hora que eu acho que não sou de lugar nenhum.

         - Mas como você fala várias línguas, pode ser de todos os lugares.

         - É... Mas uma certeza eu tenho: eu não sou desse lugar.

         - Já é um bom começo. Vamos dormir que está na hora.

         -Sargento, eu não estou com sono. O sono só chega – acho que estou viciado – depois que olho o céu. Fico olhando essa imensidão até  o sono chegar.

         - Eu também acho bonito, mas o melhor é ficarmos por aqui mesmo. Hoje você vai dormir sem ver o céu.

         - Vamos lá sargento, é uma olhadinha só!

         Téo ficou pensativo. O céu também o fascinava. Era o modo mais fácil – segundo ele - de se comunicar com Deus, ainda mais em situações difíceis. Algumas vezes, entrincheirado, olhava para o firmamento e pedia ajuda para sair daquela situação complicada. Às vezes tinha quase certeza que ali seria o seu túmulo. Não via como se livrar daquela sinuca de bico e sair ileso. Rezava para ele e para os seus amigos. Quando se dava conta, aparecia milagrosamente uma porta aberta para a vida.

         Os seus amigos nunca entendiam como se operavam aqueles milagres. – Como os inimigos em vantagem, simplesmente abandonavam o campo de batalha? – Se perguntavam intrigados. Nem o sargento sabia responder a essa e a qualquer outra indagação. Ele só dizia que tinha sido Deus. Realmente ele não podia entender às coisas da fé, pois não sabia o que realmente era fé.  Simplesmente pedia, mas não tinha certeza se o que acontecia tinha a ver com o seu pedido. Ele sem perceber se interagia com o céu. Era só olhar para o firmamento e mentalmente conversava com quem ele achava que morava naqueles pontinhos acesos espalhados no universo. E não tinha dúvida em afirmar que todos os mundos eram habitados. Não gostava muito de falar a respeito, porque sabia que à maioria das pessoas não pensava assim. A única pessoa que mantinha uma conversação sobre o assunto era o seu pai. Passavam horas a fio dissertando sobre a existência de vida nos planetas vizinhos e fora do nosso sistema solar. Dizia para o pai:

          - Pai. Por que os estudiosos perdem tempo em achar que não existe vida fora da Terra? É claro – a não ser que tenha algum planeta análogo a Terra – que não se vai achar gente igual a nós lá por cima! Isso eu concordo plenamente! Mas nos mais de duzentos milhões de sistemas solares deve ter algum planeta com possibilidade de ter vida igual ao nosso, não acha pai? 

          - Vendo por esse prisma, concordo com você.

          - Então pai, achar gente com as mesmas características nossas em Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Netuno, Urano e Plutão, realmente é impossível. Mas tem algumas luas dos planetas gigantes que podem ter alguma chance de abrigar humanos. Mas também se não der, pode abrigar outros tipos de vida que não conhecemos. 

......Continua na Semana que vem!

 

 

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