terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Nos Escaninhos do Coração - Parte 5

 


Continuando...

           O céu parecia em curto, todo riscado de raios. O caos estava a um passo. O tempo já tinha mudado completamente. As nuvens negras tomavam conta de todo o céu. Nesse momento foi que Luiza, depois de analisar o quadro que se apresentava ante os seus olhos, caiu na real. Gritou nervosamente para o amigo. Realmente não tinha mais como ficar lá em cima. O seguro seria descer. Mas infelizmente o seu grito foi abafado pelos estrondos. E André nem ouviu o seu chamado.  Esse tempo perdido poderia conspirar contra os dois. Foram minutos que poriam em risco a vida de ambos.

           Quinze horas marcava no relógio de André.  De repente o sol sumiu e a tarde fora engolida pela escuridão. Pra completar a desgraça, que se avizinhava, e que não era pouca, um vento agourento começou a soprar e foi aumentando de intensidade. Por onde passava, ia criando um assobio fantasmagórico. Sacudia as folhagens das árvores com tanta violência, como se estivesse estrangulando os galhos. Extravasava o seu ódio. André percebeu o que estava a sua espera e de Luiza, e que não era boa coisa. Pior é que ainda estavam pendurados a mais de vinte, talvez trinta metros. Naquele momento se arrependeu de nunca ter buscado orientações com profissionais gabaritados. A sua consciência o acusava: fora negligente, sem dúvida. E sentiu uma angústia tamanha, como nunca sentira na sua vida. Uma dor invadiu o seu coração como se uma lâmina afiada estivesse a atravessá-lo. Deu-se conta de que realmente não passava de um simples amador e como tal, qualquer pedra era um imenso desafio e um gigantesco perigo. Então um sentimento de culpa se avolumou em seu peito, fazendo-o quase chorar. As lágrimas só não pularam dos seus olhos, porque um pensamento se intrometeu na sua dor, causando a interrupção do fluxo: é que Luiza pudesse estar curtindo aquela situação, ao colocar a sua própria vida em risco. Como ele a conhecia muito bem, quanto mais adrenalina, melhor.  

            Os dois Já haviam passado inúmeras vezes por situações difíceis, mas graças a Deus em todas conseguiram se safar sem nenhum arranhão. Mas naquele momento na cabeça brotou uma interrogação: e dessa vez? – se perguntou e olhou para o braço: estava todo arrepiado. Deu uma espiada para baixo e viu as copas das árvores contorcidas pelo vento. Não tinha jeito. Não devia ficar ali em cima nem mais um segundo. Olhou e resolveu chamar a amiga para começar a descer naquele minuto.  Entretanto tinha que pensar como falar, já que Luiza era inconstante. Às vezes aceitava uma coisa e imediatamente voltava atrás demonstrando aborrecimento. Então procurou as palavras certas para que não a magoasse. Deixou claro que o que importava era a segurança de ambos. Só que o que externou parece não ter sido assimilado pela amiga, pois ela estava completamente pálida e solta como uma folha ao vento. Balançava, balançava e se chocava contra a rocha. Aquele quadro o deixou desesperado. Gritou para que ela descesse, mas não teve certeza se ela ouvia a sua aflição.

             A intensidade do vento aumentava loucamente. Sua velocidade empurrava-os de um lado para o outro, como se fossem pêndulos. Luiza não era mais dona da situação, já ele ainda conseguia controlar aquele vai e vem, mas não sabia até quando. Mas queria acreditar que não iria se descontrolar, pois se isso acontecesse não teria como ajudar Luiza. Porém apostava na sorte que sempre os acompanhou. - Mas se a sorte não se fizer presente, eu não vou conseguir ajudar Luiza. Isso não pode acontecer, meu Deus. – pensou choroso, enquanto o vento continuava a maltratá-la.

            Para completar, a chuva caiu de uma só vez de encontro ao paredão e o volume de água era tanta que em alguns trechos desabavam como cachoeiras. E o problema foi se avolumando a cada segundo, fazendo o que já era assustador tornar-se desesperador.

          O balanço acabou tirando André do prumo. Sentiu-se tonto e enjoado. Em seguida vomitou. As contrações que sentiu no estômago, levou-o a pensar que ia morrer. O tempo que ficou nesse estado, para ele, pareceu uma eternidade.  Depois que melhorou um pouco, não conseguiu mais visualizar a amiga. 

...............Continua semana que vem!

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