terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Nos Escaninhos do Coração - Parte 4

 


 Continuando...

                   O tempo foi passando sem que conseguissem sair do mesmo lugar.  André observou que Luiza parecia nervosa. Não aquele nervosismo que sempre antecipava cada nova aventura. Era diferente. Daquele jeito, não se recordava de já ter visto. Ela estava com um alto grau de irritação. A tensão que estava se misturava com uma ansiedade fora do comum. Já estava a caminho do descontrole.

                     André olhava para ela com um ar de preocupação. Sabia que as dificuldades pelos caminhos sempre existiram, mas agora estava ficando complicado. Não conseguiam sair do lugar. Seguravam-se como podiam. O mau pressentimento voltou com força total a povoar o seu pensamento. E a voz que falava ao seu ouvido, agora mais decidida, mandava-o descer. O arrepio tomou conta de todo o seu corpo novamente. Dessa vez ficou muito tenso e preocupado. O coração batia descompassado. Respirou fundo, tentando equilibrar-se. Sabia que não podia perder o controle, porque a amiga já estava completamente descontrolada. Naquele momento até palavrões ela soltava aos quatros ventos, coisa que normalmente não fazia. Ele ficou assustado com tal comportamento. Mesmo fazendo um esforço sobre humano, o medo dominou-o. Tentou gritar, mas não conseguiu. A única coisa que veio à cabeça foi pedir socorro a Deus. E rezou fervorosamente, como nunca tinha feito. Como por encanto, se sentiu mais calmo. Aí conseguiu pensar em alguma coisa. A solução veio clara na sua cabeça: abortar aquela aventura. E sem pedir a opinião da amiga – isso pela primeira vez – corajosamente gritou para ela:

         - Luiza! Temos que descer de qualquer jeito! Já estamos no mesmo  pedaço há horas! E nada de sairmos do lugar! Ou deixamos para outro dia, ou vamos para a entrada que todos optam! Hoje não dá mais! Vamos descer! Não temos outra saída! Estou ficando assustado! Vamos descer agora! Ouviu bem? Vamos descer agora!

                 Ela escutou o seu chamado em silêncio. Aquilo para ela era uma derrota. Não admitia perder nunca. Olhou para André, com uma cara que misturava tristeza e decepção. Ameaçou falar, mas a voz resolveu parar na garganta. Na realidade não tinha certeza se ia aceitar a sugestão dele, que na realidade não era sugestão, era uma ordem. E pela primeira vez, depois de anos juntos, ele ordenava.  Assustou-se um pouco com essa novidade. André percebeu no seu olhar a dúvida. Ficou apreensivo. Mas naquele momento soube que ela, mesmo a contragosto, desceria. Não podia ceder, tinha que ficar firme, pois era isso que ela queria.             

           O silêncio separava os dois. Olhavam-se mergulhados no mutismo.  André sabia que ela não falaria mais nada. A decisão seria sua realmente. Pensou, pensou e a única forma para ela obedecê-lo seria ele começar a descer. Mas mesmo assim tentou mais uma vez fazer com que ela abraçasse o bom senso e descesse sem sofrimento. Será que ia ceder mais uma vez?

          - Vamos Luiza. Hoje não conseguimos, mas em outro dia venceremos essa montanha. Amanhã! Hoje não devemos continuar tentando. É perda de tempo. Mas... (deu uma pausa, demonstrando dúvida) você decide.  Esse tempo ainda continua me assustando. Devemos aproveitar a trégua que ele nos deu. Já observou que o sol sumiu? Vem, desce comigo. – fez outra pausa - Como disse, você decide. Apoio qualquer escolha sua. – parecia que ia voltar atrás novamente - Mas... – fez uma pausa mais curta. Engoliu em seco e disse - hoje você vai me seguir.

          Com essas palavras acabou deixando claro que havia finalmente decidido. Ainda assim, fez isso com o coração nas mãos. Ela, então, sem falar nada, olhou para o alto e balançou a cabeça sentindo-se derrotada. Olhou para André e um fio de lágrima desceu pela sua face. Ele ficou emocionado. Conhecia aquela menina mais do que ela mesma. Pensou em abortar a sua decisão novamente e continuar a, mesmo sabendo que seria em vão, tentar vencer aquele desafio. Quando pensou em externar a sua mudança de plano, ouviu um estrondo. Parecia que a montanha estava desabando. A explosão, se não foi na base, devia ter sido muito próximo. O eco do estrondo ia se esfregando pelas montanhas até se perder no fundo do vale. E a sensação que André tinha era de que as explosões se sucediam infinitamente. 

....................Continua semana que vem!

 

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